|
Citation |
- Permanent Link:
- https://original-ufdc.uflib.ufl.edu/UF00095067/00056
Material Information
- Title:
- Correio (Portuguese)
- Place of Publication:
- Brussels, Belgium
- Publisher:
- Hegel Goutier
- Publication Date:
- 06-2009
- Copyright Date:
- 2009
- Language:
- English
French Portuguese Spanish
Subjects
- Genre:
- serial ( sobekcm )
Record Information
- Source Institution:
- University of Florida
- Holding Location:
- University of Florida
- Rights Management:
- All applicable rights reserved by the source institution and holding location.
|
Downloads |
This item has the following downloads:
|
Full Text |
o
IIII II
4r2,
ili
editorial
o moment em que o G20 se reu-
nia em Londres para tentar encon-
trar soluoes susceptiveis de evitar
uma eventual crise financeira global
no future tao devastadora como a que petrifica
actualmente o mundo, inumeros artists e profis-
sionais da cultural de Africa, Caraibas e da Uniao
Europeia debruavam-se em Bruxelas, de 1 a 3 de
Abril, sobre as propostas a apresentar s instncias
oficiais a fim de facilitar, nos pauses ACP, um
"desenvolvimento economic e cultural integrado".
Face a eles, politicos de alto nivel recepcionam as
suas recomendaoes. O Comissario Europeu do
Desenvolvimento falou mesmo da necessidade de
os Estados presents no Colquio darem seguimen-
to a este forum. As recomendaoes dos artists e
profissionais da cultural incluidas na "Declaraao
de Bruxelas" assemelham-se mais a propostas con-
cretas e construtivas do que a lamentaoes. Louis
Michel, alias, institui-se em advogado junto dos
ACP e da UE, citando Amartya Sen, filosofo e eco-
nomista que recebeu o Prmio Nobel de Economia
em 1998: "... nao sao tabus culturais e imaginrios
que a podem eliminar (a diversidade) nem tao-
pouco pretensas predisposioes de uma qualquer
civilizaao..."
Sao estas pretensas disposioes que admoestaAlphadi
neste numero, um dos criadores africanos mais geniais,
precisamente quando faz o elogio da uniao na diversi-
dade para que os estilistas e outros criadores africanos
permitam ao seu continent tirar deste recurso, que a
imaginaao, riquezas e bem-estar. Como o fizeram os
cientistas que se haviam interrogado se a Africa nao
teria contribuido, de uma ou de outra forma, para o
patrimnio cientifico mundial.
A conscincia deste contribute da Africa, minimiza-
do pelos instruments e metodologias de avaliaao,
quando nao simplesmente pelos preconceitos
brutos, essencial nas artes e noutros dominios
da criatividade, porque dela depend, em parte, a
confiana em si de um continent e da sua diaspora
- caribenha e outra.
Esta ediao especial sobre a cultural e o desenvol-
vimento econmico tenta, de algum modo, report a
verdade dos factos e mostrar como a Africa e toda a
regiao ACP deliciaram o mundo com a sua musica
ou artes visuais e cnicas e como pode ser viavel, na
vertente economic da cultural, o mercado intemo
dos produtos culturais do continent. Evocam-se
pistas para uma estratgia de desenvolvimento eco-
nomico sustentvel e homeostatico.
A delimitaao dos preconceitos ocupa aqui um
certo espao. Esta na linha das estratgias econd-
micas. O mesmo se passa com a imagem de marca
dos pauses e das sociedades. Em qualquer dominio,
os investidores parecem escolher os mercados tendo
por unica base racional a rentabilidade. Mas nao!
Basta pensar nos baby boomers europeus, que aflu-
iram aos Estados Unidos, vistos como um mito nos
anos 90, provavelmente mais pela sua paixao pelo
jazz, coca-cola e ritmos de swing de Miles Davis
nos anos setenta do que seguindo os algoritmos de
Wall Street.
Quando Roma queria invadir um pais, enviava,
antes dos seus centuries, perfumes, elixir, sedas e
substncias aromticas. At ao dia em que a Grcia
conquistada conquistou culturalmente Roma com
uma imagem de marca mais subtil.
Hegel Goutier
Editor
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
Hegel Goutier
CULTURAL na ECOnomDI.
nao apenas a cereja, mas uma
grande fatia do bolo
H ainda alguns anos atrs, a resposta pergunta quai o primeiro produto de
exportao do pais mais rico do mundo, os Estados Unidos, surpreendia quan-
do se respondia: a cultural. Agora j no tanto. Se alguns ainda tm dvidas,
nomeadamente sobre a capacidade dos pauses pobres em consolidar o seu
desenvolvimento no comrcio dos bens culturais e em aceitar o facto de que estes
tambm so produtos comerciais. E o que surpreendente que os actors da
economic, em particular os financiadores destes paises, permanecem reticentes
em investor neste sector. De modo que, frequentemente, so os criadores que se
tornam homes de neg6cio para colmatar as suas necessidades. o caso do cos-
tureiro nigeriano Alphadi ou dos msicos Youssou N'Dour do Senegal ou de Bob
Marley da Jamaica, na sua poca.
CeRREIO
Abertura
As industries da cultural ocupam um
lugar cada vez mais important na
economic dos pauses desenvolvi-
dos. Os valores para o ano 2005
mostram que estas representam 7 % do pro-
duto intemo bruto mundial, que nos Estados
Unidos o seu peso superior a 5 %, que no
Canada e na Europa as proporoes seriam de
3,5 e 5 %, respectivamente. E estes valores
apenas consideram uma definiao restritiva
de produtos culturais.
Se considerarmos num sentido mais amplo os
produtos da criatividade e as exportaoes dos
pauses ricos, os valores sao ainda mais impres-
sionantes e sublinham severamente o isola-
mento dos pauses pobres, sendo que podemos
assim estabelecer uma ligaao biunivoca entire
a exportaao destes produtos e o desenvolvi-
mento economic. O sector cultural emprega
5 % da populaao canadiana e uma proporao
muito maior nos Estados Unidos.
Em 2002, Bruce Lehman, president do
Institute international da propriedade intelec-
tual perguntava-se com humor o que faziam os
trabalhadores americanos, visto que somente
14 % (18 milhoes sobre 134) de entire eles
estavam empregues nas manufactures. Ele
prprio responded, ou seja que a maior parte
de entire eles produzia propriedade intellectual,
intangivel, que ia do software informatico ao
jogo de video, um filme de ficao, um proto-
colo de intercmbio na Internet ou um trata-
mento gentico, quando nao o desenho da
fuselagem de um aviao Boeing. A industria do
cinema americano emprega mais mao-de-obra
do que a megalomaniaca industria da defesa.
Relativamente s trocas internacionais de
produtos culturais, segundo Alexandre Wolff,
houve um aumento de 400 % durante os vinte
anos que antecederam o ano 2000, atingindo
cerca de 400 mil milhoes de dolares em 1998,
em comparaao com os 100 em 1980.
> Os que marcam pontos
Ultimamente, tm sido os paises chamados
intermediarios que registaram um crescimento
no mercado dos produtos culturais. Aqui tam-
bm as ligaoes sao evidentes. E nao porque
sao previamente desenvolvidos que aprende-
ram a vender os seus produtos da cultural. Na
maior parte destes pauses, o desenvolvimento
da industria da cultural antecedeu o boom eco-
n6mico; como um catalisador. , sem duvida,
o caso da India cujo sucesso de Bollywood
tornava public a sua revoluao economic
antes mesmo que se tivesse plenamente cons-
cincia dela no estrangeiro. O Brasil comeou
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
por controlar a sua produao audiovisual antes
de se tomar um pais emergente important.
actualmente o stimo exportador mundial no
sector da musica, sendo que control 90 % do
mercado interno.
Todavia, os pauses em desenvolvimento regis-
tam cada vez mais sucessos. E a situaao da
industria audiovisual na Jamaica lendaria.
As suas musicas vendem-se bem. A musica
classificada como "world" exporta-se, de
Ayo a Amadou e Maryam, de Mercedes Sosa
a Lila Down e de Cesaria vora a Youssou
N'Dour. Quantos discos deste cantor ultra-
passaram o milhao de exemplares vendidos!
"The Guide" ultrapassou os tres milhoes. O
music produz-se a si prprio, a sua empresa
emprega duzentas a trezentas pessoas e acima
de tudo reinveste os lucros no seu pais, o
Senegal, e em outros pauses de Africa. O
seu project BIRIMA para o microcrdito,
lanado em Fevereiro de 2005, represent
mais um exemplo de artists empenhados na
gestao da economic da cultural. Assim como
a sua associaao AMPA, "Associaao dos
musicos profissionais africanos", para defen-
der os interesses dos musicos do continent.
Youssou N'Dour invested os seus lucros em
Africa.
Mas muitos destes artists tiveram de se
tornar homes ou mulheres de negocios,
tendo em conta a demissao do sector privado
nos seus paises ou regies. Podemos reter
o exemplo de Alphadi*. Criador do FIMA,
Festival international da moda africana, e
da Federaao africana de criadores de moda,
FAC, que percorre com a sua caravana a
Africa e as Caraibas para apoiar os jovens
criadores e que contribuiu fortemente para o
prestigio crescente da moda africana.
Youssou N'Dour foi o primeiro artist a
tornar-se artista-homem de negocios depois
de se dar conta que o seu disco "The Guide",
que vendeu mais de 3 milhoes de exemplares
em 1994, tinha sido muito lucrative para... a
Sony, mas nao para o Senegal e a Africa. M
* Ver a sua entrevista neste numero.
Para mais informaoes, visit o sitio web
www.culture-dev.eu, onde encontrara o artigo
"Potencialidades e desafios da criaao e da
cultural para o desenvolvimento" de Francisco
Ayi J. D'Almeida, Director da Association
Culture et Dveloppement (Frana).
Pagina 2: Dominique Zinkp, Partage de Territoires,
Exposiao Bnin 2059, Fundaao Zinsou, 28 de
Setembro a 4 de Janeiro de 2009. Fotografia de Lo Falk.
Palauras-chaue
Africa; cultural; Youssou N'Dour; Bob
Marley; Alphadi; produtos culturais; Ayo;
Amadou e Maryam; Mercedes Sosa;
Lila Down; Cesria Evora.
flI c citu
Co rs iacer udil o. pe.- gi de.- .-.-.. e. do -a e -- de env
m e ..- -ae e ret e.a vid face .o .rcs do. e...-e de le-. c sfe
duat ut te p e -m e..-a de mgm o0 que *O b -ev .. . . ci
sobre.a.......................rt.
Se eota co os prne---------------------------... e Poqe.-. rn
.... ocohciet e m -fie ecta mi .. . . . da. oaide..- s seu
ou esq ecie.. no eadmn e no q.u e -i eepet -o cnei e.to -eo..
mae* ia a e e tau- i e a eamcoea As -e. s e e.to j sobe os
* e. -ne s do cotnet e-.m pare do grne- n e de pe.- esa
que..............e este prcne .- .- .. -e .
Na .ia o eotibt da e..' ca a su e..-..ad - reo ei. e -u
.0.uci sobr* e al a formas de are fo- drne ... o e mpo- re... no e-
*dmet sor oe ag retn o odmntaopl netgdragnio
M ODR. fl frica possui meios
para ganhar MILHRES DE MILHOES
Uma entrevista com um icone da moda africana, Alphadi.
por Hegel Goutier
Alphadi provavelmente o criador de moda africana mais famoso. o home
dos megadesfiles aos ps das Pirmides no Egipto e que faz com que os maiores
estilistas mundiais se desloquem para vir contemplar as suas criaes. tambm
um activist para a promoo da moda africana, criador da Federao africana
dos criadores de moda, FAC, h j 25 anos, e h j quase dez anos do FIMA,
Festival international de moda africana, que rene todos os anos mais de dez mil
pessoas e 50 a 60 criadores do mundo inteiro.
Alphadi comea por relembrar que a moda
nao s6 a costura, tambm a bijutaria, a
marroquinaria, as artes visuais, a i........
interior, que dinamiza a cultural, gera dinheiro
e cria um grande numero de empregos no con-
tinente africano. Muitos no so declarados,
mas no ha duvida que Ihe proporciona mais
meios do que os outros sectors da .-- ..,.- .
Temos 54 pauses nos quais devemos empe-
nhar-nos para mostrar que o combat cultural
pode conduzir ao desenvolvimento e criar
empregos. Hoje em dia, o vento mudou de
rumo porque os Africanos comeam a tornar-
se auto-sustentaveis, vestem africano, come
africano e enfeitam as suas casas com qua-
dros africanos.
Trata-se ento de uma optima altura para
travar o vosso combat?
Sim, mas em qualquer combat cultural
precise meios financeiros, dirigentes e mui-
tas vezes a Africa nao dispoe destes meios.
Queremos que o nosso trabalho ultrapasse as
fronteiras do continent, que seja apreciado
noutros pauses, na Europa, na Amrica, que
possamos criar franchising, licenas e pon-
tos de venda no mundo inteiro. Se o Yves
St-Laurent, o Pierre Berger nao tivessem o
apoio de grupos financeiros como o grupo
LVMH, o imprio que deixaram nao existiria
hoje em dia. Enquanto grandes criadores que
hoje somos, nao podemos crescer de outra
forma. Por enquanto, temos de ser tudo, cria-
dor, financiador, distribuidor. A Europa nao o
vai fazer por nos.
Sera que necessario acusar os outros?
Nada disso! Nos proprios temos problems,
nao consumimos os nossos produtos na diaspo-
ra ou at em Africa. Com a chegada de Obama,
alguns comeam a entender que o Negro tem
capacidade, que a mestiagem algo de extra-
ordinario. Pela nossa parte, ja o sabemos ha 30
anos. Se nos unirmos em Africa, venceremos,
mas nao temos financiadores na diaspora, a
C(RREIO
Moda
nao ser nos Estados Unidos. Todos os domi-
nios da cultural sao lucrativos, nomeadamente
o que esta ligado moda e beleza como o
txtil, a costura, a marroquinaria, a bijutaria,
a cosmtica e a perfumaria. Podem-se ganhar
milhares de milhoes no continent africano e
depois exportar.
Qual a razao destas reticncias por parte
das foras economicas e political nos paises
pobres, em particular em Africa, em ;. i.. .
economic da cultural?
Quem detm o poder nos nossos pauses nem
sempre uma pessoa exigente. Alguns pen-
sam apenas nos seus prprios bolsos. Apesar
do facto dos que estao cabea serem muitas
vezes voluntaristas, nem sempre estao bem
rodeados e os que lhes estao prximos nem
sempre estao preocupados com o interesse
public. Actualmente, a Africa esta doen-
te porque muitos dos lideres politicos e
economicos nao acreditam realmente nestes
verdadeiros valores. Se nos Estados Unidos
40 % dos produtos de exportaao provm
da cultural, da moda e do cinema, a Africa
pode fazer o mesmo ou at mais porque
um continent onde em cada cidade, em cada
regiao, em cada pais, existem mil maneiras
de criar moda e os produtos derivados. Basta
apenas actualiza-los, modernizar as tcnicas
e criar industries nesse sector para gerar
milhares de milhoes de dolares no interior
mesmo de Africa. Mas os que sao respon-
saveis pela promoao da moda africana nao
o fazem. Nas conferncias ministeriais, os
nossos dirigentes usam geralmente fatos oci-
dentais e quando usam vestes tradicionais,
temos a sensaao de que o usam como se
fosse um traje folclrico. Eu insist que os
presidents africanos e os ministros devem
usar o traje africano nas grandes reunites
para dar o exemplo do dinamismo. Vao
procura do dinheiro la fora, sendo que o tm
aqui mesmo.
O combat ja esta ganho em Marrocos, que
um pais do continent africano e que desen-
volve todos os esforos para que a industria
txtil e a moda sejam uma realidade. A
Arglia esta a caminhar nesse sentido, assim
como a Tunisia. Estes pauses aperceberam-se
do que a Europa ganhou.
Sempre efectuou a i;- .... entire o Norte e
o Sul do continent africano. Agora, temos
a .. .. .. de que esta ,.,.q-,.. ... .. vai de
vento em popa, testemunho disso, a coroa-
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
wni
o do cinema de Africa do Norte no ultimo
Fespaco, ao contrario dos anos anteriores.
Simplesmente porque o Sul do continent nao
acreditava que o rest fizesse parte de Africa.
Porque tambm a Africa do Norte, numa
dada altura, pensava que eram europeus. At
queriam fazer parte da Uniao Europeia. O
Magreb deve entender que africano. Foram
bem sucedidos num combat, o da moda, do
cinema, do turismo; actualmente, devem dar o
exemplo. Alias, muitos dos nossos jovens vao
fazer a sua formaao nesses pauses, na media
em que lhes muito dificil ir para a Europa.
O Magreb a porta aberta para Africa em
matria de desenvolvimento sustentavel. E
o combat pela cultural deve situar-se acima
da political. M
SVestidos de Alphadi.
SRevue Noir
Palauras-chaue
Alphadi; moda; txtil; produtos
derivados; Magreb; Africa; Marrocos;
Arglia; Niger; Tunisia.
Ruu,17 *q 44
Moda
m1 O D f. Uantagem para fifrica
Mali atravs de quem tudo pare-
ce ter comeado, a moda africana
adquiriu os seus titulos de nobreza
com criadores, directors e mensageiros tais
como Alphadi ou Claire Kane, que fazem
com que este sector da cultural seja actu-
almente em Africa o que mais esta har-
monizado com a musica e que emprega o
maior numero de mao-de-obra. A mudana
anuncia-se no continent e na sua diaspora
pela Europa ou Caraibas. O Pacifico tambm
nao fica de fora.
O primeiro festival cultural ACP Santo
Domingo 2006 foi o moment para aumen-
tar a fama de criadores como Anggy Haf,
Leslie Nrette e Marion Cecilia Kali Howard.
Anggy Haf dos Camares, cuja moda se
serve da natureza utilizaao de rafia, rafzes,
lianas, etc. para lhe conferir requinte e sensu-
alidade, combinando-os com os tecidos mais
modernos. tambm um director, organiza-
dor e comunicador talentoso. Responsavel,
desde 2001, pela agncia de manequins BISE,
esteve na base da Associaao de Jovens
Criadores de Moda Camaroneses, do Festival
de Moda e Penteados dos Camares e do
grande espectaculo de manequins "Made in
Kamer" ou "Kamerly".
Leslie Nrette, ainda muito jovem, uma
artist talentosa que se lana em varios domf-
nios e que se exprime atravs das artes
plasticas, do grafismo, da moda, etc. Desde
o Festival de Santo Domingo, onde muitos a
ficaram a conhecer, evoluiu bastante, como
comprova o seu enorme sucesso no "Festival
CulturElles" (Port-au-Prince, Abril de 2008).
Da mesma geraao, Marion Cecilia Kali
Howard das Ilhas Cook, criadora de moda
e designer. Cria tambm os seus proprios
tecidos indo buscar inspiraao natureza e
cultural do seu Pacifico natal.
Tal como Africa tem o seu Festival Inter-
nacional de Moda (FIMA) e outros festivals
importantes, as Caraibas tm o "Caribbean
Fashionweek" que figure nos titulos princi-
pais dos maiores meios de comunicaao do
mundo como o New York Times. A ultima
ediao, em Junho de 2008, foi cintilante
com um numero consideravel de talents
do subcontinente. Aleatoriamente, podemos
destacar trs:
A dupla Zaad & Eastman, Trindade. Jogo
de branco e cor, de formas, de materials.
Tendo como caracteristica dominant uma
sensualidade quase trrida. Combinaao de
estriados de cores e de renda, organdi, tafeta,
seda, brancos e sussurros. Forros voluptuosos
estriados com nuances douradas do mar das
Caraibas. Transparncia de cobertura com
tule preto sobre saias flutuantes do mesmo
azeviche, tao quente que parece difundir as
cores mais vivas.
Keneea Linton, Jamaica. Cada pea de ves-
tuario, cada ornamento um jogo grafico. A
distinao parece ser o seu lema. Duas palavras
predominam, o branco e o preto, cujas linhas,
estrias, as rosaceas e outras formas sempre
refinadas para realar a beleza do corpo.
Ainda mais destacado pelos ornamentos tam-
bm eles originals. Ou para criar ornamentos,
sobretudo chapus com uma originalidade
extraordinaria.
A diaspora africana na Europa nao esta para-
da. Basta olharmos para a afirmaao de Louise
Assomo. Esta sobredotada de origem camaro-
nesa em Bruxelas, que faz, desde o Cristal de
Ouro obtido em Paris mal os estudos tinham
acabado e o seu primeiro desfile em Bruxelas,
o seu primeiro grande desfile ha 3 anos
em Bruxelas, um percurso brilhante. Louise
Assomo uma coqueluche da moda belga.
tambm uma mulher de negocios sensata com
lojas em Bruxelas, Anturpia e Tel Aviv.
H.G. M
Palauras-chaue
Hegel Goutier; Chris Seydou; Alphadi;
Claire Kane; Anggy Haf; Leslie
Nrette e Marion Cecilia Kali Howard;
"Kamerly"; FIMA; "Caribbean
Fashionweek"; Zaad & Eastman;
Keneea Linton; Louise Assomo.
C(RREIO
Clment Tapsoba*
fpostas economics e
DESRFIOS do CIIIEmA africano
e das Caraibas
De 28 de Fevereiro a 7 de Maro de 2009. O Festival de cinema e de televiso de
Uagadugu (Fespaco), 21.0 do gnero, cumpriu a tradio apresentando, como
acontece de dois em dois anos, o melhor das obras cinematogrficas e audiovisuais
africanas, das Caraibas e da diaspora. Criado em 1969, o Fespaco, que celebrava
quarenta anos, decorreu sob o tema Cinema africano, turismo e patrim6nios cul-
turais. Percurso sobre os novos desafios do cinema africano e das Caraibas.
Africa e das Carafbas por ocasiao do Fespaco, destacam-se
as apostas economics do cinema e do audiovisual, mais do
que nunca no centro dos debates para encontrar soluoes
para questoes identificadas de longa data e que foram evocadas de
forma reiterada, de uma ediao outra, atravs de coloquios, grupos
de representantes e oficinas organizadas pelo Fespaco ou por parceiros
da 7.' arte africana e das Carafbas.
> Perguntas sem resposta
Um olhar retrospective sobre os temas das edioes anteriores sufi-
ciente para se ficar convencido. Basta para isso lanar um olhar retros-
pectivo sobre os temas das edioes anteriores, temas institufdos com a
cauao da Federaao Pan-Africana de Cineastas (FEPACI) para debater
as preocupaoes do moment do cinema africano e das Caraibas: como
organizer o mercado audiovisual national no sentido da criaao de
financiamentos a favor das produoes cinematograficas e audiovisuais
nacionais e respective distribuiao? (problematica da produao e da dis-
tribuiao Fespaco 1981). Que tipo de filmes para que tipo de publicos?
De que forma o cineasta africano pode ir ao encontro do seu public?
Como integrar verdadeiramente o filme africano nos circuitos comer-
ciais de distribuiao, o que at agora nao acontece (Fespaco 1999)?
Apesar destas chamadas para a reflexao e acao, bem como uma
colheita aparentemente abundante de filmes inscritos para a 21.a ediao
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
Cinema
(664 filmes de todas as categories originarios
de 75 pauses), a crise do cinema africano e
das Caraibas permanece uma constant. No
que toca produao, um ponto a limar. Na
maioria dos pauses de Africa e das Caraibas,
onde todos os indicadores socioeconmi-
cos seguem no caminho contrario e sofrem
as repercussoes da reduao das subvenoes
externas, a produao de filmes com apoios
estagna, isto quando simplesmente nao existe.
Os cineastas sao as primeiras vitimas visadas
na gama das prioridades e das urgncias
econmicas. Os filmes sao subfinanciados,
quando os politicos pura e simplesmente nao
se demitem das suas responsabilidades. No
Fespaco 2009, dos 18 filmes na corrida para
o Cavalo de Ouro de Yennenga, a consagra-
ao supreme, 11 vinham dos paises ACP. No
pelotao da frente dos paises ACP a apresentar
mais do que um filme em competiao official
encontrava-se a Africa do Sul (tres filmes),
seguida pelo pais anfitriao, o Burquina Faso
(duas peliculas). Estes paises, com a excep-
ao de Marrocos e da Tunisia no Magreb,
mantm uma political rentavel em matria de
apoio ao seu cinema. O que nao parece ser o
caso para os paises da Africa Ocidental cuja
forte tradiao cinematografica se foi atrofian-
do de uma ediao outra do Fespaco.
> Uamos encerrar!
No que toca distribuiao e s salas de
cinema, a crise ainda mais aguda. Os cir-
cuitos de distribuiao instalados nos anos
70 e 80 desapareceram no seguimento da
privatizaao-liquidaao das empresas nacio-
nais de produao e de distribuiao (Sonacib
no Burquina, Sidec no Senegal, Onaci no
Congo...). muito mais facil ver um filme
africano nos ecras europeus do que em Africa.
As salas emblematicas das capitals africanas
foram destruidas ou encerradas, como o
caso de Paris em Dacar (Senegal), os Studios
em Abijao (Costa do Marfim), a Rex em
Porto Novo (Benim) e, muito recentemente,
em Janeiro passado, os Camares acabam
de se juntar longa lista de pauses privados
de salas de cinema com o encerramento da
ultima das oito salas que existiam na cidade
de laund e baptizada com o nome Cinma
thtre Abbia.
Por ocasiao da mesa redonda organizada
na abertura do MICA pelo Canal France
International (CFI) com o tema C;,. i.,..;. e
saidas economicas para as obras audiovisu-
ais africanas, as situaoes descritas encontram
efectivamente as suas origens em varios fac-
tores: a falta de filmes recentes para alimentar
as salas existentes, a forte concorrncia da
pirataria, do disco compact de video e do
satlite aceleram a degradaao das condi-
oes de circulaao das obras africanas. Outro
factor nao menos desfavoravel: o cinema
africano continue a ser subfinanciado e a estar
bastante dependent dos auxilios externos.
Ausente no seu proprio territrio Ezra, do
nigeriano Newton Aduaka (Cavalo de Ouro
de Yennenga em 2007) foi mais visto na
Europa do que em Africa a partir da sua con-
sagraao em Uagadugu o cinema africano
encontra-se confinado a uma rede de arte e
de experimentaao ou a festivals na Europa e
tem pouco interesse para o circuit americano
ou asiatico. M
* Critico de cinema e vice-presidente da Federao
Africana da Critica Cinematografica (FACC).
I No topo: poster de Teza.
Palauras-chaue
Cinema; Fespaco; Uagadugu; Burkina
Faso; criaao; Cavalo de Ouro de
Yennenga.
eitrc e- e.ofc do .............. Hai.....ma
Guriaariulu mcat pc d-. *0.0- so .e a meoi dol.ente sob- a . . *uetd qu-aaasaspluacmo ess
e sobre as dei-e da hsi. Ose ano de- ci.z do fina do r ................. de .u e os de. eMnit o s7 e-8:e oma
sua .toidds eosite o.. ean d.. *0- d *e0 ta .
0 miianim de- *A ----------- e de eefae doi jo en .r e que -ira estda par 0.bae a. diadr *.-os de. Neu e. ~
que, crend- par a .-va c em oro eo -e.oa o *...-.- de @0 -sad de Mn istu De ..e - ....-----te A
susvds ssa seas u e...........................- e os .eu enano *-e-agegan e. u d o e.... que -orv de............
e- e.estoao cnegu- -e-rsa lmna par. -e *.aad .0@S *u 0 -eun *0up de0 joen - e.- es do ne -ht er
Oscno doene de............. e...im e -opa -ig e -ut men .o Oie- -. Ma qem er -... do e.. po.c ae.
0* iartd sotit eo .0nd mais * -el do qu...e trse.eee.el-trbiod ermi *Etao d'.r -e- d e eo os e
pr- o e o oo o ertio *eeeaos e...................00 *em eaadg -eoi do Prmi es e .i do. **. e do-mod .o c en
do Fetia de -eea 208 s: M
C(RREIO
DfO COOnTEmPORRnER -
Surpreendente, inebriante, inquietante
Em 28 de Fevereiro e 6 de Maro passado, nas cerim6nias de abertura e de encerra-
mento do Festival de Cinema de Uagadugu, perante cerca de 20 mil espectadores,
ela teve como cendrio um campo de futebol. Ela, Irne Tassembdo, a core6grafa
burquina. E o espectculo foi grandioso. De um encantamento e artificio que como-
veu tanto o pblico jd conhecedor como aqueles menos familiarizados com a dana
contempornea.
ao do dialogo entire os povos atravs de uma encenaao do folclore do
Burquina, de quadros com acrobatas, gigantes marionetistas, vaga de
tamborileiros, veiculo de sonhos, dialogo cultural, unidade da Africa.
Sim! Mas se em vez de vermos os quadros, vissemos a pintura... As mulheres,
estendendo lenois enormes para secar na relva do estadio no inicio do espectacu-
lo, transformam-se em ondas em movimento onde as mulheres, o vento e o tecido
se fundem. Que fazem pensar no "Love stream" de Cassavetes. E o restante com
o mesmo encanto, com uma dinmica fluida. a assinatura de Irne Tassembdo.
Poderiamos apontar-lhe algumas falhas de sincronizaao. Mas que importa, esta
coregrafa traz, carregada de nostalgia, um mundo de fadas e sonhos.
Irne Tassembdo cada vez mais requisitada no estrangeiro como tambm o sao
various coregrafos de Africa, das Caraibas e do Pacifico. O primeiro festival de
cultural destas trs regies no final do ano de 2006 em Santo Domingo ja tinha
chamado a atenao para a sua criatividade e audacia.
A "Compagnie le temps", por exemplo, do Congo e do Senegal num espectaculo
como "Impro-Vis 2" apresenta um gnero de banda desenhada a dois cujos
movimentos bruscos transformam uma atmosfera tragica e pesada num crescendo
duro como o Bolero de Ravel ou o Batuque de Oscar Lorenzo Fernandez.
O espectaculo "Errance" de Kettly Nol, coregrafa de origem haitiana que evo-
lui no Mali, esculpe o silncio, estiliza o isolamento e a loucura, aprofundando
os espaos mais pequenos do medo, se nao mesmo do terror escondido em cada
um sem condescendncia, mas sem qualquer tipo de morbidez nem desejo de
bradar ou de surpreender, sem morbidez, sem vontade de seduzir ou de espantar.
Naturalmente. Um public que fica sempre petrificado.
Poderfamos tambm citar Akiyo Danse do Haiti que se inspira em danas de vudu
vistas como uma fortificaao do corpo e do espirito e uma estilizaao do equilf-
brio entire a suavidade e a fora. Uma dana muito ritmada com sombras e luzes
nas formas, movimentos e espirito. Surpreendente, inebriante, que atormenta o
espectador.
Ou o quartet de bailarinos de Rako das Fiji cuja dana uma poesia sensual e
suave sem ruido, com um deslizar silencioso, cauchutado, utilizando as percussoes
espaadas apenas para ritmar o silncio. Com as percussoes em que cada movi-
mento aguarda suavemente o outro e os balanos se modulam num s. H.G. M
Palauras-chaue
Hegel Goutier; Irne Tassembdo; "Compagnie temps"; Kettly Nol; Akiyo M
Danse; Rako; coreografia; dana contempornea; Africa; Caraibas; Pacifico.
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
E m do mundo
> lmsicos de Jazz e de Rock: um grande numero de musicos de jazz, trs
a paixao pela flfrica artists assinaram albuns inspirados neste
patrimnio infinito: Randy Weston, apaixo-
Gospel, jazz, funk, rap, rumba, R&B, rock, nado pelos ritmos gnaoua de Marrocos, ori-
funk, reggae, dancehall, cumbia e tango: sao ginarios da regiao do Niger; o artist de blues
inumeros os gneros musicais dos sculos XX texano, Johnny Copeland, que se inspira das
e XXI que se inspiram no continent africano, musicas congolesas e marfinenses, e Hank
a grande referncia dos musicos contem- Jones, apaixonado pelo patrimnio mandinga.
porneos. Ainda recentemente, na senda de Este interesse pela Africa partilhado pelos
artists de rock que reconhecem a influncia
direct da musica africana nesta intersecao
de R&Bdos Negros e da country dos Brancos:
palavras proferidas pausadamente, faculdade
de improvisaao, pulsaoes no ritmo e canto
coral fragmentado. Peter Gabriel, fundador do
r6tulo Realworld que lanou inumeros artists
africanos na cena international (Youssou
Ndour, Geoffrey Oryema, Remmy Ongala,
CeRREIO
Msica
ii S:eck e Sylvie Clerfr ille"
FRICH: a
A
.. ....... .... -- RUMU N
Msica
Papa Wemba, etc.), o exemplo mais bri-
lhante. Confessou um tal fascinio pela Africa
e suas obras contemporneas que levou o seu
festival "Womad" a todo o planet (Japao,
Australia, Hong Kong e, mais recentemente,
a Indonsia).
> ffrica e Isia: uma histria
de amor recent
At entao confinada Europa e Amrica,
esta influncia das musicas africanas estende-
se desde os anos 90 Asia: Doudou N'Diaye
Rose cruzou a sua baqueta com tamborileiros
coreanos e japoneses. Youssou Ndour traba-
lhou com o artist de jazz Ryuichi Sakamoto,
originario do Japao, um pais onde se multipli-
cam os grupos de rumba congolesa e de musi-
ca mandinga, como o do maliano Mamadou
Doumbia, compost unicamente por musicos
nipnicos. Papa Wemba foi varias vezes
convidado a actuar no Japao e o repertorio de
Abeti Masikini, que fez uma digressao pela
China em 1989, foi retomado por Scu Mi In,
uma das estrelas da cena pequinesa a quem
chamam a "Abeti chinesa".
> fmrica Latina: frgentina
e Peru reconhecem, enfim,
as suas raizes africanas
Em parte alguma, a influncia da Africa nao
se fez sentir e ainda hoje nao esta present
e sobretudo reconhecida tao directamente
como na Amrica Latina e nas Caraibas.
Combinaao dos ritmos bantos e do expres-
sionismo argentino, o tango hoje reconhe-
cido como um gnero de raizes africanas,
origem que lhe foi muito tempo negada.
O Brasil, que tem mais de 40 milhes de
habitantes de origem africana e sofreu duas
grandes influncias, ioruba e kongo-angolana,
exprime-se musicalmente em inumeros gne-
ros de origem africana: batuque, lundu, jongo,
capoeira e samba. Mais recentemente, graas
ao trabalho de Susana Baca, que faz uma
recolha de musicas e cantos afro-peruanos e
fundou, em 1992, o Instituto Negro continue,
o Peru reconheceu a dimensao africana da sua
cultural e devolveu assim o seu estatuto social
aos afro-peruanos durante muito tempo mar-
ginalizados. Mas Cuba que defended mais
afincadamente o seu patrimonio africano com
a rumba difundida em todo o planet desde
1920. Quase um sculo depois, o dialogo
perdura nomeadamente com o grupo pan-
africano Africando, que colabora regularmen-
te com musicos cubanos.
> Bob BroZman: o trao de uniao
entire a ffrica e o Pacifico
So a regiao do Pacifico que teve poucos
laos culturais com a Africa. parte Havai,
que se tornou conhecida pela sua famosa
tcnica de guitarra*, com as suas tonalidades
voluptuosas, que influencia desde os anos 50
muitos guitarristas da Africa Central, como o
centro-africano Jimi Banguissois, as relaoes
sao praticamente inexistentes. Admirador da
guitarra havaiana, da musica das Caraibas e
da Africa, o artist de blues americano Bob
Brozman, que se deixou imbuir dos sons de
artists da Africa e do Oceano Indico (Ren
Lacaille, da Reuniao, em Dig Dig e o maliano
Djely Moussa Diawara em Ocean blues),
parece ser um dos raros a favorecer os encon-
tros entire cultures do Pacifico e da Africa.
No entanto, a Australia e, sobretudo, as musi-
cas aborfgenes suscitam hoje o interesse de
alguns artists africanos. Assim, So Kalmery
debruou-se sobre a tcnica do didgeridoo
e integrou-a no seu recent album, Brakka
System. uma porta aberta para um dialogo
que sera, sem duvida, prometedor. M
Para mais informaoes: www.afrisson.com,
www.saraaba.fr
* As pessoas do Pacifico tambm so conhecidas pela
sua musica pan-pine. frequent na Melansia.
Palauras-chaue
Musica; Africa; Pacifico; sia; Caraibas.
J a als C crs sa sretn p otxoq eao pn a" ug ret- aoa d nttt ainld ut
luaprit epar o seohciet se asapplosnonga E BaVn ed N SO m19,n
Osdis fzri scl.Pro ru uaa pneal eecaaraaenaclta setuos pifiom en d fa r
Bacaganou ratcamete lua. rgetinaes na uesin e jstiia.. L ecor d foma etumant a ua uta
*aaansccr *. 'Tng oer" 205o*lul
Teatro
I
Gotson Pierre*
HRITI: Inuestir no teatro
Para a sexta edio do Festival de Teatro "Quatre chemins", prevista para Setembro
de 2009 em Port-au-Prince, mais de vinte dossiers foram j apresentados
"Fondation Connaissance et Liberts" (FOKAL) pelas jovens trupes que pretendem
participar neste event, que se tornou num cruzamento do teatro haitiano.
Em cada festival, "revelam-se uma
ou duas trupes", afirma Michle
Lemoine, principal animadora deste
event da FOKAL, que colabora
com o Gabinete da Comunidade Francesa da
Blgica no Haiti, a companhia "La Charge du
Rhinoceros" e o Instituto Francs do Haiti.
"A criatividade manifesta-se pela diversidade
dos grupos e a multiplicidade das expres-
soes", afirma ela, sublinhando que as trupes
estao mais rodadas de ano para ano.
Na quinta ediao, em Setembro passado, o
festival foi inaugurado por uma "parada arco-
iris", onde se misturaram nas ruas da capital
actors, encenadores, coreografos, bailarinos,
marionetistas, ao som da musica rara (tradi-
cional), num impeto teatral total.
Michle Lemoine sublinha que a acao do
festival consiste em promover um "teatro cita-
dino" que se destina sociedade para lhe dar
uma "tomada de conscincia" ao mesmo tempo
que permit que os talents se exprimam.
neste espirito que a trupe "Nous Thtre
Association" se revelou ao public, ha alguns
anos. Este teatro que nao se baseia no texto
levou os espectadores a sair para a rua, que se
tornou num grande palco onde se represent
o espectaculo do quotidiano.
Contando a sua experincia, um dos principals
fundadores desta companhia, o dramaturgo
Guy Regis Junior, consider que, no quadro
haitiano, o teatro pode ajudar, por exemplo,
a combater a insegurana, levando as pessoas
a ocupar as ruas noite. Para ele, para la do
palco, essencial "fomentar encontros" que
permitirao mobilizar as energies com vista ao
progress da sociedade.
Neste mbito, o Teatro Nacional do Haiti,
situado num dos bairros insalubres na baixa
da capital, abandonada desde ha muito tempo
pelo public, tenta investor o seu meio, a
favela Cidade de Deus. O director Frantz
Jacob fala da formula "teatro-forum" que
permit criar um jogo interactive com o
public. Para alm da component ludica, o
teatro serve neste caso para contribuir para a
identificaao dos problems que sao resolvi-
dos em cena para que o possam ser na vida
do dia-a-dia.
"Num meio de violncia, esta provado que o
teatro, lazer saudavel que actua no intelecto
e consciencializa, permit amenizar a situa-
ao", diz Frantz Jacob.
O actor e encenador Daniel Marcelin partilha
da mesma opiniao. Para ele, o teatro capaz
de "contribuir para o desenvolvimento da
pessoa". Leva a "revelar-se a si mesmo e a
encontrar o seu lugar na sociedade". Este ideal
do teatro manifestou-se atravs de experin-
cias tais como a do clebre encenador Herv
Denis (falecido em 2002), a quem Daniel
Marcelin teve de dar rplica na Tragdia do
Rei Christophe, do escritor martinicano Aim
Csaire (falecido em 2008). Na linhagem do
grande dramaturgo Flix Morisseau-Leroy
(falecido em 1998), autor da adaptaao criou-
la da pea classic grega Antfgona, Herv
Denis trouxe "uma luz important ao teatro
no Haiti no que respeita ao etnodrama" (inte-
grando o misticismo do vudu).
Responsavel pedagogico do "Petit Conserva-
toire", que forma jovens em Artes Cnicas,
Daniel Marcelin aplaude a cooperaao com
a Frana e a Blgica, que torna possivel a
presena temporaria de pedagogos belgas e
franceses nos locais de formaao.
Infelizmente, nas condioes actuais do Haiti,
a pratica do teatro nao "economicamente
viavel", lamenta Marcelin porque, diz ele,
"passamos trs meses a ensaiar uma pea para
duas ou tres representaoes". Except no caso
de Jesifra, a referncia em matria de teatro
de "boulevard" que bate todos os records de
entrada e de digressao, com sketches que sao
de morrer a rir.
O teatro caro devido aos investimentos que
sao pesados, sendo a trupe obrigada a assumir
todas as despesas relatives produao do
espectaculo. Para Marcelin, um dos principals
problems reside no facto da maioria das salas
encerrarem. A ultima grande sala de Port-au-
Prince, o Rex Thtre, esta ameaada, subli-
nha, defendendo a subvenao do Estado para
o sector das Artes Cnicas, uma vez que "se
trata de uma outra forma de investimento cuja
rentabilidade vira depois". M
* Jornalista, Editor da agncia em linha AlterPresse www.
alterpresse.org, titulares de programs radiofnicos e
correspondents dos meios de comunicao estrangeiros
no Haiti.
Palauras-chaue
Haiti; teatro; Caraibas; Festival de
teatro "Quatre chemins"; "Fondation
Connaissance et Liberts" (FOKAL);
Michle Lemoine; Guy Regis Junior;
Daniel Marcelin.
C(RREIO
1
f7
Cincias
CIEOlCIfS. Sera que a flFRICl fHTIGR
nao nos deixou uma herana?
Apesar da herana cultural de Africa j no ser object de contestao, o seu
contribute cientifico para o patrim6nio mundial continue esquecido. Este o
ltimo bastio que alguns investigadores procuram sistematicamente reduzir h
j algum tempo, entire os quais Paulin Houtondji. Uma das publicaes editadas
sob a sua direco permanece memorvel, "Os saberes end6genos"*.
P aulin Houtondji tentou explicar a
marginalizaao de Africa no plano
cientifico. Identificou duas causes
importantes. Primeiro, o trafico de
Negros, logo no nascimento da imprensa que
iria multiplicar os saberes. O trafico destituiu
os detentores africanos de saberes tradicio-
nais do seu meio incubador, retirando-lhes
igualmente toda a liberdade de associaao e
de organizaao. A segunda causa, relacionada
com a primeira, a colonizaao que levou a
uma distribuiao das tarefas e das produoes,
assimilando a Africa a uma reserve de mat-
rias-primas, matrias ffsicas, mas tambm
cientificas e intelectuais.
> 0 turismo cientifico
Nesta fonte de dados cientificos brutos, qual-
quer um livre de tirar. Trata-se de um labora-
t6rio de experimentaao, que recorre de vez em
quando ao pessoal local, inclusive de alto nfvel,
mas com a finalidade de obter resultados desti-
nados "ao consumo" extemo. Este process de
produao de factos cientificos foi controlado
pelos pauses do Norte e contribuiu para o que
Houtondji considerou um "turismo cientifico",
associado ao consumo em Africa de produtos
cientificos transformados no estrangeiro. O
facto de investigadores africanos de prestigio
terem tido sucesso e at de laboratorios de gran-
des institutes estrangeiros se terem instalado
em Africa em nada modifica a orientaao das
investigaoes que ai eram desenvolvidas.
Goudjinou P. Metinhoue* sublinha que a
Africa penalizada pela metodologia da
EDIO SPECIAL N.E. JUNHO 2009
investigaao historica que privilegia as fontes
escritas em detriment das orais, ignorando
assim os saberes endogenos. Deveriam ser
adoptados mtodos critics de analises de
fontes orais.
> 0 fogo e a chuua
Em todo o lado, o desenvolvimento tecno-
logico esteve ligado utilizaao do ferro.
Alexis Adand* salienta o contribute de
Africa para uma das descobertas tecnologicas
determinantes, a metalurgia extractiva do
ferro utilizando baixos fornos, ou seja, sem
passar pela fusao. Sabia-se que esta ja existia
ha muito em varias sociedades africanas. Mas
alguns emitiam sub-repticiamente a hipotese
de que este conhecimento provinha prova-
velmente da Europa via o Mdio Oriente. As
dataoes precisas das peas arqueologicas da
antiga Nigeria puseram fim a estas especula-
oes tendenciosas. Provaram que o primeiro
period de trabalho do ferro em vastas regi-
es africanas datava com certeza do meio do
sculo VII e provavelmente at principios da
era crista.
Abel Afouda* abordou um saber traditional
africano mais dificil, primeira vista, de expli-
car cientificamente: os fazedores de chuva.
Contudo, formula uma hipotese de explicaao
cientifica do process utilizado que permane-
ce, pelo menos, como hipotese de trabalho.
Relativamente classificaao dos animals por
Linn no sculo XVIII, ponto de partida da
zoologia modema, J. D. Pnel* sublinha que
esta se baseava simplesmente nas caracteristi-
cas visiveis a olho nu e demonstra que existe
uma semelhante nos Hausa.
> lumeros e letras
Georges Ifrah, no seu livro "Histoire naturelle
des chiffres"** (Historia natural dos nume-
ros), descreve os estudos de C. Zaslavsky
sobre a numeraao, os quais indicam que os
Ioruba tinham inventado em tempos remotos
um sistema vicesimal (base de 20) utilizando
um sistema duplo, aditivo e subtractivo, com
a vantagem de os numerous serem curtos.
Entre parntesis, as expresses inglesas one
score, two scores semelhana de outras em
varias cultures ocidentais tm esta mesma
base. Bienvenu Akoha* sublinha varios tipos
de escrituras, as "rcades"*** dos reis do
Daom, os signs de Fa e formas mais elabo-
radas na cultural Ashanti. Nao esquecendo os
hieroglifos egfpcios, except se pusermos em
duvida o character negro-africano do Antigo
Egipto. H.G. M
* "Les savoirs endognes. Pistes pour une recherche", sob a
direco de Paulin Houtondji (Diffusion Karthala, Frana).
** Georges Ifrah, "Histoire naturelle des chiffres"(Editions
Robert Laffont, collections Bouquins).
*** Ceptros reais.
Palauras-chaue
Hegel Goutier; Paulin Houtondji;
Goudjinou P. Metinhoue; Alexis
Adand; Abel Afouda; J. D. Pnel;
Georges Ifrah; Bienvenu Akoha; saberes
endogenos; Hausa.
L
retuin rmo ocm
Aps quase duas dcadas marcadas por um intens6osf o coin carente xito no combat
contra a invisibilidade da arte africana no palco contemporneo atravs de grandes exposi-
es pan-africanas, publicaes importantes e participao em bienas surge pgora um movi-
inento mais atractivo na arte contempornea africana ue consistel envolviriento do public
africano, juntamente com a particip oo dos govern ais, ~mu e trocioadores.
S* lr s i.
do o aparecimento de algumas
iniciativas extremamente interes-
santes em varios paises africa-
nos, implementadas por curadores e artists
plenamente convencidos de que necessario
colmatar o imenso fosso entire os artists afri-
canos (cultos, reconhecidos no mundo inteiro
e com conhecimentos internacionais) e os
cidadaos africanos que vivem em condioes
muito diferentes. Estas iniciativas partiram
do pressuposto que todas as pessoas tm o
direito de ter acesso ao conhecimento e con-
tributo que a arte contempornea lhes pode
conferir. Tm o direito de receber educaao
na interpretaao da arte e de experimentar a
riqueza e o prazer esttico que esta lhes pode
propiciar. Tm o direito de visitar uma gale-
ria de arte contempornea e de apreci-la. A
Africa deve despertar o interesse para a sua
produao artistic.
Uma galeria de arte africana contempornea
foi aberta em 2005 pela Fundaao Zinsou, em
Cotonu (Republica do Benim), uma fundaao
privada criada por um banqueiro benins
reformado (www.fondationzinsounews.org).
A fundaao, dirigida pelajovem Marie-Ccile
Zinsou, filha do principal patrocinador Lionel
Zinsou, visa promover os artists africanos
contemporneos, intercmbios no dominio
da arte, um maior acesso s artes contem-
porneas, e uma apreciaao universal da
arte africana. A galeria organize exposioes
e workshops de arte destinados s crianas.
A Fundaao tornou-se num espao cultural
incontestvel em Cotonu. Desde a sua abertu-
ra, j foi visitada por tres milhes de pessoas,
na maioria jovens, graas entrada gratis e
s parcerias existentes com varias escolas
na cidade. O program artistic iniciou-se
com o artist benins Romuald Hazoum e
prosseguiu com o clebre pintor Jean-Michael
Basquait, nascido em Nova torque, filho de
pai haitiano e de mae porto-riquenha; uma
exposiao sobre vudu e uma do rei benins
Bhanzin d'Abomey (1844-1906).
Contudo, estas iniciativas nao incluem ape-
nas obras africanas, procuram tambm para
alm das fronteiras do continent, como o
sublinha Sindika Dokolo, o mecenas congols
que decidiu criar em Luanda "uma colecao
africana de arte contempornea em vez de
uma colecao de arte africana contempo-
rnea" (www.sindikadokolofoundation.org).
Em 2007, acompanhado pelo dinmico artist
angolano Fernando Alvim, Dokolo empres-
tou a sua principal colecao de obras para
ser exposta no pavilhao africano, na Bienal
de Veneza. Afirma que o mundo da arte
africana contempornea deve pr fim sua
"dependncia" relativamente ajuda external
- nomeadamente coleccionadores, promoto-
res e apoio financeiro a qual distorce de um
certo modo a sua origem africana. Denuncia
igualmente o facto de os Africanos nao con-
trolarem o seu proprio dominio cultural, o que
afecta o conteudo da sua produao artistic.
Consider "o acesso arte como um direito
human, tao basico e legitimo como o acesso
educaao, agua potvel e saude".
Alm do mais, o Centro para a Arte
Contempornea, Lagos (www.ccalagos.org),
uma organizaao independent nao lucrative,
criada em Dezembro de 2007, com a cura-
tela de Bisi Silva, insisted no envolvimento
do public africano e no desenvolvimento e
profissionalizaao da produao artistic e da
prtica da curatela na Nigria e na regiao da
Africa Ocidental. Apresenta um program
de workshops, debates, seminarios, sesses,
projecoes de filmes e exposioes, tais como
a que esta actualmente a decorrer "The World
is Flat", uma colaboraao international com
a curadora dinamarquesa Johanne Loegstrup.
Bisi Silva igualmente curador da exposiao
"In the Light of Play" na Joburg Art Fair.
O Doual'art um centro de arte contem-
pornea criado em 1991, na Republica dos
Camares, por Marilyn Douala Bell e Didier
Schaub. O centro esta a desenvolver um traba-
lho important com vista ao envolvimento da
populaao local, promovendo projects cultu-
rais e intervenoes de arte especificas a locais
na cidade de Douala. (www.doualart.org)
Referimos apenas alguns exemplos, mas
parece-nos que no sculo XXI o contribute
de Africa para a historia das obras de arte
do mundo pode ser important e envolver
ambos, os artists e o public incluindo o
Governo, a educaao, os museus, as galerias,
as Academias de Belas-Artes e os colecciona-
dores revelando ao mundo o alto nivel e a
diversidade da arte africana. M
Palauras-chaue
Arte contempornea africana; Fundaao
Lionel Zinsou; Marie-Ccile Zinsou;
Sindika Dokolo; Bisi Silva; Centro
para a Arte Contempornea em Lagos;
Joburg Art Fair; Doual'art.
CeRREIO
oloquio
Andrea Marchesini Reggiani
e
Uectores de desenuoluimento
os pauses ACP (Africa, Caraibas
e Pacifico), as industries cultu-
rais ainda lutam para conseguir a
estabilidade, o que constitui um
factor crucial para valorizar a riqueza do talen-
to. Louis Michel, Comissario Europeu para o
Desenvolvimento e Ajuda Humanitaria, e Jan
Figel', Comissario Europeu para a Educaao,
Formaao, Cultura e Juventude, pretenderam
promover 3 dias de trabalho, convidando
mais de 150 profissionais da area da cultural
tanto da Uniao Europeia (UE) como dos paf-
ses ACP, com vista a realar a importncia da
ligaao entire a cultural e o desenvolvimento.
Muitos protagonistas artisticos dos pauses
ACP, tal como o curador de arte Yacouba
Konate, a escritora Vronique Tadjo, a baila-
rina, a coreografa Germaine Acogny, Rokia
Traor e muitos outros editors, directors,
pintores, musicos, estilistas e gestores tiveram
a oportunidade de relatar e partilhar as suas
experincias profissionais feitas de vitorias,
bem como de obstaculos, e foram encorajados
a expressar todas as suas necessidades e apre-
sentar sugestoes concretas.
"Nao consideramos a cultural como um factor
estatico a ser protegido, mas sim uma activi-
dade economic e political em evoluao", afir-
mou Stefano Manservisi, Director-Geral da
Comissao Europeia para o Desenvolvimento,
no seudiscursodeboas-vindas: "Consideramos
estes workshops profissionais extremamente
importantes para entender de que forma a
Comissao pode realizar melhor o seu traba-
lho de associaao, baseando-se em todas as
experincias que existem no territorio euro-
peu e ligando-as com o que actualmente
produzido nos pauses ACP para definir uma
acao political mais sistematica e obter uma
cooperaao efectiva."
Cinco workshops decorreram no primeiro
dia relativamente s artes de actuaao (teatro,
dana e arte de rua), artes visuais (pintura,
escultura, fotografia, design de moda), audio-
visual (cinema e t ... i.. i.i, literature e musi-
ca. Durante o segundo dia, foram organizados
5 workshops comuns e paralelos: os temas
foram a comunicaao cultural, formaao,
quadros juridicos e acesso ao financiamento,
criaao e produao, distribuiao e circulaao
no mercado cultural.
O workshop relative ao tema do audiovisual,
coordenado por Charles Mensah, president
da Federaao Pan-Africana de Cineastas, e
Touissant Tiendreabogo, produtor cinemato-
grfico, analisaram o sector da realizaao em
Africa. Ha uma grande procura por parte da
populaao por imagens e histrias que possam
reflectir a sua vida diria e a visao pessoal que
tm do mundo. Mas existem tambm obstcu-
los tais como a falta de political publicas cul-
turais eficientes, a ausncia de financiamento
national, a debilidade da produao local que
nao ajuda a reconhecer o saber-fazer e novos
talents, a falta de respeito pelos direitos de
autor devido pirataria e a ausncia de politi-
cas fiscais e aduaneiras apropriadas.
O workshop de literature e banda desenha-
da, dirigido por Beatrice Lalinon (ediao
Ruisseaux, Benim), sugeriu promover inter-
cmbios entire todos os editors, para alm
de workshops de escrita, concursos locais
de literature e iniciativas pedaggicas rela-
cionadas com a leitura; os delegados invo-
caram a necessidade de forar os governor
a respeitar o Acordo de Florena* que exige
o levantamento dos impostos sobre os pro-
dutos culturais, embora em muitos regimes
aduaneiros 1 kg de banda desenhada seja
tributado tanto como 1 kg de carvao.
Os operadores culturais em todos os sectors
destacaram algumas necessidades comuns,
por exemplo, um "visto cultural" especial, e
alguns problems comuns, tal como a fraca
percepao dos governor ACP que muitas
vezes nao propem (dado que a Comissao
que conclui esses documents) a cultural nos
seus plans nacionais e regionais (PIN e PIR),
o que exclui a possibilidade de receberem
financiamento da UE. Para alm disso, os
operadores muitas vezes lamentam a buro-
cracia excessive e complex dos convites
europeus apresentaao de propostas, mesmo
para pequenas quantias, e, acima de tudo, a
dificuldade em gerir esse financiamento devi-
do a regras rigidas que matam a criatividade e
flexibilidade da produao cultural.
A cerimnia de abertura do Colquio decor-
reu na tarde de 2 de Abril, com a partici-
paao de muitos ministros da cultural dos
pauses ACP. O president do Mali, Amadou
Toumani Tour, sublinhou a conscincia e
empenho do seu governor no Mali na defesa
do seu patrimnio national, reconhecendo
que a sua terra "uma herana rica em mitos,
lendas e cidades extremamente bonitas. Uma
riqueza que constitui um factor de coesao
national e uma atracao para o turismo cul-
tural". O Comissario Louis Michel apontou
para muitos projects e events culturais em
diferentes pauses ACP que foram financiados
pela Comissao e defended que "a cultural
um antidoto eficaz contra a indiferena e
intolerncia que estao na base de conflitos
culturais", sobretudo neste period historico
no qual "a crise pode levar s piores attitudes
de exclusao, racism e egoismo".
A conferncia terminou com a leitura da
declaraao de Bruxelas** feita por artists
e profissionais e agents da cultural, que
comea com um lamento: "Apos tantas
conferncias nas quais foram estabelecidos
diagnosticos claros e feitas recomendaoes
especificas mas s quais nao foi dado segui-
mento; apos tantas resoluoes, programs e
plans de acao postos em prtica, com um
misto de cepticismo e esperana que viemos
participar neste Coloquio."
Citamos apenas duas recomendaoes que os
operadores culturais colocaram em primeiro
lugar: "para as autoridades locais, nacionais
e regionais: incluir a cultural como uma
prioridade, tendo em conta os PIN e PIR
relatives cooperaao e os Documentos de
Estratgia de Reduao da Pobreza" e "para
a Uniao Europeia: apoiar as autoridades
locais, nacionais e governamentais na imple-
mentaao das acoes acima mencionadas e,
sobretudo, encoraj-las a integrar a cultural
nos PIN e PIR".
Deste ponto em diante, fica bem claro a
quem compete dar o passo seguinte. *
* O Acordo de Florena um acordo intemacional que
facility a livre circulao de livros, publicaoes e materials
pedaggicos, cientificos e culturais, assinado em Florena
(Italia) em 1950.
http://portal.unesco.org/en/ev.php-URLID 12074&
URL DO DO TOPIC&URL SECTION 201.html
** Para aceder ao texto da declarao na integra: http://
www.culture-dev.eu/website.php?rub=documents
colloque&lang=en
Rokia Traor.
Richard Dumas
Colquio international Culture and creativity- Vectors
for development, Bruxelas, 2 a 3 de Abril de 2009.
De cima:
SEM Abdou Diouf, Secretario-Geral da Francofonia -
Antigo Presidente do Senegal;
Louis Michel, Comissario Europeu responsvel
pelo Desenvolvimento e pela Ajuda Humanitaria,
e Sem Amadou Toumani Toure, Presidente da
Repblica do Mali;
Lupwishi Mbuyamba, Director Executivo-
Observatrio de political culturais
em Africa (OCPA), Moambique;
Germaine ACOGNY, bailarina e coregrafa -
Directora da cole des Sables, Senegal.
EC/CE
Palauras-chaue
Cultura; criatividade; Bruxelas;
colquio; Louis Michel; Jan Figel;
Amadou Toumani Tour; Stefano
Manservisi; Germaine Acogny; Beatrice
Lalinon; Charles Mensah; Touissant
Tiendreabogo.
CeRREIO
olquio
II 'li,
CARAIBAS
-ii.i, i i F ,L.i.ii i : i i iI i i .. .Belize Cuba Dominica Granada Guiana Haiti
i ,, ,- i:-i.iiL.,i i:,,i 1 ... .. Cristvao e Neves Santa Lcia Sao Vicente e
j n ,, '. ii ri- ih T,,,,i .1 ,- ,- T,,I, ,g o
i
'1'
FRICA
Africa do Aii iii ii.i i n i i 'iii i i iiii .L', i il I ,i
Chade
M a rfim :, i. , r : .. .... : ,., : , ,: ,:, ,- i. : r :, ,-
Equatorii i.1 .
1 in , ,, .
PACIFICO
Cook (llhas) Fiji Kiribati Marshall (llhas) Micronsia (Estados Federados da)
Nauru Niue Palau Papuasia-Nova Guin Salomao (llhas) Samoa Timor-Leste Tonga
T -il i Vanuatu
. .
UNIAO EU PEIA
Malta Paises Baixos Polinia Port. ii Fiy : ,.I i .ii- ~ i,: ,..,,-nia Sucia
I r
l/s-I
.iI7
UNIAO EFWJ'EI
As listas dos pauses publicadas pelo Correio nao prejudicam o estatuto dos mesmos e dos seus territrios, actualmente ou no future. O Correio utiliza mapas de inmeras fontes.
O seu uso nao implica o reconhecimento de nenhuma fronteira em particular e tao pouco preludica o estatuto do Estado ou territrio.
-;r F
,..
iit
ti
_ _ _
-I
|
Full Text |
PAGE 1
JUNHO 2009 Cultura Desenvolvimento ACP Moda. Rentvel Msica. Cosmopolita Cultura Desenvolvimento ACP Moda. Rentvel Msica. Cosmopolita EDIO SPECIAL EDIO SPECIAL
PAGE 2
E ditorial EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 1 N o momento em que o G20 se reu nia em Londres para tentar encon trar solues susceptveis de evitar uma eventual crise financeira global no futuro to devastadora como a que petrifica actualmente o mundo, inmeros artistas e profis sionais da cultura de frica, Carabas e da Unio Europeia debruavam-se em Bruxelas, de 1 a 3 de Abril, sobre as propostas a apresentar s instncias oficiais a fim de facilitar, nos pases ACP, um “desenvolvimento econmico e cultural integradoâ€. Face a eles, polticos de alto nvel recepcionam as suas recomendaes. O Comissrio Europeu do Desenvolvimento falou mesmo da necessidade de os Estados presentes no Colquio darem seguimen to a este frum. As recomendaes dos artistas e profissionais da cultura includas na “Declarao de Bruxelas†assemelham-se mais a propostas con cretas e construtivas do que a lamentaes. Louis Michel, alis, institui-se em advogado junto dos ACP e da UE, citando Amartya Sen, filsofo e eco nomista que recebeu o Prmio Nobel de Economia em 1998: “ no so tabus culturais e imaginrios que a podem eliminar (a diversidade) nem topouco pretensas predisposies de uma qualquer civilizao†So estas pretensas disposies que admoesta Alphadi neste nmero, um dos criadores africanos mais geniais, precisamente quando faz o elogio da unio na diversi dade para que os estilistas e outros criadores africanos permitam ao seu continente tirar deste recurso, que a imaginao, riquezas e bem-estar. Como o fizeram os cientistas que se haviam interrogado se a frica no teria contribudo, de uma ou de outra forma, para o patrimnio cientfico mundial. A conscincia deste contributo da frica, minimiza do pelos instrumentos e metodologias de avaliao, quando no simplesmente pelos preconceitos brutos, essencial nas artes e noutros domnios da criatividade, porque dela depende, em parte, a confiana em si de um continente e da sua dispora – caribenha e outra. Esta edio especial sobre a cultura e o desenvol vimento econmico tenta, de algum modo, repor a verdade dos factos e mostrar como a frica e toda a regio ACP deliciaram o mundo com a sua msica ou artes visuais e cnicas e como pode ser vivel, na vertente econmica da cultura, o mercado interno dos produtos culturais do continente. Evocam-se pistas para uma estratgia de desenvolvimento eco nmico sustentvel e homeosttico. A delimitao dos preconceitos ocupa aqui um certo espao. Est na linha das estratgias econ micas. O mesmo se passa com a imagem de marca dos pases e das sociedades. Em qualquer domnio, os investidores parecem escolher os mercados tendo por nica base racional a rentabilidade. Mas no! Basta pensar nos baby boomers europeus, que aflu ram aos Estados Unidos, vistos como um mito nos anos 90, provavelmente mais pela sua paixo pelo jazz, coca-cola e ritmos de swing de Miles Davis nos anos setenta do que seguindo os algoritmos de Wall Street. Quando Roma queria invadir um pas, enviava, antes dos seus centuries, perfumes, elixir, sedas e substncias aromticas. At ao dia em que a Grcia conquistada conquistou culturalmente Roma com uma imagem de marca mais subtil. Hegel Goutier Editor Pressupostos culturais
PAGE 3
A bertura 2 CULTURA na ECONOMIA . No apenas a cereja, mas uma grande fatia do bolo Hegel Goutier H ainda alguns anos atrs, a resposta pergunta qual o primeiro produto de exportao do pas mais rico do mundo, os Estados Unidos, surpreendia quan do se respondia: a cultura. Agora j no tanto. Se alguns ainda tm dvidas, nomeadamente sobre a capacidade dos pases pobres em consolidar o seu desenvolvimento no comrcio dos bens culturais e em aceitar o facto de que estes tambm so produtos comerciais. E o que surpreendente que os actores da economia, em particular os financiadores destes pases, permanecem reticentes em investir neste sector. De modo que, frequentemente, so os criadores que se tornam homens de negcio para colmatar as suas necessidades. o caso do cos tureiro nigeriano Alphadi ou dos msicos Youssou N’Dour do Senegal ou de Bob Marley da Jamaica, na sua poca.
PAGE 4
EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 3 A bertura A s indstrias da cultura ocupam um lugar cada vez mais importante na economia dos pases desenvolvi dos. Os valores para o ano 2005 mostram que estas representam 7 % do pro duto interno bruto mundial, que nos Estados Unidos o seu peso superior a 5 %, que no Canad e na Europa as propores seriam de 3,5 e 5 %, respectivamente. E estes valores apenas consideram uma definio restritiva de produtos culturais. Se considerarmos num sentido mais amplo os produtos da criatividade e as exportaes dos pases ricos, os valores so ainda mais impres sionantes e sublinham severamente o isola mento dos pases pobres, sendo que podemos assim estabelecer uma ligao biunvoca entre a exportao destes produtos e o desenvolvi mento econmico. O sector cultural emprega 5 % da populao canadiana e uma proporo muito maior nos Estados Unidos. Em 2002, Bruce Lehman, presidente do Instituto internacional da propriedade intelec tual perguntava-se com humor o que faziam os trabalhadores americanos, visto que somente 14 % (18 milhes sobre 134) de entre eles estavam empregues nas manufacturas. Ele prprio respondeu, ou seja que a maior parte de entre eles produzia propriedade intelectual, intangvel, que ia do software informtico ao jogo de vdeo, um filme de fico, um proto colo de intercmbio na Internet ou um trata mento gentico, quando no o desenho da fuselagem de um avio Boeing. A indstria do cinema americano emprega mais mo-de-obra do que a megalomanaca indstria da defesa. Relativamente s trocas internacionais de produtos culturais, segundo Alexandre Wolff, houve um aumento de 400 % durante os vinte anos que antecederam o ano 2000, atingindo cerca de 400 mil milhes de dlares em 1998, em comparao com os 100 em 1980. > Os que marcam pontos Ultimamente, tm sido os pases chamados intermedirios que registaram um crescimento no mercado dos produtos culturais. Aqui tam bm as ligaes so evidentes. E no porque so previamente desenvolvidos que aprende ram a vender os seus produtos da cultura. Na maior parte destes pases, o desenvolvimento da indstria da cultura antecedeu o boom eco nmico; como um catalisador. , sem dvida, o caso da ndia cujo sucesso de Bollywood tornava pblica a sua revoluo econmica antes mesmo que se tivesse plenamente cons cincia dela no estrangeiro. O Brasil comeou por controlar a sua produo audiovisual antes de se tornar um pas emergente importante. actualmente o stimo exportador mundial no sector da msica, sendo que controla 90 % do mercado interno. Todavia, os pases em desenvolvimento regis tam cada vez mais sucessos. E a situao da indstria audiovisual na Jamaica lendria. As suas msicas vendem-se bem. A msica classificada como “world†exporta-se, de Ayo a Amadou e Maryam, de Mercedes Sosa a Lila Down e de Cesria vora a Youssou N’Dour. Quantos discos deste cantor ultra passaram o milho de exemplares vendidos! “The Guide†ultrapassou os trs milhes. O msico produz-se a si prprio, a sua empresa emprega duzentas a trezentas pessoas e acima de tudo reinveste os lucros no seu pas, o Senegal, e em outros pases de frica. O seu projecto BIRIMA para o microcrdito, lanado em Fevereiro de 2005, representa mais um exemplo de artistas empenhados na gesto da economia da cultura. Assim como a sua associao AMPA, “Associao dos msicos profissionais africanosâ€, para defen der os interesses dos msicos do continente. Youssou N’Dour investe os seus lucros em frica. Mas muitos destes artistas tiveram de se tornar homens ou mulheres de negcios, tendo em conta a demisso do sector privado nos seus pases ou regies. Podemos reter o exemplo de Alphadi*. Criador do FIMA, Festival internacional da moda africana, e da Federao africana de criadores de moda, FAC, que percorre com a sua caravana a frica e as Carabas para apoiar os jovens criadores e que contribuiu fortemente para o prestgio crescente da moda africana. Youssou N’Dour foi o primeiro artista a tornar-se artista-homem de negcios depois de se dar conta que o seu disco “The Guideâ€, que vendeu mais de 3 milhes de exemplares em 1994, tinha sido muito lucrativo para a Sony, mas no para o Senegal e a frica. * Ver a sua entrevista neste nmero. Para mais informaes, visite o stio web www.culture-dev.eu, onde encontrar o artigo “Potencialidades e desafios da criao e da cultura para o desenvolvimento†de Francisco Ayi J. D’Almeida, Director da Association Culture et Dveloppement (Frana). Palavras-chave frica; cultura; Youssou N’Dour; Bob Marley; Alphadi; produtos culturais; Ayo; Amadou e Maryam; Mercedes Sosa; Lila Down; Cesria vora. frica criativa Com a crise financeira mundial, o prestgio de frica e at dos pases em desenvol vimento parece retomar vida face ao fracasso dos dadores de lies. A frica sofreu durante muito tempo de uma falta de imagem, o que tambm teve consequncias sobre a viso conferida sua arte. Sem contar com os preconceitos frequentes aps a colonizao. Porque a trans misso do conhecimento em frica se efectuava mais atravs da oralidade, os seus contributos para os conhecimentos mundiais foram durante muito tempo negados ou esquecidos, nomeadamente no que diz respeito aos conhecimentos tcnicos. No entanto, os seus contributos foram numerosos em vrios domnios como a matemtica, a metalurgia e a farmacopeia. As pesquisas de Houtondji sobre os “saberes endgenos†do continente fazem parte do grande nmero de pesquisas que desqualificam estes preconceitos. Na msica, o contributo da frica, a sua inventividade so reconhecidos. Ningum desconhece a sua influncia sobre a maioria das grandes msicas do sculo XX. Me do jazz, da msica dita afro-cubana, do rock ou do hip hop. Contudo, a sua influncia sobre algumas formas de arte foi durante muito tempo renegada, nome adamente sobre o tango argentino como demonstrado pelo investigador argentino, Juan Carlos Cceres. Pgina 2: Dominique Zinkp, Partage de Territoires , Exposio Bnin 2059 , Fundao Zinsou, 28 de Setembro a 4 de Janeiro de 2009. Fotografia de Lo Falk.
PAGE 5
M oda 4 Alphadi comea por relembrar que a moda no s a costura, tambm a bijutaria, a marroquinaria, as artes visuais, a decorao interior, que dinamiza a cultura, gera dinheiro e cria um grande nmero de empregos no con tinente africano. Muitos no so declarados, mas no h dvida que lhe proporciona mais meios do que os outros sectores da criao. Temos 54 pases nos quais devemos empe nhar-nos para mostrar que o combate cultural pode conduzir ao desenvolvimento e criar empregos. Hoje em dia, o vento mudou de rumo porque os Africanos comeam a tornarse auto-sustentveis, vestem africano, comem africano e enfeitam as suas casas com qua dros africanos. Trata-se ento de uma ptima altura para travar o vosso combate? Sim, mas em qualquer combate cultural preciso meios financeiros, dirigentes e mui tas vezes a frica no dispe destes meios. Queremos que o nosso trabalho ultrapasse as fronteiras do continente, que seja apreciado noutros pases, na Europa, na Amrica, que possamos criar franchisings , licenas e pon tos de venda no mundo inteiro. Se o Yves St-Laurent, o Pierre Berger no tivessem o apoio de grupos financeiros como o grupo LVMH, o imprio que deixaram no existiria hoje em dia. Enquanto grandes criadores que hoje somos, no podemos crescer de outra forma. Por enquanto, temos de ser tudo, cria dor, financiador, distribuidor. A Europa no o vai fazer por ns. Ser que necessrio acusar os outros? Nada disso! Ns prprios temos problemas, no consumimos os nossos produtos na dispo ra ou at em frica. Com a chegada de Obama, alguns comeam a entender que o Negro tem capacidade, que a mestiagem algo de extra ordinrio. Pela nossa parte, j o sabemos h 30 anos. Se nos unirmos em frica, venceremos, mas no temos financiadores na dispora, a MODA. A frica possui meios para ganhar MILHARES DE MILH ’ES Uma entrevista com um cone da moda africana, Alphadi. por Hegel Goutier Alphadi provavelmente o criador de moda africana mais famoso. o homem dos megadesfiles aos ps das Pirmides no Egipto e que faz com que os maiores estilistas mundiais se desloquem para vir contemplar as suas criaes. tambm um activista para a promoo da moda africana, criador da Federao africana dos criadores de moda, FAC, h j 25 anos, e h j quase dez anos do FIMA, Festival internacional de moda africana, que rene todos os anos mais de dez mil pessoas e 50 a 60 criadores do mundo inteiro. Alphadi num espectculo de moda no Museu Galliera em 2004. Alphadi.net
PAGE 6
EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 5 no ser nos Estados Unidos. Todos os dom nios da cultura so lucrativos, nomeadamente o que est ligado moda e beleza como o txtil, a costura, a marroquinaria, a bijutaria, a cosmtica e a perfumaria. Podem-se ganhar milhares de milhes no continente africano e depois exportar. Qual a razo destas reticncias por parte das foras econmicas e polticas nos pases pobres, em particular em frica, em relao economia da cultura? Quem detm o poder nos nossos pases nem sempre uma pessoa exigente. Alguns pen sam apenas nos seus prprios bolsos. Apesar do facto dos que esto cabea serem muitas vezes voluntaristas, nem sempre esto bem rodeados e os que lhes esto prximos nem sempre esto preocupados com o interesse pblico. Actualmente, a frica est doen te porque muitos dos lderes polticos e econmicos no acreditam realmente nestes verdadeiros valores. Se nos Estados Unidos 40 % dos produtos de exportao provm da cultura, da moda e do cinema, a frica pode fazer o mesmo ou at mais porque um continente onde em cada cidade, em cada regio, em cada pas, existem mil maneiras de criar moda e os produtos derivados. Basta apenas actualiz-los, modernizar as tcnicas e criar indstrias nesse sector para gerar milhares de milhes de dlares no interior mesmo de frica. Mas os que so respon sveis pela promoo da moda africana no o fazem. Nas conferncias ministeriais, os nossos dirigentes usam geralmente fatos oci dentais e quando usam vestes tradicionais, temos a sensao de que o usam como se fosse um traje folclrico. Eu insisto que os presidentes africanos e os ministros devem usar o traje africano nas grandes reunies para dar o exemplo do dinamismo. Vo procura do dinheiro l fora, sendo que o tm aqui mesmo. O combate j est ganho em Marrocos, que um pas do continente africano e que desen volve todos os esforos para que a indstria txtil e a moda sejam uma realidade. A Arglia est a caminhar nesse sentido, assim como a Tunsia. Estes pases aperceberam-se do que a Europa ganhou. Sempre efectuou a ligao entre o Norte e o Sul do continente africano. Agora, temos a sensao de que esta aproximao vai de vento em popa, testemunho disso, a coroa o do cinema de frica do Norte no ltimo Fespaco, ao contrrio dos anos anteriores. Simplesmente porque o Sul do continente no acreditava que o resto fizesse parte de frica. Porque tambm a frica do Norte, numa dada altura, pensava que eram europeus. At queriam fazer parte da Unio Europeia. O Magreb deve entender que africano. Foram bem sucedidos num combate, o da moda, do cinema, do turismo; actualmente, devem dar o exemplo. Alis, muitos dos nossos jovens vo fazer a sua formao nesses pases, na medida em que lhes muito difcil ir para a Europa. O Magreb a porta aberta para frica em matria de desenvolvimento sustentvel. E o combate pela cultura deve situar-se acima da poltica. Palavras-chave Alphadi; moda; txtil; produtos derivados; Magreb; frica; Marrocos; Arglia; Nger; Tunsia. Vestidos de Alphadi. Revue Noir M oda
PAGE 7
M oda 6 S egundo Chris Seydou, o gnio do Mali atravs de quem tudo pare ce ter comeado, a moda africana adquiriu os seus ttulos de nobreza com criadores, directores e mensageiros tais como Alphadi ou Claire Kane, que fazem com que este sector da cultura seja actu almente em frica o que mais est har monizado com a msica e que emprega o maior nmero de mo-de-obra. A mudana anuncia-se no continente e na sua dispora pela Europa ou Carabas. O Pacfico tambm no fica de fora. O primeiro festival cultural ACP Santo Domingo 2006 foi o momento para aumen tar a fama de criadores como Anggy Haf, Leslie Nrette e Marion Cecilia Kali Howard. Anggy Haf dos Camares, cuja moda se serve da natureza – utilizao de rfia, razes, lianas, etc. para lhe conferir requinte e sensu alidade, combinando-os com os tecidos mais modernos. tambm um director, organiza dor e comunicador talentoso. Responsvel, desde 2001, pela agncia de manequins BISE, esteve na base da Associao de Jovens Criadores de Moda Camaroneses, do Festival de Moda e Penteados dos Camares e do grande espectculo de manequins “Made in Kamer†ou “Kamerlyâ€. Leslie Nrette, ainda muito jovem, uma artista talentosa que se lana em vrios dom nios e que se exprime atravs das artes plsticas, do grafismo, da moda, etc. Desde o Festival de Santo Domingo, onde muitos a ficaram a conhecer, evoluiu bastante, como comprova o seu enorme sucesso no “Festival CulturElles†(Port-au-Prince, Abril de 2008). Da mesma gerao, Marion Cecilia Kali Howard das Ilhas Cook, criadora de moda e designer. Cria tambm os seus prprios tecidos indo buscar inspirao natureza e cultura do seu Pacfico natal. Tal como frica tem o seu Festival Internacional de Moda (FIMA) e outros festivais importantes, as Carabas tm o “Caribbean Fashionweek†que figura nos ttulos princi pais dos maiores meios de comunicao do mundo como o New York Times. A ltima edio, em Junho de 2008, foi cintilante com um nmero considervel de talentos do subcontinente. Aleatoriamente, podemos destacar trs: A dupla Zaad & Eastman, Trindade. Jogo de branco e cor, de formas, de materiais. Tendo como caracterstica dominante uma sensualidade quase trrida. Combinao de estriados de cores e de renda, organdi, tafet, seda, brancos e sussurros. Forros voluptuosos estriados com nuances douradas do mar das Carabas. Transparncia de cobertura com tule preto sobre saias flutuantes do mesmo azeviche, to quente que parece difundir as cores mais vivas. Keneea Linton, Jamaica. Cada pea de ves turio, cada ornamento um jogo grfico. A distino parece ser o seu lema. Duas palavras predominam, o branco e o preto, cujas linhas, estrias, as rosceas e outras formas sempre refinadas para realar a beleza do corpo. Ainda mais destacado pelos ornamentos tam bm eles originais. Ou para criar ornamentos, sobretudo chapus com uma originalidade extraordinria. A dispora africana na Europa no est para da. Basta olharmos para a afirmao de Louise Assomo. Esta sobredotada de origem camaro nesa em Bruxelas, que faz, desde o Cristal de Ouro obtido em Paris mal os estudos tinham acabado e o seu primeiro desfile em Bruxelas, o seu primeiro grande desfile h 3 anos em Bruxelas, um percurso brilhante. Louise Assomo uma coqueluche da moda belga. tambm uma mulher de negcios sensata com lojas em Bruxelas, Anturpia e Tel Aviv. H.G. Palavras-chave Hegel Goutier; Chris Seydou; Alphadi; Claire Kane; Anggy Haf; Leslie Nrette e Marion Cecilia Kali Howard; “Kamerlyâ€; FIMA; “Caribbean Fashionweekâ€; Zaad & Eastman; Keneea Linton; Louise Assomo. MODA. Vantagem para frica Vestidos de Chris Seydou. Fotografia de Nabil Zorkot. Revue Noir
PAGE 8
EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 7 R elativamente aos desafios que se colocam ao cinema de frica e das Carabas por ocasio do Fespaco, destacam-se as apostas econmicas do cinema e do audiovisual, mais do que nunca no centro dos debates para encontrar solues para questes identificadas de longa data e que foram evocadas de forma reiterada, de uma edio outra, atravs de colquios, grupos de representantes e oficinas organizadas pelo Fespaco ou por parceiros da 7. arte africana e das Carabas. > Perguntas sem resposta Um olhar retrospectivo sobre os temas das edies anteriores sufi ciente para se ficar convencido. Basta para isso lanar um olhar retros pectivo sobre os temas das edies anteriores, temas institudos com a cauo da Federao Pan-Africana de Cineastas (FEPACI) para debater as preocupaes do momento do cinema africano e das Carabas: como organizar o mercado audiovisual nacional no sentido da criao de financiamentos a favor das produes cinematogrficas e audiovisuais nacionais e respectiva distribuio? (problemtica da produo e da dis tribuio – Fespaco 1981). Que tipo de filmes para que tipo de pblicos? De que forma o cineasta africano pode ir ao encontro do seu pblico? Como integrar verdadeiramente o filme africano nos circuitos comer ciais de distribuio, o que at agora no acontece (Fespaco 1999)? Apesar destas chamadas para a reflexo e aco, bem como uma colheita aparentemente abundante de filmes inscritos para a 21. edio C in e ma Apostas econmicas e DESAFIOS do CINEMA africano e das Carabas Clment Tapsoba* De 28 de Fevereiro a 7 de Maro de 2009. O Festival de cinema e de televiso de Uagadugu (Fespaco), 21. do gnero, cumpriu a tradio apresentando, como acontece de dois em dois anos, o melhor das obras cinematogrficas e audiovisuais africanas, das Carabas e da dispora. Criado em 1969, o Fespaco, que celebrava quarenta anos, decorreu sob o tema Cinema africano, turismo e patrimnios cul turais . Percurso sobre os novos desafios do cinema africano e das Carabas. Cerimnia de abertura do FESPACO, Uagadugu, Burquina Faso, 2009. Fotografia de Giulia Marchi.
PAGE 9
C inema 8 (664 filmes de todas as categorias originrios de 75 pases), a crise do cinema africano e das Carabas permanece uma constante. No que toca produo, um ponto a limar. Na maioria dos pases de frica e das Carabas, onde todos os indicadores socioeconmi cos seguem no caminho contrrio e sofrem as repercusses da reduo das subvenes externas, a produo de filmes com apoios estagna, isto quando simplesmente no existe. Os cineastas so as primeiras vtimas visadas na gama das prioridades e das urgncias econmicas. Os filmes so subfinanciados, quando os polticos pura e simplesmente no se demitem das suas responsabilidades. No Fespaco 2009, dos 18 filmes na corrida para o Cavalo de Ouro de Yennenga, a consagra o suprema, 11 vinham dos pases ACP. No peloto da frente dos pases ACP a apresentar mais do que um filme em competio oficial encontrava-se a frica do Sul (trs filmes), seguida pelo pas anfitrio, o Burquina Faso (duas pelculas). Estes pases, com a excep o de Marrocos e da Tunsia no Magreb, mantm uma poltica rentvel em matria de apoio ao seu cinema. O que no parece ser o caso para os pases da frica Ocidental cuja forte tradio cinematogrfica se foi atrofian do de uma edio outra do Fespaco. > Vamos encerrar! No que toca distribuio e s salas de cinema, a crise ainda mais aguda. Os cir cuitos de distribuio instalados nos anos 70 e 80 desapareceram no seguimento da privatizao-liquidao das empresas nacio nais de produo e de distribuio (Sonacib no Burquina, Sidec no Senegal, Onaci no Congo...). muito mais fcil ver um filme africano nos ecrs europeus do que em frica. As salas emblemticas das capitais africanas foram destrudas ou encerradas, como o caso de Paris em Dacar (Senegal), os Studios em Abijo (Costa do Marfim), a Rex em Porto Novo (Benim) e, muito recentemente, em Janeiro passado, os Camares acabam de se juntar longa lista de pases privados de salas de cinema com o encerramento da ltima das oito salas que existiam na cidade de Iaund e baptizada com o nome Cinma thtre Abbia. Por ocasio da mesa redonda organizada na abertura do MICA pelo Canal France International (CFI) com o tema Circulao e sadas econmicas para as obras audiovisu ais africanas , as situaes descritas encontram efectivamente as suas origens em vrios fac tores: a falta de filmes recentes para alimentar as salas existentes, a forte concorrncia da pirataria, do disco compacto de vdeo e do satlite aceleram a degradao das condi es de circulao das obras africanas. Outro factor no menos desfavorvel: o cinema africano continua a ser subfinanciado e a estar bastante dependente dos auxlios externos. Ausente no seu prprio territrio – Ezra, do nigeriano Newton Aduaka (Cavalo de Ouro de Yennenga em 2007) foi mais visto na Europa do que em frica a partir da sua con sagrao em Uagadugu – o cinema africano encontra-se confinado a uma rede de arte e de experimentao ou a festivais na Europa e tem pouco interesse para o circuito americano ou asitico. * Crtico de cinema e vice-presidente da Federao Africana da Crtica Cinematogrfica (FACC). Palavras-chave Cinema; Fespaco; Uagadugu; Burkina Faso; criao; Cavalo de Ouro de Yennenga. Um magnfico poema da desiluso premiado pelo Fespaco Prmio “Etalon d’or du Yenenga†2009 atribudo a “Teza†do etope Hail Gurima. Podemos no gostar de Teza, a lentido do ritmo e as aluses espirituais do incio do filme, mas foram poucos os que no aplaudi ram a atribuio, decidida por unanimidade pelo jri do 21. Fespaco, do prmio “L’Etalon d’or du Yenenga†a este fresco potico, histrico e filosfico do realizador etope Hail Gurima. Gurima articulou um canto pico da desiluso, uma melodia dolente sobre a juventude que cava a sua sepultura com os seus sonhos e sobre as derises da histria. Os anos de cinza do final do reino de Negus e os de chumbo de Mengistu nos anos 70 e 80, com as suas atrocidades, constituem o pano de fundo desta gesta. O militantismo de Anberber e de Tesfaye, dois jovens brilhantes que vieram estudar para combater a ditadura viscosa de Negus e que, correndo para a chuva, caem no rio, ao negociar o golpe de estado de Mengistu. De quem vo ser rapidamente refns. As suas vidas, as suas esperanas, a sua inteligncia e os seus encantos desagregando-se. Quando o pouco que sobrava de Anberber, destroado, conseguiu regressar Alemanha, para ser atacado por um pequeno grupo de jovens seguidores do neo-hitlerismo. Os cantos dolentes de Gurima no pouparo ningum e muito menos o Ocidente. Mas quem ser poupado? Um pouco a infncia. O milagre, tudo isto triste e belo. Ainda mais belo do que triste. Razo pela atribuio do prmio “Etalon d’or†e de todos os outros prmios como o dos crticos africanos, entregues em Uagadugu depois do Prmio especial do jri e do prmio do melhor cenrio do Festival de Veneza, 2008. H.G . No topo: poster de Teza.
PAGE 10
EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 9 D ana DANA CONTEMPORNEA – Surpreendente, inebriante, inquietante Em 28 de Fevereiro e 6 de Maro passado, nas cerimnias de abertura e de encerra mento do Festival de Cinema de Uagadugu, perante cerca de 20 mil espectadores, ela teve como cenrio um campo de futebol. Ela, Irne Tassembdo, a coregrafa burquina. E o espectculo foi grandioso. De um encantamento e artifcio que como veu tanto o pblico j conhecedor como aqueles menos familiarizados com a dana contempornea. A coregrafa burquina criou um estilo. Primeiro, pictural. Uma encena o do dilogo entre os povos atravs de uma encenao do folclore do Burquina, de quadros com acrobatas, gigantes marionetistas, vaga de tamborileiros, veculo de sonhos, dilogo cultural, unidade da frica. Sim! Mas se em vez de vermos os quadros, vssemos a pintura As mulheres, estendendo lenis enormes para secar na relva do estdio no incio do espectcu lo, transformam-se em ondas em movimento onde as mulheres, o vento e o tecido se fundem. Que fazem pensar no “Love stream†de Cassavetes. E o restante com o mesmo encanto, com uma dinmica fluida. a assinatura de Irne Tassembdo. Poderamos apontar-lhe algumas falhas de sincronizao. Mas que importa, esta coregrafa traz, carregada de nostalgia, um mundo de fadas e sonhos. Irne Tassembdo cada vez mais requisitada no estrangeiro como tambm o so vrios coregrafos de frica, das Carabas e do Pacfico. O primeiro festival de cultura destas trs regies no final do ano de 2006 em Santo Domingo j tinha chamado a ateno para a sua criatividade e audcia. A “Compagnie 1e tempsâ€, por exemplo, do Congo e do Senegal num espectculo como “Impro-Vis 2†apresenta um gnero de banda desenhada a dois cujos movimentos bruscos transformam uma atmosfera trgica e pesada num crescendo duro como o Bolero de Ravel ou o Batuque de Oscar Lorenzo Fernandez. O espectculo “Errance†de Kettly Nol, coregrafa de origem haitiana que evo lui no Mali, esculpe o silncio, estiliza o isolamento e a loucura, aprofundando os espaos mais pequenos do medo, se no mesmo do terror escondido em cada um sem condescendncia, mas sem qualquer tipo de morbidez nem desejo de bradar ou de surpreender, sem morbidez, sem vontade de seduzir ou de espantar. Naturalmente. Um pblico que fica sempre petrificado. Poderamos tambm citar Akiyo Danse do Haiti que se inspira em danas de vudu vistas como uma fortificao do corpo e do esprito e uma estilizao do equil brio entre a suavidade e a fora. Uma dana muito ritmada com sombras e luzes nas formas, movimentos e esprito. Surpreendente, inebriante, que atormenta o espectador. Ou o quarteto de bailarinos de Rako das Fiji cuja dana uma poesia sensual e suave sem rudo, com um deslizar silencioso, cauchutado, utilizando as percusses espaadas apenas para ritmar o silncio. Com as percusses em que cada movi mento aguarda suavemente o outro e os balanos se modulam num s. H.G. Palavras-chave Hegel Goutier; Irne Tassembdo; “Compagnie 1 e tempsâ€; Kettly Nol; Akiyo Danse; Rako; coreografia; dana contempornea; frica; Carabas; Pacfico. Kettly Nol em Ti Chelbe por La Companie (Mali) em Jomba! 2004 Jomba! e Val Adamson
PAGE 11
10 > Msicos de Jazz e de Rock: a paixo pela frica Gospel, jazz, funk, rap, rumba, R&B, rock, funk, reggae, dancehall, cumbia e tango: so inmeros os gneros musicais dos sculos XX e XXI que se inspiram no continente africano, a grande referncia dos msicos contem porneos. Ainda recentemente, na senda de um grande nmero de msicos de jazz, trs artistas assinaram lbuns inspirados neste patrimnio infinito: Randy Weston, apaixo nado pelos ritmos gnaoua de Marrocos, ori ginrios da regio do Nger; o artista de blues texano, Johnny Copeland, que se inspira das msicas congolesas e marfinenses, e Hank Jones, apaixonado pelo patrimnio mandinga. Este interesse pela frica partilhado pelos artistas de rock que reconhecem a influncia directa da msica africana nesta interseco de R&Bdos Negros e da country dos Brancos: palavras proferidas pausadamente, faculdade de improvisao, pulsaes no ritmo e canto coral fragmentado. Peter Gabriel, fundador do rtulo Realworld que lanou inmeros artistas africanos na cena internacional (Youssou Ndour, Geoffrey Oryema, Remmy Ongala, FRICA : a IMAGEM do mundo Nago Seck e Sylvie Clerfeuille H cerca de um sculo, as msicas que se ins piram do continente africano espalham-se pelo mundo inteiro. Vivas, improvisadas, fes tivas ou melanclicas, arrebatam o corao do mundo e os msicos dos quatro cantos do globo encontram nelas a sua inspirao. M sica So Kamery em cena. Afrisson
PAGE 12
M sica Papa Wemba, etc.), o exemplo mais bri lhante. Confessou um tal fascnio pela frica e suas obras contemporneas que levou o seu festival “Womad†a todo o planeta (Japo, Austrlia, Hong Kong e, mais recentemente, a Indonsia). > frica e sia: uma histria de amor recente At ento confinada Europa e Amrica, esta influncia das msicas africanas estendese desde os anos 90 sia: Doudou N’Diaye Rose cruzou a sua baqueta com tamborileiros coreanos e japoneses. Youssou Ndour traba lhou com o artista de jazz Ryuichi Sakamoto, originrio do Japo, um pas onde se multipli cam os grupos de rumba congolesa e de msi ca mandinga, como o do maliano Mamadou Doumbia, composto unicamente por msicos nipnicos. Papa Wemba foi vrias vezes convidado a actuar no Japo e o repertrio de Abeti Masikini, que fez uma digresso pela China em 1989, foi retomado por Scu Mi In, uma das estrelas da cena pequinesa a quem chamam a “Abeti chinesaâ€. > Amrica Latina: Argentina e Peru reconhecem, enfim, as suas razes africanas Em parte alguma, a influncia da frica no se fez sentir e ainda hoje no est presente e sobretudo reconhecida to directamente como na Amrica Latina e nas Carabas. Combinao dos ritmos bantos e do expres sionismo argentino, o tango hoje reconhe cido como um gnero de razes africanas, origem que lhe foi muito tempo negada. O Brasil, que tem mais de 40 milhes de habitantes de origem africana e sofreu duas grandes influncias, ioruba e kongo-angolana, exprime-se musicalmente em inmeros gne ros de origem africana: batuque, lundu, jongo, capoeira e samba. Mais recentemente, graas ao trabalho de Susana Baca, que faz uma recolha de msicas e cantos afro-peruanos e fundou, em 1992, o Instituto Negro contnuo, o Peru reconheceu a dimenso africana da sua cultura e devolveu assim o seu estatuto social aos afro-peruanos durante muito tempo mar ginalizados. Mas Cuba que defende mais afincadamente o seu patrimnio africano com a rumba difundida em todo o planeta desde 1920. Quase um sculo depois, o dilogo perdura nomeadamente com o grupo panafricano Africando, que colabora regularmen te com msicos cubanos. > Bob Brozman: o trao de unio entre a frica e o Pacfico S a regio do Pacfico que teve poucos laos culturais com a frica. parte Havai, que se tornou conhecida pela sua famosa tcnica de guitarra*, com as suas tonalidades voluptuosas, que influencia desde os anos 50 muitos guitarristas da frica Central, como o centro-africano Jimi Banguissois, as relaes so praticamente inexistentes. Admirador da guitarra havaiana, da msica das Carabas e da frica, o artista de blues americano Bob Brozman, que se deixou imbuir dos sons de artistas da frica e do Oceano ndico (Ren Lacaille, da Reunio, em Dig Dig e o maliano Djely Moussa Diawara em Ocean blues ), parece ser um dos raros a favorecer os encon tros entre culturas do Pacfico e da frica. No entanto, a Austrlia e, sobretudo, as msi cas aborgenes suscitam hoje o interesse de alguns artistas africanos. Assim, So Kalmery debruou-se sobre a tcnica do didgeridoo e integrou-a no seu recente lbum, Brakka System . uma porta aberta para um dilogo que ser, sem dvida, prometedor. Para mais informaes: www.afrisson.com, www.saraaba.fr * As pessoas do Pacfico tambm so conhecidas pela sua msica pan-pine. frequente na Melansia. J uan Carlos Cceres da Argentina e Susana Baca do Peru so dois artistas da Amrica do Sul que travam uma luta persistente para o reconhecimento do contributo africano na cultura da regio. Os dois fizeram escola. Para o Peru, Susana Baca ganhou praticamente a luta. Pianista, trombonista, cantor, compositor, criador dos grupos Maln e Gotn. E tam bm pintor, professor de Histria da Arte, conferencista, Cceres* ressuscitou formas esquecidas do tango como a murga, o can combe e o pasarotus. Uma histria esque cida, no. Cceres fala de uma histria renegada, “La historia negadaâ€. No texto que acompanha “Murga argenti naâ€, relembra que Buenos Aires foi ante riormente um porto de escravos com um tero da sua populao sendo negra. E proclama que “Darle el lugar que le corres ponde a la herencia africana en la cultura argentina es una cuestin de justicia... Lo que occure es que este largo processo de transculturacin coincide con el desarollo de la sociedad argentina y su blanquea miento progresivo Este olvido voluntario es producido por el racismo de una sociedad que mire a Europa y tambin la autocensura de la colectivida africanaâ€. Susana Baca** foi a principal impulsio nadora do Instituto Nacional da Cultura Afro-peruana. Comeou a cantar em 1970 e em 1987 foi nomeada Embaixadora da Boa-Vontade da UNESCO. Em 1992, na Exposio Universal de Sevilha onde repre sentou o seu pas, foi o momento de fazer ecoar de forma retumbante a sua luta. Desde ento, decorrem no seu pas e em vrias cidades do mundo festivais afroperuanos. H.G. * Entre os seus discos: “Murga argentinaâ€, 2005, www. mananamusic.com e “Tango negroâ€, 2005, Celluloid France Mlodie. ** Entre outros discos, “Del fuego y del aguaâ€, 1999; “Espritu Vivoâ€, 2003, Luaka Bop; “Eco de Sombrasâ€, 2005. www.luakabop.com AMRICA LATINA – A histria renegada 11 EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 Palavras-chave Msica; frica; Pacfico; sia; Carabas.
PAGE 13
T eatro 12 E m cada festival, “revelam-se uma ou duas trupesâ€, afirma Michle Lemoine, principal animadora deste evento da FOKAL, que colabora com o Gabinete da Comunidade Francesa da Blgica no Haiti, a companhia “La Charge du Rhinocros†e o Instituto Francs do Haiti. “A criatividade manifesta-se pela diversidade dos grupos e a multiplicidade das expres sesâ€, afirma ela, sublinhando que as trupes esto mais rodadas de ano para ano. Na quinta edio, em Setembro passado, o festival foi inaugurado por uma “parada arcorisâ€, onde se misturaram nas ruas da capital actores, encenadores, coregrafos, bailarinos, marionetistas, ao som da msica rara (tradi cional), num mpeto teatral total. Michle Lemoine sublinha que a aco do festival consiste em promover um “teatro cita dino†que se destina sociedade para lhe dar uma “tomada de conscincia†ao mesmo tempo que permite que os talentos se exprimam. neste esprito que a trupe “Nous Thtre Association†se revelou ao pblico, h alguns anos. Este teatro que no se baseia no texto levou os espectadores a sair para a rua, que se tornou num grande palco onde se representa o espectculo do quotidiano. Contando a sua experincia, um dos principais fundadores desta companhia, o dramaturgo Guy Regis Junior, considera que, no quadro haitiano, o teatro pode ajudar, por exemplo, a combater a insegurana, levando as pessoas a ocupar as ruas noite. Para ele, para l do palco, essencial “fomentar encontros†que permitiro mobilizar as energias com vista ao progresso da sociedade. Neste mbito, o Teatro Nacional do Haiti, situado num dos bairros insalubres na baixa da capital, abandonada desde h muito tempo pelo pblico, tenta investir o seu meio, a favela Cidade de Deus. O director Frantz Jacob fala da frmula “teatro-frum†que permite criar um jogo interactivo com o pblico. Para alm da componente ldica, o teatro serve neste caso para contribuir para a identificao dos problemas que so resolvi dos em cena para que o possam ser na vida do dia-a-dia. “Num meio de violncia, est provado que o teatro, lazer saudvel que actua no intelecto e consciencializa, permite amenizar a situa oâ€, diz Frantz Jacob. O actor e encenador Daniel Marcelin partilha da mesma opinio. Para ele, o teatro capaz de “contribuir para o desenvolvimento da pessoaâ€. Leva a “revelar-se a si mesmo e a encontrar o seu lugar na sociedadeâ€. Este ideal do teatro manifestou-se atravs de experin cias tais como a do clebre encenador Herv Denis (falecido em 2002), a quem Daniel Marcelin teve de dar rplica na Tragdia do Rei Christophe, do escritor martinicano Aim Csaire (falecido em 2008). Na linhagem do grande dramaturgo Flix Morisseau-Leroy (falecido em 1998), autor da adaptao criou la da pea clssica grega Antgona, Herv Denis trouxe “uma luz importante ao teatro no Haiti no que respeita ao etnodrama†(inte grando o misticismo do vudu). Responsvel pedaggico do “Petit Conservatoireâ€, que forma jovens em Artes Cnicas, Daniel Marcelin aplaude a cooperao com a Frana e a Blgica, que torna possvel a presena temporria de pedagogos belgas e franceses nos locais de formao. Infelizmente, nas condies actuais do Haiti, a prtica do teatro no “economicamente vivelâ€, lamenta Marcelin porque, diz ele, “passamos trs meses a ensaiar uma pea para duas ou trs representaesâ€. Excepto no caso de Jesifra, a referncia em matria de teatro de “boulevard†que bate todos os recordes de entrada e de digresso, com sketches que so de morrer a rir. O teatro caro devido aos investimentos que so pesados, sendo a trupe obrigada a assumir todas as despesas relativas produo do espectculo. Para Marcelin, um dos principais problemas reside no facto da maioria das salas encerrarem. A ltima grande sala de Port-auPrince, o Rex Thtre, est ameaada, subli nha, defendendo a subveno do Estado para o sector das Artes Cnicas, uma vez que “se trata de uma outra forma de investimento cuja rentabilidade vir depoisâ€. * Jornalista, Editor da agncia em linha AlterPresse www. alterpresse.org, titulares de programas radiofnicos e correspondentes dos meios de comunicao estrangeiros no Haiti. HAITI : Investir no teatro Gotson Pierre* Para a sexta edio do Festival de Teatro “Quatre cheminsâ€, prevista para Setembro de 2009 em Port-au-Prince, mais de vinte dossiers foram j apresentados “Fondation Connaissance et Liberts†(FOKAL) pelas jovens trupes que pretendem participar neste evento, que se tornou num cruzamento do teatro haitiano. Palavras-chave Haiti; teatro; Carabas; Festival de teatro “Quatre cheminsâ€; “Fondation Connaissance et Liberts†(FOKAL); Michle Lemoine; Guy Regis Junior; Daniel Marcelin.
PAGE 14
EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 13 C incias CINCIAS . Ser que a FRICA ANTIGA no nos deixou uma herana? Apesar da herana cultural de frica j no ser objecto de contestao, o seu contributo cientfico para o patrimnio mundial continua esquecido. Este o ltimo bastio que alguns investigadores procuram sistematicamente reduzir h j algum tempo, entre os quais Paulin Houtondji. Uma das publicaes editadas sob a sua direco permanece memorvel, “Os saberes endgenosâ€*. P aulin Houtondji tentou explicar a marginalizao de frica no plano cientfico. Identificou duas causas importantes. Primeiro, o trfico de Negros, logo no nascimento da imprensa que iria multiplicar os saberes. O trfico destituiu os detentores africanos de saberes tradicio nais do seu meio incubador, retirando-lhes igualmente toda a liberdade de associao e de organizao. A segunda causa, relacionada com a primeira, a colonizao que levou a uma distribuio das tarefas e das produes, assimilando a frica a uma reserva de mat rias-primas, matrias fsicas, mas tambm cientficas e intelectuais. > O turismo cientfico Nesta fonte de dados cientficos brutos, qual quer um livre de tirar. Trata-se de um labora trio de experimentao, que recorre de vez em quando ao pessoal local, inclusive de alto nvel, mas com a finalidade de obter resultados desti nados “ao consumo†externo. Este processo de produo de factos cientficos foi controlado pelos pases do Norte e contribuiu para o que Houtondji considerou um “turismo cientficoâ€, associado ao consumo em frica de produtos cientficos transformados no estrangeiro. O facto de investigadores africanos de prestgio terem tido sucesso e at de laboratrios de gran des institutos estrangeiros se terem instalado em frica em nada modifica a orientao das investigaes que a eram desenvolvidas. Goudjinou P. Metinhoue* sublinha que a frica penalizada pela metodologia da investigao histrica que privilegia as fontes escritas em detrimento das orais, ignorando assim os saberes endgenos. Deveriam ser adoptados mtodos crticos de anlises de fontes orais. > O fogo e a chuva Em todo o lado, o desenvolvimento tecno lgico esteve ligado utilizao do ferro. Alexis Adand* salienta o contributo de frica para uma das descobertas tecnolgicas determinantes, a metalurgia extractiva do ferro utilizando baixos fornos, ou seja, sem passar pela fuso. Sabia-se que esta j existia h muito em vrias sociedades africanas. Mas alguns emitiam sub-repticiamente a hiptese de que este conhecimento provinha prova velmente da Europa via o Mdio Oriente. As dataes precisas das peas arqueolgicas da antiga Nigria puseram fim a estas especula es tendenciosas. Provaram que o primeiro perodo de trabalho do ferro em vastas regi es africanas datava com certeza do meio do sculo VII e provavelmente at princpios da era crist. Abel Afouda* abordou um saber tradicional africano mais difcil, primeira vista, de expli car cientificamente: os fazedores de chuva. Contudo, formula uma hiptese de explicao cientfica do processo utilizado que permane ce, pelo menos, como hiptese de trabalho. Relativamente classificao dos animais por Linn no sculo XVIII, ponto de partida da zoologia moderna, J. D. Pnel* sublinha que esta se baseava simplesmente nas caractersti cas visveis a olho nu e demonstra que existe uma semelhante nos Hausa. > Nmeros e letras Georges Ifrah, no seu livro “Histoire naturelle des chiffresâ€** (Histria natural dos nme ros), descreve os estudos de C. Zaslavsky sobre a numerao, os quais indicam que os Ioruba tinham inventado em tempos remotos um sistema vicesimal (base de 20) utilizando um sistema duplo, aditivo e subtractivo, com a vantagem de os nmeros serem curtos. Entre parntesis, as expresses inglesas one score, two scores semelhana de outras em vrias culturas ocidentais tm esta mesma base. Bienvenu Akoha* sublinha vrios tipos de escrituras, as “rcadesâ€*** dos reis do Daom, os signos de Fa e formas mais elabo radas na cultura Ashanti. No esquecendo os hierglifos egpcios, excepto se pusermos em dvida o carcter negro-africano do Antigo Egipto. H.G. * “Les savoirs endognes. Pistes pour une rechercheâ€, sob a direco de Paulin Houtondji (Diffusion Karthala, Frana). ** Georges Ifrah, “Histoire naturelle des chiffresâ€(Editions Robert Laffont, collections Bouquins). *** Ceptros reais. Palavras-chave Hegel Goutier; Paulin Houtondji; Goudjinou P. Metinhoue; Alexis Adand; Abel Afouda; J. D. Pnel; Georges Ifrah; Bienvenu Akoha; saberes endgenos; Hausa.
PAGE 15
14 N os ltimos anos, temos observa do o aparecimento de algumas iniciativas extremamente interes santes em vrios pases africa nos, implementadas por curadores e artistas plenamente convencidos de que necessrio colmatar o imenso fosso entre os artistas afri canos (cultos, reconhecidos no mundo inteiro e com conhecimentos internacionais) e os cidados africanos que vivem em condies muito diferentes. Estas iniciativas partiram do pressuposto que todas as pessoas tm o direito de ter acesso ao conhecimento e con tributo que a arte contempornea lhes pode conferir. Tm o direito de receber educao na interpretao da arte e de experimentar a riqueza e o prazer esttico que esta lhes pode propiciar. Tm o direito de visitar uma gale ria de arte contempornea e de apreci-la. A frica deve despertar o interesse para a sua produo artstica. Uma galeria de arte africana contempornea foi aberta em 2005 pela Fundao Zinsou, em Cotonu (Repblica do Benim), uma fundao privada criada por um banqueiro benins reformado (www.fondationzinsounews.org). A fundao, dirigida pela jovem Marie-Ccile Zinsou, filha do principal patrocinador Lionel Zinsou, visa promover os artistas africanos contemporneos, intercmbios no domnio da arte, um maior acesso s artes contem porneas, e uma apreciao universal da arte africana. A galeria organiza exposies e workshops de arte destinados s crianas. A Fundao tornou-se num espao cultural incontestvel em Cotonu. Desde a sua abertu ra, j foi visitada por trs milhes de pessoas, na maioria jovens, graas entrada grtis e s parcerias existentes com vrias escolas na cidade. O programa artstico iniciou-se com o artista benins Romuald Hazoum e prosseguiu com o clebre pintor Jean-Michael Basquait, nascido em Nova Iorque, filho de pai haitiano e de me porto-riquenha; uma exposio sobre vudu e uma do rei benins Bhanzin d’Abomey (1844-1906). Contudo, estas iniciativas no incluem ape nas obras africanas, procuram tambm para alm das fronteiras do continente, como o sublinha Sindika Dokolo, o mecenas congols que decidiu criar em Luanda “uma coleco africana de arte contempornea em vez de uma coleco de arte africana contempo rnea†(www.sindikadokolofoundation.org). Em 2007, acompanhado pelo dinmico artista angolano Fernando Alvim, Dokolo empres tou a sua principal coleco de obras para ser exposta no pavilho africano, na Bienal de Veneza. Afirma que o mundo da arte africana contempornea deve pr fim sua “dependncia†relativamente ajuda externa – nomeadamente coleccionadores, promoto res e apoio financeiro – a qual distorce de um certo modo a sua origem africana. Denuncia igualmente o facto de os Africanos no con trolarem o seu prprio domnio cultural, o que afecta o contedo da sua produo artstica. Considera “o acesso arte como um direito humano, to bsico e legtimo como o acesso educao, gua potvel e sadeâ€. Alm do mais, o Centro para a Arte Contempornea, Lagos (www.ccalagos.org), uma organizao independente no lucrativa, criada em Dezembro de 2007, com a cura tela de Bisi Silva, insiste no envolvimento do pblico africano e no desenvolvimento e profissionalizao da produo artstica e da prtica da curatela na Nigria e na regio da frica Ocidental. Apresenta um programa de workshops, debates, seminrios, sesses, projeces de filmes e exposies, tais como a que est actualmente a decorrer “The World is Flatâ€, uma colaborao internacional com a curadora dinamarquesa Johanne Loegstrup. Bisi Silva igualmente curador da exposio “In the Light of Play†na Joburg Art Fair. O Doual’art um centro de arte contem pornea criado em 1991, na Repblica dos Camares, por Marilyn Douala Bell e Didier Schaub. O centro est a desenvolver um traba lho importante com vista ao envolvimento da populao local, promovendo projectos cultu rais e intervenes de arte especficas a locais na cidade de Douala. (www.doualart.org) Referimos apenas alguns exemplos, mas parece-nos que no sculo XXI o contributo de frica para a histria das obras de arte do mundo pode ser importante e envolver ambos, os artistas e o pblico – incluindo o Governo, a educao, os museus, as galerias, as Academias de Belas-Artes e os colecciona dores – revelando ao mundo o alto nvel e a diversidade da arte africana. Sandra Federici Aps quase duas dcadas marcadas por um intenso esforo – com aparente xito – no combate contra a invisibilidade da arte africana no palco contemporneo – atravs de grandes exposi es pan-africanas, publicaes importantes e participao em bienais – surge agora um movi mento mais atractivo na arte contempornea africana que consiste no envolvimento do pblico africano, juntamente com a participao dos governos locais, museus e patrocinadores. Palavras-chave Arte contempornea africana; Fundao Lionel Zinsou; Marie-Ccile Zinsou; Sindika Dokolo; Bisi Silva; Centro para a Arte Contempornea em Lagos; Joburg Art Fair; Doual’art. O despertar de FRICA para a sua arte O despertar de FRICA para a sua arte A rte Exposio Malick Sidib 08, Fundao Zinsou. Fotografia de Floriant Ahouanhoun.
PAGE 16
C olquio N os pases ACP (frica, Carabas e Pacfico), as indstrias cultu rais ainda lutam para conseguir a estabilidade, o que constitui um factor crucial para valorizar a riqueza do talen to. Louis Michel, Comissrio Europeu para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitria, e Jn Figel’, Comissrio Europeu para a Educao, Formao, Cultura e Juventude, pretenderam promover 3 dias de trabalho, convidando mais de 150 profissionais da rea da cultura tanto da Unio Europeia (UE) como dos pa ses ACP, com vista a realar a importncia da ligao entre a cultura e o desenvolvimento. Muitos protagonistas artsticos dos pases ACP, tal como o curador de arte Yacouba Konate, a escritora Vronique Tadjo, a baila rina, a coregrafa Germaine Acogny, Rokia Traor e muitos outros editores, directores, pintores, msicos, estilistas e gestores tiveram a oportunidade de relatar e partilhar as suas experincias profissionais feitas de vitrias, bem como de obstculos, e foram encorajados a expressar todas as suas necessidades e apre sentar sugestes concretas. “No consideramos a cultura como um factor esttico a ser protegido, mas sim uma activi dade econmica e poltica em evoluoâ€, afir mou Stefano Manservisi, Director-Geral da Comisso Europeia para o Desenvolvimento, no seu discurso de boas-vindas: “Consideramos estes workshops profissionais extremamente importantes para entender de que forma a Comisso pode realizar melhor o seu traba lho de associao, baseando-se em todas as experincias que existem no territrio euro peu e ligando-as com o que actualmente produzido nos pases ACP para definir uma aco poltica mais sistemtica e obter uma cooperao efectiva.†Cinco workshops decorreram no primeiro dia relativamente s artes de actuao (teatro, dana e arte de rua), artes visuais (pintura, escultura, fotografia, design de moda), audio visual (cinema e televiso), literatura e msi ca. Durante o segundo dia, foram organizados 5 workshops comuns e paralelos: os temas foram a comunicao cultural, formao, quadros jurdicos e acesso ao financiamento, criao e produo, distribuio e circulao no mercado cultural. O workshop relativo ao tema do audiovisual, coordenado por Charles Mensah, presidente da Federao Pan-Africana de Cineastas, e C U LTURA e CRIATIVIDADE . Vectores de desenvolvimento Andrea Marchesini Reggiani 15 EDIO SPECIAL N.E. – JUNHO 2009 3 de Abril de 2009: casa cheia no concerto ao ar livre “Vozes das Mulheres Africanas†que encerrou o colquio. EC/CE
PAGE 17
C olquio 16 Touissant Tiendreabogo, produtor cinemato grfico, analisaram o sector da realizao em frica. H uma grande procura por parte da populao por imagens e histrias que possam reflectir a sua vida diria e a viso pessoal que tm do mundo. Mas existem tambm obstcu los tais como a falta de polticas pblicas cul turais eficientes, a ausncia de financiamento nacional, a debilidade da produo local que no ajuda a reconhecer o saber-fazer e novos talentos, a falta de respeito pelos direitos de autor devido pirataria e a ausncia de polti cas fiscais e aduaneiras apropriadas. O workshop de literatura e banda desenha da, dirigido por Beatrice Lalinon (edio Ruisseaux, Benim), sugeriu promover inter cmbios entre todos os editores, para alm de workshops de escrita, concursos locais de literatura e iniciativas pedaggicas rela cionadas com a leitura; os delegados invo caram a necessidade de forar os governos a respeitar o Acordo de Florena* que exige o levantamento dos impostos sobre os pro dutos culturais, embora em muitos regimes aduaneiros 1 kg de banda desenhada seja tributado tanto como 1 kg de carvo. Os operadores culturais em todos os sectores destacaram algumas necessidades comuns, por exemplo, um “visto cultural†especial, e alguns problemas comuns, tal como a fraca percepo dos governos ACP que muitas vezes no propem (dado que a Comisso que conclui esses documentos) a cultura nos seus planos nacionais e regionais (PIN e PIR), o que exclui a possibilidade de receberem financiamento da UE. Para alm disso, os operadores muitas vezes lamentam a buro cracia excessiva e complexa dos convites europeus apresentao de propostas, mesmo para pequenas quantias, e, acima de tudo, a dificuldade em gerir esse financiamento devi do a regras rgidas que matam a criatividade e flexibilidade da produo cultural. A cerimnia de abertura do Colquio decor reu na tarde de 2 de Abril, com a partici pao de muitos ministros da cultura dos pases ACP. O presidente do Mali, Amadou Toumani Tour, sublinhou a conscincia e empenho do seu governo no Mali na defesa do seu patrimnio nacional, reconhecendo que a sua terra “uma herana rica em mitos, lendas e cidades extremamente bonitas. Uma riqueza que constitui um factor de coeso nacional e uma atraco para o turismo cul turalâ€. O Comissrio Louis Michel apontou para muitos projectos e eventos culturais em diferentes pases ACP que foram financiados pela Comisso e defendeu que “a cultura um antdoto eficaz contra a indiferena e intolerncia que esto na base de conflitos culturaisâ€, sobretudo neste perodo histrico no qual “a crise pode levar s piores atitudes de excluso, racismo e egosmoâ€. A conferncia terminou com a leitura da declarao de Bruxelas** feita por artistas e profissionais e agentes da cultura, que comea com um lamento: “Aps tantas conferncias nas quais foram estabelecidos diagnsticos claros e feitas recomendaes especficas mas s quais no foi dado segui mento; aps tantas resolues, programas e planos de aco postos em prtica, com um misto de cepticismo e esperana que viemos participar neste Colquio.†Citamos apenas duas recomendaes que os operadores culturais colocaram em primeiro lugar: “para as autoridades locais, nacionais e regionais: incluir a cultura como uma prioridade, tendo em conta os PIN e PIR relativos cooperao e os Documentos de Estratgia de Reduo da Pobreza†e “para a Unio Europeia: apoiar as autoridades locais, nacionais e governamentais na imple mentao das aces acima mencionadas e, sobretudo, encoraj-las a integrar a cultura nos PIN e PIRâ€. Deste ponto em diante, fica bem claro a quem compete dar o passo seguinte. * O Acordo de Florena um acordo internacional que facilita a livre circulao de livros, publicaes e materiais pedaggicos, cientficos e culturais, assinado em Florena (Itlia) em 1950. http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=12074& URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html ** Para aceder ao texto da declarao na ntegra: http:// www.culture-dev.eu/website.php?rub=documentscolloque&lang=en Palavras-chave Cultura; criatividade; Bruxelas; colquio; Louis Michel; Jan Figel; Amadou Toumani Tour; Stefano Manservisi; Germaine Acogny; Beatrice Lalinon; Charles Mensah; Touissant Tiendreabogo. Rokia Traor. Richard Dumas. Colquio internacional Culture and creativity – Vectors for development , Bruxelas, 2 a 3 de Abril de 2009. De cima: SEM Abdou Diouf, Secretrio-Geral da Francofonia – Antigo Presidente do Senegal; Louis Michel, Comissrio Europeu responsvel pelo Desenvolvimento e pela Ajuda Humanitria, e Sem Amadou Toumani Toure, Presidente da Repblica do Mali; Lupwishi Mbuyamba, Director Executivo – Observatrio de polticas culturais em frica (OCPA), Moambique; Germaine ACOGNY, bailarina e coregrafa – Directora da cole des Sables , Senegal. EC/CE
|
|