Citation
Correio (Portuguese)

Material Information

Title:
Correio (Portuguese)
Place of Publication:
Brussels, Belgium
Publisher:
Hegel Goutier
Publication Date:
Copyright Date:
2008
Language:
English
French
Portuguese
Spanish

Subjects

Subjects / Keywords:
Caribbean
Genre:
serial ( sobekcm )

Record Information

Source Institution:
University of Florida
Holding Location:
University of Florida
Rights Management:
All applicable rights reserved by the source institution and holding location.

Downloads

This item has the following downloads:


Full Text





Iu


; 1;


11 .k 11111


Iii


Ji lV


.Lk1


:-e'


~t~~'.
c
u. -i~LL








O

C RREI 10 1 .
A REVISTA DAS RELAES E COOPERAAO ENTIRE U
AFRICA-CARAiBAS-PACiFICO E A UNIAO EUROPEIA


Comit Editorial
Co-presidentes
John Kaputin, Secretrio-Geral
Secretariado do Grupo dos pauses de Africa, Caraibas e Pacifico
www.acp.int

Stefano Manservisi, Director Geral da DG Desenvolvimento
Comissao Europeia
ec.europa.eu/development/

Equipa editorial
Director e Editor-chefe
Hegel Goutier

Colaboradores
Franois Misser (Editor-chefe adjunto), Debra Percival

Editor assistente e prduao
Joshua Massarenti

Colaboraram nesta ediao
Ruth Colette Afabe Belinga, Marie-Martine Buckens, Sbastien Falletti, Sandra Federici, Jean-
Franois Herbecq, Andrea Marchesini Reggiani, Gotson Pierre, Mirko Popovitch.

Relaes Pblicas e Coordenaao de arte
Relaes Pblicas
Andrea Marchesini Reggiani
(Director de Relaoes Pblicas e responsavel pelas ONG e especialistas)
Joan Ruiz Valero
(Responsavel pelas relaoes com a UE e instituioes nacionais)

Coordenaao de arte
Sandra Federici

Paginaao, Maqueta
Orazio Metello Orsini
Arketipa

Gerente de contrato
Claudia Rechten
Tracey D'Afters

Capa tENGHOR
Phyllis Galembo, Servitor Homel Dorival, standing in a sacred space,
poses with a ceremonial cup used in rituals, 1995, Soukri, Haiti
Por cortesia de Phyllis Galembo

Contracapa 0 nosso parceiro
Imagem de BigStockPhoto.com
9HolgerMette priuileg ai do:
.lolger Mette NG uO u
Contact
orreo o ESPICE SEOGHOR
45, Rue de Trves
1040 Bruxelas
Blgica (UE) Espace Senghor um centro
info@acp-eucourier.info v que assegura a promoao
www.acp-eucou rier.info
Tel: +32 2 2374392 de artists oriundos dos paises de
Fax: +32 2 2801406 Africa, Caraibas e Pacifico e o

Publicaao bimestral em portugus, ingls, francs e espanhol. intercmbio cultural entire comuni-
dades, atravs de uma grande
Para mais informaao em como subscrever, variedade de programs, indo das
Consulte o site www.acp-eucourierinfo
ou contact directamente info@acp-eucourierinfo artes cnicas, msica e cinema
at organizao de confern-
Editor responsivel cias. um lugar de encontro de
Hegel Goutier belgas, imigrantes de origens
Parceiros diversas e funcionarios europeus.
Gopa-Cartermill Grand Angle Lai-momo
A opinio express dos autores e no represent o ponto de vista official da Comisso Europeia nem dos paises ACP espace.senghor@chello.be
Os parceiros e a equipa editorial transferem toda a responsabilidade dos artigos escritos para os colaboradores www.senghor.be
externos.







O N. 4 N.E.- JANEIRO FEVEREIRO 2008






CORREIO

A REVISTA DAS RELAES E COOPERAO ENTIRE AFRICA-CARABAS-PACiFICO E A UNIO EUROPEIA




Indice
O CORREIO, N 4 NOVA EDIO (N.E.)


EDITORIAL
Das catastrofes naturais ou politicas...
e outros efeitos do esquecimento
EM DIRECTOR
Dialogar sempre com o outro.
Entrevista com Giovanni Bersani

PERSPECTIVE

DOSSIER
Ilhas do Pacifico. Alteraes climticas
e vulnerabilidade
Tuvalu, um simbolo mundial
Viver com o receio constant
das alteraoes climaticas
Uma sociedade civil dinmica
Tsunami nas Ilhas Salomao
Todas vulneraveis:
tirania das distncias e Anel de Fogo
Ilhas do Pacifico submersas devido
ao aquecimento climatico
Uniao Europeia e Estados ACP procuram
"estratgias de adaptaao"

INTERACES
Jornadas Europeias do Desenvolvimento.
Juntos frente s alteraoes climaticas
Uma nova parceria estratgica
Os APE "inflamam" a Assembleia Paritaria

COMRCIO
A Africa quer transformer
os seus diamantes em casa

EM FOCO
Um dia na vida de Mimi B., i,lijii.

NOSSA TERRA
O ouro verde no centro das controvrsias


REPORTAGEM
Haiti
3 Construir com base na estabilidade
"Temos de saber a quem pertence
a terra neste pais"
4 Relaoes haitiano-dominicanas
e meios de comunicaao
e
"Precisamos de irrigaao,
reflorestaao e insumos agricolas"

9 Procura-se crdito para negocios
10 10. FED visa estradas e govemaao
Aliciar turistas para um "pais incrivel"
12
Captura da alma do Haiti: Sergine Andr
13
DESCOBERTA DA EUROPA
14 Romnia
Romnia, pais de contrastes
16
Romnia de A a Z

17 Um novo pais doador
Ser africano na Romnia
19 Branco-negro

Transilvnia: terra prometida do turismo
Quai sera o future do turismo rural na Romnia?
20
CRIATIVIDADE
22
Uma ocasiao demasiado rara para
24 valorizar os fotgrafos africanos

Prmio Principe Claus de 2007
A hist6ria natural dos museus camaroneses
27
PARA OS MAIS JOVENS
As ilhas remotas vao mesmo desaparecer?
29
CORREIO DO LEITOR/AGENDA






























































* ,


x


irI
~L E... ~CI







editorial


a catastrofes e catastrofes. Aquelas que sao
susceptiveis de serem provocadas pelas
alteraoes climaticas, as catastrofes natu-
rais e outras, como a tormenta que se aba-
teu sobre o Qunia -um modelo -no final do ano.
Embora as catastrofes nao sejam previsiveis, sao no
entanto facilitadas pela negligncia e sobretudo pelo
esquecimento do ser human.

O grande tema deste numero de O Correio consagra-
do s alteraoes climaticas no Pacifico. E um tema que
nao se apresenta numa perspective pessimista, porque
a determinaao de proteger o seu pais e a calma e a
alegria de viver da populaao do pequeno pais simbo-
lo da ameaa, Tuvalu, sao uma liao de optimism.

Outra razao de optimism esta nas decises tomadas
no mbito da cooperaao entire o grupo Africa-
Caraibas-Pacifico e a Uniao Europeia, sobre a preven-
ao destas catastrofes naturais. Nas Jornadas
Europeias do Desenvolvimento em Lisboa, no fim do
ano, a Uniao Europeia aceitou, convict, a ideia de um
emprstimo mundial para ajudar os pauses em desen-
volvimento a enfrentar as alteraoes climaticas,
emprstimo este que reforara as estratgias adoptadas
nesta matria pelo Conselho da Uniao Europeia e pelo
Conselho de Ministros ACP-UE.

A nova parceria estratgica UE-Africa, concluida em
Lisboa no fim do ano passado, debrua-se igualmente
sobre as origens das catastrofes. Entre as suas vinte
acoes prioritarias, figuram ainda as alteraoes clima-
ticas mas igualmente a paz e a segurana, a governa-
ao democratic e os direitos humans e outras protec-
oes contra a implosio social, political e econmica. A
assinatura, mesmo de geometria variavel e sem entu-
siasmo, antes da expiraao de uma srie de acordos de


parceria econmica entire a UE e as regies ou pauses
ACP, demonstrou um comportamento realista de
ambas as parties para evitar os riscos de afastar do
comrcio mundial estes ltimos.

Acontece entao o cataclismo do Qunia, o oasis, aque-
le pais onde as crianas enchem os museus, onde a
Bolsa de Nairobi dava lucros avultados aos investido-
res, para apenas citar algumas glrias deste pais. E
certo que foram apontadas algumas derivas political e
de governaao. Todavia, embora essas derivas pudes-
sem ter provocado alguns conflitos, nao explicam, no
entanto, s6 por si uma tal avalanche de violncia a que
o mundo assistiu com torpor.

O grande esquecido da democracia em muitos pauses
veio ao de cima: a tribo. Nao ha problema tribal, hi,
isso sim, o problema do esquecimento da tribo. A
democracia moda europeia, inclusive a dos Estados
Unidos, por exemplo, teve em conta, desde a sua ori-
gem, o facto tribal. Nao necessariamente no sentido
tnico Hutu e Tutsi serao biologicamente etnias
diferentes? -mas no sentido do sentiment de perten-
a a um grupo. Ponderou o principio um home, um
voto por instncias como os Senados, onde os grupos
minoritario e maioritario tm mais ou menos o mesmo
peso, garantindo assim a protecao dos seus interesses
vitais. Sem isso, seria reticente em votar por algum
do outro grupo, mesmo sendo o melhor.

A cooperaao ACP-UE tem provavelmente a possibi-
lidade de aprofundar tal reflexao e agir contra outras
catastrofes.


Hegel Goutier
Editor-chefe


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008

















IH I


I I I



Entrevista com Giovanni Bersani

0 italiano Giovanni Bersani foi Presidente d
de 1976 a 1989 e, posteriormente, o seu
principals defensores da integrao europei
da UE com o continent africano. Defend
mediao, do dilogo e d paz, trazevalores e prince
evitando a interveno military.



Como membro do Parlamento Europeu tem estado envolvido nas rela-
5es Europa-Africa desde o final dos anos 60. O que poderd dizer-nos
sobre as origens do Tratado de Lom?

G.B. Falemos primeiro da origem do seu nome. Nas reunites de
Outubro de 1974, na Maur(cia,foi assinado um acordo sobre as novas
estruturas institucionais numa nova Convendo para substituir laund
11. No mbito desta Convengo, chegou-se a um acordo de constituio
de uma nova assembleia de representantes europeus e dos passes ACP,
com mais poderes do que antes e incluindo uma maior participado dos
pauses africanos, de 18 a 46 na5es. Mas o problema era encontrar um
nome para o novo Tratado! Lagos e Nairobiforam duas sugest5es, mas
os passes franc6fonos opuseram-se. Convidei alguns dos principals
participants nas reunites da Maurcia a relanar o debate em
Bolonha, Itdlia, juntamente com o Embaixador Dagadou do Togo. No
almoo de encerramento, ocorreu-me a ideia de "Convendo de Lom",
em honra do Embaixador Dagadou. Nessa altura, Dagadou era mode-
rador e Presidente do Comit de Embaixadores dos passes ACP. A
escolha de um pais grande ameaava a unidade do grupo ACP, mas um
pais pequeno, como o Togo, ndo era assim tanto uma ameaa. No
in(cio, esta proposta parecia mais uma brincadeira, mas a ideia chegou
a Bruxelas efoi apoiada.

A.M.R. Desde os anos 90 tem havido um criticism Convendo de
Lom devido sua incapacidade de resolver os problems de pobreza
e subdesenvolvimento. Qual a sua opinido?







m director


Andrea Marchesini Reggiani,
Giovanni Bersani e Ranieri Sabatucci
durante a apresentaao
do 0 Correio, Dlgation
Culturelle -Alliance Franaise,
Bolonha 14 de Dezembro de 2007.
Niksa Soric


G.B. -Primeiro, ha que ter em conta que o desafio era extremamente
dificil. Em 1957,50 dos 53 pauses africanos eram colnias ou territrios
sob control. A independncia e os movimentos de libertaao levaram
ao poder regimes nao democraticos. Entre 1962 e 1989, s6 tinham
goveros democraticos o Botsuana, o Senegal e a Mauricia, o que tem
constituido uma caracteristica fundamental para a prosperidade e o
crescimento econmico destes pauses, em comparaao com os pauses
onde os sistemas de partido nico, apoiados por uma potncia estran-
geira, tm prevalecido. Nao podemos esquecer que, nessa altura, havia
em Africa a Terceira Guerra Mundial entire os dois blocos em que esta-
va dividido o mundo. A ameaa nuclear impedia que essa guerra se pas-
sasse no Norte. Teve entao lugar em Africa.
Nos ltimos 30 anos, promovemos a criaao de parlamentos em todos
os pauses ACP e em muitos deles foram conseguidas melhorias na pro-
duao agricola, nomeadamente nos pauses onde a fomee a pobreza tin-
ham matado muitas pessoas. Lutamos contra o "apartheid" at sua
aboliao. Partindo de uma terrivel herana colonial, 45 anos depois a
Uniao Africana (UA) tem a sua prpria constituiao, um governor cen-
tral, goveros regionais e um parlamento. Nao nos esqueamos do
ponto de partida. Quero salientar aqui que a political da UE tomou um
rumo muito diferente da dos EUA, porque nao se baseia na intervenao
military, mas na utilizaao de valores e principios morais em constant
mediaao, o que nem sempre visfvel, mas que tem sido decisive em
muitas situaoes.



A.M.R. Portanto, uma historia de sucesso para a "exportado da
democracia". Mas a violado de direitos humans ainda um proble-
ma em muitos desses paises. Serd que a UEfecha as vezes os a.i... a
estas questoes?

G.B. Ns reconhecemos o principio no Tratado de Lom III, mas o
problema era decidir quem seria o responsavel pelo control de possi-
veis violaoes e, posteriormente, decidir as sanoes a aplicar. Tanto o
Conselho de Ministros como a Comissao nao podiam assumir essa tare-
fa. Em 1984, a Presidncia da Assembleia decidiu assumir esse papel e
apresentar casos especificos de violaoes dos direitos humans
Assembleia Parlamentar.
Em 1986, houve uma aprovaao dificil do regulamento. A partir desse
moment, os assuntos relatives aos direitos humans passaram a ocu-


par o topo da agenda da Assembleia Paritaria ACP-UE.
Lembro-me da altura em que telefonei ao Presidente da Somalia, Siad
Barre, durante uma reuniao da Assembleia. Ele tinha proferido senten-
as de morte contra tres lideres da oposiao. Pedi-lhe que lhes perdoas-
se com base nos principios da Assembleia. No dia seguinte, estando a
Assembleia reunida, ele telefonou-me para me dizer que as sentenas
de morte dos lideres tinham sido comutadas em exilio.
Outra negociaao dificil foi com o Presidente Menghistu da Etipia,
que na altura detinha como prisioneira a irma mais velha de Hail
Selassi, com noventa anos de idade. Neste caso, a intervenao do Vice-
Presidente etiope da Assembleia foi muito important. Foi autorizado o
exflio da senhora em Londres.



A.MR. Comoforam celebrados os 50 anos do Tratado de Roma?

G.B. Houve muitas comemoraoes, mas os debates foram escassos
dado o Tratado de Roma center a essncia da cooperaao com pauses
terceiros. A Parte IV tratava esse aspect integrante do texto. Foi uma
das questes mais dificeis e mais debatidas: a Frana e a Blgica que-
riam transferir o fardo da gestao colonial e ps-colonial para a entio
recm-fundada Comunidade Econmica Europeia. A Alemanha ops-
se, considerando-o "um present envenenado". A soluao foi um mode-
lo de "parceria de igualdade" com os pauses coloniais, envolvendo dis-
cusses prolongadas em que nada estava garantido e tudo devia ser
negociado! Nessa altura, surgiu a idea de criar um "Fundo de desenvol-
vimento dos pauses e territrios ultramarinos". O problema que o nfvel
de financiamento nunca foi suficiente.



A.MR. Estd familiarizado com o antigo O Correio dos ACP-
UE...Qual a sua opinido sobre a nova edido?

G.B. Tendo em conta a negligncia dos meios de comunicaao em ter-
mos de cooperaao, O Correio tem a possibilidade e o dever de divul-
gar informaes inovadoras e diferentes para reforar o entendimento
mtuo entire a UE e os pauses ACP. Desejo-vos os melhores auspicios e
peo que nao parem diante dos obstaculos que poderao encontrar no
percurso e que visem uma informaao corajosa que ultrapasse o que
puramente tcnico para alcanar os coraoes dos leitores. *


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008






M erspectiva







TRIFI CO DE-CB



JJ2 frnw t'i ferncla


0onal em



ectlue
















A Comisso Europeia pretend organizer, juntamente com os paises da Africa Austral,
uma conferncia regional "de alto nivel" sobre o trfico de crianas, em junho de 2008.


paao da sociedade civil, e especial-

E sta iniciativa responded a uma preocu-
mente da Rede da Africa Austral
Contra o Trafico e Abuso de Crianas
(Southern Africa Network Against Trafficking
and Abuse of Children -SANTAC), apadrin-
hada por Graa Machel, viva do antigo
President de Moambique, Samora Machel, e
esposa de Nelson Mandela, e pelo Prmio
Nobel da Paz, o Arcebispo anglicano do Cabo,
Desmond Tutu.
Numa conferncia organizada por esta ONG
em Maro de 2007, em Joanesburgo, o direc-
tor-geral da DG do Desenvolvimento na
Comissao Europeia, Stefano Manservisi, deu
o seu apoio politico a este combat, ao qual
se solidarizaram os Comissarios europeus do
Desenvolvimento e da Estratgia de
Comunicaao, Louis Michel e Margot
Wallstrm.
um important desafio. Segundo a
Organizaao Internacional do Trabalho
(OIT), a Organizaao Internacional das
Migraoes (OIM) e a UNICEF, o trafico de
crianas um fenmeno que afecta varios


milhares de pessoas na regiao. Mas dificil
medir exactamente a amplitude desse trafico,
nomeadamente devido ausncia de assentos
de nascimento num pais como o Malavi.
Juntamente com Moambique e a Zmbia, este
pais considerado ao mesmo tempo um pais
"fornecedor" de crianas e de trnsito para a
Africa do Sul e a Peninsula Arabica.
O trafico de crianas parte do fenmeno mais
amplo do trafico de series humans, cujo volu-
me de negocios mundial relative ao crime
organizado se calcula em cerca de 7 mil milho-
es de dlares. Suas causes sao diversas. A
SANTAC evoca a pobreza e a epidemia do
VIH-SIDA. Estes males tm como consequn-
cia um crescimento consideravel do numero
de rfaos, que sao confiados tanto a parents
como a families de acolhimento, elas prprias
em dificuldade e facilmente enganadas pelas
organizaoes criminosas que, com o pretext
de Ihes oferecerem trabalho ou educaao,
recrutam estas crianas, o mais das vezes
meninas, para as redes de prostituiao ou para
as transformar em escravos.
Um dos problems que, se os pauses tenta-


rem fazer face individualmente situaao,
nio tm a capacidade para controlar as suas
fronteiras. Alm disso, mesmo se os dirigen-
tes comeam a consciencializar-se deste pro-
blema, nao ratificaram, porm, todos os ins-
trumentos legais internacionais para comba-
ter este flagelo. Tambm nao existem instru-
mentos regionais na Africa Austral para a
prevenao, supressao ou repressao do trafico
de series humans. Dai a necessidade de uma
resposta regional, cuja primeira etapa sera a
prxima conferncia de Maputo. Esta devera
resultar numa declaraao, numa estratgia e
num plano de acao de dez anos.
Seguidamente, havera que preparar uma con-
ferncia de entidades financiadoras organiza-
da pelos pauses da Comunidade para o
Desenvolvimento da Africa Austral (SADC)
durante a qual se apresentara esse plano de
acao, para o qual a Comissao Europeia e os
Estados-Membros da UE contribuirao com
apoio financeiro. Nesta fase, as medidas pre-
vistas vao da elaboraao de programs de
cooperaao judiciaria e policial transfern-
cia de competncia tcnica. M


C*RREIO






Perspective


Debra Percival




TRIITQ E CInCO



nIlaOES ASSIAIIfm


nouo acordos comerciais
Como anunciou O Correio, 35 dos 78' Estados de Africa, Caraibas e Pacifico assinaram Acordos de
Parceria Econ6mica (APE) com a Unio Europeia. Todos tinham apreciado a anterior entrada prefe-
rencial no mercado da UE ao abrigo do Acordo de Cotonu.


Os APE sao acordos reciprocos de
comrcio livre, mas enquanto que a
UE concordou em abrir o seu mer-
cado a todos os bens e produtos dos
ACP, com excepao do acar e do arroz, sujei-
tos a curtos perfodos transitrios a partir de 1 de
Janeiro de 2008, as naoes ACP s6 serao obriga-
das a abrir os seus mercados gradualmente, de
acordo com o calendario faseado negociado de 5
a 25 anos para a maioria das mercadorias sensi-
veis e que abrange 80% ou mais de todo o
comrcio. Ao abrigo das regras comerciais da
Organizaao Mundial de Comrcio (OMC), os
signatarios de qualquer acordo de comrcio livre
estao autorizados a excluir determinados bens
desde que esses acordos cubram "substancial-
mente" todo o comrcio. Consequentemente,
muitos ACP optaram por nao incluir nos APE a
sua produao agricola.
At agora, apenas as Caraibas assinaram um
APE como entidade regional. Este acordo, ela-
borado com todos os Estados CARICOM,
abrange nao s6 as mercadorias mas tambm o
comrcio nos servios, alfndegas, facilitaao do
comrcio, barreiras tcnicas ao comrcio, medi-
das sanitrias e fitossanitarias, agriculture e
pesca, pagamento e movimentos de capital, con-
corrncia, propriedade intellectual, contratos
pblicos, assuntos ambientais e sociais e funds
de desenvolvimento, que incentivario a integra-
ao regional.
Outros Estados ACP, que ja assinaram acordos
at data, sao sub-regies ou um ou dois estados
ACP individuals numa determinada regiao.
Optaram por acordos "apenas de mercadorias"
com o compromisso de continuar com as nego-
ciaoes sobre outros aspects do acordo, elabo-
rando um APE global at final de 2008. A maio-
ria, mas nao todos, sao paises de rendimento
mdio. Sentiram mais a necessidade de assinar
devido renncia da OMC, relative ao acordo de
comrcio de Cotonu, ter expirado em 31 de
Dezembro de 2007. A alternative teria sido
enfrentar os direitos aduaneiros no mbito do


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


Sistema Generalizado de Preferncias (SGP).
S6 um pequeno nmmero de paises ACP encontra-
se hoje nesta posiao, incluindo o Gabao, a
Repblica do Congo, a Nigria e um grupo de
naoes do Pacifico, ou seja as Ilhas Cook, Tonga,
Ilhas Marshall, Niue, Micronsia, Palau e Nauru.
As entidades de comrcio da UE indicam que,
enquanto o Congo e o Gabao manifestaram inte-
resse num APE, a Nigria recusou negociar um
APE nesta fase. Acrescentam que, devido ao
baixo nivel de comrcio da UE com o Pacifico,
esta regiao nao ira sofrer tantas perdas resultan-
tes da implementaao do SGP.
Uma declaraao recent do Secretariado dos
ACP em Bruxelas afirma: "Os ACP pedem
Uniao Europeia que tome medidas susceptiveis
de garantir a continuaao do comrcio nas mes-
mas condioes, de modo que os operadores eco-
n6micos permaneam no mercado e a prosperi-
dade e o bem-estar dos cidadaos dos pauses ACP
nao sejam prejudicados."
Acrescenta que alguns dos "acordos proviso-
rios" tinham sido assinados sob pressao e devem
ser revistos aquando da elaboraao de acordos
globais no decorrer de 2008.
Muitos dos Paises Menos Desenvolvidos (PMD)
estao ainda indecisos em relaao aos APE. O
President do Senegal, Abdoulaye Wade, infor-
mou que o seu pais ainda nao esta preparado
para o comrcio livre. Os PMD podem continuar
a beneficiary da isenao e de uma quota livre nas
exportaoes para o mercado da Uniao Europeia
sob a iniciativa comunitaria "Tudo Menos
Armas" de 2001.
Contudo, uma declaraao da Direcao do
Comrcio da UE continue a salientar os beneff-
cios de um APE global: "Dao a oportunidade de
apoiar a integraao progressive dos ACP na eco-
nomia interacional e de certificar que o inigua-
lavel acesso dos ACP aos mercados da UE trou-
xe um verdadeiro crescimento do comrcio e um
desenvolvimento economic alargado. Em
suma, a oportunidade de proporcionar o que
Cotonu nao foi capaz de fazer."


APZE GLOBAL:et BE IL D
Agupm.t regional C.ARgIC1OM

Anll'lt igual e ilrbud Baa' as, Ba i bado] s


olJamica, l,: Sat Lc _, S o Viet e,
Grna0 ns S.- o. Crs e* Ne



Suinm e.. -rnd e..oag.



COM*NIDA DA FIC ORETL
* Ii [ I'I [llLr'll [* 11t





Comores*,v: Ma.lgti ca r*,n l.,, n Mau. ia











FA [IO Pu o al e 9 sadNova ACP, msaFrij adoSu
Euro ia e no- Costu do APE..






2 Ve nofial arioo-e brsCrcm
Ga e...

COM. IDAE PAR 0 o

ENOLIMEN DA RIC









Haie umetota des79 Estados ACPMD ma fica do Su


tem um acordo commercial bilateral com a Uniao
Europeia e nao participou num APE.
2 -Ver no final do artgo os membros Caricom. MIIII





Perspective


Marie-Martine Buckens




Os ministros HCP dao



PRIORIDRDE



f SIUDE
Face aos numerosos desafios colocados pelo desenvolvimento da sade nos Estados e regies ACP,
os Ministros ACP da Sade, reunidos pela primeira vez em 25 e 26 de Outubro de 2007 em
Bruxelas, decidiram intensificar a sua cooperaao.


ministros fizeram questao de rea-
firmar a importncia do dialogo
intra-ACP no mbito do Acordo
de Georgetown, e mais especialmente ao .I
abrigo da parceria ACP-UE, colocando as
questes relacionadas com a saude no centro
dos programs de desenvolvimento dos seus
respectivos Estados. Sera dada prioridade
luta contra as doenas transmissiveis, como por
exemplo o VIH e a SIDA, a tuberculose e o
paludismo, nomeadamente atravs da partilha
de experincias e de boas praticas. Alm disso,
os ministros comprometeram-se a promover a
assunao dos servios mdicos e o tratamento
das doenas nao transmissfveis e das doenas
tropicais negligenciadas, bem como das doen-
as resultantes de violncia ou de traumatismo,
atravs do reforo dos sistemas de sade.
> Trauar a fuga de crebros
Outra preocupaao dos Ministros ACP da
Sade a fuga continue do pessoal sanitario
... altamente qualificado dos seus respectivos
l| Ii pauses para os pauses desenvolvidos, nomeada-
mente para a Uniao Europeia. Para entravar
I.. ........ esta fuga, os ministros "manifestaram todos o
.I . B seu empenho" em instituir estratgias concre-
tas para a "formaao, recrutamento e retenao
dos profissionais de sade locais". E na
mesma ordem de ideias, decidiram promover
parcerias com as empresas farmacuticas a fim
de facilitar o acesso, por um custo acessivel,
........... aos medicamentos patenteados e mobilizar
......... Uma clinic em Blantyre (MaIl~]j "i financiamento para a investigaao e elabora-
i emi. lm Marl de 2006 pela munit i ao de novos medicamentos ou meios de diag-
Snstico. M


CeRREIO








ossier








ILHItS D PRCIFICO.


flteraoes climaticas e uulnerabilidade


Por Hegel Goutier

Reportagem em Tuvalu, Ilhas Salomo e Fiji


N ao ha dvida que o Pacifico uma
das regioes mais vulneraveis em
terms de riscos de catastrofes
causadas pelas alteraoes climati-
cas. Estao nesta situaao varias ilhas de
corais de baixa altitude. Uma delas, Tuvalu,
tornou-se num simbolo desta ameaa, mas
tambm da capacidade de resistncia e da


determinaao de um pequeno pais a sobrevi-
ver. Passa-se o mesmo nas ilhas vulcnicas
situadas ao long do Anel de Fogo ("Ring of
Fire"), bem como nas Ilhas Salomao que
deploraram, no passado ms de Abril, as
devastaoes de um tsunami causado por um
terramoto, resultando em dezenas de mortos e
dezenas de milhares de sem-abrigo. As popu-


laoes destes pauses ameaados lamentam
que alguns pauses ricos, em grande parte res-
ponsaveis pela poluiao que esta na base das
desregulaoes climaticas, hesitem em reduzir
o seu nivel de poluiao. Um home politico
de Tuvalu assimilou esta attitude a um "terro-
rismo rastejante" que ameaa o seu pais.
a


A extensao de Tuvalu,
principal ilha do atol de Funafuti.
SHegel Goutier



































TUURLU, um simbolo mundial


. .. \ F "... .. "-

15.11.l> do llhis que I tiiI. pa,1111(ICa ;or 11: Ltef1J .11111111t.1-
.ill ui t th.himiiiil. ptii.1 .r ct.e JCLl..saig.ld..J n.ltI t''.l p. r ri' ilarLn .iliiii t.ii.-
safnu it'rriim unit l'r p rt da -p ii'i .rc. Eihiinb .i .c'l.i iiiiiidJ.it., d .it ? i.Lt.it iil'ii.il.
dtL F li.itilli t.ele t- in i 'lI L c:i i.i l JL l. illt.%'L it u i.l.LL Iillt. qU iL L i11 .1' '.lJdc'
Tui .i .ii i l .i] Jit ..cr ,tiltiilln TL u ilLi Jii l[u. LiiI nl .i ,,. li, d~ Tui .ili liqiukiii l.L -i.ili lit. le
JI.', [ .i. .lllLitn ih tic jii. llJ i'tL i lc l.el 'lh .l Ilil lll.i iLilll.il 'l.i l .-I iili.l.'ic l'l l. i l.A lll '.il
p iirlLIr i Jcrli t il .n .iLi.N ii' 1'1.11. a\, j i.di L' i.1 .. I lml iid. t .'Li .'lb I I'.l 'ii1. .i iI.lil-
i .,ll i. ci ll- d L' iL l 'll'1111. I. L11 I .1-.I ilr rill.ill llJ i 'c .I .1 L i- ~.l',i.'' t L In .i[ .iJ. Il l- I''
IL11i.I1, ri au-1 Je.,ii l|d'im ei ci.nil" I li ..i ..I-e ki ii11i 1


,i d Fcv .r


P..l ( I I'lltl" .l'l11 ,1 1s riil, lI L L, ll, I illlh. Il lu l, i-


[P.llJ1 I. 4, 1l0..I"' pll F' .1' -.ll enl l -i c lllll .lhl.l '
,,thll I..IL ,llL'. L.Ulln E l N in,,. Pl L'.L Ilpl,,
lU ni i 1 .11 i 'l ii 111 1.ii. 11' d .I L ittii. d ll i .Il t i" .1
IIll '1i.i1 J lll. i ii rl .it i ll i.'l i Fti nll. ll
l1i[t' is:t d c~ dliii pttrtc.it Ut it'.ii tit.lc Fuiuuiiil A


r clU"ei i&didfa',lu iI 'CM:I"r.l, .1111C t.- lit t t'

Li .Ltma....IgOff ... l

am .......J.. .....LIJ7

....... ... .


V ,1 . h il ,1111 1 -1 b. Ili q







. a, ,: Dossler


.Ih! }li 'l!l. l .I,, *,i .il L|IIL l'il} 1 1k lill .illlu1 l.I
i i il i l i| l' ir -.'! } -i l .il 'i 1 i ii IL [r l l 'iti ll-. -i .I
C 11.i l' .l.I ll!i! _, e l il t ll, I' li. l .' 1 i1, J '
S i. l i.1 .ii1


> Sensibilizao precoce



hli .ii 'l!. ** I. !'.ii l .II I'im '-' .II l.1 i. i




I .du T ii' .!11i .. l d!..l .1 .l lC u!! u ll -- 11.1i


a.


N l' I li!' .I LLI p illi llp.i l '.>' II.I 11'. I.- .lll

Illi i l i' N i ilil.iilitl I. 2 id pLI l*Ji.i L L .I

*i k ti 'i .lli. i l i." l .i lll u 1, l iJ i t rl i ] uL e.









I,,, .ii'.i i. iiii i i I,! i il!}. l ,,!!l !i. i i.u ,i!iiil! l ,-
>.li I rI.P i liih i. 'l!..i I tii iiii.n tIll i,!l!' ii !'lr.j 'l uL' .i
Tiri .I1 .11 %L.ri 1 .illuici t'" .1 pLrI*.ir -p% .ur















i II .1 iLiil iL '' t.i i r.l i l Ii T. N ii.i1i i i..

Ti'' tu .1 SI 'titi .ilL .' i tl j . .IL L iL*i.u i .l l i.'ullt

l. l ilI iL IS .I l. i li. l | '.. I| I .I- N .l 1 .u
( I' l. L 'Kl![.l J T iI .lhl I-. N ( .i,.!,i 1,.i


T .Illl I Jll IL IIC NLc l II II l 1 .1 !* 'L- 1111 .1
T.iiip i rJiiC i.i.u l.. .i!.ii .i L.ii.I.i I!. 't !i !I ., i. iiiii. i -





o'pL 'LI j .,r Ilth.li i L l..ii .. L l .lit ..ilu il.lti.ul. i

' l i I.i l I i 1l i i. id. l.Ii.it i ,ii1 11 i li.i i.i 11i .ii i 1.'1-


I111. i' i I i i. .iL i 'l ii' i'i 11 .11ii il i-i iiL i 'i -




I il i, i. i i i lr.i r i. iL i I. l ila .i i .i. 'ii l, l,. .1 il



N .iii..i i ,iiliC i.i . Ii I 1.iii ti t ..ii.i iC !l l-
ii.i N-'2 l .i ri I i ,!l' ii L .i Tiii t lu. .l i i t liiii .in.,
.l '. .lll .l hi l I ll' ..1 t. I l t 1 1. 11' I .l .1




I|1li. l.i .il .i 1 *.iiii1 i. .. .'l. i i l i l. J. ,i 'L|iI l.-
Il.lilli! i!lli M ii i l .lul i fe. c i t II L* '. i-
ll.ll .lhll'l ,,, 11.1 Illl "M lln lIllL'kI- ,11, P .I, Ille'l _'IU.


li iitI 1. 11' iiiIt i-W. p.ir:i L-I.I que cu fi.i Ann r m"ii'
IIorm:isi. dirc'ira da TAN< i..U.ia P
C'in ltii il,, It n l'i ll, ru 'L .iTrilt ller r i i ,,la Is'iL a-iinos..
JL. illiru ,LIlrii L' .ill t.ii C.Il Cii l '.its LL' e
N'1 l'diilc 'ciL' Il c >, P, L' p ,rillit'..


'" ,- -... Q ^ ^
-. :. ._- .. -:."^'
a -






DOSS er Clima Pacifico


Uiuer com o



RECEIO COISTII TE



DOS fiLERfiOES CLIIDIITICRS

Sr. Lotoala Metia, Ministro as Finanas, do Planeamento
Economico e das Empresas


> medidas em curso para protege
o ambiente

Temos zonas de preservaao, uma nesta ilha e
duas nas outras ilhas. A ideia consiste em pre-
servar essas zonas. E estamos igualmente a
tentar promover um program de sensibiliza-
ao para as pessoas tentarem manter as ilhas
limpas. Os plasticos e as latas tm de ser colo-
cados num sitio determinado, para serem reti-
rados e nao sujarem as ilhas. Tambm estamos
a procurar obter assistncia do Fundo Mundial
para o Ambiente (FMA) para nos ajudar a ten-
tar resolver o problema da erosao das nossas
ilhas em Tuvalu.

> Um project ambicioso

Quanto s cavidades no solo (burrow pits*),
havia um project financiado pela SOPAC
(Comissao de Geocincias Aplicadas do Sul do
Pacifico) para dragar areia da lagoa e ench-las,
mas esse project nao resultou por causa do
impact nas margens da lagoa. Para sua infor-
maao, o Govemo esta a tentar apresentar um
document de estratgia para obter apoio de
doadores para a construao de uma ilha artificial
no lago. Se o project conseguir arrancar, talvez
aproveitemos a oportunidade, com a assistncia
de pauses que ajudaram no project inicial utili-
zando areia, para encher essas cavidades. Para
n6s um grande desafio, mas acho que com
uma ideia bem coordenada podemos convencer
doadores a apoiar este project.

> Sobrepopulaao

Esta a tomar-se um problema, at agora nio
muito grave, mas verdade que temos de enca-
rar os diferentes niveis de desenvolvimento
entire as ilhas e a capital para podermos deter a


urbanizaao e impedirmos a vinda de mais pes-
soas. Estamos a tentar melhorar o nivel de vida
nas outras ilhas, para que possuam os mesmos
equipamentos e o mesmo tipo de projects de
desenvolvimento para atrair financiamentos
suplementares. Estamos procura de modos e
de meios para resolver o problema de sobrepo-
pulaao que temos em Funafuti.

> Sobrepopulao e cultural
traditional

No caso de Funafuti, pode dizer-se que temos
alguns pequenos problems, mas nas outras
ilhas nao. A cultural e os costume ainda perma-
necem intactos. A sobrepopulaao e os proble-
mas de terras nao afectam a vida do dia-a-dia e
a cultural de Tuvalu. E no que diz respeito
segurana, ainda temos terrenos seguros em
Funafuti, embora o excess de populaao come-
ce a ser um problema. Temos tambm de resol-
ver o problema da gestao dos residuos.

> Uao ficar de qualquer modo?

esse o consenso geral neste moment. Se
sairmos, perdemos a nossa identidade e a
nossa soberania. Por isso tentamos proteger
as nossas ilhas o melhor que podemos para
poder continuar aqui. Mas se as coisas piora-
rem, ja foram feitos contacts com a
Australia e a Nova Zelndia para ver se
podem acolher Tuvalu.
Agradeo-lhe esta oportunidade de informar
adequadamente os europeus. Assim temos a
possibilidade de dizer ao mundo que mesmo
sendo pequenos e isolados, nao estamos piores
do que outras grandes ilhas da regiao. Para o
governor e para os cidadaos de Tuvalu muito
important avanar, procurar viver com os
nossos recursos e os nossos meios, consolidar


as reserves financeiras e investor em projects
viaveis e que tragam beneficios econ6micos
populaao. Queremos sobretudo manter o con-
ceito de boa govemaao, que um grande pro-
blema para muitos pauses do mundo.
*Buracos escavados durante a Guerra, onde eram lan-
ados os detritos. H.G. M






















ni vel omrA osscnisd


C@RREIO





Clima Pacifico DOSSier


UMR SOCIEDRDE CIUIL






dinamica

Annie Homasi director executive da Associao das ONG de Tuvalu (TANGO) e foi
condecorada com a Ordem do Imprio Britnico, em reconhecimento do seu generoso
apoio s comunidades de Tuvalu e do sul do Pacifico. Faz aqui um breve resumo do
trabalho da sua organizao'.


T ANGO tem 47 organizaoes mem-
bros em todo o pais e inclui various
tipos de organizaoes. Tango a
organizaao-mae. Ha ONG da area
da sade, grupos para uma maior autonomia
econmica e grupos humanitarios, como a
Cruz Vermelha, entidades religiosas e muitas
outras. Trata-se de facto de uma vasta repre-
sentaao da sociedade civil.
Colaboramos estreitamente com o governor no
dominio das alteraoes climaticas. O nosso
govemo tem chamado a atenao para estas
questes em instncias intemacionais e tam-
bm a nivel regional. Por isso, enquanto ONG
constituimos a coligaao. Trabalhamos igual-
mente com o Fundo Mundial para a Vida
Selvagem (WWF), sedeado em Fiji, e com o
Departamento do Ambiente. Realizamos
f6runs regionais da sociedade civil.
Debruamo-nos sobre questes de govema-
ao, da sade e do gnero a nivel regional e
fizemos recomendaoes aos govemos. Atravs
destes fruns estabelecemos prioridades para
o que queremos fazer e elaboramos plans de
acao. Trabalhamos igualmente na sensibiliza-
ao dos meios de comunicaao social. Em
zonas onde as ilhas estao a sofrer erosao,
temos projects para ajudar a comunidade a
plantar arvores tradicionais e, por exemplo,
para evitar a perda de coqueiros, que tambm
nos asseguram um meio de subsistncia.
Queremos que a populaao de Tuvalu se ajude a
si prpria. Alguns aspects das alteraoes clima-
ticas estao fora do nosso control. Nao os
podendo controlar, limitamo-nos a participar
nas instncias intemacionais onde podemos
exprimir as nossas preocupaoes. Em vez de
sermos dependents, de nos dizerem o que

N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


precise fazer, precisamos tambm, nos prprios,
de fazer alguma coisa.
Paises como os Estados Unidos da Amrica e
mesmo a Austraial, um dos nossos vizinhos,
nao sao muito sensiveis a esta questao. Ainda
nao ratificaram o Protocolo de Quioto, o instru-
mento que efectivamente ilustra estas questes.
A Nova Zelndia sensivel. Temos um regime
de migraao com a Nova Zelndia, mas a


Australia nao nos abre as portas. Colaboramos
mais com a sociedade civil da Nova Zelndia.
Por exemplo, numa prxima reuniao em
Wellington vamos discutir os preparativos logis-
ticos para acolher cidadaos de Tuvalu.

1 Entrevista realizada antes da mudana de governor na
Australia.
H.G. M












iL~a~rui I.


-


a s ri JL I II
nas lhas salo


lhas Salomao 2 de Abril de 2007, 7h40 da
manha. Um tsunami devasta as zonas cos-
teiras na Western Province e em Choiseul.
Foi provocado por um terramoto de 8,1
graus na escala de Richter, com um epicentro
situado apenas a 45 km da pequena cidade pis-
catria e de desportos nauticos de Gizo (5000
habitantes), na Ilha de Gizo (Western Province),
a 205 km de Chirovanga, Choiseul, a segunda
provincia mais afectada, e a uma distncia de
345 km da capital Honiara, na Ilha de
Guadalcanal. Devido sua proximidade com o
epicentro do sismo, Gizo nao recebera nenhum
aviso. Felizmente que as trombas de agua caf-
ram durante o dia e as vagas de 3 metros nao
eram tao altas e tao impressionantes como as do
tsunami do Oceano Indico em Dezembro de
2004. Apesar disso, nao deixaram de causar
dezenas de mortes e deixar milhares de pessoas
sem abrigo, nomeadamente em Gizo. Foram
igualmente sinistradas as localidades de Naro e
Taro Islands e, em menor grau, Vella La Vella,
Kolombangana, Nova Ge6rgia e Simbo na
Western Province.
Em terms de vidas humans, os danos teriam
sido muito mais graves se as populaoes em
causa nao tivessem beneficiado de projects de


sensibilizaao desenvolvidos aps o tsunami do
Oceano Indico. "Felizmente aconteceu durante
o dia e as pessoas puderam observer que o mar
reflufa, vendo nisso um sinal de que algo nao
era normal, o que levou a maior parte das pes-
soas a deslocar-se para terrenos mais altos",
especificou o ex-Primeiro-Ministro Sogavare,
ainda em funoes aquando da visit de O
Correio, em Novembro de 2007.
Na ilha vulcnica de Simbo, a cerca de trinta
quilmetros da Ilha de Gizo, o mar invadiu
200 metros de terra, libertando o enxofre de
uma cratera submarine do vulcao. A inunda-
ao da igreja da aldeia provocou a morte do
bispo, que procedia a uma ordenaao, e de trs
fiis. Aps o tsunami, registaram-se vinte e
cinco rplicas do terramoto intimidando a
populaao, que ficou acantonada nos planal-
tos da ilha mais tempo do que o necessario,
receosa de novo tsunami.


> Destruiao
dos recursos marinhos

Segundo as avaliaoes feitas pelo Secretariado
da Comunidade do Pacifico (SPC), o tsunami


provocou a destruiao nao s6 dos recursos
marinhos selvagens, mas tambm dos centros
de aquicultura, o que nao deixou de afectar o
abastecimento das comunidades instaladas nas
faixas costeiras. A aquicultura diz respeito ao
marisco, s prolas de cultural e s espcies
para aquario. As quintas volta de Gizo foram
completamente destruidas. O plano elaborado
pelo SPC, aps as reunites com os aquiculto-
res, consistia em ajuda-los a relanar as activi-
dades a partir de exemplares provenientes de
outra ilha da mesma provincia e, entretanto,
fomecer mariscos aos agricultores para mante-
rem as suas actividades comerciais. Titana, na
Ilha de Gizo, que tambm lamenta a perda de
vidas humans, Rarumana e Sagheragi foram
as aldeias mais gravemente atingidas. Nesta
ltima aldeia, havia reserves importantes de
peixes de ornamentaao que iam ser transpor-
tados para a capital Honiara quando o tsu-
nami irrompeu. Consequentemente, referee
ainda o SPC, a antena local do World Fish
Center e o centro sub-regional de Gizo de
CoPSPSI ("Commercialisation of Seaweed
Production in the Solomon Islands") tiveram
de abrandar consideravelmente as suas activi-
dades. Para ajudar determinadas espcies a


C*RREIO






Clima Pacifico DOSSier


reconstruir-se, foi decretada a proibiao da
sua capture, afectando as populaoes que
vivem dessas actividades.



> 0 Tringulo de Coral

Os danos para o ambiente submarine nas
redondezas da Ilha de Choiseul ainda estao a
ser avaliados, mas sao consideraveis, dizem
os especialistas. Esta zona uma das mais
ricas do mundo pela biodiversidade dos corais
(cerca de 500 espcies) e dos peixes de recife
(mais de 1000 espcies). As Ilhas Salomio
fazem parte do Tringulo de Coral (Coral
Triangle) com a Indonsia, Filipinas, Malasia,
Timor-Leste e Papua-Nova Guin. A afecta-
ao dos corais pode ter impacts em srie na
biologia submarine.


> Desflorestamento
e alteraes climaticas

Nas Ilhas Salomao, 70% das receitas do
Estado sao provenientes dos direitos de
exportaao da madeira e da venda de licenas
de corte. A exploraao da floresta tropical fra-
giliza consideravelmente o ambiente. Esta
exploraao extremamente intense na
Western Province, a mais atingida pelo tsu-
nami. As previses geralmente admitidas
apontam para a extinao das florestas num
prazo de cinco anos apenas. O pouco que resta
de floresta ja foi object de licenas de explo-
raao. Actualmente, os cortes efectuados cor-
respondem a cerca do triple da quantidade
considerada como sustentavel. E as empresas
florestais continuam a aumentar as suas quan-
tidades. Antes mesmo do tsunami, a mais
comprida lagoa do mundo rodeada de ilhas e,
talvez, a mais bela segundo os peritos, a
Lagoa Marovo na Western Province, estava
em grave perigo devido ao estado avanado
de desflorestamento da ilha principal. Para
comear, ji quase ndo hd marisco nem peixes.
Alm disso, as empresas florestais trabalham
em terrenos inclinados, o que nao deixa de
criar riscos de erosao nas zonas costeiras,
acentuando assim os efeitos potenciais da
subida do nivel do mar.
William Atu, director de project do gabinete
de Honiara de "The Nature Conservancy"
(www.nature.org), explica a O Correio que
estes sedimentos originados pela erosao numa
lagoa profunda, como acontece em inimeros
locais das Ilhas Salomao, danificam os corais
e provocam efeitos colaterais na vida marinha
em geral. Os estragos provocados pelo tsu-
nami nos corais e na vida marinha das provin-


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


"l ..
rtn


cias Isabel e Choiseul sao object de avalia-
oes mais precisas a publicar pela organiza-
ao. Para o Sr. Atu, imperative, quanto mais
nio seja sob o prisma da protecao do
ambiente, que o Governo legisle sobre a
exploraao das florestas. Mas o Governo nao
o faz ou nao aplica a legislaao existente,
acrescenta, porque ha muita gente da provin-
cia que apoiada pelas empresas florestais,


sendo tambm muito importantes os interes-
ses publicos e privados do comrcio da
madeira no pais. A pratica da pesca nao
menos insustentavel, acrescenta o Sr. Atu. As
captures da maior companhia de pesca comer-
cial do pais, Solomon Taiyo LTD, diminuiram
20% desde 1993.

H.G. M


Extrato: Entreuista com o antigo Primeiro-ministro

Ianasseh Sogauare.

Nlaiiniia eh .Slaoare loi Priiiimiri-MiiiisIro dle 200011 a 2lii1 e i nii m ille 2111)7. Derek .Siikua mticedell-IIle emi 21 de I)el enhri de 201117.

t C .' .'ll lt DL pl 1. 'I I 'el e l."l .I. p li l i111 11 'L' P. l Ituh IIIi L' 1l[h Il[ ile







.' '' l l .lll iill i1 1JP.11.1 PM L .I 1 D n.[ [-lllll llll
D 1 .l qUe ll I' L' I IIll[lI. pIl nlI llL' .l E 11 ql h' I i...l 'll hl .ll l ml e.'Il llL' l .11c .dl, I.'lIJ L"es
(i 11t.ll.I r, Jl1 , P. II. L l' .1 ,1 ,Il lh.lllc-' -r .l" .ld 1 Im L' l J l' ll.l l [. l l l L'i [,n .
O. n 111 ,1 e.[I nin P I .11 .1 l .1'pln IllLt '." l,1 llL' l .ll IL.'1 1 ,nq tli' ,, 1 l l1.1 -L 'll I.1 '.nlIi.ln
hL llln .1'. I l'. '. lll' n.L.Ill .I n -l .ldLll n ,Il. pl n I'[Id IL t.I' ILIn )l [ IL [l 11.111 1.1 A[,ln 1 l."
lth l. o. [ ,l.ll iL'eml Rom pl.lL .,1' .,llh, n .I l .ltlJ.n .' Ic, p11 mL' ll.l DL' l'il' I P 11 n.1 1 .l .IhiL lll. l

II.ln 11.' 11 I ll, llll 0. ll'.lln Ill .lIn l-. e l '. I Pe 1.1 Ll L 1 1 L 1 .1111 I|H |. L LJ l n






DOSsler IClima Pacifico


TODBS UULIERAUEIS:


tirania das distancias e



fInEL DE FOGO


A s ilhas do Pacifico formam uma das
regies do mundo mais suscepti-
veis de ser afectadas por alteraoes
climaticas devido sua vulnerabili-
dade dependent de varios factors: as suas
pequenas dimenses, o seu afastamento (a tira-
nia das distncias), as suas estruturas geolgi-
cas so muitas vezes ilhas coralinas tona da
agua a sua posiao nas linhas de deslize das
places tectnicas e, portanto, os terramotos e
os tsunamis (o famoso Anel de Fogo que se
estende at s Amricas e ao Japao e desce at
Nova Zelndia). Sem falar de uma gestio
dos recursos, por vezes insustentavel. Todas,
ou quase todas, estao em situaoes semelhan-
tes ou raramente mais invejaveis que Tuvalu
ou as Ilhas Salomao. Eis alguns exemplos.
Quiribati culmina a 87 metros, mas muitas
destas ilhas sao recifes coralinos cobertos por
dois ou tres metros de areia, sem nos nem nen-
huma fonte de agua potavel. Algumas ilhas de
Quiribati, nomeadamente Banaba, foram fra-


gilizadas pela exploraao do fosfato pela
British Phosphate Commission e outras, nas
Lines Islands, por ensaios das bombas a hidro-
gnio do Reino Unido e dos Estados Unidos
durante o period colonial. A Ilha de Tarawa
(70.000 habitantes) tem os mesmos proble-
mas que Tuvalu, apesar de ser maior. Num
dos seus recentes relatrios, o Programa
Regional para o Ambiente do Pacifico Sul
(SPREP)' confirmou que dois ilhus inabita-
dos de Quiribati -Tebua Tarawa e Abanuea
foram submersos em 1999.
As costas dos 19 atis das Ilhas Marshall estio
totalmente deterioradas. Para as proteger,
como em Quiribati, a populaao amontoa ali
desesperadamente todo o tipo de materials
usados volumosos, camies, carros velhos e
outras maquinas usadas e cobrem-nos de
pedras. As Ilhas Marshall e Quiribati ja tm os
seus primeiros refugiados ecolgicos na
pequena ilha alta de Niue.
Papua-Nova Guin. Rios da dimensao do


Amazonas quando os seus cursos evoluem em
distncias relativamente curtas. Em 19 de
Setembro de 1994, uma explosao de various
cones do vulcao Rabaul destruiu, em grande
parte, a cidade do mesmo nome. Certas ilhas
adjacentes tambm estao ameaadas de extin-
ao. o caso, nomeadamente, das Ilhas
Carteret, com cerca de 2000 habitantes que
reconstruem sem parar diques de protecao e
tentam afastar os mangues sem muita esperan-
a de sucesso. Foi tomada a decisao de os
transferir em pequenos grupos para as Ilhas
Bougainville a quatro horas de navegaao.
Nauru, muito rica no passado graas s minas
de fosfato, foi devastada e fragilizada at s
suas fundaoes por 50 anos de sobrexploraao
deste mineral agora esgotado.

1- Instaurado em 1974 pela Comissao do Pacifico Sul,
o SPREP tem por missao ajudar os pauses da regiao a
proteger o ambiente e a praticar um desenvolvimento
sustentavel.
H.G.


Os 14 paises ACP do Pacifico:


FIJI
: .2 1 ilha 1 i"i dal qui. z h.bit.-i
.d '; 2 Ilas muiiL:i' 'jjr indC_
18 2 2 kri 1 26u.i. ii.i kiii de
aii.iU territoral 9 265 ha .i.
,i ne i 2uui"C i
tant I2~' a i
QUIRIBATI
r.Ull kL-i Cr. 1 'il iiI'I kiil dJ- .ILJiV
Ierrc,1.rii 8- 44'1 h,-1ne


-14 qi.i -:1- de Thl que pErt&aem..:-4W'.'E. I .S I km
OI .ills, algumas ,ulcn li~ s~,.terit Siais; mais :de
ciiutla..JoQlipo. at..Sis crPl 090 9 5,j,099.000 habitantei. i2," iii
km 2 9oS 8Wi d kdi- de agLua'
terr[ior i 1 1 6-14 ha.iltntes SAMOA
i2uu.. i 2 ilhas principi ai e I il has ail


NAURU .- :.........
1 ilha -ora.i:na I.obreleiada 24
km ?i.2 ,1 ill kSmi dei .%liua tel'h-
t.orias 1 2 Sui h.-bit+n, es i.'C.ug


ScenF.


tes; 2857 kmi ; 12ri.uriu km de
aguas teiiitiqjis 169.lLAL hali..
tantes e ceica de 1 Ir OnIu quei
vienm no estranqgeiri: '2r,.,i


ilhii b h.;biadd. 26 kmi; 757.000
km dle IqLJas territories, 990U
h.ibitint.-s i,20 )

VANUATU
1 2 ha. qi andes e::era ..d.O
I q]uicna-r l iabltaI.a. 12.189 km "; ........
68i'i in"l km de iguas,,.terr.toJ:iais;
192 91 u habitantes (2U0.0) """


ILHASn SLPM ... :.. ....
NIUE ................ E'-gqiandes ilhas 20 pe-quenas E
1 aloI >:oralhn.:. s:lilelado 25 enintn< nci e ilh-Li 28 446 kimu
Lkm .rii i. kr iii Je aqiiu.i tein- 1 A3u rii.i kiii dle ,iqi.1 itcrrito.
Loriaii 1 8u'i" hn dbiltiQL2.:J. liais. I41 6 2rii-i hi. i,ai-tl 1' '2i..ii.iii





Clima Pacifico DOSSier


ILHRS DO PfCIFICO



SUBIIERSHS deuidoao



HQUECIMEnTO CLIMIIfTICO

Costas corroidas, len6is freticos salinizados, primeiros xodos de refugiados
"climticos": o aquecimento climtico j uma dura realidade para a maioria dos
insulares do Pacifico. Do mesmo modo, dada prioridade a programs que permitam
a esta populao e ao seu ambiente adaptar-se nova situao climtica. Estes
programs beneficiam do apoio da Unio Europeia.


Ss paises em desenvol-
vimento das ilhas do
Pacifico s6 sao respon-
saveis por 0,03% das
emisses mundiais de dixido de carbon. E,
no entanto, prev-se que estes pauses tenham
que enfrentar as consequncias mais precoces
e mais graves das alteraoes climaticas nos
prximos dois sculos." Ja em 2001 era este o
cenario apresentado pelo Grupo
Intergovernamental de Peritos sobre as
Alteraoes Climaticas (GIEC), incumbido
pelas Naoes Unidas de assistir as Partes na
Convenao Interacional nos aspects cientifi-
cos das alteraoes climaticas.
No seu relatrio de 2007, o GIEC precisou o
seu ponto de vista: "Nas pequenas ilhas receia-
se que a deterioraao das condioes nas faixas
costeiras afecte os recursos locais, nomeada-
mente a pesca, e reduza o valor turistico destes
destinos. A subida do nivel do mar devera
agravar as inundaoes, o efeito das tempesta-
des, a erosao e outros riscos das faixas costei-
ras, ameaando assim as infra-estruturas, o
habitat e as instalaoes que constituem os
meios de subsistncia das comunidades insula-
res. As alteraoes climaticas reduzirao os
recursos hidricos em muitas ilhas de pequenas
dimenses, por exemplo nas Caraibas e no
Pacifico, de tal maneira que serao insuficientes
para satisfazer a procura nos perfodos de
pouca precipitaao."

> Refugiados climaticos

Minsculas rochas vulcnicas atiradas e espal-
hadas no oceano, a maior parte das ilhas do
Pacifico sao recifes coralinos que mal exce-

N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


dem o nivel do mar, quando nao se encontram
situadas abaixo deste nivel, como acontece
com a Repblica de Quiribiti, constituida por
tres arquiplagos, 32 atis e uma ilha isolada.
O ponto culminante de Quiribiti Banaba e os
seus 81 metros. Tuvalu, Estado da Polinsia,
tem oito at6is cujo ponto mais alto se situa a
4,5 metros acima do nivel das aguas... Metade
dos seus 11.636 habitantes vive abaixo de trs
metros de altitude.
Ora, as alteraoes climaticas tornam as mars
altas guas de at 3 metros acima do nivel


normal -cada vez mais frequentes. Tuvalu o
primeiro pais onde as pessoas tiveram de
abandonar as suas terras para escapar s inun-
daoes. Quiribiti e Vanuatu tambm se vem
foradas a realojar as populaoes vitimas da
erosao das faixas costeiras e da subida do nivel
do mar. Esta migraao forada, nota um relat6-
rio das Naoes Unidas, "implica uma necessi-
dade urgente de plans coordenados, tanto a
nivel regional como intemacional, para realo-
jar as comunidades ameaadas e criar um arse-
nal politico, juridico e financeiro adequado".









-











.-
IY. -" _..,, /
" -" 1 ". .,


....... .......






DOSer II Clima Pacifico


Perante esta subida inexoravel das aguas e a
recrudescncia de ciclones por vezes assusta-
dores -como o ciclone Val, de funesta
memria, que, em 2001, devastou a ilha de
Samoa, provocando danos avaliados em
230% do PIB desta pequena economic e cau-
sando a morte de 13 pessoas a Comissio
Europeia criou uma Facilidade ACP-UE para
as catastrofes naturais. Tambm estao previs-
tos outros funds. Por sua vez, o secretario-
geral do Programa Regional Ocenico do
Ambiente (PROE), Asterio Takesa, indicou
que a UE ja contribuiu com 200 milhes de
euros para a adaptaao s alteraoes climati-
cas e 150 milhes de euros para plans de
acao nacionais. O PROE uma organizaao
intergovernmental encarregada de promover
a cooperaao, apoiar os esforos de protecao
e melhoria do ambiente do Pacifico e favore-
cer o seu desenvolvimento sustentavel. O
PROE conta com 25 membros, quatro pauses
desenvolvidos com interesses director na
regiao (Frana, Nova Zelndia, Australia e
Estados Unidos) e 21 pauses e territrios insu-
lares do Pacifico: os Estados Federados da
Micronsia, Fiji, Guam, Ilhas Cook, Ilhas
Marianas do Norte, Ilhas Marshall, Ilhas
Salomao, Quiribati, Nauru, Niue, Nova
Calednia, Palau, Papua-Nova Guin,
Polinsia Francesa, Samoa, Samoa
Americana Tnlelaii TnnQ-a Tii"lii \Vnanntii
c' \\ .i!!, u' Fiiiii .i


-j'


gmu-ii
n -
n


> Ecossistemas em perigo

Para Espen Ronneberg, responsavel pelas
questes climaticas do PROE, o Pacifico
represent uma grande variedade de desafios,
devido sua topografia, capacidade limita-
da para enfrentar as mutaoes ambientais e
escassez de competncias locais. No seu
entender, embora exista um consenso cientifi-
co sobre o efeito de estufa e a realidade das
alteraoes climaticas, ningum sabe ao certo
se as temperatures mundiais vao continuar a
subir ou se havera acontecimentos imprevis-
tos. E acrescenta que, se os recifes coralinos e
os ecossistemas insulares podem naturalmen-
te adaptar-se em certos limits, ningum sabe,
porm, o que ocorrera se estes limits forem
atingidos rapidamente. o caso, nomeada-
mente, dos mangues, dos ecossistemas precio-
sos e com grande valor econmico. Segundo
um estudo financiado, entire outros, pelo
Program das Naoes Unidas para o
Ambiente (PNUA) ("Os mangues das ilhas do
Pacifico face a um clima em evoluao e
subida dos mares" 2006), cerca de 13% dos
mangues do Pacifico correm o risco de extin-
ao, sendo os das Ilhas Fiji e Samoa os mais
ameaados. Neste estudo, Kitty Simonds,
director executive do Conselho de Gestao das
Pe ca dn Pacfficn Ocidental e-plica que
d e 'c J, ,1C 1 1. III'II! .' ! .' "1!, 1


hmidas de mangues e os restantes ecossiste-
mas costeiros, bem como sua contribuiao
important para a produao haliutica nas
proximidades das faixas costeiras, os gover-
nos e as comunidades locais das ilhas do
Pacifico devem agir imperativamente para
assegurar o aprovisionamento sustentavel dos
servios inerentes aos ecossistemas de man-
gues. O Conselho procedeu recentemente
substituiao de todos os seus plans actuais de
gestao das pescas por plans integrados, base-
ados nos ecossistemas, para cada arquiplago.
As concluses e as recomendaoes do presen-
te estudo contribuem para a elaboraao destes
novos plans relatives aos ecossistemas
haliuticos e adaptados ao local". M.M.B. M


Destruioes provocadas pelo tsunami na
provincia de Choiseul. Robert Iroga


rr
-a-k:,


!-:
1-----


E
r=


s


L -a- IL


nil











UnfIO EUROPEIR


E ESTlDOS ICP PROCURRII




S"ESTRATEGIRS




DE ADfPTCflAO"


As ilhas ACP do Pacifico nao serao
as nicas a sofrer severamente as
consequncias das alteraoes cli-
maticas. Os Estados insulares das
Carafbas e a Africa tambm se encontram
entire os pontos do globo que deverao ser, e ja
o sao, os mais afectados pelo aquecimento
anunciado. Reconhecendo a responsabilida-
de dos pauses industrializados neste proces-
so, a Comissao Europeia elaborou, em 2003,
uma estratgia destinada a ajudar os pauses
em desenvolvimento a enfrentar os desafios
colocados pelas alteraoes climaticas. Esta
estratgia foi adoptada em 2004 pelo
Conselho de Ministros da UE atravs de um
plano de acao para o period 2004-2008. A
partir daf, o process acelerou um pouco.
Depois, houve as Jornadas Europeias do
Desenvolvimento (JED), cujo tema da
segunda ediao, organizada em Novembro
passado em Lisboa, foi consagrado s altera-
cs e climnticas As Tnrnadas acnnteceram


fa para alm de 2012, data final do primeii a 22 de Novembro em Kigali, exigiu a criaao


period do Protocolo de Quioto. Na reuniao
de Novembro, em Lisboa, o Comissario
Europeu do Desenvolvimento, Louis Michel,
lanou um apelo constituiao de um
"emprstimo mundial" para ajudar os pauses
em desenvolvimento a enfrentar as altera-
oes climaticas.
"Imaginemos de maneira criativa um
Emprstimo Mundial que permit angariar
meios para responder a este problema criado
pelo clima. Se nao adoptarmos, aqui e agora,
uma decisao political forte com resultados
imediatos, estaremos na mesma situaao
daqui a 15 anos." Este emprstimo, acrescen-
tou o Comissario, devera ser gerido pelas
instituioes internacionais e totalmente
apoiado e financiado pelos pauses mais ricos.

> necessidade de aliana global
O Fmnrstimn Mundial nprmitiria nnmreada-


"de uma estratgia complete sujeita a prazos",
a fim de integrar a prevenao das catastrofes e
as estratgias de adaptaao concebidas em
todos os plans de desenvolvimento nacio-
nais, na political europeia de desenvolvimento
e na ajuda humanitaria. Solicita tambm aos
pauses ACP e UE que fixem um objective
especifico para as energies renovaveis, que
deveriam ser o element central dos progra-
mas de cooperaao.
Por sua vez, Bernard Petit, director-geral
adjunto do Desenvolvimento na Comissio
Europeia, reconheceu nas JED de Lisboa que
a parte da ajuda actualmente consagrada s
estratgias de adaptaao era insignificantt"
e indicou as duas orientaoes principals que
a UE deveria seguir. Primeiro, a necessidade
de incluir a parceria UE-Africa nas estrat-
gias de adaptaao. Segundo, definir uma
abordagem mais political que englobe todos
ns niafses F nesta nprspnetiva niue a TE tra-


apenas um ms antes da Conferncia mente, apoiaras ac6es previstas naestratgia balha actualmente na construao de uma
.I .l l h -Jllll. d1' ";lli 1)c - .F.!l- .1 c i !.i i .Fl il.i- 1 ,l .l 1 c . l l .l -

1.111111011 11C !!.- U P-1 I\ dc ci,
1 c I . ll- 'U Fl I [ E I c' I d, h M M B f
il iC~I r
iii I I L IIId rL- a

.l + I., ..:A
4- -L~
.. "", ,: 2 I -- "

*I J '
dm .w"..
5- . -~ .... .
-M e,




les e
-~C I B-.'--
- ~ ~ :C, "r it i aC .,, *" .*L i. ;


- _
~- -.


;.,erg~P-











JORNADAS EUROPEIAS DO DESENVOLVIMENTO

Sebastien Falletti




Juntos frente as



RLTERROES CLIMATICfS


parque da Feira Interacional de
Lisboa (FIL), ONG e diplomats,
agricultores africanos ou Chefes de
Estado, misturam-se alegremente num ambien-
te prprio de um salao de estudantes. Esta mes-
cla improvavel a receita detonadora das
Jornadas Europeias do Desenvolvimento
(JED), cuja segunda ediao teve o xito espera-
do de 7 a 9 de Novembro de 2007, em Lisboa.
Aps a primeira ediao em forma de balao de
ensaio em 2006, em Bruxelas, esta iniciativa,
concebida pelo Comissario Europeu do
Desenvolvimento, Louis Michel, entrou em
ritmo de cruzeiro na capital portuguesa, subor-


dinada a um tema central: o impact das altera-
oes climaticas sobre o desenvolvimento.
"Se nao integrarmos as alteraoes climaticas
nas nossas political de desenvolvimento -aqui
e agora -perderemos o beneficio de todos os
investimentos que fizemos." O Comissario deu
o tom, o da gravidade, ja na sessao de abertura
perante Jos S6crates, Primeiro-Ministro de
Portugal, que detinha a Presidncia da UE, cuja
presena assinalava pela primeira vez a aprova-
ao das JED pelo Conselho. Este apelo res-
ponsabilidade transformou-se em grito de alar-
me quando o Presidente das Maldivas,
Maumoon Abdul Gayoom, explicou que o
aquecimento global ameaava a prpria sobre-


vivncia do seu arquiplago. Daf a ideia de lan-
ar um apelo solene a todos os pauses desenvol-
vidos e emergentes para se empenharem em
objectives coercivos de reduao das emisses
de gas carbnico.
Na vspera da tao aguardada Conferncia
Interacional sobre as Alteraoes Climaticas
em Bali, no ms de Dezembro, as JED apresen-
taram uma plataforma ideal UE para que
manifeste a sua solidariedade com os pauses
pobres e aumente, assim, a pressao sobre os
outros parceiros mais hesitantes em empenhar-
se nas negociaoes. "Sao os que menos contri-
buiram para as alteraoes climaticas que sao os
mais afectados. Refiro-me aos pequenos


European Development Days
J L -, ..I 'ii l;:limatl ClharnE G tltr 3 ChMIlnl1


C*RREIO


", ,


deel- O








































Estados insulares, nos pauses africanos, nomea-
damente os do Sael. important que a sua voz
seja ouvida em Washington, Pequim ou Nova
Deli", declarou Jos Manuel Durao Barroso,
President da Comissao Europeia, present na
capital portuguesa. Um apelo repetido pelo con-
vidado surpresa das JED 2007, Kofi Annan, que
usou de toda a sua autoridade para apontar aos
pauses ricos as suas responsabilidades. "Nio
nos podemos dar ao luxo de falhar.
Necessitamos de um regime ps-Quioto que
comece hoje, nao amanha!", declarou em tom
grave o antigo Secretario-Geral da ONU.

> 8 aldeia das OnG

Antes de serem uma plataforma poltica, as
JED sao um espao de debate e de encontro
entire os profissionais e o grande public, que
fora convidado a visitar em grande numero a
"aldeia das ONG" e a participar nas discus-
soes. No parque da FIL, 650 lisboetas, jovens
ou menos jovens, aliaram-se s figuress de
proa" das alteraoes climdticas e s ONG,
oriundas tanto do Norte como do Sul. Yvo de
Boer, secretario executive da Convenao-
Quadro sobre as Alteraoes Climaticas das
Naoes Unidas, encontrou os representantes
da Climate Action Network ou ActionAid
International. Com mais de 2100 participan-
tes, "Lisboa foi o ponto de encontro entire
Davos e Porto Alegre", declarou entusiasma-
do Durao Barroso.
O tema das alteraoes climaticas foi abordado
sob todos os prismas nas mltiplas mesas-
redondas, tendo como prioridade o enraiza-
mento local. Os pauses ACP nao foram esque-
cidos no debate especifico sobre as consequn-


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


cias do aquecimento para os seus agricultores.
"E til estar aqui. Isto permit trocar conheci-
mentos, alargar contactos... e, eventualmente,
encontrar financiamentos para os nossos pro-
jectos", explica Samuel, agricultor do Gana. As
JED tambm sao um grande salao onde os pro-
fissionais do desenvolvimento podem encon-
trar-se, trocar impresses e... fazer negocios.
" um espao incontornvel no sector, nomea-
damente para encontrar parceiros e fazer neg6-
cios!", explica um representante de Granada,
uma produtora de audiovisual especializada em
documentarios sobre os pauses em desenvolvi-
mento. Os pavilhes de Radio France
International ou France 5 atestam que o des-
envolvimento mesmo um mercado de future
no sector do audiovisual. Para os estudantes
seduzidos pelo sector caritativo, as JED sao
uma boa oportunidade para conseguirem um
primeiro emprego.

> Uitrina

Os Estados aproveitam estes encontros como
uma vitrina para mostrarem os seus esforos
em prol dos pauses pobres. Assim, todos os
Estados-Membros da UE, except a Bulgaria,
instalaram um pavilhao nas margens do Tejo.
At havia um pavilhao de Cuba! Os Estados
que aderiram UE desde Maio de 2004 res-
ponderam present e nada os distingue dos
mais "antigos". "Na nossa opiniao, fazemos
coisas boas em matria de desenvolvimento,
logo, important demonstra-lo", explica a
representante do pavilhao da Repblica Checa.
Nos meandros da aldeia, alguns pavilhes
repletos de ecras plans do ltimo grito
impressionam pelo seu design rebuscado,


embora nem sempre sejam dos Estados mais
virtuosos em matria de ajuda pblica ao des-
envolvimento.
Mas esta abundncia de iniciativas nao ocul-
tou a mensagem principal das JED 2007: a
urgncia em ajudar os mais pobres no comba-
te s alteraoes climaticas. "Algumas parties da
Africa serao afectadas por acontecimentos cli-
maticos extremes, como inundaoes ou tem-
pestades. Isso acontecera nao no final do scu-
lo, mas durante a nossa pr6pria existncia",
advertiu o administrator do Programa das
Naoes Unidas para o Desenvolvimento,
Kemal Dervis. "Serao os mais desfavorecidos
os primeiros a serem afectados", preveniu
Mamadou Cissokho, president da rede das
organizaoes de camponeses e produtores da
Africa Ocidental.
Louis Michel nao esperou muito para passar
da reflexao acao ao propor, na sessao de
encerramento, um "emprstimo mundial" para
ajudar os pauses pobres a enfrentar as alterao-
es climaticas. "Se nao tomarmos, aqui e agora,
uma decision political forte com resultados ime-
diatos, daqui a 15 anos estaremos na mesma
situaao", afirmou o Comissario. Foi um des-
afio lanado a todos os decisores da Europa e
de outros continents, mas tambm uma forma
de lembrar que as JED sao um meio de que
dispe a UE, primeiro doador mundial, para
influir na agenda do desenvolvimento ainda, o
mais das vezes, determinada em Washington.
A terceira ediao das JED ja esta agendada
para Novembro de 2008 em Frana, provavel-
mente em Estrasburgo, tendo como tema pro-
missor o papel dos poderes publicos no desen-
volvimento.
M





Interacqes UE-Afca


Uma noua





PiRCERIII



estratgica

Uma Estratgia Conjunta e um primeiro Piano de Aco para 2008-2010, destinados a
lanar a nova parceria estratgica entire a UE e Africa, foram os dois resultados
principals da segunda Cimeira UE-Africa, realizada em Lisboa, em 8 e 9 de Dezembro de
2007. Foi uma Cimeira sem tabus e com debates francos, que mostrou uma vontade clara
de virar a pagina do passado colonial e enfrentar em conjunto os desafios do future.


Cimeira UE-Africa realizada
no Cairo e do fracasso da rea-
lizaao de um segundo encon-
tro em 2003, devido a um desacordo
quanto a convidar ou nao o Presidente
do Zimbabu Robert Mugabe, a
Cimeira de Lisboa lanou a nova parce-
ria estratgica entire os dois continents.
Este novo relacionamento e a nova
Estratgia Conjunta Africa-UE serao
implementados atravs de um primeiro
Plano de Acao (2008-2010) com oito
parcerias especificas UE-Africa, que
abrangem mais de 20 acoes prioritarias
em dominios como a paz e segurana,
governaao democratic e direitos
humans, comrcio e integraao regio-
nal, Objectivos de Desenvolvimento do
Milnio (ODM), energia, alteraoes cli-
maticas, migraio, mobilidade e empre-
go, cincia, sociedade da informaao e
espao. Os resultados iniciais serao ana-
lisados na prxima Cimeira, agendada
para se realizar em 2010 em Africa.


> Piano de aco

Os mais de 70 Chefes de Estado e de
Govemo dos dois continents compro-
meteram-se a assegurar que a
Arquitectura Africana de Paz e
Segurana passara a funcionar plena-
mente, criando ao mesmo tempo a estru-


tura necessaria para o financiamento pre-
visto de actividades de manutenao de
paz em Africa. Nos prximos meses a
Somalia dara uma oportunidade para tes-
tar este compromisso no terreno.
A parceria devera igualmente abranger a
promoao do Mecanismo Africano de
Avaliaao pelos Pares e o apoio Carta
Africana da Democracia, das Eleies e
da Governaao, intensificando ao
mesmo tempo a cooperaao no dominio
dos bens culturais. O Plano de Acao
aborda igualmente o comrcio, a integra-
ao regional e medidas para reforar a
capacidade de Africa para estabelecer
normas e controls de qualidade e assis-
tir ao lanamento de uma parceria UE-
Africa ambiciosa em matria de infra-
estruturas, a que foi afectado um pacote
de 5,6 mil milhes de euros. Outras par-
tes do Plano de Acao incluem acelerar o
progress para os Objectivos de
Desenvolvimento do Milnio e melhorar
a segurana energtica e o acesso ener-
gia comuns. Outro objective fundamen-
tal desenvolver uma agenda comum de
decises political para abordar as impli-
caoes das alteraoes climaticas.
Tambm estao incluidas as migraoes, a
mobilidade e o emprego, sendo dada
nfase aplicaao da declaraao da
Conferncia de Tripoli sobre Migraao e
Desenvolvimento e ao Plano de Acao
UE-Africa relative ao trafico de series
humans. Alm disso, o Plano de Acao


" .



--
=..


O Comissario Europeu para o Desenvolvimento e a Ajuda Humanitaria,
Louis Michel, durante a Cimeira UE-Africa em Lisboa
(8 e 9 de Dezembro de 2007). CEC


C*RREIO






UE-Africa Interacqes


centra-se igualmente no apoio ao desenvolvi-
mento de uma sociedade da informao em
Africa e na realizao de esforos especiais
para estabelecer capacidade cientifica.
No context mais vasto UE-Africa e a fim de
implementar as prioridades acordadas, a
Comissao Europeia e 31 Estados ACP da Afri-
ca Subsariana assinaram em Lisboa programs
de cooperaao conhecidos por Documentos de
Estratgia Nacionais para o period 2008-2013,
avaliados em mais de 8 mil milhes de euros
(ver extratexto). Serao assinados acordos
semelhantes com outros pauses nas prximas
semanas, o que fara aumentar a dotaao da UE
atravs do 10. Fundo Europeu de
Desenvolvimento para os pauses da Africa
Subsariana para um montante entire 11 e 12 mil
milhes de euros no perfodo 2008-2013. Este
valor nao inclui o financiamento adicional para
imprevistos, a ajuda regional, os financiamen-
tos do Banco Europeu de Investimento (BEI) e
o program de cooperaao separado com a
Africa do Sul, os pauses do Norte de Africa e
outros acordos, como a assistncia relacionada
com o comrcio. Para alm destes, foram con-
cluidos acordos de cooperaao separados com
os pauses do Norte de Africa, bem como
emprstimos do BEI.



> "fliana indispensauel"

Nas palavras do Comissario para o
Desenvolvimento, Louis Michel, a Estratgia
Conjunta, o Plano de Aco e os acordos
individuals procuram criar uma "aliana
indispensavel" entire os dois continents,
abordando em conjunto os desafios do future
e ultrapassando as diferentes perspectives
que podem ter sido expresses na Cimeira de
Lisboa. Foi uma Cimeira que correspondeu a
todas as expectativas em terms de discusso
aberta e sria e relegando para a histria a
antiga relao unilateral doador-beneficiario.
Um exemplo foi quando a Chancelerina
alem, Angela Merkel, aproveitou a oportuni-
dade para lembrar ao Presidente Robert
Mugabe o caracter universal de valores como
os direitos humans. Ele reagiu criticando
fortemente a "arrogncia" da Alemanha e de
outros pauses que o criticaram. Mais tarde,
um apelo do Presidente da Libia, Muamar
Gaddafi, para uma indemnizao pelos danos
coloniais deparou com a recusa de Louis
Michel, que referiu o enorme volume de
ajuda ao desenvolvimento atribuida pela
Europa nas ltimas dcadas regiao.
Procurando unir os dois lados, o Presidente
da Comissao da Uniao Africana, Alpha Omar
Konar, instou os lideres dos dois continents


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


UL-AFRICA


pAT N RS hip
". RI
a.
PA


a "enterrarem detinitivamente o passado
colonial".

E actualmente, apesar destas declaraoes fran-
cas, as relaoes entire a UE e a Libia deram um
passo em frente com a decisao do Conselho
Europeu de 14 de Dezembro de dar inicio a
negociaoes para concluir um acordo de coo-
perao com Tripoli.
Os dois lados tambm nao se furtaram a ques-
toes sensiveis, como as migraoes. Uma ques-
to em que a Europa esta preocupada com o
afluxo de imigrantes ilegais e Africa esta
ansiosa por acabar com a fuga de crebros,
mas em que ambos os lados querem aproveitar
as oportunidades oferecidas pela migrao cir-
cular, as oportunidades de emprego e a criaao
de empregos.
Os projectores tambm se viraram para a pers-
pectiva de acordos comerciais compativeis
com a Organizao Mundial de Comrcio
(OMC) -os designados Acordos de Parceria
Econ6mica: APE. Prev-se que em 2008 estes
acordos substituam as preferncias comerciais
nao reciprocas de que os Estados ACP tm
beneficiado ao abrigo das clausulas comerciais
do Acordo de Cotonu.
O President do Senegal, Abdoulaye Wade,
exprimiu a opiniao de que Africa nao estava pre-
parada para criar uma zona de comrcio livre
com a Europa. Dois dirigentes europeus concor-
daram em certa media com esta opiniao. O
Primeiro-Ministro irlands Bertie Ahem afir-
mou que era precise "mais tempo" para as nego-
ciaoes, enquanto o Presidente francs Nicolas
Sarkozy reconheceu a vulnerabilidade de alguns
pauses ACP. No entanto, alguns funcionarios


europeus salientam que estes pontos de vista nio
reflectem a posiao da UE, que atribuiu um
mandate Comissao Europeia para negociar os
APE com os pauses ACP.
Apesar disto, a Comunidade da Africa
Oriental, varios Estados da Africa Austral e do
Oceano Indico, a Costa do Marfim e o Gana
concluiram acordos provisrios de comrcio
de mercadorias com a Comissao Europeia. O
President desta Instituio, Duro Barroso,
comprometeu-se a consultar os lideres das
quatro regies africanas antes de lanar uma
nova ronda de conversaoes, em Fevereiro
pr6ximo, para concluir APE globais com todos
os pauses da Africa Subsariana. Estes acordos
abrangerao igualmente o comrcio de servi-
os, investimentos, propriedade intellectual e a
abertura dos contratos pblicos concorrncia
F.M.

Jos Manuel Barroso durante a Cimeira UE-Africa
em Lisboa (8 e 9 de Dezembro de 2007). CEC

Jos Manuel Barroso e Alpha Oumar Konar,
President da Uniao Africana em Lisboa. CEC






Interaces ACP-UE


fjuda por pais Os P
Montantes dos programs indicativos nacionais para
os 31 Estados signatarios dos documents de estra-
tgia de cooperago com a UE (rubricas A e B):


Em milhoes de euros
Benim
Botsuana
Burquina Faso
Burundi
Camares
Comores
Congo-Brazzavillle
Jibuti
Etiopia
Gabao
Gmbia
Gana
Guin-Bissau
Qunia
Lesoto
Libria
Madagascar
Malavi
Mali
Mauricia
Moambique
Namfbia
Ruanda
Sao Tom e Principe
Senegal
Seicheles
Serra Leoa
Suazilndia
Tanznia
Chade
Zmbia


340,2
77,3
537,2
202,1
245,9
48,1
85
41,1
674
50,2
77,9
373,6
102,8
394,4
138
161,8
588,2
438
559,3
63,4
634,1
104,9
294,4
18,2
297,8
6,3
268,4
63,9
565,1
311
489,4


a flssembleia


NB: A estes montantes podem acrescentar-se subsi-
dios suplementares para cobrir necessidades imprevis-
tas, bem como ajudas regionais e os financiamentos
do Banco Europeu de Investimento.
Fonte: Direcoo-Geral do Desenvolvimento da
Comissao Europeia


REPARTIflO DO
10 FED
Dos 22.682 milhes de euros do
10. FED (2008-2013), 21.966
milhes vao para pauses ACP,
286 milhes para Paises e Territorios
Ultramarinos (PTU) e 430 milhes para a
Comisso, a titulo de apoio programa-
ao e execuao do FED. O montante
total para os pauses ACP inclui 17.766
milhes de euros para os programs
indicativos nacionais e regionais, 2700
milhes para cooperaao intra-ACP e
intra-regional e 1500 milhes para
Facilidades de Investimento. O FED vai
centrar-se mais nos programs regionais
para apoiar a execuao dos Acordos de
Parceria Europeus (APE) e tambm nos
incentivess" para a boa governaao. M
























Paritaria


0ao ha pmano BC l piamo sac ie Bsll|
OMC'", declare coin firmeza Louis Michel
n %a.1.l cm xn I'.ronsi do centro de confer~n-
i i.i. Ji Serenai Hotl. Oi pleno centio de
kii.il i. ill i un InIi1.i L iillil.i LIt pi l.iI.lll l.lirLtr oriin di11i s dos q ti rol'
L Ii, Il .Ill. 1 I l ,1 '11.1111 i (t in.l.1 ELir lpctuI do
ti I iv ri I n i t. i' ii L: .i j ipi.i i f i ii \L A i i it-i iL'Lie I iliir [
I-).' I'l| ,'1 IlII 'l! .ll ti c L.'l .Ipa,,i h' [.l l .It. .-A l. l tld> s dL Pira l ll]l
Eu ii iiii..i i AIPE I tiil .1 i I.E i.ll.i lc.-hr.ir i ni %i p.lii AC.'P. .
l !!1i .' j.ilh ,l. i.' i .1* i.'.. i.! i ..i,1 J.i N .Ill > l i ijilii iiiiiil i i.
A PE .LI, *.IIL..i 't ,* J i lh J.Li A- inhl .j.I P.irl.iiin i.ir P.fril.li i.i
I I liE- 0 P A il.. 1iU.I iii n. qi.. -.i Jl t Ic "1 d. J
N i tI !h ll i.1 I l l i i'.. t. L ii .II i.iL . '.1 tI, l. i t.iI, i 1 1.1 -1 %LI
It t c .L t .1 11 .1 (,,**il!h ll.u. ltu.I.s I.ilhul'Ihu ii -

L L it I 1 .t 1 I LIL FIL.

i i.' i I l i i i* ii .ii.1 ii .iii. I .r'I .1 i .li.i. i ,i i. ii i l
.. Ed P E . ll -t .[' .F.F .. I lp..! n <... a
seus colegas do Parlamento Europeu, nao deixaram escapar a
oportunidade de transmitir a mensagem Comissao, encarregada
das negociaoes, mas tambm ao Conselho, tirando partido da pre-
sena de Joao Cravinho, Ministro da Cooperaao de Portugal, que
entao detinha a Presidncia da UE.


"ji


r1>i


iii


i i







Interaces


ACP-UE


> 8 Declarao de Kigali

Com um resultado tangivel, fruto de various dias
de debates e de negociaoes nos bastidores, foi
finalmente adoptada a Declaraao de Kigali,
que sublinha as inquietaoes dos ACP em rela-
ao estratgia da Comissao, que ameaava
impor o sistema de preferncias generalizado
muito menos generoso em terms de acesso ao
mercado da UE -aos paises que nao assinas-
sem um acordo dentro do prazo. A Declaraao
de Kigali consider que este sistema "poria em
perigo o bem-estar e os meios de subsistncia
de milhes de trabalhadores", lembrando os
compromissos assumidos pela UE no Acordo
de Cotonu revisto, que especifica que nenhum
pais ACP devera encontrar-se numa situaao


sejamos meninos de bem e venhamos assinar
em Bruxelas!", afirmou irritado o Sr. Sebetela,
do Botsuana, desencadeando um coro de aplau-
sos. " uma autntica chantagem!", exclamou o
socialist belga, Alain Hutchinson.
Apesar deste dil6vio de critics, Louis Michel
manteve-se firme. Reafirmou a sua f nos APE
descritos como instrumentss de desenvolvi-
mento" e tentou serenar os nimos, lembrando
que a liberalizaao commercial seria progressive e
acompanhada de ajudas financeiras europeias
substanciais. "Nao se trata de uma liberalizaao
estpida e prfida!" explicou o Comissario antes
de lembrar o fracasso do sistema de preferncia
commercial existente ha varias dcadas. Para ele,
chegou a altura de os paises ACP aceitarem o
jogo da abertura econmica, tomando por mode-
lo o crescimento dos paises asiaticos.


I uWII V/l WI//I~ I uIt/ 1 Iia, cDdianIdu Z'
Afrique in visu/Baptiste de Ville dAvray


menos favoravel no final das negociaes. No
entanto, sob a pressao dos democratas-cristaos
e dos liberals, a Declaraao referee igualmente a
necessidade imperiosa de compatibilidade com
as exigncias da OMC.
No moment em que os negociadores da
Comissao tentavam concluir dentro do prazo
acordos de comrcio livre compativeis com as
regras da OMC, os parlamentares, como nao
houvesse APE completos, denunciaram as
pressese" e a abordagem "dogmatica e ditato-
rial" do executive europeu. "Como nos bons
velhos tempos das colnias, pedem-nos que


> 0 monoplio da China


A Asia e suas potncias emergentes, como a
China ou a India, que estao a tomar posioes no
continent africano, provocaram outro debate
aceso em Kigali, desta vez entire parlamentares
europeus e os seus homlogos ACP. Estes ulti-
mos opuseram-se a qualquer critical a Pequim
num relat6rio sobre os investimentos estrangei-
ros adoptado pela Assembleia, desencadeando
a fria da co-relatora luxemburguesa Astrid
Lulling. "A China aambarca os recursos natu-
rais e as matrias-primas deste continent. Isso


nao contribui para o seu desenvolvimento, s6
beneficia as empresas chinesas. A ajuda da
China faz mais mal do que bem", declarou sem
ambiguidade a deputada europeia, provocando
por sua vez a ira dos parlamentares africanos,
apoiados pelo Co-Presidente da APP,
Radembino Coniquet. "Cada pais tem o direito
de estabelecer relaoes com quem o desejar",
retorquiu secamente um representante da
Repblica Democratica do Congo (RDC),
acrescentando que os ACP nao devem receber
lioes de uma Europa cujas empresas estio
mais interessadas em externalizar-se para o
Imprio do Meio do que para Africa. Foi um
fogo cruzado que revelou a sensibilidade da
questao e o trabalho hercleo que se depara
UE, que deseja estabelecer um dialogo "a trs"
com Pequim e o continent africano.
A Assembleia recuperou a sua unidade para
denunciar a degradaao da situaao no Leste da
RDC, onde a prossecuao dos combates entire o
exrcito congols e as foras rebeldes, chefia-
das pelo general Laurent N'Kunda, forou
350.000 pessoas a fugir dos seus lares em
menos de um ano. Os parlamentares, numa
resoluao de urgncia, apelaram mobilizaao
da comunidade intemacional e dos paises
vizinhos. "O Congo o gatilho da Africa", afir-
mou um parlamentar da RDC. "A violaao de
mulheres, o assassinio de crianas, a violncia
e a pilhagem por razes tnicas fazem desta
cruise uma ameaa estabilidade da regiao",
confirmou o deputado alemao, Jtrgen
Schroeder. O aviso da APP foi tragicamente
confirmado dias depois pela intensificaao dos
combates volta da cidade de Goma, perto da
fronteira com o Ruanda.
A Assembleia foi tambm uma ocasiao para
enviar um sinal de alarme sobre um assunto
menos dramatico, mas com repercusses srias
para os paises ACP: o atraso na ratificaao do
Acordo de Cotonu revisto pe em perigo o des-
bloqueio do 10.0 Fundo Europeu de
Desenvolvimento previsto para o period
2008-2013. Os Co-Presidentes, Glenys
Kinnock e Radembino Coniquet, lanaram um
apelo mobilizaao dos parlamentos nacionais
para que garantam a ratificaao no prazo pre-
visto e permitam, assim, o desbloqueio da
ajuda europeia. Os 27 paises da UE e dois ter-
os do Grupo ACP devem obrigatoriamente ter
ratificado o acordo para que a Comissao possa
utilizar os 22,6 mil milhes de euros do FED.
"O problema muito srio. Enquanto nao for
concluido o process de ratificaao, nao have-
ra financiamentos para os projects nem ajuda
ornamental", preveniu a Sr" Kinnock, esperan-
do que esta questao ja esteja regularizada na
prxima reuniao da APP na Eslovnia.
S.F. M


C*RREIO


ii~-


1

















































de so s o da e. do o co o . e t o um a a o I lu II de iall

re c os oe e s a s o o o oet leo e igindo or a res entar. eeor eo o oeste
a *nos p de diamane qu e e qu e ao oanhias ohe e r e e os o E t o to o a sua
omu e a i a os aj a a o q os p p e a o ouoro d t m ao * o o aReo
s *a p n s p c U detentores oe o i t no c i a u G i de a oe o oalibre, opoo
be o cm a d abilidade. c m t garatir as o uto s et a oa oat


da c s cm 15 e o o o e o o o o oa equen s mer a
* es a se essen e e n de ae e de a a o fundo. oo o o o ou eies o e s -

o a s e a c o o o o o
5 ** "AF n*
1'iTdll^Ul(rl(1l(;1l(;1IillI







Comrcio


> Um nouo oligoplio

Esta assim em vias de formaao um oligoplio
africano da oferta, perante o enxame de nego-
ciantes e de lapidadores mundiais. A capacida-
de de acao deste oligoplio saira tanto mais
reforada quanto, a partir de 2008, a procura
excedera a oferta e o desnivel continuara a
acentuar-se ulteriormente, de acordo com as
projecoes do outro gigante do sector, Rio
Tinto Diamonds, segundo o qual a "beneficia-
ao" "inevitavel" (sic). Mesmo se a De Beers
tenciona investor cerca de 2,6 mil milhes de
d6lares em novos projects, nomeadamente na
Africa do Sul. Botsuana. Namibia e Tanznia.


Diamond Trading Company (NDTC) garante a
entrega de diamantes brutos a 11 oficinas de
lapidaao de 2007 a 2011. O objective para
2009 pr disposiao destas oficinas de lapi-
daao quantidades de diamantes no valor de
300 milhes de dlares.
Por sua vez, o Botsuana espera aumentar o
volume de negocios annual das suas 16 oficinas
de lapidaao nos prximos dois anos de 200
para 500 milhes de dlares, o que represent o
equivalent ao quarto das suas exportaoes de
diamantes brutos (cerca de 2 mil milhes de
d6lares). Este pais espera colher dividends da
sua posiao de primeiro produtor mundial e do
facto de a sua capital, Gaborone, receber, a par-
tir de 2008, o maior centro de triagem e distri-
buiao da Diamond Trading Company, o brao
commercial da De Beers, que extemaliza para o
Botsuana uma parte das suas actividades da
praa de Londres. Esta tera, alias, a obrigaao
de alimentar as oficinas de lapidaao locais em
condioes que lhes permitam ser competitivas,
ou seja, em pedras de mdia ou de grande
dimensao.
Angola evolui na mesma direcao, apoiada em
projecoes que deixam antever a duplicaao da
produao actual (cerca de 9 milhes de quilates
para receitas de exportaoes de cerca de 1,2 mil
milhes de dlares) dentro de dez anos.
De Beers, numero um mundial da oferta de
bruto, nao Ihe resta outra altemativa senao
seguir o movimento. Esta em jogo a recondu-
ao dos seus acordos de joint-venture com os
tres Estados, o Botsuana, a Africa do Sul e a
Namfbia, que ainda constituem o suporte da
sua capacidade de acao no mercado mundial e
que partilham o mesmo objective estratgico.


o desnivel vai tomar propores consideraveis.
Outro "peso pesado" do mercado mundial, o
president da companhia russa Alrosa, Sergey
Vybomov, consider que, em 2020, a procura
mundial de diamantes brutos andara por volta
dos 20 mil milhes de dlares, quando a oferta
s6 atingira 9 mil milhes de dlares cotaao
actual. Resultado: as cotaoes vao subir.
Dito isto, a aposta na "beneficiaao" s6 podera
ser ganha em determinadas condioes, avisa o
director da De Beers, Gareth Penny. A primei-
ra que necessario ter em conta o desafio
asiatico dos baixos custos salariais de produ-
ao. As oficinas de lapidaao implantadas em
Africa deverao identificar os segments do
mercado em que poderao ser competitivos e
deixar as oficinas de lapidaao indianas tratar a
produao de menor valor, que nao econmi-
co transformar no continent. Alm do mais, os
govemos africanos deverao criar um ambiente
atraente para os investimentos director estran-
geiros no sector.
Mas os negociantes de diamantes de Anturpia
nao escondem que o desafio nao sera facil,


i l..Il I! i. i i ,l 1,1i., dc IIC I I ik .1 i e Ili .ii.


E !i..! ii!li .ii. .~ !c .!'!i c l..l i" m i. I' | ii l .'i "-

[l h d s h.'.l[ h . R !. l i;!a .. L. d .'. n!.. .ll -.
M DI, .1 .. I I II C .i l i .l C I i. iii >.l'i ii I

,.,h .i n . I _.:,,i ,i l in _i.. I I"..l i. .. i ..
l I. ih h. l lt,. .I s |1 I>ll- l |1|i- l | hI.' l li .' l ,

ji lh| I ,1iiV ii.
FM M


, h,, ,. iii i. .1 paginas 27 28

i ,- I ,i'iI ,,,III I -i[ i


C*RREIO

















































M imi B.i!iiiJlii. e o conto sao inseparaveis. E dificil
encontrar um dramaturge ou actor professional que tra-
balhe a partir dos contos que nao conhea esta haitiana
que transformou uma arte, senao um folclore traditional,
em teatro experimental de alto nfvel, e apresentou as suas criaoes em
diferentes continents, recebendo varias distinoes pelo seu trabalho de
desbravadora de terrenos encantadores. Aborda o conto sob todos os
prismas: pela escrita, a encenaao, a msica, a sociologia, a semiologia.
A sua obra valeu-lhe muitos prmios e distinoes. Recebeu distinoes
como a de Chevalier de l'Ordre National du Mrite (Frana), Officier de
l'Ordre des Arts et des Lettres (Frana), Becker d'Or no 3. Festival da
Francofonia (1989), Prmio Arletty da Universalidade da Lingua
Francesa (1992), sem contar as presidncias de jris e outras distinoes.
Em 11 de Novembro passado, encontrava-se em Bruxelas, na Roseraie,
para apresentar uma pea destinada sobretudo a um pblico jovem,
Quand les chiens et les chats parlaient (No tempo em que os caes e os
gatos falavam). Mas, como acontece habitualmente nestes especticulos,
os adults nao se fazem rogados e acorrem aplaudir, tanto neste estilo
de apresentaao como em peas para um pblico mais exegeta do tea-
tro modern, caso de Une si belle mort (Uma bela morte), ainda nas
memrias, cuja estreia foi um triunfo em Avinhao em 2001.
Mimi B.!iiliJliii. chegou cedo a Bruxelas. Aps a sua chegada, limi-
tou-se a tomar um pequeno-almoo convivial com os organizadores do
espectaculo. Tinha de se dirigir rapidamente para o teatro da Roseraie
para as ltimas afinaoes, mas tambm para o prazer dos reencontros
com pessoas conhecidas e admiradores, antes de subir ao palco. Ela
conta, placida, calma como sempre, com uma afabilidade que seduz
todos os que privam com ela. E ouve, deixando pensar que os seus
interlocutores sao, para ela, o que mais conta na vida.
Mimi -como lhe chamam carinhosamente uma presena, uma
alquimia que seduz rapidamente todo o pblico por mais moro que


possa ser partida, transformando-o em figurantes que retomam can-
tos e textos, muitas vezes em crioulo ou em espanhol, que o public
muitas vezes nao compreende. As crianas sao atraidas por ela, ficam
boquiabertas, sem respiraao.
Nao perdiam pitada, fosse uma palavra, uma silaba ou uma respiraao da
histria dos dois gatos esfomeados que decide que um deles faria de
morto para a vizinhana, que acorreu vigilia, artimanha que inventaram
para comer os veladores e assim matar a fome. O resumo da histria que
nos fez previamente ja deixava antever que era de cortar o flego.
"Atravs deste simples fio e num mundo de animals (ratazana, rato, zan-
dolite, pipirite, etc.), aproveito para recriar todo o ambiente de uma vigi-
lia mortuaria em Haiti. Da cozinha ergue-se a voz que conta 'Ti Fou e o
monstro de sete cabeas ou como o dia e a noite desceram terra' (e isso
passou-se no Haiti)..." o maravilhoso que se torna realidade!
Depois deste espectaculo, Mimi ainda estava extasiada com o encanto
que criara nos pequenos anjos que vieram admira-la e beber as suas pala-
vras e a sua music. A converse com os amigos e a parte belga da famf-
lia do seu ex-marido defunto, Grard B.! ilIilii. pai dos seus filhos, co-
autor com ela de livros e estudos diversos. O tempo era pouco, ela tinha
de apanhar o Thalys nessa mesma noite.
Mimi recordar-se-a do seu pai, ex-decano da Faculdade de Medicina de
Port-au-Prince, antigo clinico dos Hospitais de Paris e descendente de um
antigo chefe negro da guerra de independncia do Haiti que fugira para
os bosques para viver em liberdade; e a sua mae, filha de um antigo pre-
sidente do Haiti dos anos 20. Mimi Barthlmy viajou muito, a partir dos
dez anos, nas Caraibas e na Florida, antes de rumar a Paris para estudar
Cincias Politicas. Expatriaao e desilusao. "Quando, aos 16 anos, a
jovem que havia concluido os estudos secundarios parte do Hati para
Frana, depressa compreende o doloroso sentido da palavra exilio...
Tinha laos de parentesco com os Franceses, pertencia a uma familiar
mulata cultivada... A Frana de entao era colonial e encontrava-se em


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008





























































plena guerra da Arglia... Ao emigrante estrangeiro, a Frana nao ofere-
cia outra opao que a assimilaao."
Mimi abandonou os estudos para acompanhar o marido, Grard
B.,!iJi,:.ii. adido cultural nas embaixadas de Frana na Colmbia,
Bolivia, Sri Lanka e novamente Bolivia. Depois das referidas peregrina-
oes, retomou os estudos em 1972 e licenciou-se em Letras Hispnicas
em Frana. Aps uma estadia de um ano nas Honduras entire os
Garifunas, para estudar esta cultural rara primeira mescla no continent
americano de negros e de amerindios -cuja lingua, o garifuna, a sobre-
vivncia africanizada da lingua arawak. Uma lingua que tem a singulari-
dade de ser "sexuada", as mulheres e os homes nao falam da mesma
maneira. Os substantivos utilizados para designer o mesmo object, uma
mesa por exemplo, dizem-se diferentemente em funao do locutor ou da
locutora. Foi um doutoramento de teatro sobre o tema do papel do teatro
da identidade numa minoria cultural: os Garifunas.
"A Amrica Latina e sobretudo a Colmbia deram-me a oportunidade de
contactar personalidades culturais de vulto na dcada de 60. A minha ini-
ciaao artistic fez-se pela frequentaio assidua do TEC, Teatro
Experimental de Cali, fundado e dirigido por Enrique Buenaventura, e da
Casa de la Cultura de Bogota, fundada e dirigida por Santiago Garcia.
Tive a oportunidade de descobrir, graas a eles, as obras de autores con-
temporneos militants europeus e latino-americanos, como Brecht,


Kantor, Grotowski, Eduardo Manet, Jos Triana, Arrabal, Borges, Joao
Cabral de Melo Neto, etc."
Interessou-se tambm por teatros tao variados como os de Claude Alranq,
L'Odin Thtre de Eugenio Barba, o Thtre du Soleil de Mnouchkine e
Peter Brook. Frequentou os estagios de Eduardo Manet e do Roy Hart
Thtre. Actuou em Frana sob a direcao de Rafael Murillo Selva, con-
hecido na Colmbia, e foi assistente do encenador contestatario Manuel
Jos Arce, produzindo entio um teatro bastante critico sobre as ocupao-
es militares americanas na Amrica Central e do Sul.
Uma grande parte da sua investigaao universitria ocorreu paralelamen-
te a estas experincias teatrais. Orientou-se para o teatro por espirito de
sobrevivncia, como ela prpria disse. "Os meus primeiros passes no tea-
tro, a minha aprendizagem no terreno e os meus estudos universitarios
conduziram a uma pratica do teatro sobre a memria do meu pais. Tinha
de resistir perda de identidade, alienaao a que me condenava a minha
assimilaao Frana. numa ptica de resistncia pela minha sobrevi-
vncia mental, de revolta e de militncia que abordo o teatro."


mimibarthelemy.com
Ultima obra publicada:
Livro com disco "Dis-moi des chansons d'Haiti"
Editor: Lise Bourquin Mercad H.G. M


C*RREIO










































2007 foi o ano do clima, 2008 sera o da biodiversidade. De 19 a 30 de Maio
pr6ximo, os 188 Estados signatrios da Conveno Internacional sobre a Diversidade
Biol6gica reunir-se-o em Bona, na Alemanha, para fazerem o balano dos seus
esforos e tentarem restabelecer a biodiversidade em queda livre. Mas tambm, e
sobretudo, para procurarem entender-se sobre a questo controversy da "partilha
just e equitativa dos beneficios resultantes dos recursos genticos". Trata-se de uma
questo que ainda divide os paises do Norte e do Sul e sobre a quai a Unio Europeia
desempenha muitas vezes um papel conciliador.


M Menos mediatizada do que a sua congnere climatica, a
Convenao sobre a Diversidade Biolgica (CDB) surgiu,
como a Convenao sobre o Clima, aps a Cimeira da
Terra no Rio de Janeiro, em Junho de 1992. Mas nem por
isso o alcance da CDB menos important, porque ambiciona conser-
var e utilizar de forma sustentavel todos os elements do mundo biol6-
gico, de que depend a nossa sobrevivncia, muito embora nao se con-
tente em desempenhar o papel de defensora da natureza. Com o apare-
cimento das biotecnologias e a extensao dos direitos de propriedade
nomeadamente a patente -ao mundo dos series vivos, a CDB prope um
quadro juridico que assegure uma partilha just e equitativa dos benefi-
cios resultantes dos recursos genticos, quer se trate de plants, extrac-
tos de animals ou micro-organismos, que estao na origem, nomeada-
mente, dos principios activos de muitos medicamentos. Como se depre-
ende, o desafio enorme. Tanto a nivel biolgico como econmico.


> Empobrecimento

A riqueza biolgica da Terra vai empobrecendo. a conclusao a que
chegaram os cientistas para os quais a quantidade de espcies que
existiram na Terra 10 vezes superior das espcies actuais. A ser
assim, a extinao seria um fenmeno normal na natureza, excepao
feita diferena de ritmo de extinao, que acelerou. Pode-se
demonstrar que, ha mais de um sculo, a causa do desaparecimento
de inmeros organismos vivos o home. Se a tendncia actual se
mantiver, as perdas serao de cerca de 50.000 espcies por ano nas
pr6ximas dcadas.
Devido sua posiao geografica, a maioria dos Estados ACP desfruta
de um clima tropical e subtropical favoravel multiplicaao das esp-
cies. Assim, as florestas da Africa Central contm uma mistura extre-
mamente variada de plants e animals, compreendendo cerca de 400


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008





gestao sustentavel da biodiversidade, a CBD3
foi sobretudo o primeiro tratado international
a reconhecer o papel primordial do saber tra-
dicional, das inovaoes e praticas em matria
de ambiente e de desenvolvimento sustenta-
vel, e a incentivar a sua protecao atravs de
Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) ou
de qualquer outro meio. As comunidades
locais passam a ser consideradas como
importantes agents na execuao da CDB.
Todos estes prembulos estao sujeitos a
divergncias na comunidade intemacional, a
comear pela noao de DPI, que se presta a
interpretaoes diferentes. Assim, a Uniio
Africana (UA) elaborou uma lei-modelo para
servir de quadro de referncia em matria de


-__ I


~... i~L
*;~i~ 11
*.rir
r' C -r+ 'r
-~i


4 -L.
g -


C*RREIO


Nossa terra



espcies de mamiferos, mais de 1000 espcies gestao da biodiversidade, em especial da ges-
de aves e mais de 10.000 espcies de plants, tao das espcies comercialmente interessan-
3000 das quais sao endmicas. Mas nas tes: sementes para os agricultores, mas tam- I
estepes e nas savanas, nomeadamente africa- bm espcies de interesse para a indstria,
nas, que se encontra a mais impressionante sem esquecer a farmacutica. Esta lei confir-
abundncia de plants e animals, a que nao ma o "privilgio do agricultor", que lhe per- ^
alheia uma mistura de luminosidade natural e mite guardar uma parte da sua colheita para ^
de alternncia das estaes secas e hmidas. ulterior utilizaao, privilgio que se tornou
Para preservar estas riquezas, tanto continen- facultativo nas demais instncias internacio-
tais como maritimas, os Estados ACP, em nais. A UA reconhece igualmente o papel das
colaboraao com a UE, tomaram varias comunidades locais detentoras de saberes e
iniciativas, designadamente o project prev o pagamento de direitos (royalties) em
FISHBASE -"Reforo das capacidades de caso de utilizaao destes saberes. No terreno, .
gestao das pescas e da biodiversidade nos os pauses africanos dispem de legislaoes i -
paises ACP". O objective do project for- ainda embrionarias, esperando com certeza -
necer informaes que permitam a execuao que a questao seja resolvida no quadro da -
de political de conservaao da biodiversida- CDB. O que esta long de ser o caso. No final ^ *
de aquatica, da sua exploraao sustentavel e de 2007, os representantes dos 188 signata- ** s *
da partilha equitativa dos beneficios, segun- rios da Convenao nada conseguiram, a nio
do as disposies da Convenao sobre a bio- ser constatar os seus desacordos sobre a ques-
diversidade. O project estabeleceu trs tao. Paises como a Australia, a Nova Zelndia
eixos regionais de coordenaao em Africa. ou o Canada (os Estados Unidos nao assina-
Nas suas regies respectivas, os coordenado- ram a CDB) opuseram-se s pretenses dos
res supervisam as actividades do project de pauses do Sul de regulamentar o acesso aos
formaao e dao o seu apoio aos cientistas e recursos. .. .
gestores das pescas. M.M.B. M .


















> Partilha dos benefits *
..... l a'. sua c '"" ""e*
S- e*.. *







Paralelamente sua miss.o de conservao e .'r. i ".ii e"
..,., .t .', .K' "q.. "" '









il q


O Haiti tem sofrido mais agitao political e social do que
a maior parte das naes desde a sua independncia em
1804. As sublevaes frequentes prejudicaram o bem-
estar econimico e social. Mais de 50% da populao
vive com meneos de um dolar por dia.
A Misso das Naes Unidas para a Estabilizao, a
MINUSTAH, criou um certo grau de segurana a partir
de 2004. Isto significa que o governor pode avanar com
os plans de relanamento da economic e abastecer a
sua populao. Apesar da falta de recursos autctones,
o Haiti tem potential commercial por estar rodeado de
parses com rendimentos mdios, incluindo a Repblica


Dominicana, que fica situada na mesma Ilha Hispaniola.
"A primeira condio para o investimento so a paz e a
estabilidade. por esse motivo que concentramos toda
a nossa energia na manuteno da paz e da estabilida-
de", afirmou o Presidente Prval na abertura annual do
Parlamento, em 14 de Janeiro de 2008. Os doadores
internacionais participam com um project e ajuda
ornamental na sustentao da estabilidade.
Existem diversas dicotomias neste pais das Caraibas. As
estatisticas revelam uma grande pobreza no pais, mas
apesar disso, a sua cultural e surpreendentemente rica e
fascinante...


N 4 N E JANEIRO FEVEREIRO 2008






eportagem Haiti


COnSTRUIR COm BASE




ni

Um olhar sobre as sublevaes political do passado coloca em perspective a actual
estabilidade relative no Haiti. Para o governor, uma oportunidade, juntamente
com o apoio indispensvel dos doadores, para consolidar a sua administrao e
implementar medidas de relanamento da economic e, assim, atenuar a pobreza.


s Tainos, parents dos Arawaks
da Amrica do Sul que chegaram
ao Haiti em 2600 a.C., foram os
primeiros habitantes conhecidos
da Ilha Hispaniola. Uma das personalidades
mais veneradas at ao present foi a Rainha
Anacaona, ou "Flor Dourada", que reinou em
Xaragua, um dos cinco reinos da Hispaniola
liderados pelos caciques (chefes tribais). Foi
uma das ltimas a sucumbir influncia espan-
hola com a chegada de Crist6vo Colombo em
1492: numa recepao do novo govemador
espanho em 1503, os seus seguidores foram
detidos e executados. Anacaona escapou, mas
foi capturada e enforcada em Sao Domingo.
Estima-se que existissem originalmente entire
100 mil a um milhao de tainos na ilha, que
foram progressivamente desaparecendo depois
da chegada de Colombo com epidemias e tra-
balho escravo forado. Mas as raizes tainas do


Haiti estao ainda presents na cultural do pais e
alguns haitianos alegam ter laos de sangue
com os antigos habitantes da ilha.
Os colonialistas franceses trouxeram escravos
africanos em 1520, que povoaram a parte oci-
dental da Ilha Hispaniola. Em 1731, os
Espanhis reconheceram a colnia francesa de
Sao Domingo e foi constituida uma fronteira
ao long de dois rios.
Varios lideres de escravos, incluindo Franois
Dominique Toussaint l'Ouverture, viram os
seus donos conceder-lhes a liberdade e a
Frana aboliu a escravatura em 1803. O cora-
ao branco foi simbolicamente rasgado da ban-
deira francesa pelo lider rebelde Jean-Jacques
Dessalines e o vermelho e o azul foram cosi-
dos, sendo finalmente iada a bandeira haitiana
sob a divisa "Libert ou la Mort". Em Janeiro
de 1804, aps uma batalha decisive com os
franceses, Dessalines anunciou a independn-


cia em Gonaives e os Haitianos africanos assu-
miram o control da ilha recuperando o seu
nome taino "Haiti", ou "terra montanhosa".



Avancemos agora a passes largos para o Sculo
XX e para a importncia estratgica do Haiti
enquanto rota maritima. A ligaao proporciona-
da pelo recm-aberto Canal do Panama resultou
numa invasao dos EUA em 1915, tendo a ocu-
paao durado at 1934. Varios anos depois e
vario golpes, entrou em vigor a ditadura de
Franois Duvalier, em 1957, contando com o
apoio de uma classes mdia em florescimento e
da populaao pobre rural. Reforou o seu poder
graas aos "Tontons Macoute", assim denomi-
nados por analogia com o ficticio Tio Knapsack,
que raptava as crianas malcomportadas, que
tinham autorizaao para extorquirem dinheiro e


C*RREIO







Haiti eportagem


bens populaao e que, em troca, protegiam
fielmente o seu president. Jean-Claude
Fi.,1i. Duvalier sucedeu ao seu pai quando
este morreu, em 1971. Em 1986, Rh.il.1.J"
fugiu para Frana. Seguiu-se um period de ins-
tabilidade, de 1986 a 1990. Confrontado com o
regresso dos apoiantes de Duvalier, o Supremo
Tribunal decretou eleies em Dezembro de
1990, quando um jovem padre, Jean Bertrand
Aristide, que contava com o apoio generalizado
da sociedade civil, chegou ao poder em
Setembro de 1991 sob a gide do movimento
"Lavalas", que significa "torrente". O actual
President, Ren Prval, foi seu Primeiro-
Ministro entire Fevereiro e Setembro de 1991.
Ao fim de apenas sete meses de funoes, um
golpe perpetrado pelo General Raoul Cdras foi
imediatamente condenado e seguido de um
embargo econmico que se manteve at
Outubro de 1994, quando Aristide regressou
com o apoio dos EUA. Aristide foi impedido de
conseguir um mandate consecutive nas eleioes
presidenciais de 1996, ganhas por Ren Prval,
que, em 2001, se tomou no primeiro lider da his-
t6ria do pais eleito democraticamente a concluir
um mandate. Aristide manteve-se uma figure
popular e formou o partido "Fanmi familiara" )
Lavalas" e a Fundaao para a Democracia, que
oferecia emprstimos sem juros e apoio sade
e educaao. Foi eleito Presidente em Novembro
de 2000 com 91,7 % dos votos. O 200. aniver-
sario da independncia do pais foi marcado por
protests civis que conduziram Aristide ao exf-
lio em 29 de Fevereiro de 2004, embora este ale-
gue que foi forado a abandonar o pais por
temer as agitaoes generalizadas fomentadas
pelos EUA. Boniface Alexandre tornou-se
President interino encarregado de organizer
eleies no prazo de dois anos.
Em 7 de Fevereiro de 2006, Ren Prval tor-
nou-se novamente Presidente, eleito para o
period de 2006 a 2011, no mbito do movi-
mento alargado LESPWA ("Esperana"), que
reunia various partidos politicos e grupos da
sociedade civil. Obteve uma magra maioria de
51,21%, depois da contagem dos votos em
branco, o que exigia o apoio de outros partidos
para former um govemo de coligaao.

> 1

"A situaao no nosso pais esta a mudar. A polf-
tica pode ser feita de forma diferente. O pais
nao pode, minima oportunidade, resvalar
para a instabilidade", afirmou Prval no seu
discurso de abertura annual ao Parlamento em
14 de Janeiro de 2008. Sublinhou alguns dos
principals desafios econmicos e a necessida-
de de modernizaao do Estado como forma de
reforar a segurana, incluindo mudanas no


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


sistema judicial e a necessidade de crdito e
investimento (ver artigo sobre a indstria) e de
energia fiavel e a preos adequados.
A presena da Missao das Naoes Unidas para
a Estabilizaao no Haiti (MINUSTAH) tem
sido a grande responsavel pelo regresso esta-
bilidade, embora o Presidente afirme que
ainda se verificam muitos sequestros e que os
seus responsaveis devem ser justiados.
Na sequncia da partida do ex-Presidente, Jean
Bertrand Aristide, uma Resoluao do
Conselho de Segurana da ONU de Junho de
2004 mandatou uma fora para estabilizar o
pais e auxiliar o governor de transiao na reali-
zaao de eleies. "Bandos armados tinham o
pais como refm", declarou David Wimhurst,
director de relaoes pblicas da MINUSTAH,
discursando na sua sede, o antigo Hotel
Christopher, em Port-au-Prince.
A MINUSTAH conta actualmente com 7060
militares, na sua maioria provenientes da
Amrica Latina, com um grande contingent
do Brasil, e 2091 agents da policia (dados da
ONU de Novembro de 2007), que estao a con-
tribuir para a criaao de uma fora policial hai-
tiana. O novo comandante da MINUSTAH,
desde Setembro de 2007, o diplomat tunisi-
no Hdi Annabi. Wimhurst explicou que era
necessaria alguma fora para refrear os bandos
responsaveis pela violncia e pelos sequestros.
"Foram necessarios trs meses para desagre-
gar os bands, algumas vidas foram perdidas e
800 pessoas foram detidas em Cit Soleil",
acrescentou Wimhurst.
Desde Fevereiro de 2007 mais facil circular
em Cit Soleil. As acoes da MINUSTAH
"criarao espao para um desenvolvimento a


mais long prazo", referiu ainda Wimhurst.
"S6 poderemos abandonar o Estado se houver
uma fora policial professional e totalmente
equipada ao servio do pais." At data, foram
formados 11.000 agents da policia haitiana,
ao passo que sao necessarios pelo menos
20.000. Wimhurst declarou que a MINUSTAH
esta igualmente a financial 16 barcos para a
patrulha das costas do Norte do Haiti, que sao
um ponto de entrada de drogas ilegais.




Um estudo recent de uma ONG, o
International Crisis Group (ICG) refere que
o Governo deveria incentivar a diaspora
haitiana a investor mais no pais: trata-se de trs
milhoes de pessoas, cujas remessas
ascenderam a 1,65 mil milhes de dlares
americanos em 2006, o equivalent a 35% do
PIB. Damien Helly, analista principal do ICG,
afirmou que esta contribuiao econmica
deveria estar reflectida no sistema politico
atravs da oferta de sistemas de voto no
estrangeiro e da autorizaao de dupla
nacionalidade e representaao da diaspora no
Parlamento, o que provavelmente exigiria uma
reform constitutional. O document
incentive tambm a criaao de uma fora de
trabalho da diaspora mandatada por
responsaveis governamentais do Haiti, por
todas as foras political, pela sociedade civil e
pelo sector privado, que elaborasse uma
estratgia em 10 anos com o apoio intemacional.
tambm important para o future do pais uma
estratgia conjunta com a Repblica
Dominicana, apesar da condenaao







eportagem


Hailr


rI-n


Resumo estatistico
do Haiti
(numlero' para 2006, salvo indicado rem
contrario):





~ ~ ~ ~ - -'**** ..s.:::::.








S ,e le: 27 75n kmi2



PIB 5 mil inilh de de lars americanos

Cres1iirento armniiA Li' PIB. 2. 3".

Di'tid L longo prn 1,? mil mlllhoes de
dolares arneiicanos ('em 2ii05)

Espt'er.n-ir d.e UidLo: 52 anos (nrmeioe de
lunho de 2n0s)
Indicei d.- PNID: 146 eii 1 77 (relatorio de
2n07-2n08)

Recniii enrto Nacional Bruto (RNBi per capital
48C dolares arnelicano'

linrportacies 1,55 mil niilhoes de d:Ilares
aniericalni:s I(estinmatia ide 2u0Li), nanieada-
mente alimentas, combustivel, miquiiinas,
Irodutiis maniitaclurados.

E..portiaes 494 millihes dle lddlares amen-
canos (estilatiia cle 2006), caf, oleos,
m1anqas, vetivena.
Political

Preidlente Ren Preal, dese 14 de M1 le ai
de 2u06 (mandiato de 5 anf:cs)

Chetf d' i:. i'emo: P imeiro-M Iinistro, Jacques
Edouard Ale.xi' desde .n de Mnio de 2n06

AscTinbll /i Nacncil PcnicaLral e S,ina00
As eleie.'i para Senadco (30 senadcres)
so lealizadas de seis em seis ano', mas o
candidiato comI a ima iioia dos votos mni cada
uni dos dez departamnentos cunipre umi
mandala de 6 anos, c: candidate seguilte
cunipre 4 le c: terceirc: candidlidt: 2 anos, c:
que significa que haverj eleies de substi-
tuJIo de LIum tero dos menmbos ermn 2n08
A CImnara dos Deputados (99 deputados)
eleita de 4 em 4 ani:s prdinia eleicao emn
Abril de 2ul

Piincipais piir~xIdr poliitios Aliani.a. Fuoiio
Haitiana Sc:cial-Democrata. OPL Organizac:ac
di: Po'ao em Luta. Alyans, Aliana Nacional
Demncxrtica. Frente para a Reci:instruaio di:
Haib; Artibonite em Acdo (LAAA).

Fontes Banco lMundial, PNLID Unia.:
Eurc'peia, CIA, Governo do Haiti


.llr.''li. > i 'ii . ... i t. .i. 1,', d,., 1 i I 111
HI' ll,, .. 1 l, 1 !.k'![L I' (. .I. . l E 1 [ H.. I.k'

L c.i 'I..l ., i l. R .ill!i .. I i Il I.,ii ; .,t ,' l Il






N. i. l l-1 1











ll11L.ltii '!' .l .''l ii i i. i. i,, d I i 1.1 1111.' 1. i
i1 | !. hi.* .* ,, ,,Y .I,, 1. i . l '. ,,!. ., ,
r fIl' ill H ., I'.',, c,,', t!h







Il..!I., ,le il L ,. i i.ci ,t c. l. I. i.-


.IL s lt I.I! ls *' *' II I .11 11 1 .Ij J1 ILI. IJ .1.1 1



tiL' ii. *i i. i iiii >.it. t i iL i' L .i .l. NI '
, .I i.' il ..r.,i n .lll ,, . l .I l' h .ni il ,
!,,tldu' !thul!l, D,,! lni ml|.! i, .i,,l' i
i l i| i l1 'il.. i1 illi, i i. llii ,l l i .I'' .,,
-,,l .i, 's ,, l i l .l . ., ,,,,,i .
..I ,. .,... ,l l, .. l l ..I ll .l i 'I l "' L '~

! I >! l I ld | ' |.l' I I.1 |l I' > I | I ~ .' |ll L I.l !l~ .ll |
IIIhI u'1 hu Cl IlCil 111.11M,.1 Cl



Dlh.h Ii l. i .' i .1. 1 Il. [, ii. i.l! .i .'l I >.id , i.l >.I ,
|, I i, .l.il .I.. N .)El





N ., Ii' d s! a,, .a lhu'ql,, 'lc' n. l'


Flic .1 1h.q 11 -.l I. I,,ll l l I1 h,,. .v !.l l e.



h.:c ..Il!l!IIIl!JI.I, td.d I. I d.ill h.l ,,l l,,
D ,r ,,,11.[ cl. l 1 l i' [ lj'.. I. Ilh di' .c ,l,,-


Ca,, .1- *I ,' ll id c Ill- t,,l1l-,,, i c d,, d,,th., Il


d ,," l. l ll l-leI '[ ,, l ,,l. ll i l! ~ ll ] l ..l l1. II ll !l ll",, ll.ll ll '


.** I .i. il Il, F E l .I E n ..i.ih.. .. a, .I,,
i' llii i t i.i. ''ll i I' ll 'I' iii ll i i t Li l .i!' "
I ll .' i ' l nl.ln] l i .'l.l E le (' l..d, ,l!. 'l l l .l-.- '








Si l !i. tI'i i i.id *'i,,'ti L !i l!C !L i!L! i' i ii
1. ,' L I .u I iii' li t i. i i .l ., L l a ,it .I l iEi





,I, II .,, .i F, ..J . ( .I i ll-ci li lF I.
,.1 i l ,,,i ,, a ilI i . .l i" .i l I .l il 'i -
d clC'l .1 1 | l l I .1 .lll .lI l. . I l I1 .!d -'I


I ll -. ,, l. .. 11j' l- tL |.1, ",.. I l |1t.ll .Ill1 L,, 1 ,





!I. !1 i.. .. t h i, E.. i, .
l '. , i' l ll .It. l 1.I. 11. .l u ll 11.I. -

Dlll*Pt,',u' .. l ..l.' -, ,P t itl' .



.l illi.l.l l .!.i i .i !.i c, i!h 2I I 11 C 1



' 'll .l I lii' cI '1 .l l! ll ,







I. -1,-,,fh. P1 ,








DP


II I i I i Ii i Iiii


CORREIO









... ... .. ... .. ... ..


erge Gilles lider do partido "Fusion
des Sociaux Dmocrates Haitienne"
(Partido de Fusao dos Sociais-
Democratas do Haiti), que detm uma
das maiores representaoes parlamentares no
pais: seis dos 30 assentos no Senado e 20 dos
99 na Cmara dos Deputados. Este partido
participa na "coligaao" ou, como Gilles sub-
tilmente se lhe refere, de um governor "plura-
lista" formado na sequncia das eleies de
2006. Com 2,62 % dos votos, Gilles foi um
dos candidates derrotados de um grupo de 33
que se apresentou s eleies presidenciais de
Fevereiro de 2006 e que colocou o Presidente
Prval no poder. O secretario-geral do partido
Fusao, Robert Auguste, esta actualmente
frente do Ministrio da Sadde.
Gilles passou 25 anos no exilio durante o
period das ditaduras Duvalier, regressando ao
Haiti em 1986. Em meados de Novembro,
quando nos conhecemos, preparava-se para


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


uma reuniao ministerial, que teria tarde com
o Conselho de Ministros para a qual o
President Prval convidara os cinco lideres
da oposiao. O objective era debater uma ava-
liaao do govemo feita pelo Banco Mundial.
No nosso encontro em Ptionville, apesar de
aplaudir esta consult aberta, Gilles manifes-
tou a preocupaao de que a actual liderana do
Primeiro-Ministro, Jacques Edouard Alexis, e
do President Prval se tenha mostrado at
agora aqum do necessario no que se refere
"resoluao dos grandes desafios do passado".




"Ren Prval conta com experincias ante-
riores na governaao do pais. Ja foi
Primeiro-Ministro e tambm Presidente, mas
nao abusa dos seus poderes. Compreende a
fragilidade da situaao. At data, consegui-
mos ultrapassar os problems de segurana.


A policia national que se desagregou foi
novamente restabelecida e, apoiada pela
MINUSTAH, a Missao das Naoes Unidas
para a Estabilizaao no Haiti, esta a fazer um
bom trabalho. O governor pluralista trouxe
consigo a estabilidade political. Ha algumas
critics, mas de pessoas que nio estio repre-
sentadas no governor. Todos os que se encon-
tram representados aceitaram permanecer
neste governor formado por consenso a fim
de garantir a estabilidade do pais e, com a
ajuda da comunidade international, tornar
possivel a construao de estradas e a reabili-
taao dos servios pblicos para dar ao
governor alguma paz de espirito. O pais tem
muitos problems. Do lado negative, volvi-
dos dois anos, o Governo ainda nio conse-
guiu ultrapassar os principals desafios do
passado. Aquilo que Ihe digo disse tambm
ao President, Ren Prval. As nossas con-
versas sao muito francas."


eportagem




,i. i 'ii .- i .I '..ii ..1 ii ii' ,, -,







eportagem Haiti


E u i I 11111.1 1'| | ii .i | i... .i l, ,.' ll h l I .! -
tli .i .. I.i. l . T i.. l d .ili.ti .i i. p i li,..' !. ili..I,
. 1i l. l i I.. i.' |i.iJ C N .Il IC 'l L.i .liii.' i i lL !| .iL i
I. II.1 11 I .L SS N L II. l .11.. l l IIIL III ll .1


L.II~l l'' I* I L l l 'I,, .I I l l. I I I l l. .LL E ll -





I l. l. I. II. L. I .i l! .1.1 l It .I.'" I..i- i.LIi .

I. .' 1i1i l.' i. l.'.l 1 ll.. l .11 .1 11 11!. .1 .' 1.1 !.1





L III -1 L. C I I11 Ilh.h 1' .1.1 I I l L .I I l." L. *lh




. i i,1. .11! i i I l. i.i L .1 1 .1 I.IL. I pi. l c Il-
I, .I'' .l .I .. c I .I.I .I! I 1 I,,, h .lll!.ll '* I '
.11II' .I. .. .1- -t' l' "1 11 ic. '..' 1'111.1 C I ]
ICt, .'. i l.'l i t ,, 1-d j i (. , ' (1 d . 11 !, ,






l I l. l LI j..' CL d .. i .II I 11.1, ..1- .11


r -


C*RREIO


*&






se
+;







Haiti eportagem


"c i 1n Il I .i .. .iltCI.Il i lC1 d. Pi I .; > I -"l I r i

ll' l "nh l .h III ii C l . . l. % ' I! l h
In ial:d ,, ,.Ie l!IaInI L ..' '" .' .l.t .d pe !,, a, IL t s. !,

lu' iu l l l. 1-' .I.l i )I. i.ll i l | il IL l il ..1i

i. ll. i C l. ,. 1 l ICI' i .l" |i.i !l .. ,ll -
. .n T i.'. l ,, d' ,_ .l| >.l i. | |.lh. ll.i |l. li. .,l .l!. -

d ,, m y .. .! l ,, d u't , .ll I it. s . m en_! th ,
.I l k"_.11 d,,1. I'"_-" !U.l .Ini I! 'k1 h'1 [l L l


, IN I I T AII Il... IL, .L* ..I|I.. p..IILqu Iu ....
.1 I lli IL. d I" i .U tIL.1. l.. in. I- l I, ll ,,l .' e' lu' I
I. l.'. N .I.'LI'..I l I.I h.1' L". '. .l''L* u l, -


a.. ~L;


II4Ir4..a.d
- *lfa
v -- -- -



w,-
~.~t -.



i-LM.

e---I - '; "
w-.. -~ ~_
----a-- ..* -a N q
--a r-

I -


cia era corrupt. A opao pela MINUSTAH
nao foi ma."
"Aquilo que temos de fazer agora prepararmo-
nos para a partida da MINUSTAH. Temos de
tirar partido da presena da MINUSTAH aqui
para former a fora policial e estabelecer outra
fora. Alguns chamam-lhe gendarmerie, outros
um novo exrcito. Qualquer que seja o seu
nome, necessaria para patrulhar os portos, os
aeroportos e as fronteiras e para combater efi-
cazmente o problema da droga."


"Temos uma administraao muito fraca.
Quando se vivem as catastrofes que nos vive-
mos, deixa-se para tras o facto de se ter uma
administraao muito fraca. Apoio os
Canadianos, que investiram imenso em forma-
ao. Gostaria de ver uma escola de formaao
para a administraao em cada provincia e tam-
bm duas aqui (na capital, Port-au-Prince)."





"Nao se pode dizer que a oposiao seja corrup-
ta, evidentemente. Nao se pode dizer que Ren
Prval seja corrupt, ja que nao seguramen-
te o caso. Conheo Estados que sao corruptos
de cima a baixo. Se existe corrupao no Haiti,
esta refere-se ao trafico de droga e a uma part
do sistema de justia. Prval estabeleceu um
comit para avaliar a reform do sistema de
justia e o Parlamento acaba de adoptar trs
leis sobre a independncia e o saneamento do
sistema de justia leiss decretadas em 27 de
Novembro de 2007). Sera criada uma escola
de formaao para juizes. Todos os nossos par-
lamentares apoiaram esta reforma"





"Sinto que a descentralizaao faz progredir a
democracia, mas verdade que ainda nao deli-
neamos um quadro legal para a descentraliza-
o. Os parlamentares estio a trabalhar no sen-
tido de proceder a esta tarefa para que as auto-
ridades municipais (collectivits territoriales)
possam dar inicio ao process. O funcionamen-
to de uma autoridade municipal nao apenas
uma questao de angariaao de financiamento."
D.P.
Pagina 38:
Vista de ruas em Les Cayes.
Marc Roger
De cima para baixo:
Lider da oposio, Serge Gilles.
Debra Percival
Les Cayes.
Marc Roger
Mapa do Haiti.
Minustah


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008






eportagem Haiti


Gotson Pierre*





RELfCOES



Hi TI O- DOm InICHnS



E IEIOS DE

As relaes nem sempre foram fceis devido aos direitos dos trabalhadores haitianos nos
"Bateys"** dominicanos. As iniciativas de unio dos dois praises atravs da abertura de canais
de informao apenas conseguem contribuir para uma melhor compreensao entire as duos
parties. Isto reforar a political bilateral adotada pelo governor do Haiti, visando o estabele-
cimento de relaes mais estreitas em prol dos dois praises.


os primeiros anos do sculo XX,
os Haitianos deixaram as suas
casas para irem trabalhar para as
plantaoes de cana-de-acar
dominicanas que abasteciam fabricas constru-
idas ou financiadas pelos americanos. Nos
anos 60, foi celebrado um acordo entire os dois
pauses para o fornecimento de trabalhadores
sazonais que fizessem as colheitas da cana-de-
acar dominicanas. Depois da condenaao
deste acordo, no seguimento da queda da dita-
dura de Duvalier em 1986, muitos haitianos
continuaram a migrar para a Repblica
Dominicana, principalmente procura de
emprego.
Hoje em dia, embora nao se tenha feito um
censo da populaao, as entidades dominicanas
dizem que vivem no pais mais de um milhao de
haitianos. A Repblica Dominicana v esta imi-
graao como um fardo e esta sempre a repatriar
imigrantes haitianos em condioes que violam
os direitos humans mais basicos, incluindo a
desagregaio de families, a deportaio noctur-
na sem coordenaao com as autoridades haitia-
nas e outras formas de maus-tratos.
Os antecedentes da situaao actual sao uma
longa histria de hostilidades e disputes. Os
Haitianos nao esqueceram o massacre de cerca
de 30.000 conterrneos na Repblica
Dominicana em 1937 sob as ordens do ditador
Rafael Trujillo. Por seu lado, os Dominicanos
lembram-se do severo regime de ocupaao que
lhes foi imposto pelo govemo haitiano de
Jean-Pierre Boyer entire 1822 e 1844.
Existem igualmente diferenas culturais entire
as duas sociedades que alimentam preconcei-
tos na Repblica Dominicana, cuja populaao


reivindica uma herana india e espanhola,
enquanto que os Haitianos invocam a sua
herana africana.
Esta situaao nao favorece o entendimento
entire Haitianos e Dominicanos e influencia o
trabalho dos meios de comunicaao, afectando
a informaao sobre as relaes haitiano-domi-
nicanas.
Durante muito tempo, os meios de comunica-
ao haitianos apenas faziam uma cobertura
esporadica da questao dominicana, com base
em despachos das agncias de imprensa inter-
nacionais. Enquanto a imprensa haitiana opera-
va ignorando quase totalmente o pais vizinho,
a imprensa dominicana simplesmente divulga-
va as informaoes oficiais sobre o Haiti forne-
cidas pelas autoridades dominicanas.



Contudo, nos ltimos anos, o desenvolvimen-
to de Novas Tecnologias de Informaao e
Comunicaao (NTIC) e as actividades de sec-
tores alterativos no campo da comunicaao
permitiram que as informaoes sobre as rela-
es haitiano-dominicanas tomassem outro
rumo e adquirissem uma maior presena nos
meios de comunicaao haitianos.
Uma das agncias que tem trabalhado sistema-
ticamente nesta questao a AlterPresse
(www.alterpresse.org), uma rede noticiosa
alternative haitiana e membro do Groupe
Mdia Alternatif, que iniciou funoes em
2002. A AlterPresse da prioridade divulga-
ao das relaes haitiano-dominicanas,
cobrindo regularmente temas essenciais, tanto
em francs como em espanhol.


Elaborou centenas de artigos, alguns deles em
cooperaao com colegas dominicanos, relacio-
nados principalmente com a imigraao, ques-
toes fronteirias, comrcio binacional, direitos
humans, ambiente, catastrofes naturais,
sade, turismo, cultural, etc.
Com mais de 20.000 ocorrncias por dia e rela-
t6rios transmitidos por various meios de comuni-
caao (radio, televisao, jomais, sitios web) em
todo o Haiti, Repblica Dominicana e outras
regies, a AlterPresse tem ajudado a garantir
uma melhor cobertura mediatica dos assuntos
haitiano-dominicanos, bem como a influenciar
varias decises sobre estas questes.
A AlterPresse tem relaes profissionais e de
amizade com a Espacio Insular, uma agncia
dominicana altemativa criada em Agosto de
2006. Em Fevereiro de 2007, celebraram um
acordo de cooperaao e, em Novembro passa-
do, completaram um estudo sobre as relaes
haitiano-dominicanas e sobre como sao apre-
sentadas nos meios de comunicaao em ambos
os passes, tendo organizado uma reuniao de jor-
nalistas haitianos e dominicanos em Port-au-
Prince para discussao dos assuntos em questao.
Os jornalistas aperceberam-se que dois pauses
que partilham a mesma ilha partilham igual-
mente um destino. Por esse motivo, necessi-
rio haver compreensao e cooperaao para
ultrapassar qualquer hostilidade, para facilitar
a compreensao e a harmonia e para criar pers-
pectivas de um desenvolvimento comum
enraizado num sentido de solidariedade. @

*Gotson Pierre co-fundador do Grupo Media
Alternatif
**Lugar reservado nas exploraoes aucareiras aos
escravos e mais tarde aos cortadores de cana.


C@RREIO









Ml i


Tudo no Haiti captado em prospeces e as ddivas da terra no so uma excepo,
mas sera isto uma licena meramente artstica? A verdadeira imagem a da degradao
da terra, do fraco investimento e da baixa produFo, incitando a reforms urgentes.


% da po]P
ainda de


Haiti







eportagem Haiti


Promotion de l'Elvage (Associaao Haitiana
para a Promoao da Actividade Pecuaria)
(AHPEL) e tambm da ONG Vtrimed. Agora
apenas sao produzidos 30.000 ovos por ms, na
maior parte das grandes quintas do Haiti. Com
melhores infra-estruturas, crdito e um bom
abastecimento elctrico, a Repblica
Dominicana tem preenchido as lacunas deixadas
nos mercados, conforme explica Greet
Schaumans da ONG belga Broederlijk Delen.
Relativamente produao de frangos, de 6 mi-
lhes produzidos anualmente nos anos 80, a pro-
duao caiu fortemente no inicio dos anos 90
devido ao embargo econmico. No final dos
anos 90, o mercado foi preenchido com impor-
taoes macias de raoes de frango congelado,
segundo numeros da Vtrimed. Agora, a pro-
duao de frangos no pais de apenas um quarto
da dos anos 80, ou seja, 1,2 a 1,5 milhio por ano.
Quase toda a gente ligada ao sector referee que
falta crdito para investor em tecnologia e produ-
tos que permitam agriculture realizar o seu
potential. Gabriele lo Monaco, conselheira da
delegaao da UE no Haiti, afirma que "nao exis-
te praticamente investimento na agriculture por
parte dos pequenos agricultores". Chavannes
acrescenta: "Tem havido uma descapitalizaao
da agriculture dos camponeses."
Chavannes refere que os agricultores da
Repblica Dominicana conseguem aceder a cr-
ditos com uma taxa de 12% ao ano e com uma
reduao de at 6%. No Haiti, o crdito ou
inacessivel ou esta indisponivel. As taxas de juro
de 20 a 30% sao comuns. Diz-nos ele:
"Precisamos de um compromisso politico que
falta agriculture. Precisamos de irrigaao, de
reflorestaao e de produtos. No 35. Aniversario
do Congress, em Maro de 2008, vamos apelar
para uma agriculture diversificada, bem como
para um comrcio just e reform agraria."
Serge Gilles, lider do partido Fusao dos Sociais-
Democratas, referiu igualmente numa entrevista
necessidade de crdito e de reform agraria por
forma a permitir que as pessoas possuam terra, o
que encorajaria o investimento individual.
Consider igualmente que o Haiti tem future na
agriculture orgnica, sendo que estes produtos
sio vendidos em mercados interacionais a pre-
os mais elevados do que os produtos normais.


juventude. A Lt Agogo, o nome commercial dos
produtos, recebeu um prmio de melhor produ-
to na Amrica do Sul.
A agriculture nao um sector prioritario para o
10. FED, mas a UE ja financiou muitos projec-
tos com ONG para a promoao da segurana
dos alimentos e lanou igualmente um esquema
de diversificaao agricola para o Centro e o Sul.
Um project aprovado recentemente no valor
de 3 milhes de dlares, dos quais 495.000
d6lares sao forecidos pelo govero do Haiti,
vai elaborar informaoes sobre a vulnerabilida-
de daqueles que dependem da agriculture em
todo o pais. Este project sera realizado pela
Organizaao para a Alimentaao e a Agricultura
(FAO) e o Instituto Haitiano de Estatisticas e
Informaoes, com o objective de desenvolver
estratgias contra a insegurana alimentar.
Alguns produtos de nicho de mercado, como o
caf Rebo e Haitian Blue e a manga Francis,
popular na diaspora haitiana de Miami, tive-
ram algum xito em terms de exportaao,


embora as fracas infra-estruturas e as instala-
oes de refrigeraao limitadas constituam obs-
ticulos s exportaoes de produtos pereciveis
a uma maior escala.
Ha quem pense que o Haiti deveria seguir os
passes do Brasil no que respeita ao cultivo de
mais cana-de-acar para produao de bioeta-
nol. Isto reduziria a despesa de combustivel do
pais. Mas a ONG belga Broederlijk Delen afir-
ma num document que antes de seguir em
frente devera haver um questionamento sobre
se esta seria a melhor utilizaao a dar terra.
Argumenta que a utilizaao generalizada da
terra para produao de bioetanol a nivel global
fara subir os preos dos gneros alimenticios.
Neste caso, alm de precisar de investor muito
em agua e infra-estruturas necessarias a qual-
quer empreendimento relacionado com o bioe-
tanol, o Haiti agravaria sua dependncia das
importaoes de alimentos e arriscaria perder
qualquer beneficio decorrente da produao de
combustivel mais barato. D.P. *


A Vtrimed, ONG de profissionais especializa-
dos em sade e produao animals, cujo objecti-
vo ajudar a aumentar os rendimentos das
pequenas quintas rurais, criou um project agri-
cola que marcou. Os lacticinios, como o leite e
o iogurte esterilizados, fabricados em 10 unida-
des de micro-transformaao, sao distribuidos
por todo o pais por organizaoes rurais de













































i n














el ri
C i


























.................i
rEE


6.2~~ ~~ 1.:::::::::


*ZI















. . . . . .
*iii;; Il

. .
............



.. .. .. ..



N..-JNIR EE 4






epartagem Haiti


PROCURR-SE






para








Se vende maracujs, roupa ou msica e no se levanta antes do sol nascer, pode
esquecer encontrar um lugar para vender em Port-au-Prince ou na rea commercial
vizinha de Ptionville. Todos os espaos no passeio tero sido ocupados. Vendedores
ambulances tentam ganhar o seu dia-a-dia.


que parece ser um vigoroso
negcio num mercado de quase
nove milhes de consumidores,
ao nfvel da rua esconde uma falta
de organizaao, uma procura internal fraca e
falta de crdito bancario, o que leva a um fraco
investimento nos sectors produtivos e pouco
valor acrescentado aos produtos. A balana
commercial total com a UE foi negative em 77
milhes de euros em 2004, sendo os txteis o
nico sector que registou um excedente de
exportaao de 2 milhes para o mercado da
UE nesse mesmo ano.
Com mais segurana nas ruas e um governor
estavel no powder, os Haitianos esperam que
uma economic domstica mais saudavel pro-
porcione emprego e melhore o nfvel de vida no
pais. As questes de segurana impediram
recentemente que empresas internacionais
investissem no Haiti, mas existem agora sinais
de investimento extemo. A Digicel, o operator
de rede mvel que cobre a totalidade das
Caraibas, uma grande empresa regional que
se apercebeu que pode ter grandes lucros no
mercado haitiano e os seus painis publiciti-
rios vermelhos atraem as atenoes nos espaos
pblicos da capital.
A abundncia de criatividade no Haiti e o
mercado interno potencialmente grande, bem


"Necessidade de crdito e investimento
para aumentar a produao". Debra Percival


como os mercados prximos dos Estados
Unidos e do rest das Carafbas, sao trunfos
bvios, mas no que respeita criaao de
pequenas empresas, as que contactamos
durante a elaboraao desta reportagem men-
cionaram frequentemente a falta de crdito
como o maior obstaculo ao lanamento de um
negcio. O perfil de negocios do pais nio
melhora devido s pobres infra-estruturas,
especialmente as estradas que ligam a capital
ao rest do pais, as falhas de electricidade
frequentes e o facto de possuir poucas mat-
rias-primas locais.


O PRIMA ou, em Kwyol, o "Pwogram
Ranfosman Entegre na sekt Koms an Ayti"
um project da Uniao Europeia (UE) que apoia
o esforo para estimular a produao national.
O project no valor de 8 milhes, a realizar em
quatro anos, de 2005 a 2009, esta a ajudar as
pequenas empresas. Ja tem inscrioes em
excess, segundo o seu director, Klaus Dieter
Handschuh, o que levou o Ordenador Nacional
(NAO) a sugerir que seria benfico um projec-
to de seguimento.


C*RREIO







Hai, eportagem


lI 1 '-I -'Jj 1 ij 1 1 .111 i1.'. ,,j I'i,
1' i 1- m il 11 Il l 11 ffi I 111 Il.1ii


BARBRnCOURT,




LIDER DO HRITI


II !., I II .h <| ..' 1 ,,-!.n h !, p i1.c! ,
l'ci- Il .. .. I mt .1. 'Id' h dc.
h..'.ih ~ Em p 1,...i. I" E 1 i h I d.... IN )EP-
I L c l i' J ~N ( i \ i' ii. i cd it' ci'
-.11. 1 1 II. i i l C .1 I \ e ih sI
IlII =. 'l k TI l l' J ll llll ll l lI l n == ul' .n

1 N F Iin b 11
t IN i)E PF t / ,, ,,,,, ,/. I. ,. *.'i' .. ".... /.
I',.*,1 .. ..* l I. ( .., ,,. 'iill | .l.l.i- CI ll. n
( I.Il' ll ll l l ''ll|1 l.l h..',.. '' l ~ ill ' .I ~lc'* l l ll l l .' -"

,ullt, I l .it .... II.l,, lld'c C IL*'d ile' h'
,l. l .I l d.l d l!!L .l'_ 1l ll[l' l llII!' 1!ll.'' ~ i l d. id' L 1' l .l .' i
* l'' l. ll.lll.ll'' \L!'' ll . l'' d e l lI t .It.I! l I -'


111C .1 .1 1 ,, ,,I | .I .1 !li lIlll i l
1 'R IP I & !i. l l c Ill. 1 1.I.i 1 .11 ., *,,, .i Il ,,
'PMIE i' .~ ... ~ ,,, i,,', , .n~i' D i~| .i..hili! '1


C..ll 1 '' ] .1~!1 1 Il 1. 1i! .L. I ., i' C'! l..t .

|1J l!.|| I | l| i .i,, i.' tL. .' '.|i ~ li ''i!.'" ~ >.li.' ku'll.i~ .. l l.'' L -

CIlI. Ii. dc CCA L C I! *Il.L I* .
.!i.n i ~ .i 1., t TL.i C!.i l. .i, i lli|i l ~.i,, >.l0 !, '!!i ,il ~

| i| 'll 'i'. '' .i i 'i iiiC*,, l l.,II,.l i '. lli tl
'_ J h k 'kk!.II ( 11 1 1 .* l! I lli'' | J .l'' d. L' [!III,, '



L. I '1!4 I! 'k ,l!L I I=~I[llC111,, P
c ) ,l i | 1 !l .ll .1 l |' .I- l I il' 'ill!c' c 'c l l. -
. ,,' _,, 'll l ... P. l l ![ lh l l .' II l. 1 ',ic ,

l ,i ,l b ,, l| ',i.l , 1 .11 i..i ull dl i' ~,,, i l.' -

.i 11. 11. . ... i l ,C., .. I I., I.. i .. 1. i ,.



i I' il IC' II .I' I.'i li l.i! i 1 .l L I I L ~ .' ~
<.IC .Ill[' ]* k' I.I [ kll ll| [h 'II II' t <.'[ '' .1t L L lI u' l-'
.k.' 1 ..i t ,+.,,th ia l .. i ,_u't.d l d u II,,.I elH d -

le '.. lll ,ll.l l l .. 'lll 11 II . .. I, .1 ,l. ~ 11 -
N, .. ,l ,I ,,I ... I .l 11,1h .. h |l I,' ,, u' L ,I ,. ll *- ,

l|' .l'' ll klI l ~l.ll.l .I d'l.ll 1 lll .I. .1 l111.I


r i .I.R. dr I.t l .. .. 1' ... .i,, .i l ll.i -
thlk l[Ik' (1 11*ll[h i 1.11 I .i* C a'k l'i .1' 11<.*l .I



fl J fl E= .1 I EIJRlO FFE.ERIROll ":is:i.


>V ,Wi
-4-


., ,iii !. i.i i I[. F , i l. ,,. .h!. i ,, i .
li iu. F.n 1 F ll l IL iii..n c i . c
P I -.nIII-lL:| s |I i II. .i. IIIT F :i Il. :lllll




F ,,tl-. i|i. i-ii- l 1' l <, uhi| I ,..' I ..i 'i N ,,i .i.' h l',t,
dl -'i iiii-['l ill.iil"l [k!['kl.lln' d' y."'.. H.-'". -';[, !'i"..
l l U' d .i 'i. l .i |i' .m n.lit -i | i iii. I.it h

tl .lu 'i | I ~.Ic ~' tll. iCI].. .II. I -
! !111 11I I, R.i ,, ... lL. !L!L .i, C I 1

th 'l .lii ,, 1 I 1. 1 .I! 1~ l l'~ lII ,, Il | !II ~ I I 1






E i,.,,II J | 'i lF F .11i .l 1.1 ,,i li.ln r id" *. i|i i. du P .i li.'iKi
fll' ,. l' , i, ,- .. .... H P o li. l l P ..
litil b I dE I pI icII 'C I CI .
I l il... i, .l ,, ,. , i -, .. .l .. . i,, ,, +
( ~ ~ 1 C.E .. .1 glc e 11 slsp ln IC
. ~ li n l' ~ ,, i.. ..ull ii .. l .i~_ l mu.I ,i ,'-l *i. l ~

l,,, .,lh ill l II i .i .i I l lll!!.l '" ' 1

.II .Ih ( ) i .i R i! D. '_ .ii | ll!l, .1.1
.. | I. i -! i..i 1 ... Ei. u l l L 'i.i l' I | IE I


iii Cil C.i llil.I i. l ~ i ll.| i .ii.l" ~ j .c il i.1
h,, d. L. t "E 4 -IL- -a T iii. ,l T .:.I ,.| I' ,!ll t.i !P!.. '-


R .,.. I I[. -l iII'=0 |110 il i.e l.IiJl)c IC 1 11- p ic
( | E dchI' I I .. d,, ll.u I! *'l C .I ll u'!l.i


(> nsh .. .ul .I C Il c "c I I--: pjs R i.. Ii..
R .i.n th ,lh .l l_.m ,Ill..il it l.ith l e'th l!,u .I w u' .i


IiIi, l. tl[ .! .i1 j Illl'tu' -il [,, 1.i! II,, Il,' ,,
,. .tls. ,.l. ['.n ect..' L E ,..,. ,l...nu i A f'E u ,,. lh ..'





FiE -eb..r r n .....sc D ......ns .a P
,, k ne.i .1.' I. i itu ,t h T l' !Il .,ll.u*i l .,III .I
lllI .iL.I.i, d.I' t,,ill,,, ItlL!+,,l .nd,, iII thllul!.l .L -
11Ii ,+., IIIIlI I.ilhs.I,, ,+., Illild ,,* .i C .|1,,t .it ,, | *,,d ill,,
IIl.l II .lt.l .i fIE .,tl a w.l! .. l,, Iu d H ..'H ,

H "ii[i F.:.ll'l. .i i rl-i -.-.. r-.-.I.i.. .I.+ I'.I. ..:. .. lll 1i .:. .1 I"
,- .> -,j I I..I.+ .I. .: ,I ...- .:.>r,-, e r,- I ', .+ .:. ,j ,,.:.:.
l' .'n ... i'. .:. .l .I r.. i '..:. .I .J l. ' a..jrn ..- -,' ,'
I' ... n :. 1 -ln n.I "d '. l'n I t -.'r 'n- I:h l- .'.-.'.i .n '
'_ -,, I, _,. ,- ,. 1 + r.+ ,_, ,, -. l, , '_ : .- r. ,... +
If I.+ .-',,, -r -. .r. T, ,,,. I -.I.+ .+ T.:.I..I.. D P


narca de iium do Haiti rnmundial-
niente tfinosa, PBibancouit, Lenl
vinldo a e.pancdir-se apesar da
recent falta de sequrana nc: pais,
segundo Thierry Gardere, directior-qeral
da empires A BJiir iriicrit e reconhecida
por reviitas de bebida' comio LJrn da'
cinc meplhores na rica de rui no
nlLundo Garde diz que os barri! de car-
valho blanco tiancis da iegido de
Limousine, utilizadc. para o envelheci-
nientoi e a utilizaAci: de cana-de-aiicar
em ez de nmelao imnpiprtado sao a razao
da diferena ni: sabc:r deste runi particu-
larniente sua e Actualmente, a empresa,
coni 2Su enmpregados prc:'luz pi:r ani 3
milhc'es de ciarrafas de runi de 4, 8 ou 15
anc's, realizando vendas particlularnmente
boas no' Estados LUnidos. Panarnm e Chile
Gaidie pertence a quarta geraaio desta
empriea familiar iniciada emn 1862
Explica que um proIecto regional comru-
nitario para produtoies de iiu caliben-
ho' fez aumentni a prJodudo. O proiecto
Cini:cc nio .alor de 70 nilhoes de euros
crcin duraac:i de 4 anas para todos os
prc:'lutores de rum, foi criginalmente
riadlc para compensar as perdas no se(-
Lor, devidc a umi ac:rdi: realizaido na
OMC em 1996, em Sinqapura, socbre a
abertura do nieicado s bebidas espii-
tLU.OSa' brancas. Lanado erm 2002, foi
recnenteente prorrogado at lunho de
201 n paia itilizar todo' oc funds dispo-
niVepi






eportagem


A estabilidade political actual significa que o 10.o FED (2008-2013) poder ser dedi-
cado a sectors cruciais para o future do pais. Um total de 291 milhes de euros ao
abrigo do 10. FED (2008-2013) destinar-se- construo de estradas e
governao, reform do sistema judicial e descentralizao, bem como a algum
auxilio oramental geral.


legivel para o Fundo Europeu de
Desenvolvimento (FED) pela primei-
ra vez ao abrigo da Convenao de
Lom IV em 1990, o Haiti sofreu uma
srie de crises political e institucionais, dos
anos 90 at 2004, que fizeram com que o paga-
mento de funds pela UE destinados a sectors
fundamentals da economic fossem canalizados
para projects de emergncia, humanitarios e
de "ps-conflito".
O golpe de estado contra o Presidente
Bertrand Aristide em 1991 atrasou a imple-
mentaao dos 112,2 milhoes de euros do 7.
FED (1990-1995). O pagamento dos 148 mil-
hoes de euros do 8. FED (1995-2000) carac-


Mapa do Haiti que mostra as principals
redes rodovirias.
Direltos de autor Vincenzo Collarino


terizou-se por "uma ausncia de governor ,
resultando na adopao de "medidas apropria-
das" por parte da UE em 2001, tendo os fun-
dos sido destinados para beneficio director da
populaao, incluindo ajuda de emergncia,
projects atravs da sociedade civil e ajuda
adicional do Servio de Ajuda Humanitaria da
Comunidade Europeia (ECHO).
Um dos poucos projects a mais long prazo a
realizar era o apoio ao sector da educaao em
1999. Um montante de 28 milhoes de euros
para o PARQUE ("Programme d'Amlioration
de la Qualit de l'Education" Programa de
Melhoria da Qualidade da Educaao) inclufa a
construao e reabilitaao de 17 locais de for-
maao de professors, "Ecoles Fondamentales
d'Application et Centres d'Appui
Pdagogique" (EFACAP), que iriam servir 350
escolas em 4 departamentos. O ordenador
national Price Pady afirma que este esquema
"extremamente bem-sucedido" foi recente-
mente alargado com 14 milhoes de euros do
fundo "ps-conflito" do 9. FED (ver abaixo).





Quando terminou a crise political de 2004, esta-
va a ser concebido o 9. FED (2000-2007). O


seu oramento de 167,6 milhoes de euros foi
redireccionado para apoio "ps-conflito", apoio
s eleies de 2006 e reabilitaao do pais.
Juntou-se o que restou dos 7. e 8. FED, dando
um total de 276 milhoes de euros "ps-crise".
Financiou-se a realizaao de eleies (18 mil-
hoes de euros), bem como o apoio commercial
educaao atravs do PRIMA (ver artigo sobre
a indstria), alguma construao de estradas e
diversos projects atravs da sociedade civil
(ver AVSI abaixo).
A extensao de estrada que liga Port-au-Prince a
Mirebalais estava a ser asfaltada por altura da
nossa visit, embora a construao no terreno
inclinado e rochoso que desce de Port-au-
Prince tenha sido dificil, como explica Roberto
Rivoli, engenheiro de estradas da empresa fran-
cesa BCEOM, que esta a orientar o trabalho do
grupo de construao dominicano. Trata-se de
uma secao da estrada situada entire a capital e
o Cabo Haitiano na costa norte. Estao tambm
em curso uma secao adicional desta estrada
para Hinche e uma melhoria da estrada que vai
do Cabo Haitiano a Dajabon, na fronteira da
Repblica Dominicana, com verbas do 9. FED.
A melhoria na gestao econmica por parte do
govemo eleito recentemente tambm atraiu a
ajuda oramental geral (36 milhoes de euros)
em 2006-2007.


C@RREIO







Hai, eportagem


U T,,.I,, ,,, !'!,, l', I,,. J.l, IlllIJ !+l!,,l1id 1.10 I' = i,
S .II I |I,,, .l!! .I .. 1. i.li'I !.l',i, l I .i i. .** il . u l' '. ll .
4 ,li! illih.I.=, ,. .1 !O w'!h,,!!. d.u' u',l .ul.Is v i,!h,,
!' ,1 11.1i J i. ~I i.l Cil .il l l. i i. i .' l i. , 1 nil .' ,.. ''
|i|, ,.,i .,ii.! |i , d.I ,iIIi. -. . l l F E D i l-'
mlll !,,,' ,.i' i II| ~I D- ~ -'4l ilb i .1111 i 1.1l .' '~ l.,-
L.l I.l" ,1l.n .,!i .'n .,~ Ii1 ~i' ,i ... l, .i l nl. 1 i' l !l
u',l .d ~1 .'ll' l ,~ ~ .1L lll' ~.' d '.1 lll. .l! ,,,,, d ,,
ll F E D .. . jI. !, .' ,.. R .l. I.! .. 1 h ..h,,
II.u I., ,.' .,. e I .u' .l.ld .is ., ll!.n ..,, !u'd,,! < d,,


Niciiiii~~~~~~~ ~~III liiiII II I ii''

iiii I-i1 iii I*'iiii''
[ii iiiii, 1'' l iii'i- i''iii I''[i- Ii ''''iiiii'' I 'iii''
''[11i 11 i i l ''1'-ii 'li ] 1 1-1 1 I-iii iii' i1i1.11' 11'





Ni -I N E iL!JEiROc FIE EREi RO 2Bri


L jh.. I..i.11.m.. e u' h [.'hJU Im'nh <.n.h., linh
IL .l .I l jh l-il J h.n .- I. l. I lII ..ni' .-1.1 iiih .Ii
i. 'l, .i D ii h ,i HMiJ ii.jiL i .I1' !i- iii;' .iu ,, Jn, .1
R ubli ui. .D .n liiii... 1 E ~|er.i-~i; .| ..| ,i,,
' ,Il..II 'l !l.l! 0L .1' II iL .i, CL' Ih ,! .' .|ll. .' |.l .ill 'h al-
ul .i IIm] .I e.,,l!l!!l il! ..l .I,, F ,,ald I'E nll! .' .'l

R .I I. I F E R !,.,i, .,,,..i F ,nl, l. l. .ii,,, ,.',,, ..,,
R 4. I KII.~1 1 .11 ..1 j cl.L illll .ii' l J .i id Cl' E |i... .i-
,c t.jm l n ll' l qili R .i!.,, M iil ll.i! c .1 FI.ii,,..
1.l ..It t h l lll**II Lj 1 1 ''.I 'I!. ,.I l .C I m h l, i, C
S R .il.i l l .. L l1.l .i i. hI I i L., , i nI 'l ci 1 .
j Wlh i ljCl .i|. ,, l h ., II.,I ",. .

( I Il, F E D li!i !. .t i.ilh l' l' i .i hl', i n' .i-
.i- I :l *' lll! ,'l ,.h.' ~ .l i.li i,. 1.' II '.l q l i i l l| | 'l li.l "r

dl 11.1. 1 'llJ II II I Il h l.,,,I ,l . p i,
I ) 1.ll. iln i' i .l .I l II. 1. l.i I E i.n .I. II.,, ,
d.l Il, F E D il l ..i |ll| .I i'!''l .i l .Il, ~ il 'l .i
.1ht d J oillb- d.I- = 'IIL Id C il t =

,, .. i l ,,n". I I. | ..' i l,, !,, p .l i .I i D.. .l i .l i-
l,, .. i .1 !.1 .l|lld. l!1 .1 I i l]l ,.'l l,.l!l.l! '' *L-_} ll ]l.. I

.li.' II!.iI C. !.. N .III i,, .I i ",11 1 .i I ,, .l Ii J .' L.I I.i
R ,..I, I | ,i. l. i P. iii i['. i.. ID N C R P i ....I, ,-
11 11.'l i L l li.' *'>* .' u |1|'!, I,.I1. ll1. II.' d ,, ,_,,, *' ..! I ,h 1li I'
ullcl1..l" ||- l l i-li. li 4 ll l U i. l. pilc I 1.
i'' i l 'lI l i .ll!'' ,I i.'I L I I '' L |I'I. 'I '!] L '
'Cel ic el, p nli.. l*Iy* PL dC
E dj.. r il-l Ica .. I j j 11 .1 e l a l. sc
l 1' .l.- ,,I i ,-- l I ,,l ,, l ., ',, in -





Ti i l.n i* = ll |i i i" i i.l d i. i|* il ( l | i.l i i. i l -l
. ... |i i i i 1in .D li cII i . 1 11. 1 i l ii.i .
. . .. .
E .,I.I, I I .. "I... .. ,.l l' .. j l hic i .l I I.. .



111.111-C d c 11ll., C i. lm njts .I .ni ..n I


d1 ,n.. . iJihu i. h l l,, Illh I'l-. h nil, Jidi
,.I .. I. .. !, ,l .' t. P I. .. P, ...... .. ,... -
I lll I :l I ll '" DP ,


RESPEKTE


moun,





gola podemos andar poi todo o
lado Pem eeguraniai", coimenta
Fiaimmetta Cappellini, con'ul-
tora sccioeducacional da ONG italiana A'SI,
que est, a executai um proeicto FED para a
construdo da paz no bairro C(r Soleil,
situado a noi te de Port-au-Prince, culas barra-
cas alberqamn cerca de 350.uO0 haitianos.
Anteriormente co:ntrolado p:cr bandoi:s arma-
dos, que usa.am a ,:lclncia e faziani seques-
trc's, a partir de Fevererro de 2u07 a vida ias
ruas nimais fcil, lendo siio delidos mult:cs
dos respc:nsaveis pela violencia comn a ajuda
da llLNUSTAH
O piolecto, no ialoi de 1,2 millido dc euios, a
realizar em ti s anos, de 2007 a 2n09, intitu-
lado Bati lap' (Consolidaco da Pa.). ao quai
!ao atribuidos 200 000 eiiis pela ONG lustia
e Paz. ensina que existede uma alternative aos
bands armados', segundoi Carlo Zorsi, repre-
sentante da AVSI no Haiti.
Nao dificil explicar a flLustraia das pe que vivem nesta pordo de terra de S knm2 'em
equipamentos basicos, semr emprego e sein
sbeirem de onde vii a primrna efeido Os
buraco' de balas nalgurmas casas 'ao a pirva
da dispc'nibiliciaci e de armas
Fiamnmetta Capellini explica que no inici:c to:i
diticil ransmitir a nmensagem de paz pois as
pesscoas estaam lihaiuiiadas a receber algo
material em troc:a. 0 program dai formiaa:a a
'mediad:,res da pazf que transmitem a mensa-
gem fa outro! que a inamr LJnla 'Dclarado de
compromi.c."o para coi a paz'. Cailo Zorsi diz
que toi ditfcil tiansmitir iima isi o do futurLi
ads lovens, principalmeniie queles qule ti
idades compreendidas entire 18 e 28 anoS. O
pi.ogcar'na di igualnmente apoio mais geral, por
e.xemplo na aluda a elal:raao de CV
Fi:Ornece ltanmlbii assistencia sccial e aconselha-
menti: psicol':'lico a crianas mais no:,as
Fiammertta Cappellini explica que a violencia
d:' mn eni enqendrou a 'iolkncia no seio das
famillas contra as mulheres e as crianas.
Zorsi diz que ih necessiiacde de ise cointinuar a
tiabalhai em "Cit Soleil e taimbm no bairro
scial de Mlatissant, a sul da capital Afirma
ainda que poderia ser til um piolecto de hor-
ticultura Lrbana corn pneus e telliados e
'.ublinhi a ineessidade de auLJiliar as autorda-
des locals Zo015 diz que "o piesidente da
C.mniara ('e Cit Soleill foi eleito, mas rem
pouca influencia ou caacidale '
wv.w avsi org






eportagem Haiti






10 11


um


Ra ios


para



incriuel"


m Novembro de 2007, uma viagem de
trs dias de um grupo de turistas japo-
neses foi alvo de noticia de destaque no
jomal "Le Nouvelliste" do Haiti. O que
este grupo tinha de especial era o facto de nio
serem trabalhadores para o desenvolvimento,
nem amigos ou familiares de pessoal da ONU,
nem pessoas que iam assistir a conferncias, e
todos mantiveram os hotis do Haiti ocupados.
Estando por chegar outro grupo destes turistas
"reais" do Extremo Oriente, em inicios de 2008,
existe optimism pelo facto dos veraneantes
estarem de novo a ser aliciados para o Haiti.
O turismo tem sido seleccionado como uma
prioridade para o Govemo como forma de gerar
emprego, rendimentos e crescimento, mas atrair
visitantes ainda uma enorme tarefa de relao-
es pblicas. comum verem-se os capacetes
azuis da ONU por todo o pais, e assim o sera
num future prximo. Tambm os sequestros
esporadicos em troca de dinheiro, noticiados na
imprensa intemacional, assustam os turistas. As
estradas com sulcos e buracos profundos signi-
ficam que, por todo o pais, a visit de locais
apenas atractiva para quem gosta da aventura.
Por outro lado, facil ver por que razao o
govemo esta empenhado em potencializar o
sector. Ha uma grande variedade de locais a


visitar que levam os visitantes a penetrar nas
ricas hist6ria e cultural do pais. Ao mesmo
tempo, pode desfrutar dos trunfos das Caraibas:
areia branca e um ambiente descontraido na
maior parte dos locais do pais."O Haiti um
cocktail de destinos", explica Giliane Csar
Joubert, director executive da associaao de
turismo do Haiti.
Anne Rose Schoen Durocher, director da
empresa publicitaria ARCA, em Port-au-Prince,
que vive no Haiti ha 28 anos, e que chegou
como guia turistica de uma operadora europeia
lider, afirma que o turismo era saudavel nos
anos 70. Nessa altura, um dos ex-libris mais
famosos do pais, "La Citadelle", dramatica-
mente situada no topo de "Pic-la-Ferrire",
construida pelo rei Henri-Christophe para evitar
novas invases por parte dos franceses, costu-
mava ter 600 visitantes por semana. No sop da
Citadelle ficam as ruinas do palacio Milot Sans
Souci de Henri-Christophe, destruido por um
terramoto em 1842.
Segundo Durocher, a visao dos refugiados a
deixar o Haiti em barcos nos ltimos anos de
Duvalier e a crise do VIH, com a qual nao se
lidou muito bem do ponto de vista das rela-
oes pblicas, afastaram os turistas e o sector
nunca recuperou. Explica ainda que o pais


i ""_..'" nel fP. "" ... -
S......... ..... trm ni Im-rs :.



andou para tras muito depressa e o turismo
tambm foi mesma velocidade. Por volta de
1986-1987, o turismo estava paralisado.



Para ela, os "locais de paragem obrigatria"
incluem Jacmel, uma bonita cidade do sculo
XIX, perdida no tempo a sul, construida por
comerciantes de caf com pilares vitorianos de
ferro fundido e agora associada ao artesanato. O
Cabo Haitiano, no norte, a segunda cidade do
Haiti e fica perto de La Citadelle.
Les Cayes, construida em 1720, uma cidade
descontraida situada a sudoeste. Anne Rose
Durocher diz que todo o sul esta em bom estado
de conservaao e possui quilmetros de praias
de areia incriveis. Cte des Arcadins, mesmo a
norte de Port-au-Prince, tem tambm extenses
de praias de areia.
Os turistas nao devem deixar de ver a agitada
cidade de Port-au-Prince. Mesmo no centro, o
Champs de Mars, construido em 1953 e recente-
mente renovado pelo Presidente Ren Prval,
uma espcie de espao recreativo ou ponto de
encontro, um local para os Haitianos verem e
serem vistos. No mesmo local, o Museu de Arte
Haitiana alberga uma vasta colecao de arte


C*RREIO


;;"-~







Haiti eportagem


nave. Ao ver o Palacio Presidencial totalmente branco, ima-
gine as entradas e saidas de govemantes do Haiti.
Nao muito long, nao se podem perder as noites de voodoo
jazz das quintas-feiras do Hotel Oloffson. Sabe-se que o Hotel
Trianon de Graham Greene em "Os Comediantes" era basea-
do no Hotel Oloffson, onde o autor escreveu parte do roman-
ce. Varias casas adoradas de Port-au-Prince sao caracteriza-
das por varandas vitorianas enfeitadas, torrees, frontes e tel-
hados inclinados. Colina acima, as galerias no bairro comer-
cial de Ptionville estao cheias de trabalhos de artists haitia-
nos muito procurados. Ainda mais acima, em Botilliers, apre-
cie uma vista geral sobre Port-au-Prince.
Para noroeste, Gonaives o local onde foi declarada a inde-
pendncia do Haiti em 1 de Janeiro de 1804, e na parte su-
doeste do Haiti, o Parque Nacional de Macaya o que resta
do pico da floresta nebulosa virgem do pais que ascende aos
2347 metros. Anne Rose Durocher pretend partilhar a sua
paixao: "Temos de mostrar o incrivel pais que o Haiti."




Com tao poucos viajantes a dormir uma noite no Haiti,
uma surpresa tomarmos conhecimento, atravs do
Ministrio do Turismo, que 600.000 turistas visitam o pais
anualmente. Quase todos os viajantes de um s6 dia sao tra-
zidos a bordo do paquete Royal Caribbean, da Liberty
Overseas. O barco faz escala nas praias de areia branca de
Labadie, no norte, 2 a 3 vezes por semana e cada viagem
faz desembarcar cerca de 4300 turistas. Sao cobrados 6
d6lares americanos aos visitantes pelo desembarque, indo
metade para o govero haitiano e o resto para a empresa
que dirige as instalaoes na praia. Paul Emile Simon,
arquitecto urbano no Ministrio do Turismo explica que,
com a Citadelle a apenas alguns passes, tem-se a sensaao
de que os visitantes podiam despender mais dinheiro em
viagens a esta fortaleza no cu, mas as fracas infra-estru-
turas sao um entrave as visits.
Ha igualmente muita esperana em relaao aos projects
binacionais com a Repblica Dominicana, incluindo o
desenvolvimento do Lago Saumtre e do Lago Enriquillo
na Repblica Dominicana. Simon explica que os lagos se
situam na mesma "faixa ecolgica" e partilham a fauna,
crocodilos, iguanas e flamingos. Simon v oportunidades
para hotis e campos de golfe na parcela de terreno plana
da area circundante.
Alguns pensam que se deveria oferecer o Haiti como um
"destino paralelo" num circuit que abrangesse a
Repblica Dominicana, Jamaica e Cuba. Giliane Joubert,
da associaao do turismo do Haiti, acha que embora exis-
tam muitos hotis familiares de muito boa qualidade no
Haiti, o pais tiraria beneficios do investimento de uma
cadeia international.
Encoraja-se igualmente a diaspora do Haiti a investor mais
no sector. A "Cimeira de Desenvolvimento do Turismo no
Haiti" organizada pela MWM Associates, em Port-au-
Prince, de 20 a 22 de Junho de 2008, vai ver, entire outras
coisas, a forma como as parcerias, entire o sector public e
o privado, podem trabalhar em conjunto por forma a
desenvolver o sector.
D.P.1


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


























!nte o eat eojut de- pnoes, esrtrs -iosetino i












aii .egn Anr ou ""Djinn". *S**Ie ev raam oHit


erin Andr S Sud o5 que oastm qenmetd etas gm aa ta ea seilci
de Saivne vir. te cratva sen do *sfio ceias u oo ena m a oe evrv





escoberta da Europa


Jean-Franois Herbecq





ROIDEnDA,





Nova fronteira oriental da Europa, a Romnia , sem dvida, o pais do continent
que regista o desenvolvimento mais acelerado. Membro da Unio Europeia h
pouco mais de um ano, caracteriza-se tanto por um crescimento econ6mico rpido
como por estruturas obsoletas e necessitadas de reform. O pais oferece igualmen-
te fortes contrastes regionais. Como tal, revela-se um destino turistico mal conheci-
do mas com um enorme potential. Com as suas inmeras minorias, a Transilvnia
oferece um belo exemplo de modelo de coabitao multicultural.


F E i i. e.i Ciii i i Li c C1 i I h. diii i. .

[Iici 1 'LI iii liiU i iiii...i jh .i lcII.iil.i e Ie
hi i .1 i.1 Lii ~i ~ii cil ipir .ilc ILl.iLIt ilj i ii I11111.
jii. ii. Roillielil. i1j j, 11-11 j.i 'lii.i -C ii!
b.il.i, j LII, l'j'. cib ii iii l'IIII I'L111'LI'Id.'l.,
!i. Il.rl ~ J.- ei i R.iilll!' i iiiic.! l' i i .ii


Irl 111l i .iiiILIL i Il i iil I li i C, luis F LI tii ,1.,1 .




01111o, i[Mu-,ipi F.iii '' F 'i I i.id'i
,]LIU [I11iiil.i CIL, IICII 11.1'.11".11 leLI.1 pl..,11IL1.


Ti, pi.iiii de c LII. iIi2iiC I iiini liio ilin Idii' ',l'e



J' i Nci.'i.i 'Li Ci~i'ci.ii N'I lIii.i I dc iic i l'.i '


II'i NI R' ilC i ii.. iL~C~~ II iVi 1II C l -Ii ui npi .
bi i i I i


P -1 N E j.AniEiRO FE- EREIRO .iC'C'3







escoberta da Europa


Romnia de H a Z

Asian: -.:.I -, l:. :l i:, I r n'4zi A- n nl.:.- nli


'Iln .l :.iii l 1 .:i J i i icl i i : pri l r:i i rui n I:
1:u :]u i ,:l d i ',,i_ i TpII I- ri,-:, I in.: .:.






Brancusi: ': u ri ii .:,l,.l:.r -.:uIlr,:ir rilii i-:i tr:.i
ulii' .:1.:.[ primii' r,-,' rIl-'ilr i 1 i lr .- il:'Tr lu:


p ri il di .ld i


Ceausescu: ; a :. i -i Fii .iz pauje1.r -. 111u ii .
d -u iI'' '[ I-d u lli jp,,,I urj',.ul-n-lr -nl r

J-Im l' 'u.u. u 1:'i' i, l inmlful I-J' .-rln n 1- ml )> I

e l i.: i.:. i r.l,:,', :... :. I ri : |i.i llr: Ii ': i[ :' i I n .lul .i
dir'l iur-'i lurr_'n lh r i II'I i l :il- u iTr. i'.ii:i un'.'i


+_.l : i .l iriJ rei'ii. ,:, r. l,;,b u.l'._l li- ;.:.u l itll[,:, o ir r .ii:,
*:' i'fl ii flr'i'[,:.]T@


Dracula: ':t rii-[: d1 i.I: lII n i:. rI-i -.iTid,.
n ,[ i r:1r.id .:r : i Li .:_ [ i:] n.iI l, r. [:_ i l, ii.:: ~\ .1 h'h r .:..
liij. r l _u.: i:.r I ,:l''-'.i l'' '.'. -'lr i', ii .:.i |ii ,l- _
Sri .:.'lr i :. r i P rit' ll ,.:
mi l'F .:]:r iu l ulu' L'z. r J i 'r'n i'' m- 8

mr mu'IF .I lIlo a mueCu o


Ecologia: p il'. i iJ d -:.- nhi I .: i P-Iii i '-ru
lui p-.j>:u .. tu m [.:.'


Francofonia: iiii .- lu.i.tinidu:- l i. 1 nu :i :i ii-i:
l 'i .: k. '. ni i ':.:.' r; -i Ar i i. i tr in:-l
.uim,1 ul-i .-ulu p"un .. : muund-:l' n'.:.'-idui-
l'-u. '.u iu i A- rlu I


Guarda de Ferro: in m:,' ii'r.-mr,-, ,r.ri i r i .:,:,i
u FI,''- 8'' t-l'- l .J.- r-llu-T l'l' -.'lu. r llu -iurl-
L ,ilui'' .. lu .. Au u u I. h I 'L






Hngaros: .iinur 'p.ii l riii.n:ri.i urn-.:i n i
i l ui:. rlii i ii -- l iI il.- n : l iii l -l :u : i j l .



i tii iFi i i:ii ii.:l.i Ji:l i.:J i :- : i i r.iC .1 ;i:
'iuIIi'ir u-il i r


Indiusria cinematogralica: : :in.i em- rime.
nr :, '.r :'' :i -i r .-. iintl rn -.i.:i.:.i l .11 1 i i



rJ:,L, iii-'. .i 1 I p .:r r.r .J ir ii nil I l I ,



i Ii i Fi .:i ;iIi hiid L-:,pp,:ill i iii k ii'i'iii ii' i
*iv ri j l il n .-. il1





judeus: ei- Iir. .iij:, iiii :ir \\ i- l i
P.:.'i nii-i Iu [l.:.. iii I .l :-.i iu.:.[rru : i. i i.
I.':i .I d: I I q ul.I:quI r :.Ir,:. 'I l.II 1



SEi.::. r, AI-. n m i u.ii i, i- ii i ip ij.: ,. :l ,:_i h.:,li.ii


l ill :h ,9l r,:,l:;i l F-.i-ii :i:i .- l,: iir l- .:]

r.:.mi''i'_ rii I ii lU iir-' i '-i.i-. i


Kronstadt e Koloszvar: n.:.il. Ip-i .:p-I.



i'I:.1,:1 'r-in : i1 i, r-.:|jI:


Logan: i 1 'I'IIII I I' I 'ii .:.i:-I.: -in.:li:l: -uil
S.-'i'if-ri(:i d I:|u. i-iT:' I Li :i.i tF: ur'i u :eri,:,




Su:l i I'iist i iI ri'r i vi c : i.toI.:.mI:II -, l.\I:I II qu II tIIr,


p l"tJ t'-.rrin' i -t '. . -r p.I l i j in.:l.i-r
nee--,:l.:|e J d. t' ::l,:, : n l-r.: ,:, J r'.-ru i _rl -nu -


M anele: :-iII:u rir~i.i-: il -riii l : i Tr itli.- d:-

lu m |i:ipi T .i i:i id -ri.Im u :i I [ ,:r ]i-.i.:li pn I,:, p,:,m

oIlml_:Ie -l oIr: m Lirlm 1 il::r i:i]ii-intIl II iuLII -
du:u' ij i u 'i. ii d _p :'[ .-'iuIt i.:..- i; i.:.ri'i-i ll
Ih-lf om' r -ruu- ' l-uu i u. 'u-- r I- u .















Pequena Pari- lu ii lg-- l -i.-:ui]--r- l'i-imi.:jdi



SIi ..:i1u ilid .il .>- :i di ii li il i ':iidlui' : I-:i".i I



Quadril tero: i.:. :, _i,, ri imiinr ..I l : ri.ii h.: l,:,'
' l 1 ,L u .:.l'..r>.| i r '. l : iiiII:l.. I. 'ii .-il -nur.-









ll'I '. l II'I l i
OrfI os: I irmin-:l :e rus u.:'U ,:: r, : II
















,:uLl b i',+_lJ-l:,


Religio: S. -. di p- pulLm'':' I ':' r:'i'n- ,u-,[.T: i:ii
* ui A qu-I d i d i:. ....u'Iii'-I ,:u r ib iu .: ~ ii. irJ:i 'i .i




Sarm ale: ir ,r,:, i r ni u: i i -i .I ihii: :-.u.: .-L .iii
- .:.i' ' ,.ii r ,I- l i h i. .i:.i :.i'ii:.iui i L id i. i'J i i.iiii ili-
1 h d 1 Irp-1jh i z -W .in1ir l -11






i'-i'iii '-: I -i.i l ':ii- l iI- l ii:nrir, :i i ii:ii" i-:
Ilrit,:, [:'..iri r:, r',u]l ,iInil .,:. FII.i : .Ili









Vegetarian: Liriiu i -ri.: -.-C'i iinI ii.:m. ' ,
.iiri'i."i ii rt i, :', 'E |i:,r':, d u l iiirT ."i :-u II-ri I'i'I I
I\ LIilr iu-l'- ii Pl.:h -l[d -1. ,: LI u ,'u [. l: l l] r

U111 1j '- e ,: .. u- ;.n1 d,:,[ t.u- 111 i In- ] I.IIli


i1nii1 1 l: i Pi:i -i.i i i i u.- r i r..-it i r -
ii,:, i- 'u- 1 nir' ..- l jIIu ,- n :' :,'' lil '.lliir -


Xenofobia: .:m :iri.eri.:. r-em Irn.:lil.:i i i ull

i:,i ,:,- :i. -':ii ril:.i L i *:l'fii "rll,::_I l :l. i ::_ IL .:'i, L i ii r:III





Yuan: i .:jr U l .: i' : : I::i:u l m u:: r..lu.-
. uni.:. m i ,n:s ,:, I'h II i Ir: i.:, i:in i _m i I i :,r,:,,:Ju r,:,

l:Il. I .l ri :]i n.i:, u 'i 'r l -.:. i]. ii i u .. l I rl ii





Ziinia : i uri i'.r. -I l r, ,l.i li Iiii Iiru r lil.



i u ,,'l'-FH _l i


CORREIO


''i''~i '''~ '""'-""'


















































A adeso da Romnia
Unio Europeia,
no inicio de 2007,
assinalou uma viragem
na sua political external:
o pais integrou os
objectives europeus de
cooperao e, acima de
tudo, juntou-se ao grupo
dos praises doadores.
No entanto, esta political
face aos paises ACP
permanece embrionria.









I 0 Edificio Berlaymont, Bruxelas 2006. EC


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


dia 1 de Janeiro de 2007 foi um
moment historic para a
Romnia. Os beneficios da sua
adesao Uniao Europeia ja se
faziam sentir antes desta data, com as refor-
mas e um crescimento mdio de 6% ao long
dos ltimos sete anos. Os investimentos
estrangeiros registaram uma forte progres-
sao, o desemprego permaneceu baixo. Alm
disso, a adesao trouxe os beneficios de um
acesso complete ao mercado interno, s polf-
ticas econ6micas e de coesao social da UE.
Permitiu igualmente uma presena reforada
na cena international. Em suma, para a
representaao permanent da Romnia na
Uniao Europeia, este primeiro ano de adesio
- 2007 foi para o pais um sucesso muito
claro nos plans econmico, social e politi-
co. A partir de agora, qual sera a sua political
face os pauses ACP?
"O apoio definitive concedido pelo regime
comunista de Ceausescu a alguns pauses afri-
canos denegriu a image da cooperaao",
advertiu logo de inicio Daniel Daianu, recen-
temente eleito para as bancadas liberals do
Parlamento Europeu.


"Os regimes politicos vao-se, as pessoas
ficam", relembra, por sua vez, o ministry dos
Negcios Estrangeiros, Adrian Cioroianu, que
nio excluiu do dialogo politico uma dimensao
econmica a fim de recuperar os mercados e
diversificar as fontes de abastecimento ener-
gtico. Porque a Romnia perde mercados em
Africa... Os principals pauses da Africa sub-
sariana com os quais a Romnia mantm tro-
cas comerciais sao Angola, Costa do Marfim,
Etipia, Gana, Guin, Nigria, Sudao e Africa
do Sul. As relaoes econ6micas e comerciais
reorientaram-se para os parceiros ocidentais
ou geograficamente prximos.
A Representaao Permanente da Romnia
record que o pais apresenta uma srie de
vantagens interessantes para os Estados afri-
canos: em matria de economic e de tecnolo-
gia, por exemplo. As universidades romenas
formam mais de 30 000 especialistas, que
tm contribuido para a realizaao de obras e
infra-estruturas na Nigria e no Gana, explo-
raoes mineiras e petroliferas na Nigria,
Senegal e Burundi, cultures agricolas em
Moambique e Madagascar, prospecao de
agua na Zmbia e instalaoes de montagem







escoberta da Europa


para a inddstria automvel e ferroviaria na
Nigria. Actualmente, um numero significati-
vo de especialistas romenos trabalha em dife-
rentes pauses africanos.
Para a eurodeputada socialist Corina Cretu,
altura de fomentar novas relaoes entire a
Romnia e os pauses terceiros. Contudo,
record que, como doador, a Romnia devera
ter em conta as suas prprias capacidades.
O antigo ministry das Finanas Daniel
Daianu mostra-se optimista: "O alargamento
da Uniao Europeia a Leste nao significa uma
reduao do oramento reservado coopera-
ao, pelo contrario: o oramento global
encontra-se em crescimento. Isto quer dizer
que a political de cooperaao para o desenvol-
vimento da Romnia continue um pouco
paroquial e isso devera mudar!"


Mesmo se, aps a adesao Uniao Europeia, as
relaoes entire a Romnia e os pauses da Afri-
ca subsariana constituem uma dimensao
important da sua political externa, esta inte-
graao euro-atlntica continue a ser o seu
principal objective, explica a representaao
romena em Bruxelas. Os pauses geografica-
mente prximos, nomeadamente os pauses de
Leste e os Balca Ocidentai- tmt prioridade
tal como os p.i' ic n'li '-.1 t.i c c> i.il1.!! .i..


onde a Romnia participa nas foras de paz,
como por exemplo no Iraque ou no
Afeganistao. Efectivamente, ja ha muito
tempo que a Romnia o "bom soldado" da
cena intemacional. Bucareste participa, sem
hesitar, nas operaoes de manutenao da paz
em quatro continents: Haiti, Congo, Costa do
Marfim (todos pauses francfonos!), Etipia,
Eritreia, Sudao, Libria, Afeganistao, Nepal,
Timor-leste, Gergia e Kosovo.
A adesao da Romnia Uniao Europeia f-la
passar do estatuto de beneficiario para o de
fornecedor de ajuda. Brevemente, contribuira
para o FED, o Fundo Europeu de
Desenvolvimento, que visa co-financiar pro-
jectos no continent africano com outros
Estados-Membros da UE. Simultaneamente, o
governor romeno exprimiu a sua vontade de
apoiar os objectives de desenvolvimento do
milnio, assim como as actividades da ONU
nos domfnios da educaao e da sade, altera-
oes climaticas, segurana alimentar, ajuda
humanitaria e manutenao da paz.


Com 5 milhes de habitantes que dominam o
francs numa populaao de cerca de 22 mi-
lhes, a Romnia constitui um posto avana-
do da francofonia na Europa de Leste. Em
2007, o governor romeno implementou um
sistema de bolsas de estudo, baptizado de
"Eugne Ionesco", destinado aos residents
estrangeiros das instituioes de ensino supe-
rior da Romnia. A Romnia concede, assim,
um montante annual de um milhao de euros
para os doutorandos e os investigadores dos
pauses do Sul e membros da francofonia. O
objective deste program permitir aos
investigadores e doutorandos dos pauses do
Sul beneficiarem de um estagio de, no maxi-
mo, 10 meses em 15 instituioes de ensino
superior romenas reconhecidas pela sua
excelncia. O numero minimo de bolsas con-
cedidas anualmente de 70 e, em 2008, sera
de 120. O program Eugne Ionesco tem
agora um ano e, entire os investigadores ja


inscritos, ha representantes do Benim,
Camares, Costa do Marfim, Guin,
Mauritnia, Madagascar e Senegal.
A 10." Cimeira da Francofonia realizada em
Bucareste de 25 a 29 de Setembro de 2006
apresentou uma srie de manifestaoes cultu-
rais abrangendo diversos aspects da vida
artistic. Deste modo, sob o nome de Ritmos e
Imagens da Francofonia, artists e grupos pro-
venientes de Marrocos, Haiti, Congo, Djibuti,
Vietname, Senegal e Guin apresentaram
espectaculos ao ar livre, altamente apreciados
pelo pblico romeno. Uma exposiao de pintu-
ra sobre vidro "Senegal Romnia: o dialogo
sobre a rota do vidro" venceu o desafio de con-
jugar a diversidade cultural destes dois pauses
apresentando as obras de dez artists. j.F.H.


C*RREIO


Romnia






Romnia escoberta da Europa


nn Romnini


Dois milhes de romenos expatriados contra apenas
60.000 estrangeiros residents no pais. E no entanto, a
Romnia comea a tornar-se numa terra de imigrao. A
economic do pais esta em crescimento e necessita de
mdo-de-obra. Os recm-chegados so provenientes da
Moldavia, Turquia ou Asia e, por vezes, de Africa. Para os
africanos, a integrao nem sempre fcil.


madou Niang, antigo estudante,
testemunha: "Como bolseiro sene-
gals, fiquei desde logo decepcio-
nado com as mas condioes reser-
vadas aos estudantes no terceiro ciclo. O quar-
to na cidade universitaria estava em muito
mau estado e foi precise alugar um estdio
com o meu prprio dinheiro. A qualidade dos
estudos tambm deixa a desejar. Ha corrupao
nos exames."


Uma vez terminados os estudos, Amadou
Niang quis ficar na Romnia. Por amor. Mas
mesmo o casamento com uma romena nio
impede as discriminaoes, tanto a nivel admi-
nistrativo como na procura de emprego.
Quanto dificuldade de existir como um casal
misto, afirma que "a lei anti-discriminaao
uma fachada e nao eficaz. Para alm de uma
multa, nao prev a indemnizaao da vitima",
insisted, salientando que os romanichis sao,


sem dvida, mais vitimas do racism do que
os africanos e que, apesar de tudo, tem muitos
amigos romenos.
Amadou Niang criou uma associaao para aju-
dar os imigrantes a instalarem-se. E nao o
nico a reagir: um program intitulado
"Democracia e coragem" ensinara os jovens
das escolas a renunciar ao racism.

J.F.H.


IEGRO

Branco-negro: O duo AlbNegru, formado pelo romeno Andrei e o franco-guineense
Kamara, constitui um manifesto vivo a favor da tolerncia. Mistura de pop romeno
com um sabor oriental e de hip-hop francs com toques de reggae, a msica
dos AlbNegru canta o amor e a abertura aos outros. Notvel num pais onde os
estrangeiros so, por vezes, vistos com desconfiana.


SI m 2004, aquando da nossa
estreia, pouca gente nos dava
uma oportunidade de suces-
so", record Andrei. "Porm,
aqui estamos no mercado ao fim de tres belos
anos. A nossa image, um branco e um negro,
teve um impact muito forte". Kamara acres-
centa: "A nossa mensagem bem transmitida.
Ao ver-nos juntos, dois amigos e duas raas
para uma nica msica, as pessoas compreen-
deram que o entendimento entire dois homes
de cores e cultures diferentes possivel".
"As msicas guineense e francesa sempre me
fascinaram. Fui influenciado pela minha cultural
franco-guineense enriquecida, com o tempo,
pela cultural da Romnia", conta o Guineense de
Bucareste. "E isto faz de Kamara uma persona-


gem parte no mercado musical romeno",
acrescenta o seu comparsa branco, Andrei.
Os xitos dos AlbNegru, "Noi doi" (n6s os dois)
ou "Muza mea" (minha musa), conjugam o
romeno e o francs. Uma aposta arriscada num
pais francfilo, certo, mas que associa muitas
vezes a moderidade lingua inglesa. " verda-
de que a lingua francesa na misica romena
uma novidade. Os anos passaram e podemos
dizer que a fusao entire o rap francs e o pop
romeno uma aposta ganha", avalia Kamara.
Trs albuns em tres anos, uma participaao no
Festival da Canao da Eurovisao com um grupo
cosmopolita e muitos projects, entire os quais
digresses em Espanha e, sem dvida, em
Frana: o xito dos AlbNegru total.
J.F.H. M


N. 4 N.E. ENERO FEBRERO 2008





escoberta da Europa


TRHnSILUOniO:

TERRA DO

No ha duvidas de que a Transilvnia deve muito ao autor irlands, Bram Stoker, que,
ao criar a personagem do Conde Dracula em 1897, inaugurou uma galeria de clichs
que assentam na Transilvnia como uma luva. Todavia, a regio no se resume aos
castelos perdidos nas brumas dos Carpatos. O seu patrimonio arquitectnico tambm
inclui igrejas fortificadas, cidades saxs e aldeias bem conservadas. As suas montanhas
e colinas oferecem igualmente paisagens magnificas. Trunfos a destacar.


1- tI.II I ll I Ii ( .: l .C Il ,

I l 1.,11 Ic ICI l-.1t1
..!,s,, !,, .I .. ... I. l M .Il [ ,X',, ,..


I ii.11I 11 I. 1 *-C d. ii Ii i I. Il '
A I .' l! I .l. I '. 'l. Iu ,i .. L ., 'i ,! .i l. t .i .
I-|l ...l ul l t tl' ..' j M l .l l .l -
C ll+. 11 1 I lp d ,.i + .' l '


Ni l l l. .1 .ii l' 1' .1 i' i i 't l b.iii d ill ii i.
N .II, 1 d|,,I .IIl' IIIl ,. lthlld c. I


C*RREIO











Ciganos munidos de Motorola fotografam os
b6lides que desfilam.
As grandes cidades ja atraem os turistas. Cluj
continue a atrair a atenao e a conhecer um
enorme xito. Em 2007, com a nomeaao para
capital europeia da cultural, saiu a sorte grande
a Sibiu, mais conhecida pelo nome alemao de
Hermannstadt: esta jia urbana pde ser reno-
vada para ascender ao estatuto de destino de
turismo de qualidade. Brasov menos concor-
rida, mas nao lhe falta charme ao p das mon-
tanhas. Em Sighisoara, outra cidade saxa, os
turistas japoneses ja desembarcaram. Disparam
as objectives vista da mais pequena placa dra-
culesca. Os parques de campismo dos castelos
e cidadelas enchem-se completamente. Os ago-
rafobos evitarao a visit ao castelo (chamado
de Dracula) de Bran, enquadrado num mercado
perfeitamente kitsch: bonito e bem restaurado
mas s6 dificilmente consegue absorver a
enchente de turistas na poca alta!
Mais a leste da Transilvnia, a partir de Tirgu
Mures, depois no pais sicule, estamos como
que numa ilha hngara em pleno centro da
Romnia. Escritas em romeno e hngaro na
melhor das hipteses, a sinalizaao encontra-
se, muitas vezes, apenas em magiar. Os par-
ques "memoriais" sao ornados de estatuas
enfeitadas com fitas com as cores hngaras.
Vendem-se recordaoes diversas, chavenas
ou t-shirts vangloriando a Grande Hungria...
Sensivel... J.F.H.


Estamos em Szekelfold, o pais dos Sicules. Os
hngaros tnicos habitam a parte oriental
da Transilvnia. Trata-se de uma pequena cida-
de onde se fala mais hungaro do que romeno.
Para alm de um museu, tem muito pouco
interesse para os turistas.
Longe do centro da cidade, uma rua resi-
dencial sobe. partida, nada a distingue
das outras. A seguir a uma igreja, o bairro
residential muito modesto. Menos viven-
das, mais pavilhes, depois blocos de apar-


Romnia escoberta da Europa



tamentos. Nada de especial.
Mas, de repente, a rua divide-se em duas em
todo o seu comprimento: um muro de 2,5
metros separa o lado direito do lado esquer-
do. Um lado de asfalto, alguns carros
encontram-se estacionados ao long dos blo-
cos de apartamentos. No outro lado, a rua
transforma-se em caminho de terra que ladeia
pequenas casas modestas. Nem um carro.
Alguns rapazes brincam.
Basta um olhar para identificar as duas popula-
oes separadas. De um lado, os "brancos", do
outro, os "negros", os "morenos", os ciganos,
os romanichis.
Entre eles, um muro de beto.




























































pequena regiao montanhosa de
Maramures, encostada Ucrnia a
norte da Transilvnia, , por vezes,
apresentada como o "Shangri-La" da
"romenidade". Com efeito, num pais maioritaria-
mente agricola dificil dissipar o mito do cam-
pons romeno, mesmo na altura da adesao
Uniao Europeia.
Longe do turismo de massas do litoral do Mar
Negro ou dos castelos que se diz terem abrigado o
Conde Dracula, esta regiio verde, com tradioes
bem enraizadas, viu desembarcar uma espcie par-
ticular: a do turismo ps-modero, explica Raluca
Nagy. "Ha 10 anos, os turistas descobriram Praga.
Hoje, rumam a Bucareste ou Sofia", resume ela. O
etnoturista recusa-se a bronzear como um idiota.
Pelo contrario, informa-se e mostra-se curioso e
atraido pelas outras cultures.
"A paisagem dos postais de Maramures e o mito de
uma autenticidade romena (algo falacioso, tendo
em conta a sua hist6ria que viu desfilar hngaros e
ucranianos) fizeram o sucesso da regiao. Em alguns
anos, o turismo amigavel, baseado na hospitali-
dade traditional, deu lugar a uma relaao mais
commercial constata no local a antroploga.


"As pessoas de Maramures, na maior parte dos
casos agricultores a tempo parcial devido pobre-
za da terra, enveredaram pelo turismo rural.
Alguns, que trabalham no estrangeiro, construiram
novas casas para receber os visitantes com mais
conforto do que as casas tradicionais dos bosques.
O desenvolvimento destes "pensiuni" asspticos
ameaam precisamente aquilo que constitui a
caracteristica principal do turismo em Maramures:
a sua autenticidade. Arrisca-se mesmo a esgotar-
ie" firms a in.,eqtiadnr,
E ,! .I llll ,,C ,, I l h 'm 't! .'! li Illli!1,, i ll ,i
F-"li i !!.ni ni.l" i iii l i- ,. i. .i-
E |II "| |i. i i.ii iii. ii.i "ii.n .i i.1 .rli. i iii. i- iiiii |i iin-

IFH
N ciiii :
'''"''" 'i'~ ~ "1 '- i~ --'l'' ~ '






tividade


........ w


MI t.,, f',.,,,t t. li


-a


m 0


irk aii

^^w'
i r^ 11Vf*


A 7" ediao dos Encontros Aficanos
da Fotografia, uma das raras iniciati-
vas que valorizam as realizaoes dos
criadores de Africa, um moment
esperado por todos aqueles que, tanto no Sul
como no Norte, se interessam por este meio par-
ticularmente contemporneo: a fotografia.
Prxima do video, com que trabalham inteligen-
temente various fotgrafos profissionais, a foto-
grafia artistica de expressao, ou mais simples-
mente de autoria, dificilmente rentavel para
um criador africano demasiado afastado das edi-
toras, das salas de exposiao, das redes de difu-
sio e dos pontos de encontro profissionais.
Isto torna os Encontros Africanos da
Fotografia ainda mais indispensaveis e s6
podemos lamentar o facto de, excepao da
Africa do Sul, onde varios autores e organiza-
dores sao activos, muito poucos projects pro-
fissionais ligados fotografia serem desenvol-
vidos no continent. Apenas podemos citar
algumas acoes no Mali, Botsuana, Gabao,
Zimbabu e na Tunisia.
Nesta perspective em que falta fazer tudo, os
7 Encontros de Bamako sao indispensaveis
ainda que, de facto, tivessem sido iniciados,
organizados e supervisionados com a ajuda de
peritos vindos de Paris em colaboraao com a
Casa Africana da Fotografia de Bamako.
Como dizia com humor um visitante maliano:
"Antes viamo-los fotografar-nos, agora aju-
dam-nos a olhar para as nossas prprias foto-
grafias" e a colocar os operadores culturais
malianos perante um dilema: autogerirem-se
ou sujeitarem-se.


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008


i llira


PIq


IZ o
B 4^


De cima para baixo:
Fanie Jason (Africa do Sul), Carters on the Wayto the epping scrap yard, Srie Cape Carting, Bienal de Fotografia,
Bamako 2005. o Fane Jason
Samy Baloji (RDC), Gcamines 3, Srie Mmoire, Bienal de Fotografia, Bamako 2006. samy Baloji
O porto de Bamako, lugar surpreendente de intense actividade e de vida Anne Sophie Costenoble






Criatividade


Num soberbo catalogo franco-ingls de 269
paginas, magnifica ferramenta editada pela
CULTURES FRANCE, descobrimos um ver-
dadeiro directrio das mltiplas sensibilidades
que alimentarao durante dcadas a diversidade
cultural tao apreciada. esse o desafio de um
encontro como este. A Africa fotografada
pelos Africanos; a Europa, a Amrica, o
mundo, fotografados pelos Africanos. Em
Bamako em 2007, o tema exacto era "A
Cidade e o Alm", o que inspirou tantos olha-
res diferentes, tantos apelos ao dialogo, clichs
reveladores, imagens de amor e de paz.
A cidade africana um labirinto improvdvel
para o visitante estrangeiro procura de pon-
tos de refernciafamiliares. Os cddigos inven-
tam-se aia media que vo surgindo. Ao sabor
do vento. E o vento quefabrica este sincretis-
mo arriscado que, apesar de tudo, funciona.
Porque feito de carne e de sangue. (Simon
Njami, Comissario-Geral dos Encontros
Africanos da Fotografia em Bamako)
O interesse de um encontro fotografico esta
em constituir uma ocasiao para os fotgrafos
de se confrontarem com a criaao mais actual.
Claro que, em Bamako, as referncias eram de
qualidade. O olho experience de Simon Njami
e o do seu comissario associado, Samuel
Sidib, director do Museu Nacional do Mali,
permitiram a selecao de uma pliade de talen-
tos de 16 nacionalidades de origem africana.
Mas de que se trata ao evocarmos a origem de
um artist e, sobretudo, de um fotgrafo? De
uma identidade de nascena, administrative,
cultural? Sabendo que uma parte dos fotgra-
fos presents na Bienal vivem em Londres,
Paris, Nova torque e vao de tempos a tempos,
de maquina ao pescoo, procurar novas foras
nos seus pauses, podemos interrogar-nos o que
significa hoje a fotografia africana. Sera real-
mente africana, mais africana que a de algum
de origem ocidental que passou metade da
vida em terras de Africa e que se empenha em
olhar e palpar as luzes e os contrastes da vida
africana? E o que dizer da condiao dos fot6-
grafos africanos menos provides que escolhe-
ram permanecer na terra dos seus antepassa-
dos e se esforam por afirmar, na indiferena,
uma sensibilidade do terreno?
Voltemos ao event: os Encontros de Bamako
eram tambm a impressionante presena da
Fundaao Jean-Paul Blachre, que tem o nome
do seu mecenas, que a partir do local da sua
residncia de artists de Apt (Frana) valoriza
ha varios anos com subtileza as obras dos
artists africanos mais originals. Em matria
de fotografia, devemos-lhe o facto de ter reve-
lado muito cedo Sadou Dicko (Burquina
Faso), a quem foi atribuido um Prmio mais
uma vez este ano, o da Organizaao


-4 '.
r`fr^ 3||II
^s^.Sf iS?

^'S^l.-S^


Interacional da Francofonia. Em Bamako,
num baldio arranjado, expunha o trabalho de
16 artists que combinavam fotografias e vide-
os numa espantosa cenografia.
O Ambito da promoao para a Formaao em
Fotografia (CFP) de Bamako, apoiado pela
Uniao Europeia, nada ficava a dever. Este cen-
tro de formaao em imagem, apoiado pela
associaao "Contraste" de Bruxelas, acolhia
uma formaao cruzada de 18 estagiarios
malianos e belgas. Este project, apoiado pela
Africalia, permitiu a criaao de 200 fotogra-
fias, expostas e projectadas nos bairros popu-
lares de Bamako. Paralelamente, o "Cinema
digital ambulante" fazia deambular um estdio
digital pelos mercados da cidade, captando
aqui e ali, num louco ambiente de festa, cente-
nas de retratos de habitantes que associava,
com um computador, a paisagens da aldeia
global. O sucesso foi assegurado pelas projec-
oes em ecra gigante das figures do bairro que
ficavam entao sorridentes frente da torre
Eiffel, das pirmides de Quops, da Grande
Muralha da China!
Por fim, e porque indispensavel multiplicar o
intercmbio, mergulhar os criadores em con-
frontaoes estticas, criar ocasies para visio-
nar obras, os organizadores tinham convidado
a Finlndia e a sua nova geraao de captadores
de imagens para exporem os seus trabalhos.
Choque, descoberta, partilha de valores, de
sensibilidade e de urgncia, sempre com uma
questao: o que pode aproximar mundos em si
tao diferentes? O home escondido por detris
do gesto artistico? O desejo de conhecer
outros lugares? A generosidade de um rosto?
Ou simplesmente a vontade de viver uma
experincia positive: ver fotografias?

* Mirko Popovitch, Director da Africalia (Blgica) M


No cimo:
Bienal de Fotografia, Bamako 2007.
Afrique in visu /Baptiste de Ville d Avray
Em baixo:
Bienal de Fotografia, Bamako 2007.
Afrique in visu / Baptiste de Ville d Avray

















































SFundo Principe Claus para a
Cultura e Desenvolvimento foi cria-
do em 6 de Setembro de 1996, para
celebrar o 70 aniversario de Sua
Alteza Real, o Principe Claus, marido da Rainha
Beatriz da Holanda. Este fundo premeia artists,
pensadores e organizaoes culturais em Africa,
Asia, Amrica Latina e Caraibas desde 1997.
O Fundo Principe Claus atribuiu um prmio a


U m m...............,,,,,,,, e: --


Faustin Linyekula pelo seu total empenhamento
em prol do Congo, pela excepcional coreografia,
bem como pelo corajoso regresso ao respective
pais e pela sua inovadora estimulaao da vida
cultural, apesar da instabilidade e turbulncia
que prevalecem.
O coregrafo de Kisangani utiliza movimentos,
textos, imagens e sons para divulgar e sensibili-
zar para a experincia de viver no meio de um
conflito que tem assolado o seu pais durante
Ji. .ilJ. Dc .. i c.- e a si prprio como um con-
l..,.Ihi d.Ic hIi.i,. Ao honrar Lineykula em
Dc ci.iili. d. 'iJl'- o jri mencionou que as
i1i.1 .ii iii.l.''. c.i!ii fortes e retratavam uma lin-

D)c ,.I i. lu.I .' ., ..i t data, o Fundo Principe
C(. !.i, icii .ii!!liu, .I., prmios de 100.000 euros
. p!i i.iI.I.in.i. li not6rias e organizaoes de
AIii i.i A~..i Aiici ,ca Latina e das Caraibas no


I n I l I: ,,'1. I,- "- .


"-VI. Por cortesia de As Aevi


ramo da cultural e do desenvolvimento. Sao
convidadas personalidades do mundo inteiro a
propor nomes e, baseando-se em pesquisas,
um jri restrito seleciona alguns candidates
dos quais saira um vencedor que recebera o
prmio numa cerimnia realizada na presena
da familiar real em Amesterdio. Em 2007, o
Prmio Principe Claus decidiu homenagear
artists e organizaoes que trabalham para
impedir o poder destrutivo dos conflitos, pro-
movendo a beleza, o dialogo e o respeito, a
dignidade e auto-estima face devastaao.
Dez prmios mais pequenos de 25.000 euros
foram atribuidos, nomeadamente, ao produtor de
teatro e revolucionario cultural, Augusto Boal
(Brasil), actriz e poetisa Patricia Ariza, que
trabalha na Colmbia, ao cartonista da Tanznia
Gado, ao grupo artistic Ars Aevi (Bsnia e
Herzegovina), Unio Sudanesa de Escritores
(Sudao) e Radio Isanganiro fundada em 2002,
no Burundi, por um grupo de jomalistas. M


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008








































r L


O patrimnio, material ou imate-
rial, um element essencial da
identidade de um pais. Portanto,
a sua protecao uma obriga-
ao moral e de responsabilidade pblica. Os
Camares compreenderam isto perfeitamente
e tm feito grandes esforos nessa area.
O Ministrio da Informaao e Cultura dos
Camares, aquando da realizaao dos
Estados Gerais da Cultura, tomou resoluoes
e assumiu compromissos em terms de valo-
rizaao do patrimnio daquele pais.
Contudo, a partir de 1980, com o concurso do
Gabinete de investigaao cientifica e tcnica
do ultramar e do Fundo universitario de
apoio investigaao, lanou-se num vasto
program de investigao sobre o inventirio
do seu patrimnio. Isto levou instituiao de
estruturas como centros de informaao, edu-
caao, formaao e investigaao.
Deste modo, existed em Iaund, em Douala e
nalgumas localidades do Oeste dos Camares
alguns museus, galerias e monumentos, onde
encontramos colecoes de natureza diverse
(etnografia, histria local e regional, geogra-
fia, histria natural, artes plasticas). O
Ministrio da Cultura muniu-se igualmente
de uma political de aquisiao de obras con-
temporneas atravs de concursos de criaao.
No entanto, a rede de museus demasiado
fraca, se considerarmos toda essa riqueza.


Museu Nacional dos Camaroes: entrada principal.
Achille Komguem I


Estao abertos apenas 15 museus e alguns nio
merecem essa designaao. Os museus priva-
dos representam mais de metade dessas ins-
tituioes em actividade.



> Letargia

Apesar das resoluoes tomadas, existe uma
certa letargia na gestao dos museus pblicos.
Por esse motivo, encontramos ai alguns proble-
mas. Alm da falta de espao e de equipamen-
to necessrios para exposiao permanent, os
meios financeiros sao demasiado limitados
para o bom funcionamento dos museus: o equi-
pamento de control do clima, os servios edu-
cativos e misses de recolha e transport das
obras pelo pais e a montagem das bibliotecas
especializadas em museologia e cincias auxi-
liares. As obras ficam, assim, expostas a diver-


sos factors de degradaao. Temos tambm, e
sobretudo, dificuldade em recrutar pessoal
qualificado. A isto se devem os enormes atrasos
observados em matria de conservaao e res-
tauraao.
Alias, todas estas lacunas colocaram o proble-
ma da prpria pertinncia da criaao de tais ins-
tituies em Africa a nivel geral. Felizmente, o
equivoco foi retirado aquando de um encontro
organizado pela ICOM, no Gana, em 1991
(Que museus para Africa? Patrimnio de futu-
ro), que teve como efeito a melhoria da situaao
dos museus africanos. Actualmente, os organis-
mos intemacionais tomam medidas para ajudar
esses pauses a enfrentar verdadeiramente estes
desafios. Espera-se que os especialistas da cul-
tura dos Camaroes que participam nestes semi-
nnrios possam concretizar as suas sugestes
para ultrapassar as dificuldades ligadas con-
servaao das colecoes e garantir uma melhor
valorizaao do patrimnio cultural camarons
junto do pblico.

* Historiadora de Arte.
Professora na Universidade de Yaound I,
Camares
1- Actas dos Estados gerais da cultural, laund,
Palacio dos Congressos, Ministrio da Informaao e
da Cultura, 23-26 de Agosto de 1991, p. 54, 55.

2 -Boletim ZAMANI, 1993, n5/6, p. 8.
a


C*RREIO






A4


ici:.-"1


M..
f il
CI *L'ta
clri~q


D iz-se cada vez mais
que na regiao do -
Pacifico e das
Caraibas, por
exemplo, muitas das pequenas
ilhas remotas, que sao de uma
rara beleza, correm o risco de
desaparecer.
Desde ha um certo tempo, a
Terra nao cessa de aquecer. Nos
pauses mais frios, como na
Europa, ha menos neve do que
antes, chove um pouco menos e,
por vezes, esta calor quando
devia estar frio.
Nos pauses onde nao ha Invero,
ha muito calor, quase sempre
demasiado calor. Em certas
regies, ji quase ndo chove. Nestas circunstncias, as plants crescem
dificilmente e dificil encontrar agua para beber, porque a agua da
chuva que penetra profundamente na terra. esta agua que se bombeia e
que sai das torneiras.
Verifica-se igualmente um aumento do numero de grandes catastrofes
mortiferas: furaces, terramotos, inundaoes, vulces em erupao. No
P6lo Norte e no Polo Sul, onde havia constantemente enormes quantida-
des de gelo, hoje o gelo derrete depressa. Ao derreter, aumenta a quanti-
dade de agua nos mares.
Em certas zonas da Europa, por exemplo na Blgica e nos Paises
Baixos, e sobretudo nas pequenas ilhas do Pacifico, que sao como gran-
des corais plans, quase ao nivel do mar, isto pode ser grave. Num des-
tes pauses, Quiribati (deve pronunciar-se Kiribass), duas das pequenas
ilhas foram desaparecendo pouco a pouco no mar. Nao eram habitadas,
mas havia gente que dava ali os seus passeios. Conta-se que, um dia, o


F sPrincipe de Gales, o Principe
SCarlos de Inglaterra, quando
jovem, almoou numa delas.
Nalgumas pequenas ilhas de
Quiribati, a populaio tem medo
e tanto as pessoas deste pais
v fcomo de um outro, as Ilhas
Marshall, ja partiram refugiar-se
noutro pequeno pafs da regiao
que se chama Niue. Niue tem
sorte, montanhoso.
Mas o pafs ameaado do Pacifico
de que mais se fala Tuvalu. Diz-
se que podera ser o primeiro pais
a desaparecer inteiro se a agua do
mar continuar a subir. Visitamos
Radek Steska, 2007 Manifesta! Tuvalu. Dizia-nos uma avozinha:
SAfnca e Mediterraneo
"Deixarei partir os meus filhos e
os meus netos, mas eu ficarei, aqui que quero morrer." triste.
As crianas aprendem nas escolas o que se pode fazer para ajudar o pafs:
nio esbanjar a agua, protege as arvores, etc. Aprendem igualmente o que
devem fazer em caso de perigo, se o nfvel das aguas subir. Mas nem pen-
sar em partir. Susana, de 9 anos, diz-nos: "Nao sei o que fazer, mas nio
quero partir." Uma outra mida, Tepula, disse-nos que subira a uma arvo-
re e aguardara que o nfvel das aguas baixe. Um mido, Teisi, quer ficar
para vigiar o seu pafs e Kanava, outro rapaz, diz que enchera o mar para
fazer uma montanha.
A verdade que Kanava tem razao. Ele pensa o mesmo que os governan-
tes do seu pafs que querem construir uma ilha artificial mais alta perto da
praia. Para isso, necessario muito dinheiro e materials. Pensam, como
estas crianas, que as pessoas do mundo inteiro vao dar uma ajuda para
evitar que o seu belo pafs desaparea do mapa.
H.G. M


N. 4 N.E. JANEIRO FEVEREIRO 2008













Cartas do




leitores


Fico feliz por esta Revista muito educativa estar de volta e estou ansioso
por ler novamente sobre os acontecimentos nos Paises ACP.

Obrigado pela ediao numero 1 do O Correio. Depois de ler a publica-
ao, acolho o novo estilo com prazer.
Michel Baudouin,
Professor de agronomia na Universidade de Gembloux h'. .. .. i
e perito em desenvolvimento rural

Parabns pela vossa revista. Melhores cumprimentos,
Pamla d'Authier
Cirad
Direcdo das Relages Europeias e Internacionais
D. i. .... .... para a Europa comunitdria (Montpellier Franga)


A vossa opinio
e as vossas reaces
aos nossos artigos
interessam-nos.
No hesitem em
no-las comunicar.


Estou a escrever a partir do Forum Europeu da Juventude (FEJ). Estamos
felizes por saber que O Correio ACP-UEvoltou a ser lanado.
Angela Corbalan
Coordenadora de Imprensa e Relages Externas da FEJ
(Bruxelas B!. I.. .. i
Deixem-me felicitar-vos pelo restabelecimento desta publicaao que tem
sido sempre extremamente valiosa para nos no Uganda.
Com agradecimentos,
Michel Lejeune
Vice-Director executive
NCHE (Kampala Uganda)
Bem-vindo de volta a revista O Correio ACP-UE muito educativa nos pal-
ses ACP-UE. Aceitem os meus parabns por terem voltado a imprimir esta
revista. Atenciosamente
Asagaya Jasper
laund Camaroes


I G ElDfl aneiro- Maio 2008-

I janeiro Maio 2008


Janeiro 2008
> 22-23 Frunm do sector privado africano
organizado pelo Departamento dos
Assuntos Econmicos da Uniao
Africana -Adis Abeba

> 28-29 Conselho de Ministros da UE
sobre Assuntos Gerais e Relaoes
Extemas -Bruxelas

> 31-2.2 Conferncia dos Chefes de Estado
e de Govemo da Uniao Africana
Adis Abeba


feuereiro 2008
> 18 Conselho de Ministros da UE
sobre Assuntos Gerais e Relaoes
Extemas -Bruxelas

> 20-22 PNUE Frum Ministerial
Mundial para o Ambiente 10
sessao extraordinaria Mnaco

maro 2008
> 10-11 Conselho de Ministros da UE
sobre Assuntos Gerais e Relaoes
Extemas -Bruxelas

> 15-22 Assembleia Paritaria ACP-UE
Liubliana


> 17-20 CNUCED -Conselho sobre o
Comrcio e o Desenvolvimento
24" sessao extraordinaria
Genebra

fbril 2008
> 28-29 Conselho de Ministros da UE
sobre Assuntos Gerais e Relaoes
Externas Bruxelas

maio 2008
> 16-17 Cimeira UE-Amrica Latina-
Caraibas (EU-LAC) -Lima

> 26-27 Conselho de Ministros da UE
sobre Assuntos Gerais e Relaoes
Exteras -Bruxelas M


--- ---------- ---------- ------- .









II 'li,


CARAIBAS
-ii'ii i il..,i i: ,i li. i L i,.. Belize Cuba Dom inica Granada Guiana Haiti
i ,, i i :-i.L, i.i i .. i:,,i .. : .. Cristvao e Nevis Santa Lcia Sao Vicente e
p n ,,,i i r-, T ,i 1,i ,- ,- T,,I, go
i
'1'















ARICA







Africa do Aii iii ii.i i n i i .L'ii i i.Il
Chade
M a rfim I.,,.. .. : .. : .- ,ii .- i : i i:i .-
Equatoriii I1. i1 1 1 1. 1 I


_ ,


PACIFICO
Cook (llhas) Fiji Marshall (llhas) Micronsia (Estados Federados da) Nauru Niue Palau
PapuAsia-Nova Guin Quiribati Salomao (llhas) Samoa Timor Leste Tonga Tuvalu
.'n ii til

s'




..
















UNIAO EUFEIA
Alemanhe rliii I Bulgari, I ' .I ,-, Espanha
Estnia F,, i' iij., l i : Grcia -,,i,, ,im ,,, L i emburgo
Malta Paises Baixos Polnia Port,.i i i i i i 'i i :. -ia Sucia














l/s-I



.' .iI


As listas dos pauses publicadas pelo Correio nao prejulgam o estatuto dos mesmos e dos seus territrios, actualmente ou no future. O Correio utiliza mapas de inmeras fontes.
O seu uso nao implica o reconhecimento de nenhuma fronteira em particular e tampouco preludica o estatuto do Estado ou territrio.


-;r F


,..
iit
ti


























\' i ~'~i 'Id~~



I ii




Full Text

PAGE 1

Venda proibida ISSN 1784-682XC rreioOA revista das rela›es e coopera‹o entre çfrica-Cara’bas-Pac’fico e a Uni‹o Europeia N°4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 REPORTAGEMHAITI despontar da esperançaDOSSIERIlhas do Pacífico.As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes REPORTAGEMHAITI despontar da esperançaDOSSIERIlhas do Pacífico.As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes

PAGE 2

A revista das rela›es e coopera‹o entre çfrica-Cara’bas-Pac’fico e a Uni‹o Europeia ComitŽ Editorial Co-presidentes John Kaputin, Secret‡rio-Geral Secretariado do Grupo dos pa’ses de Africa, Cara’bas e Pac’fico www.acp.int Stefano Manservisi, Director Geral da DG Desenvolvimento Comiss‹o Europeia ec.europa.eu/development/ Equipa editorial Director e Editor-chefe Hegel Goutier Colaboradores Franois Misser (Editor-chefe adjunto), Debra Percival Editor assistente e produ‹o Joshua Massarenti Colaboraram nesta edi‹o Ruth Colette Afabe Belinga, Marie-Martine Buckens, SŽbastien Falletti, Sandra Federici, JeanFranois Herbecq, Andrea Marchesini Reggiani, Gotson Pierre, Mirko Popovitch. Rela›es Pœblicas e Coordena‹o de arte Rela›es Pœblicas Andrea Marchesini Reggiani (Director de Rela›es Pœblicas e respons‡vel pelas ONG e especialistas) Joan Ruiz Valero (Respons‡vel pelas rela›es com a UE e institui›es nacionais) Coordena‹o de arte Sandra Federici Pagina‹o, Maqueta Orazio Metello Orsini Arketipa Gerente de contrato Claudia Rechten Tracey D'Afters CapaPhyllis Galembo, Servitor Homel Dorival, standing in a sacred space, poses with a ceremonial cup used in rituals, 1995, Soukri, Haiti. Por cortesia de Phyllis GalemboContracapaImagem de BigStockPhoto.com © Holger MetteContacto O Correio 45, Rue de Trves 1040 Bruxelas BŽlgica (UE) info@acp-eucourier.info www.acp-eucourier.info Tel: +32 2 2374392 Fax: +32 2 2801406 Publica‹o bimestral em portugus, ingls, francs e espanhol. Para mais informa‹o em como subscrever, Consulte o site www.acp-eucourier.info ou contacte directamente info@acp-eucourier.infoEditor respons‡vel Hegel Goutier Parceiros Gopa-Cartermill Grand Angle Lai-momo A opini‹o expressa Ž dos autores e n‹o representa o ponto de vista oficial da Comiss‹o Europeia nem dos pa’ses ACP. Os parceiros e a equipa editorial transferem toda a responsabilidade dos artigos escritos para os colaboradores externos. A revista das rela›es e coopera‹o entre çfrica-Cara’bas-Pac’fico e a Uni‹o Europeia C rreioO C rreioO O nosso parceiro privilegiado: o ESPACE SENGHOROEspace Senghor é um centro que assegura a promoção de artistas oriundos dos países de África, Caraíbas e Pacífico e o intercâmbio cultural entre comunidades, através de uma grande variedade de programas, indo das artes cénicas, música e cinema até à organização de conferências. É um lugar de encontro de belgas, imigrantes de origens diversas e funcionários europeus. espace.senghor@chello.be www.senghor.be EDITORIALDas catástrofes naturais ou políticas... e outros efeitos do esquecimento 3EM DIRECTODialogar sempre com o outro. Entrevista com Giovanni Bersani 4PERSPECTIVA 6DOSSIER Ilhas do Pac’fico.Altera›es clim‡ticas e vulnerabilidade9 Tuvalu, um símbolo mundial 10 Viver com o receio constante das alterações climáticas 12 Uma sociedade civil dinâmica 13 Tsunami nas Ilhas Salomão 14 Todas vulneráveis: tirania das distâncias e Anel de Fogo 16 Ilhas do Pacífico submersas devido ao aquecimento climático 17 União Europeia e Estados ACPprocuram estratégias de adaptaçãoŽ 19INTERAC‚ÍES Jornadas Europeias do Desenvolvimento. Juntos frente às alterações climáticas 20 Uma nova parceria estratégica 22 Os APE inflamamŽ a Assembleia Paritária 24COMƒRCIO AÁfrica quer transformar os seus diamantes em casa 27EM FOCO Um dia na vida de Mimi Barthélémy 29NOSSA TERRA O ouro verde no centro das controvérsias 31REPORTAGEM HaitiConstruir com base na estabilidade 34 Temos de saber a quem pertence a terra neste paísŽ 37 Relações haitiano-dominicanas e meios de comunicação 40 Precisamos de irrigação, reflorestação e insumos agrícolasŽ 41 Procura-se crédito para negócios 44 10.º FED visa estradas e governação 46 Aliciar turistas para um país incrívelŽ 48 Captura da alma do Haiti: Sergine André 50DESCOBERTA DA EUROPARomŽniaRoménia, país de contrastes 51 Roménia de Aa Z 52 Um novo país doador 53 Ser africano na Roménia 55 Branco-negro 55 Transilvânia: terra prometida do turismo 56 Qual será o futuro do turismo rural na Roménia? 58CRIATIVIDADE Uma ocasião demasiado rara para valorizar os fotógrafos africanos 59 Prémio Príncipe Claus de 2007 61 Ahistória natural dos museus camaroneses 62PARA OS MAIS JOVENS As ilhas remotas vão mesmo desaparecer? 63CORREIO DOLEITOR/AGENDA64ÍndiceO CORREIO,N¼ 4 NOVA EDI‚ÌO (N.E.)N.4 N.E.JANEIRO FEVEREIRO 2008C rreioOA revista das rela›es e coopera‹o entre çfrica-Cara’bas-Pac’fico e a Uni‹o Europeia

PAGE 3

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008E ditorial 3 Vista sobre Port-au Prince, îleo em tela, de Bottilliers, 2007Copyright Debra Percival Há catástrofes e catástrofes. Aquelas que são susceptíveis de serem provocadas pelas alterações climáticas, as catástrofes naturais e outras, como a tormenta que se abateu sobre o Quénia … um modelo … no final do ano. Embora as catástrofes não sejam previsíveis, são no entanto facilitadas pela negligência e sobretudo pelo esquecimento do ser humano. O grande tema deste número de O Correio é consagrado às alterações climáticas no Pacífico. É um tema que não se apresenta numa perspectiva pessimista, porque a determinação de proteger o seu país e a calma e a alegria de viver da população do pequeno país símbolo da ameaça, Tuvalu, são uma lição de optimismo. Outra razão de optimismo está nas decisões tomadas no âmbito da cooperação entre o grupo ÁfricaCaraíbas-Pacífico e a União Europeia, sobre a prevenção destas catástrofes naturais. Nas Jornadas Europeias do Desenvolvimento em Lisboa, no fim do ano, a União Europeia aceitou, convicta, a ideia de um empréstimo mundial para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar as alterações climáticas, empréstimo este que reforçará as estratégias adoptadas nesta matéria pelo Conselho da União Europeia e pelo Conselho de Ministros ACP-UE. Anova parceria estratégica UE-África, concluída em Lisboa no fim do ano passado, debruça-se igualmente sobre as origens das catástrofes. Entre as suas vinte acções prioritárias, figuram ainda as alterações climáticas mas igualmente a paz e a segurança, a governação democrática e os direitos humanos e outras protecções contra a implosão social, política e económica. A assinatura, mesmo de geometria variável e sem entusiasmo, antes da expiração de uma série de acordos de parceria económica entre a UE e as regiões ou países ACP, demonstrou um comportamento realista de ambas as partes para evitar os riscos de afastar do comércio mundial estes últimos. Acontece então o cataclismo do Quénia, o oásis, aquele país onde as crianças enchem os museus, onde a Bolsa de Nairobi dava lucros avultados aos investidores, para apenas citar algumas glórias deste país. É certo que foram apontadas algumas derivas políticas e de governação. Todavia, embora essas derivas pudessem ter provocado alguns conflitos, não explicam, no entanto, só por si uma tal avalanche de violência a que o mundo assistiu com torpor. O grande esquecido da democracia em muitos países veio ao de cima: a tribo. Não há problema tribal, há, isso sim, o problema do esquecimento da tribo. A democracia à moda europeia, inclusive a dos Estados Unidos, por exemplo, teve em conta, desde a sua origem, o facto «tribal». Não necessariamente no sentido étnico … Hutu e Tutsi serão biologicamente etnias diferentes? … mas no sentido do sentimento de pertença a um grupo. Ponderou o princípio «um homem, um voto» por instâncias como os Senados, onde os grupos minoritário e maioritário têm mais ou menos o mesmo peso, garantindo assim a protecção dos seus interesses vitais. Sem isso, seria reticente em votar por alguém do outro grupo, mesmo sendo o melhor. Acooperação ACP-UE tem provavelmente a possibilidade de aprofundar tal reflexão e agir contra outras catástrofes. Hegel Goutier Editor-chefeDas catástrofes naturais ou políticas... e outros efeitos do esquecimento

PAGE 4

G.B. … Primeiro, há que ter em conta que o desafio era extremamente difícil. Em 1957, 50 dos 53 países africanos eram colónias ou territórios sob controlo. Aindependência e os movimentos de libertação levaram ao poder regimes não democráticos. Entre 1962 e 1989, só tinham governos democráticos o Botsuana, o Senegal e a Maurícia, o que tem constituído uma característica fundamental para a prosperidade e o crescimento económico destes países, em comparação com os países onde os sistemas de partido único, apoiados por uma potência estrangeira, têm prevalecido. Não podemos esquecer que, nessa altura, havia em África a Terceira Guerra Mundial entre os dois blocos em que estava dividido o mundo. Aameaça nuclear impedia que essa guerra se passasse no Norte. Teve então lugar em África. Nos últimos 30 anos, promovemos a criação de parlamentos em todos os países ACPe em muitos deles foram conseguidas melhorias na produção agrícola, nomeadamente nos países onde a fome e a pobreza tinham matado muitas pessoas. Lutámos contra o apartheidŽ até à sua abolição. Partindo de uma terrível herança colonial, 45 anos depois a União Africana (UA) tem a sua própria constituição, um governo central, governos regionais e um parlamento. Não nos esqueçamos do ponto de partida. Quero salientar aqui que a política da UE tomou um rumo muito diferente da dos EUA, porque não se baseia na intervenção militar, mas na utilização de valores e princípios morais em constante mediação, o que nem sempre é visível, mas que tem sido decisivo em muitas situações. A.M.R. … Portanto, é uma história de sucesso para a exportação da democraciaŽ. Mas a violação de direitos humanos é ainda um problema em muitos desses países. Será que a UE fecha às vezes os olhos a estas questões? G.B. … Nós reconhecemos o princípio no Tratado de Lomé III, mas o problema era decidir quem seria o responsável pelo controlo de possíveis violações e, posteriormente, decidir as sanções a aplicar. Tanto o Conselho de Ministros como a Comissão não podiam assumir essa tarefa. Em 1984, a Presidência da Assembleia decidiu assumir esse papel e apresentar casos específicos de violações dos direitos humanos à Assembleia Parlamentar. Em 1986, houve uma aprovação difícil do regulamento. Apartir desse momento, os assuntos relativos aos direitos humanos passaram a ocupar o topo da agenda da Assembleia Paritária ACP-UE. Lembro-me da altura em que telefonei ao Presidente da Somália, Siad Barre, durante uma reunião da Assembleia. Ele tinha proferido sentenças de morte contra três líderes da oposição. Pedi-lhe que lhes perdoasse com base nos princípios da Assembleia. No dia seguinte, estando a Assembleia reunida, ele telefonou-me para me dizer que as sentenças de morte dos líderes tinham sido comutadas em exílio. Outra negociação difícil foi com o Presidente Menghistu da Etiópia, que na altura detinha como prisioneira a irmã mais velha de Hailé Selassié, com noventa anos de idade. Neste caso, a intervenção do VicePresidente etíope da Assembleia foi muito importante. Foi autorizado o exílio da senhora em Londres. A.M.R. … Como foram celebrados os 50 anos do Tratado de Roma? G.B. … Houve muitas comemorações, mas os debates foram escassos dado o Tratado de Roma conter a essência da cooperação com países terceiros. AParte IVtratava esse aspecto integrante do texto. Foi uma das questões mais difíceis e mais debatidas: a França e a Bélgica queriam transferir o fardo da gestão colonial e pós-colonial para a então recém-fundada Comunidade Económica Europeia. AAlemanha opôsse, considerando-o um presente envenenadoŽ. Asolução foi um modelo de parceria de igualdadeŽ com os países coloniais, envolvendo discussões prolongadas em que nada estava garantido e tudo devia ser negociado! Nessa altura, surgiu a ideia de criar um Fundo de desenvolvimento dos países e territórios ultramarinosŽ. O problema é que o nível de financiamento nunca foi suficiente. A.M.R. … Está familiarizado com o antigo O Correio dos ACPUEƒQual é a sua opinião sobre a nova edição? G.B. … Tendo em conta a negligência dos meios de comunicação em termos de cooperação, O Correio tem a possibilidade e o dever de divulgar informações inovadoras e diferentes para reforçar o entendimento mútuo entre a UE e os países ACP. Desejo-vos os melhores auspícios e peço que não parem diante dos obstáculos que poderão encontrar no percurso e que visem uma informação corajosa que ultrapasse o que é puramente técnico para alcançar os corações dos leitores. DIALOGAR sempre com o outro. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 5 4Como membro do Parlamento Europeu tem estado envolvido nas relações Europa-África desde o final dos anos 60. O que poderá dizer-nos sobre as origens do Tratado de Lomé? G.B. … Falemos primeiro da origem do seu nome. Nas reuniões de Outubro de 1974, na Maurícia, foi assinado um acordo sobre as novas estruturas institucionais numa nova Convenção para substituir Iaundé II. No âmbito desta Convenção, chegou-se a um acordo de constituição de uma nova assembleia de representantes europeus e dos países ACP, com mais poderes do que antes e incluindo uma maior participação dos países africanos, de 18 a 46 nações. Mas o problema era encontrar um nome para o novo Tratado! Lagos e Nairobi foram duas sugestões, mas os países francófonos opuseram-se. Convidei alguns dos principais participantes nas reuniões da Maurícia a relançar o debate em Bolonha, Itália, juntamente com o Embaixador Dagadou do Togo. No almoço de encerramento, ocorreu-me a ideia de "Convenção de Lomé", em honra do Embaixador Dagadou. Nessa altura, Dagadou era moderador e Presidente do Comité de Embaixadores dos países ACP. A escolha de um país grande ameaçava a unidade do grupo ACP, mas um país pequeno, como o Togo, não era assim tanto uma ameaça. No início, esta proposta parecia mais uma brincadeira, mas a ideia chegou a Bruxelas e foi apoiada. A.M.R. … Desde os anos 90 tem havido um criticismo à Convenção de Lomé devido à sua incapacidade de resolver os problemas de pobreza e subdesenvolvimento. Qual é a sua opinião? E m directo Andrea Marchesini ReggianiDIALOGAR sempre com o outro. Entrevista com Giovanni BersaniO italiano Giovanni Bersani foi Presidente da antiga Assembleia Parlamentar CEE-ACP de 1976 a 1989 e, posteriormente, o seu Presidente Honor‡rio. Tem sido um dos principais defensores da integra‹o europeia, sobretudo quando se trata das rela›es da UE com o continente africano. Defende a promo‹o da democracia atravŽs da media‹o, do di‡logo e da paz, trazendo ˆ cena valores e princ’pios morais e evitando a interven‹o militar.Giovanni Bersani.© CEFA onlus Andrea Marchesini Reggiani, Giovanni Bersani e Ranieri Sabatucci durante a apresenta‹o doO Correio, DŽlŽgation Culturelle Ð Alliance Franaise, Bolonha 14 de Dezembro de 2007.© Niksa Soric E m directo

PAGE 5

Os APE são acordos recíprocos de comércio livre, mas enquanto que a UE concordou em abrir o seu mercado a todos os bens e produtos dos ACP, com excepção do açúcar e do arroz, sujeitos a curtos períodos transitórios a partir de 1 de Janeiro de 2008, as nações ACPsó serão obrigadas a abrir os seus mercados gradualmente, de acordo com o calendário faseado negociado de 5 a 25 anos para a maioria das mercadorias sensíveis e que abrange 80% ou mais de todo o comércio. Ao abrigo das regras comerciais da Organização Mundial de Comércio (OMC), os signatários de qualquer acordo de comércio livre estão autorizados a excluir determinados bens desde que esses acordos cubram substancialmenteŽ todo o comércio. Consequentemente, muitos ACPoptaram por não incluir nos APE a sua produção agrícola. Até agora, apenas as Caraíbas assinaram um APE como entidade regional2. Este acordo, elaborado com todos os Estados CARICOM, abrange não só as mercadorias mas também o comércio nos serviços, alfândegas, facilitação do comércio, barreiras técnicas ao comércio, medidas sanitárias e fitossanitárias, agricultura e pesca, pagamento e movimentos de capital, concorrência, propriedade intelectual, contratos públicos, assuntos ambientais e sociais e fundos de desenvolvimento, que incentivarão a integração regional. Outros Estados ACP, que já assinaram acordos até à data, são sub-regiões ou um ou dois estados ACPindividuais numa determinada região. Optaram por acordos apenas de mercadoriasŽ com o compromisso de continuar com as negociações sobre outros aspectos do acordo, elaborando um APE global até final de 2008. Amaioria, mas não todos, são países de rendimento médio. Sentiram mais a necessidade de assinar devido à renúncia da OMC, relativa ao acordo de comércio de Cotonu, ter expirado em 31 de Dezembro de 2007. Aalternativa teria sido enfrentar os direitos aduaneiros no âmbito do Sistema Generalizado de Preferências (SGP). Só um pequeno número de países ACPencontrase hoje nesta posição, incluindo o Gabão, a República do Congo, a Nigéria e um grupo de nações do Pacífico, ou seja as Ilhas Cook, Tonga, Ilhas Marshall, Niue, Micronésia, Palau e Nauru. As entidades de comércio da UE indicam que, enquanto o Congo e o Gabão manifestaram interesse num APE, a Nigéria recusou negociar um APE nesta fase. Acrescentam que, devido ao baixo nível de comércio da UE com o Pacífico, esta região não irá sofrer tantas perdas resultantes da implementação do SGP. Uma declaração recente do Secretariado dos ACPem Bruxelas afirma: Os ACPpedem à União Europeia que tome medidas susceptíveis de garantir a continuação do comércio nas mesmas condições, de modo que os operadores económicos permaneçam no mercado e a prosperidade e o bem-estar dos cidadãos dos países ACP não sejam prejudicados.Ž Acrescenta que alguns dos acordos provisóriosŽ tinham sido assinados sob pressão e devem ser revistos aquando da elaboração de acordos globais no decorrer de 2008. Muitos dos Países Menos Desenvolvidos (PMD) estão ainda indecisos em relação aos APE. O Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, informou que o seu país ainda não está preparado para o comércio livre. Os PMD podem continuar a beneficiar da isenção e de uma quota livre nas exportações para o mercado da União Europeia sob a iniciativa comunitária Tudo Menos ArmasŽ de 2001. Contudo, uma declaração da Direcção do Comércio da UE continua a salientar os benefícios de um APE global: Dão a oportunidade de apoiar a integração progressiva dos ACPna economia internacional e de certificar que o inigualável acesso dos ACPaos mercados da UE trouxe um verdadeiro crescimento do comércio e um desenvolvimento económico alargado. Em suma, a oportunidade de proporcionar o que Cotonu não foi capaz de fazer.Ž1 H‡ um total de 79 Estados ACP, mas a çfrica do Sul tem um acordo comercial bilateral com a Uni‹o Europeia e n‹o participou num APE. 2 Ver no final do artigo os membros Caricom. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 7 Esta iniciativa responde a uma preocupação da sociedade civil, e especialmente da Rede da África Austral Contra o Tráfico e Abuso de Crianças (Southern Africa Network Against Trafficking and Abuse of Children „ SANTAC), apadrinhada por Graça Machel, viúva do antigo Presidente de Moçambique, Samora Machel, e esposa de Nelson Mandela, e pelo Prémio Nobel da Paz, o Arcebispo anglicano do Cabo, Desmond Tutu. Numa conferência organizada por esta ONG em Março de 2007, em Joanesburgo, o director-geral da DG do Desenvolvimento na Comissão Europeia, Stefano Manservisi, deu o seu apoio político a este combate, ao qual se solidarizaram os Comissários europeus do Desenvolvimento e da Estratégia de Comunicação, Louis Michel e Margot Wallström. É um importante desafio. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Internacional das Migrações (OIM) e a UNICEF, o tráfico de crianças é um fenómeno que afecta vários milhares de pessoas na região. Mas é difícil medir exactamente a amplitude desse tráfico, nomeadamente devido à ausência de assentos de nascimento num país como o Malavi. Juntamente com Moçambique e a Zâmbia, este país é considerado ao mesmo tempo um país fornecedorŽ de crianças e de trânsito para a África do Sul e a Península Arábica. O tráfico de crianças é parte do fenómeno mais amplo do tráfico de seres humanos, cujo volume de negócios mundial relativo ao crime organizado se calcula em cerca de 7 mil milhões de dólares. Suas causas são diversas. A SANTAC evoca a pobreza e a epidemia do VIH-SIDA. Estes males têm como consequência um crescimento considerável do número de órfãos, que são confiados tanto a parentes como a famílias de acolhimento, elas próprias em dificuldade e facilmente enganadas pelas organizações criminosas que, com o pretexto de lhes oferecerem trabalho ou educação, recrutam estas crianças, o mais das vezes meninas, para as redes de prostituição ou para as transformar em escravos. Um dos problemas é que, se os países tentarem fazer face individualmente à situação, não têm a capacidade para controlar as suas fronteiras. Além disso, mesmo se os dirigentes começam a consciencializar-se deste problema, não ratificaram, porém, todos os instrumentos legais internacionais para combater este flagelo. Também não existem instrumentos regionais na África Austral para a prevenção, supressão ou repressão do tráfico de seres humanos. Daí a necessidade de uma resposta regional, cuja primeira etapa será a próxima conferência de Maputo. Esta deverá resultar numa declaração, numa estratégia e num plano de acção de dez anos. Seguidamente, haverá que preparar uma conferência de entidades financiadoras organizada pelos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) durante a qual se apresentará esse plano de acção, para o qual a Comissão Europeia e os Estados-Membros da UE contribuirão com apoio financeiro. Nesta fase, as medidas previstas vão da elaboração de programas de cooperação judiciária e policial à transferência de competência técnica. 6 P erspectiva Debra PercivalTRINTA E CINCONAÇ'ES ASSINAMnovos acordos comerciaisComo anunciou O Correio, 35 dos 781Estados de çfrica, Cara’bas e Pac’fico assinaram Acordos de Parceria Econ—mica (APE) com a Uni‹o Europeia. Todos tinham apreciado a anterior entrada preferencial no mercado da UE ao abrigo do Acordo de Cotonu.A Comiss‹o Europeia pretende organizar, juntamente com os pa’ses da çfrica Austral, uma conferncia regional "de alto n’vel" sobre o tr‡fico de crianas, em Junho de 2008.QUEM ASSINOU ATÉ AGORA? (EM 3 DE MAR‚O DE 2008) APE GLOBAL: Agrupamento regional CARICOM: Ant’gua e Barbuda, Baamas, Barbados, Belize, Dominica, Repœblica Dominicana, Granada, Guiana, Haiti*, Jamaica, Santa Lœcia, S‹o Vicente e Granadinas, S‹o Crist—v‹o e Neves, Suriname e Trindade e Tobago. ACORDOS "PROVISîRIOS" OU "APENAS DE MERCADORIAS": çFRICA CENTRAL: Camar›es COMUNIDADE DA çFRICA ORIENTAL: Burundi*, QuŽnia, Ruanda*, Tanz‰nia*, Uganda* AFRICA ORIENTAL E AUSTRAL: Comores*, Madag‡scar*, Maur’cia, Seicheles, ZimbabuŽ PACêFICO:Papua-Nova GuinŽ, Fiji çFRICA OCIDENTAL:Costa do Marfim, Gana COMUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA çFRICA AUSTRAL (SADC): Botsuana, Lesoto*, Nam’bia, Moambique*, Suazil‰ndiaFonte: DG ComŽrcio, Comiss‹o Europeia www.ec.europa.eu/trade/ * Pa’ses Menos Desenvolvidos (PMD) Franois MisserRepœblica Democr‡tica do Congo (RDC): de volta a Bunia (Ituri). © EC/ECHO/Franois Goemans TRÁFICO DE CRIANÇAS na África Austral: conferência regional em perspectiva TRÁFICO DE CRIANÇAS na África Austral: conferência regional em perspectiva P erspectiva

PAGE 6

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 N ão há dúvida que o Pacífico é uma das regiões mais vulneráveis em termos de riscos de catástrofes causadas pelas alterações climáticas. Estão nesta situação várias ilhas de corais de baixa altitude. Uma delas, Tuvalu, tornou-se num símbolo desta ameaça, mas também da capacidade de resistência e da determinação de um pequeno país a sobreviver. Passa-se o mesmo nas ilhas vulcânicas situadas ao longo do Anel de Fogo (Ring of FireŽ), bem como nas Ilhas Salomão que deploraram, no passado mês de Abril, as devastações de um tsunami causado por um terramoto, resultando em dezenas de mortos e dezenas de milhares de sem-abrigo. As populações destes países ameaçados lamentam que alguns países ricos, em grande parte responsáveis pela poluição que está na base das desregulações climáticas, hesitem em reduzir o seu nível de poluição. Um homem político de Tuvalu assimilou esta atitude a um terrorismo rastejanteŽ que ameaça o seu país. 9 D ossier 8Na Declaração de BruxelasŽ, os ministros fizeram questão de reafirmar a importância do diálogo intra-ACPno âmbito do Acordo de Georgetown, e mais especialmente ao abrigo da parceria ACP-UE, colocando as questões relacionadas com a saúde no centro dos programas de desenvolvimento dos seus respectivos Estados. Será dada prioridade à luta contra as doenças transmissíveis, como por exemplo o VIH e a SIDA, a tuberculose e o paludismo, nomeadamente através da partilha de experiências e de boas práticas. Além disso, os ministros comprometeram-se a promover a assunção dos serviços médicos e o tratamento das doenças não transmissíveis e das doenças tropicais negligenciadas, bem como das doenças resultantes de violência ou de traumatismo, através do reforço dos sistemas de saúde.>Travar a fuga de cérebrosOutra preocupação dos Ministros ACPda Saúde é a fuga contínua do pessoal sanitário altamente qualificado dos seus respectivos países para os países desenvolvidos, nomeadamente para a União Europeia. Para entravar esta fuga, os ministros manifestaram todos o seu empenhoŽ em instituir estratégias concretas para a formação, recrutamento e retenção dos profissionais de saúde locaisŽ. E na mesma ordem de ideias, decidiram promover parcerias com as empresas farmacêuticas a fim de facilitar o acesso, por um custo acessível, aos medicamentos patenteados e mobilizar financiamento para a investigação e elaboração de novos medicamentos ou meios de diagnóstico. Marie-Martine BuckensOs ministros ACP dãoPRIORIDADE ÀSAÚDEFace aos numerosos desafios colocados pelo desenvolvimento da saœde nos Estados e regi›es ACP, os Ministros ACP da Saœde, reunidos pela primeira vez em 25 e 26 de Outubro de 2007 em Bruxelas, decidiram intensificar a sua coopera‹o. ILHAS DO PACÍFICO. Alterações climáticas e vulnerabilidadePor Hegel Goutier Reportagem em Tuvalu, Ilhas Salom‹o e Fiji © IStockphoto.comUma cl’nica em Blantyre (Malawi), inaugurada em Maro de 2006 pela Comunitˆ di Sant'Egidio.© Joshua Massarenti A extens‹o de Tuvalu, principal ilha do atol de Funafuti.© Hegel Goutier P erspectiva

PAGE 7

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 alimentação local, que normalmente atingia um metro de comprimento e tornou-se cada vez mais raquítico, estando mesmo em vias de extinção.> Sensibilização precoce Apopulação de Tuvalu apercebeu-se rapidamente do perigo. Apartir de 1992, altura em que ainda se discutia a realidade ou não das alterações climáticas, os sucessivos governos de Tuvalu accionaram o alarme sobre a catástrofe que estaria, pensavam, a ameaçar o país. No início, as suas preocupações não tiveram muito eco. No entanto, a sua perseverança e o apoio sem falhas da sua sociedade civil que, em certo sentido, emergiu em torno da questão do ambiente, deram os resultados esperados. É de crer que o funcionamento democrático de Tuvalu não seja alheio a este despertar. Apesar dos meios muito escassos, conseguiu-se interessar as instâncias internacionais pelas alterações climáticas, muito antes daqueles que hoje são muitíssimos a se apresentarem como arautos desta causa. Foi uma política de comunicação bem sucedida. O mundo inteiro rende-se a este pequeno país. > Consenso e envolvimento colectivo O consenso dos responsáveis políticos de Tuvalu sobre a problemática do clima também envolve a sociedade civil, que é relativamente forte. AAssociação das Organizações Não Governamentais de Tuvalu, TANGO, agrupa cerca de cinquenta estruturas orientadas para sectores diferentes, embora todas se ocupem, em maior ou menor grau, dos riscos associados ao clima. Todas se unem em volta do Governo para sensibilizar os responsáveis, tanto no exterior como no interior, para esta questão. Annie Homasi, directora da TANGO, personalidade em foco nos fóruns altermundialistas, fala-nos, de entre outros temas, da coordenação entre a sociedade civil e o poder político.> Com matizes, apesar de tudo Há um amplo consenso nas posições governamentais face aos riscos climáticos. Um dos raros a mitigar este consenso foi o reverendo Kitiona Tausi, que acrescenta a questão dos riscos climáticos às outras divergências que o opõem ao Governo sobre questões ideológicas. Para ele, o Governo assinou o Protocolo de Quioto, mas optou por uma instalação petrolífera destinada a fornecer electricidade às outras ilhas do país, em vez de fomentar a energia solar. Atítulo informativo, recorde-se que a sua igreja utiliza painéis solares. Critica igualmente o Governo pela decisão de deslocar parte da população tomando, na sua opinião, uma medida inaceitável, embora reconheça que alguns padres comungam da posição do Governo. Siuila Toloa, professora da Escola Primária de Nauti, presidente da Island Care, ex-secretária-geral da Cruz Vermelha de Tuvalu durante 21 anos, insiste, por exemplo, na responsabilidade colectiva, incluindo a da população de Tuvalu, na procura de soluções para o problema. No entanto, o seu SOS não se destina apenas aos grandes poluidores. "O aquecimento global só pode ser resolvido se todos trabalharmos na mesma direcção. Pelo menos, reduziremos os danos. Acausa dos danos não é Tuvalu, como também não é aquilo que arde em África que nos ameaça. Estou a pensar nos países que não assinaram o Protocolo de Quioto. Aesses peço: 'Ajudem-nos, senão o meu país afundar-se-á'", afirmou. D D o o s s s s i i e e r r Clima Pacífico 11 10B astam algumas vagas, um pouco mais altas do que o habitual, para ser necessário tomar uma barca para ir da pista de Funafuti, que é o atol capital de Tuvalu, ao bar do aeroporto. Tuvalu agrupa um destes conjuntos de ilhas que emergem ligeiramente acima das águas do mar, sob a ameaça permanente de tsunamis e outras catástrofes naturais. 28 de Fevereiro de 2006 foi um dia de terror em várias das nove ilhas do arquipélago de Tuvalu, sobretudo em Funafuti. O atol estende-se num arco de círculo de 12 quilómetros entre a lagoa e o oceano, com uma largura que nunca excede 400 metros e vai-se estreitando à medida que se aproxima das duas extremidades. Culmina a 3,7 metros. Bastou uma vaga de 3,5 metros, a mais alta registada nestas costas, vindo morrer sem muita força, para inundar nesse dia uma boa parte da ilha … o aeroporto ficou mais uma vez submerso … e, ao retirar-se, deixou bolsas de água salgada venenosa para as plantas alimentares. Embora esta inundação seja excepcional, acontece regularmente que, com as grandes marés, as ilhas de Tuvalu fiquem parcialmente submersas. As inundações carreiam imensas calamidades: os parcos lençóis freáticos ficam contaminados e a água salobra estagnada infiltra-se nas fossas de esgotos e mistura-se com os depósitos de imundícies que enchem as fossas cavadas na altura da Segunda Guerra Mundial. Neste contexto, a agricultura é cada vez mais aleatória.> Deterioração cada vez mais acentuada As observações científicas e empíricas comprovam o agravamento da situação nas ilhas de Tuvalu. O nível do mar em volta dos atóis, segundo os dados fornecidos por um sistema australiano de observação das marés, subiu sete centímetros nos últimos 13 anos, ultrapassando assim o simples efeito mecânico do degelo dos glaciares. Na opinião dos peritos, para isso terão provavelmente contribuído outros factores, como El Niño, por exemplo. Um sinal significativo desta deterioração é a imersão de uma porção do atol de Funafuti. A ilhota Tepuka Salivilivili desapareceu na água depois de ter perdido, numa fase anterior, os seus coqueiros. Pessoas idosas comunicaram a O Correio o resultado das suas observações: as chuvas são cada vez mais raras, mas paradoxalmente cada vez mais fortes e tempestuosas, capazes de abrir brechas na terra em locais frágeis, como nos pontos de escavação destas fossas da guerra, o que terá prejudicado o desenvolvimento do pulaka, um tubérculo essencial à D D o o s s s s i i e e r rClima Pacífico Hegel Goutier TUVALU, um símbolo mundial Tuvalu Ž o nome actual das antigas Ilhas Ellice: superf’cies imersas com apenas 26 km2, numa zona exclusiva de 0,75 milh‹o de km2e 10.000 habitantes. Atol de Funafuti. Vista do mar.© Hegel Goutier No cimo: Aeroporto Internacional de Funafuti.© Hegel GoutierAo centro e em baixo, lado esquerdo: Unidade de dessaliniza‹o de ‡gua do mar.© Hegel GoutierEm baixo ˆ direita: Cami‹o dos bombeiros no aeroporto de Funafuti.© Hegel Goutier

PAGE 8

>Medidas em curso para proteger o ambiente Temos zonas de preservação, uma nesta ilha e duas nas outras ilhas. Aideia consiste em preservar essas zonas. E estamos igualmente a tentar promover um programa de sensibilização para as pessoas tentarem manter as ilhas limpas. Os plásticos e as latas têm de ser colocados num sítio determinado, para serem retirados e não sujarem as ilhas. Também estamos a procurar obter assistência do Fundo Mundial para o Ambiente (FMA) para nos ajudar a tentar resolver o problema da erosão das nossas ilhas em Tuvalu. >Um projecto ambiciosoQuanto às cavidades no solo (burrow pits*), havia um projecto financiado pela SOPAC (Comissão de Geociências Aplicadas do Sul do Pacífico) para dragar areia da lagoa e enchê-las, mas esse projecto não resultou por causa do impacto nas margens da lagoa. Para sua informação, o Governo está a tentar apresentar um documento de estratégia para obter apoio de doadores para a construção de uma ilha artificial no lago. Se o projecto conseguir arrancar, talvez aproveitemos a oportunidade, com a assistência de países que ajudaram no projecto inicial utilizando areia, para encher essas cavidades. Para nós é um grande desafio, mas acho que com uma ideia bem coordenada podemos convencer doadores a apoiar este projecto. >Sobrepopulação Está a tornar-se um problema, até agora não muito grave, mas é verdade que temos de encarar os diferentes níveis de desenvolvimento entre as ilhas e a capital para podermos deter a urbanização e impedirmos a vinda de mais pessoas. Estamos a tentar melhorar o nível de vida nas outras ilhas, para que possuam os mesmos equipamentos e o mesmo tipo de projectos de desenvolvimento para atrair financiamentos suplementares. Estamos à procura de modos e de meios para resolver o problema de sobrepopulação que temos em Funafuti.>Sobrepopulação e cultura tradicional No caso de Funafuti, pode dizer-se que temos alguns pequenos problemas, mas nas outras ilhas não. Acultura e os costume ainda permanecem intactos. Asobrepopulação e os problemas de terras não afectam a vida do dia-a-dia e a cultura de Tuvalu. E no que diz respeito à segurança, ainda temos terrenos seguros em Funafuti, embora o excesso de população comece a ser um problema. Temos também de resolver o problema da gestão dos resíduos.>Vão ficar de qualquer modo?É esse o consenso geral neste momento. Se sairmos, perdemos a nossa identidade e a nossa soberania. Por isso tentamos proteger as nossas ilhas o melhor que podemos para poder continuar aqui. Mas se as coisas piorarem, já foram feitos contactos com a Austrália e a Nova Zelândia para ver se podem acolher Tuvalu. Agradeço-lhe esta oportunidade de informar adequadamente os europeus. Assim temos a possibilidade de dizer ao mundo que mesmo sendo pequenos e isolados, não estamos piores do que outras grandes ilhas da região. Para o governo e para os cidadãos de Tuvalu é muito importante avançar, procurar viver com os nossos recursos e os nossos meios, consolidar as reservas financeiras e investir em projectos viáveis e que tragam benefícios económicos à população. Queremos sobretudo manter o conceito de boa governação, que é um grande problema para muitos países do mundo.*Buracos escavados durante a Guerra, onde eram lanados os detritos. H.G. Viver com o RECEIO CONSTANTEDAS ALTERAÇ'ES CLIMÁTICASSr. Lotoala Metia, Ministro das Finanas, do Planeamento Econ—mico e das EmpresasM aatia TOAFA, PrimeiroMinistro em exerc’cio e Ministro dos Neg—cios Estrangeiros de Tuvalu, 59» Assembleia Geral da ONU, 24 de Setembro de 2004: Vivemos em Tuvalu com receio permanente dos efeitos adversos das altera›es clim‡ticas e da subida do n’vel do mar. As nossas condi›es de vida nas ilhas, a apenas trs metros acima do n’vel do mar, e as fontes de segurana alimentar j‡ est‹o gravemente afectadas com o aumento da salinidade das ‡guas subterr‰neas, a eros‹o dos solos, a descolora‹o dos corais e a ansiedade total. A ameaa Ž real e sŽria. E n‹o Ž muito diferente de uma forma lenta e insidiosa de terrorismo contra Tuvalu. ƒ por isso que Tuvalu atribui grande import‰ncia ˆ Conven‹o-Quadro das Na›es Unidas sobre as Altera›es Clim‡ticas e ao Protocolo de Quioto, que proporcionam o quadro global mais adequado para reduzir as emiss›es de gases com efeito de estufa (GEE). TANGO tem 47 organizações membros em todo o país e inclui vários tipos de organizações. Tango é a organização-mãe. Há ONG da área da saúde, grupos para uma maior autonomia económica e grupos humanitários, como a Cruz Vermelha, entidades religiosas e muitas outras. Trata-se de facto de uma vasta representação da sociedade civil. Colaboramos estreitamente com o governo no domínio das alterações climáticas. O nosso governo tem chamado a atenção para estas questões em instâncias internacionais e também a nível regional. Por isso, enquanto ONG constituímos a coligação. Trabalhamos igualmente com o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), sedeado em Fiji, e com o Departamento do Ambiente. Realizámos fóruns regionais da sociedade civil. Debruçámo-nos sobre questões de governação, da saúde e do género a nível regional e fizemos recomendações aos governos. Através destes fóruns estabelecemos prioridades para o que queremos fazer e elaboramos planos de acção. Trabalhamos igualmente na sensibilização dos meios de comunicação social. Em zonas onde as ilhas estão a sofrer erosão, temos projectos para ajudar a comunidade a plantar árvores tradicionais e, por exemplo, para evitar a perda de coqueiros, que também nos asseguram um meio de subsistência. Queremos que a população de Tuvalu se ajude a si própria. Alguns aspectos das alterações climáticas estão fora do nosso controlo. Não os podendo controlar, limitamo-nos a participar nas instâncias internacionais onde podemos exprimir as nossas preocupações. Em vez de sermos dependentes, de nos dizerem o que é preciso fazer, precisamos também, nós próprios, de fazer alguma coisa. Países como os Estados Unidos da América e mesmo a Austrália1, um dos nossos vizinhos, não são muito sensíveis a esta questão. Ainda não ratificaram o Protocolo de Quioto, o instrumento que efectivamente ilustra estas questões. ANova Zelândia é sensível. Temos um regime de migração com a Nova Zelândia, mas a Austrália não nos abre as portas. Colaboramos mais com a sociedade civil da Nova Zelândia. Por exemplo, numa próxima reunião em Wellington vamos discutir os preparativos logísticos para acolher cidadãos de Tuvalu.1 Entrevista realizada antes da mudana de governo na Austr‡lia. H.G. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008D D o o s s s s i i e e r r Clima Pacífico13 12 D D o o s s s s i i e e r rClima Pacífico UMA SOCIEDADE CIVILdinâmicaAnnie Homasi Ž directora executiva da Associa‹o das ONG de Tuvalu (TANGO) e foi condecorada com a Ordem do ImpŽrio Brit‰nico, em reconhecimento do seu generoso apoio ˆs comunidades de Tuvalu e do sul do Pac’fico. Faz aqui um breve resumo do trabalho da sua organiza‹o1. Bandeira de Tuvalu.© IStockphoto.com/Ufuk Zivana

PAGE 9

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008reconstruir-se, foi decretada a proibição da sua captura, afectando as populações que vivem dessas actividades. >O Triângulo de CoralOs danos para o ambiente submarino nas redondezas da Ilha de Choiseul ainda estão a ser avaliados, mas são consideráveis, dizem os especialistas. Esta zona é uma das mais ricas do mundo pela biodiversidade dos corais (cerca de 500 espécies) e dos peixes de recife (mais de 1000 espécies). As Ilhas Salomão fazem parte do Triângulo de Coral (Coral Triangle) com a Indonésia, Filipinas, Malásia, Timor-Leste e Papua-Nova Guiné. Aafectação dos corais pode ter impactos em série na biologia submarina. >Desflorestamento e alterações climáticasNas Ilhas Salomão, 70% das receitas do Estado são provenientes dos direitos de exportação da madeira e da venda de licenças de corte. Aexploração da floresta tropical fragiliza consideravelmente o ambiente. Esta exploração é extremamente intensa na Western Province, a mais atingida pelo tsunami. As previsões geralmente admitidas apontam para a extinção das florestas num prazo de cinco anos apenas. O pouco que resta de floresta já foi objecto de licenças de exploração. Actualmente, os cortes efectuados correspondem a cerca do triplo da quantidade considerada como sustentável. E as empresas florestais continuam a aumentar as suas quantidades. Antes mesmo do tsunami, a mais comprida lagoa do mundo rodeada de ilhas e, talvez, a mais bela segundo os peritos, a Lagoa Marovo na Western Province, estava em grave perigo devido ao estado avançado de desflorestamento da ilha principal. Para começar, já quase não há marisco nem peixes. Além disso, as empresas florestais trabalham em terrenos inclinados, o que não deixa de criar riscos de erosão nas zonas costeiras, acentuando assim os efeitos potenciais da subida do nível do mar. William Atu, director de projecto do gabinete de Honiara de The Nature ConservancyŽ ( www.nature.org ), explica a O Correio que estes sedimentos originados pela erosão numa lagoa profunda, como acontece em inúmeros locais das Ilhas Salomão, danificam os corais e provocam efeitos colaterais na vida marinha em geral. Os estragos provocados pelo tsunami nos corais e na vida marinha das províncias Isabel e Choiseul são objecto de avaliações mais precisas a publicar pela organização. Para o Sr. Atu, é imperativo, quanto mais não seja sob o prisma da protecção do ambiente, que o Governo legisle sobre a exploração das florestas. Mas o Governo não o faz ou não aplica a legislação existente, acrescenta, porque há muita gente da província que é apoiada pelas empresas florestais, sendo também muito importantes os interesses públicos e privados do comércio da madeira no país. Aprática da pesca não é menos insustentável, acrescenta o Sr. Atu. As capturas da maior companhia de pesca comercial do país, Solomon Taiyo LTD, diminuíram 20% desde 1993. H.G. D D o o s s s s i i e e r r Clima Pacífico15 14Ilhas Salomão … 2 de Abril de 2007, 7h40 da manhã. Um tsunami devasta as zonas costeiras na Western Province e em Choiseul. Foi provocado por um terramoto de 8,1 graus na escala de Richter, com um epicentro situado apenas a 45 km da pequena cidade piscatória e de desportos náuticos de Gizo (5000 habitantes), na Ilha de Gizo (Western Province), a 205 km de Chirovanga, Choiseul, a segunda província mais afectada, e a uma distância de 345 km da capital Honiara, na Ilha de Guadalcanal. Devido à sua proximidade com o epicentro do sismo, Gizo não recebera nenhum aviso. Felizmente que as trombas de água caíram durante o dia e as vagas de 3 metros não eram tão altas e tão impressionantes como as do tsunami do Oceano Índico em Dezembro de 2004. Apesar disso, não deixaram de causar dezenas de mortes e deixar milhares de pessoas sem abrigo, nomeadamente em Gizo. Foram igualmente sinistradas as localidades de Naro e Taro Islands e, em menor grau, Vella La Vella, Kolombangana, Nova Geórgia e Simbo na Western Province. Em termos de vidas humanas, os danos teriam sido muito mais graves se as populações em causa não tivessem beneficiado de projectos de sensibilização desenvolvidos após o tsunami do Oceano Índico. Felizmente aconteceu durante o dia e as pessoas puderam observar que o mar refluía, vendo nisso um sinal de que algo não era normal, o que levou a maior parte das pessoas a deslocar-se para terrenos mais altosŽ, especificou o ex-Primeiro-Ministro Sogavare, ainda em funções aquando da visita de O Correio, em Novembro de 2007. Na ilha vulcânica de Simbo, a cerca de trinta quilómetros da Ilha de Gizo, o mar invadiu 200 metros de terra, libertando o enxofre de uma cratera submarina do vulcão. Ainundação da igreja da aldeia provocou a morte do bispo, que procedia a uma ordenação, e de três fiéis. Após o tsunami, registaram-se vinte e cinco réplicas do terramoto intimidando a população, que ficou acantonada nos planaltos da ilha mais tempo do que o necessário, receosa de novo tsunami.>Destruição dos recursos marinhosSegundo as avaliações feitas pelo Secretariado da Comunidade do Pacífico (SPC), o tsunami provocou a destruição não só dos recursos marinhos selvagens, mas também dos centros de aquicultura, o que não deixou de afectar o abastecimento das comunidades instaladas nas faixas costeiras. Aaquicultura diz respeito ao marisco, às pérolas de cultura e às espécies para aquário. As quintas à volta de Gizo foram completamente destruídas. O plano elaborado pelo SPC, após as reuniões com os aquicultores, consistia em ajudá-los a relançar as actividades a partir de exemplares provenientes de outra ilha da mesma província e, entretanto, fornecer mariscos aos agricultores para manterem as suas actividades comerciais. Titana, na Ilha de Gizo, que também lamenta a perda de vidas humanas, Rarumana e Sagheragi foram as aldeias mais gravemente atingidas. Nesta última aldeia, havia reservas importantes de peixes de ornamentação que iam ser transportados para a capital Honiara quando o tsunami irrompeu. Consequentemente, refere ainda o SPC, a antena local do World Fish Center e o centro sub-regional de Gizo de CoPSPSI (Commercialisation of Seaweed Production in the Solomon IslandsŽ) tiveram de abrandar consideravelmente as suas actividades. Para ajudar determinadas espécies a D D o o s s s s i i e e r rClima Pacífico T T S S U U N N A A M M I I n n a a s s I I l l h h a a s s S S a a l l o o m m ã ã o o Extrato: Entrevista com o antigo Primeiro-MinistroManasseh Sogavare.Manasseh Sogavare foi Primeiro-Ministro de 2000 a 2001 e novamente de 2006 a 2007. Derek Sikua sucedeu-lhe em 21 de Dezembro de 2007. O Correio: Depois de ser devastado pelo tsunami, o seu país recebeu apoio suficiente de países estrangeiros para poder regressar à normalidade? Diria que não. Houve muitas promessas. É o que fazem habitualmente os doadores. Gostamos do vosso país e vamos ajudar-vos. Passados 6 meses do brutal acontecimento, ainda esperamos para ver as promessas materializadas. Penso que isto não acontece apenas com as Ilhas Salomão. Dizem que as promessas feitas aquando do tsunami na Ásia não foram totalmente cumpridas. Ainda aguardam a ajuda prometida. Dito isto, penso também que devo ser honesto. Recebemos ajuda dos que prometeram e efectivamente cumpriram. Mas não de todos. O problema mantém-se, há pessoas que prometeram ajuda e que ainda não se manifestaram. Sede do Servio de Meteorologia das Ilhas Salom‹o.© Hegel Goutier Piroga.© IStockphoto.com/Longshots

PAGE 10

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008"Os países em desenvolvimento das ilhas do Pacífico só são responsáveis por 0,03% das emissões mundiais de dióxido de carbono. E, no entanto, prevê-se que estes países tenham que enfrentar as consequências mais precoces e mais graves das alterações climáticas nos próximos dois séculos.Ž Já em 2001 era este o cenário apresentado pelo Grupo Intergovernamental de Peritos sobre as Alterações Climáticas (GIEC), incumbido pelas Nações Unidas de assistir as Partes na Convenção Internacional nos aspectos científicos das alterações climáticas. No seu relatório de 2007, o GIEC precisou o seu ponto de vista: Nas pequenas ilhas receiase que a deterioração das condições nas faixas costeiras afecte os recursos locais, nomeadamente a pesca, e reduza o valor turístico destes destinos. Asubida do nível do mar deverá agravar as inundações, o efeito das tempestades, a erosão e outros riscos das faixas costeiras, ameaçando assim as infra-estruturas, o habitat e as instalações que constituem os meios de subsistência das comunidades insulares. As alterações climáticas reduzirão os recursos hídricos em muitas ilhas de pequenas dimensões, por exemplo nas Caraíbas e no Pacífico, de tal maneira que serão insuficientes para satisfazer a procura nos períodos de pouca precipitação.Ž>Refugiados climáticosMinúsculas rochas vulcânicas atiradas e espalhadas no oceano, a maior parte das ilhas do Pacífico são recifes coralinos que mal excedem o nível do mar, quando não se encontram situadas abaixo deste nível, como acontece com a República de Quiribáti, constituída por três arquipélagos, 32 atóis e uma ilha isolada. O ponto culminante de Quiribáti é Banaba e os seus 81 metros. Tuvalu, Estado da Polinésia, tem oito atóis cujo ponto mais alto se situa a 4,5 metros acima do nível das águasƒ Metade dos seus 11.636 habitantes vive abaixo de três metros de altitude. Ora, as alterações climáticas tornam as marés altas … águas de até 3 metros acima do nível normal … cada vez mais frequentes. Tuvalu é o primeiro país onde as pessoas tiveram de abandonar as suas terras para escapar às inundações. Quiribáti e Vanuatu também se vêem forçadas a realojar as populações vítimas da erosão das faixas costeiras e da subida do nível do mar. Esta migração forçada, nota um relatório das Nações Unidas, implica uma necessidade urgente de planos coordenados, tanto a nível regional como internacional, para realojar as comunidades ameaçadas e criar um arsenal político, jurídico e financeiro adequadoŽ. D D o o s s s s i i e e r r Clima Pacífico17 16As ilhas do Pacífico formam uma das regiões do mundo mais susceptíveis de ser afectadas por alterações climáticas devido à sua vulnerabilidade dependente de vários factores: as suas pequenas dimensões, o seu afastamento (a tirania das distâncias), as suas estruturas geológicas … são muitas vezes ilhas coralinas à tona da água … , a sua posição nas linhas de deslize das placas tectónicas e, portanto, os terramotos e os tsunamis (o famoso Anel de Fogo que se estende até às Américas e ao Japão e desce até à Nova Zelândia). Sem falar de uma gestão dos recursos, por vezes insustentável. Todas, ou quase todas, estão em situações semelhantes ou raramente mais invejáveis que Tuvalu ou as Ilhas Salomão. Eis alguns exemplos. Quiribáti culmina a 87 metros, mas muitas destas ilhas são recifes coralinos cobertos por dois ou três metros de areia, sem rios nem nenhuma fonte de água potável. Algumas ilhas de Quiribáti, nomeadamente Banaba, foram fragilizadas pela exploração do fosfato pela British Phosphate Commission e outras, nas Lines Islands, por ensaios das bombas a hidrogénio do Reino Unido e dos Estados Unidos durante o período colonial. AIlha de Tarawa (70.000 habitantes) tem os mesmos problemas que Tuvalu, apesar de ser maior. Num dos seus recentes relatórios, o Programa Regional para o Ambiente do Pacífico Sul (SPREP)1confirmou que dois ilhéus inabitados de Quiribáti … Tebua Tarawa e Abanuea … foram submersos em 1999. As costas dos 19 atóis das Ilhas Marshall estão totalmente deterioradas. Para as proteger, como em Quiribáti, a população amontoa ali desesperadamente todo o tipo de materiais usados volumosos, camiões, carros velhos e outras máquinas usadas e cobrem-nos de pedras. As Ilhas Marshall e Quiribáti já têm os seus primeiros refugiados ecológicos na pequena ilha alta de Niue. Papua-Nova Guiné. Rios da dimensão do Amazonas quando os seus cursos evoluem em distâncias relativamente curtas. Em 19 de Setembro de 1994, uma explosão de vários cones do vulcão Rabaul destruiu, em grande parte, a cidade do mesmo nome. Certas ilhas adjacentes também estão ameaçadas de extinção. É o caso, nomeadamente, das Ilhas Carteret, com cerca de 2000 habitantes que reconstruem sem parar diques de protecção e tentam afastar os mangues sem muita esperança de sucesso. Foi tomada a decisão de os transferir em pequenos grupos para as Ilhas Bougainville a quatro horas de navegação. Nauru, muito rica no passado graças às minas de fosfato, foi devastada e fragilizada até às suas fundações por 50 anos de sobrexploração deste mineral agora esgotado.1Instaurado em 1974 pela Comiss‹o do Pac’fico Sul, o SPREP tem por miss‹o ajudar os pa’ses da regi‹o a proteger o ambiente e a praticar um desenvolvimento sustent‡vel.H.G. D D o o s s s s i i e e r rClima Pacífico TODAS VULNERÁVEIS: tirania das distâncias e ANEL DE FOGOILHAS COOK 15 ilhas, 13 das quais habitadas; coralinas no Norte e vulc‰nicas no Sul; 240 km2; 1.800.000 km2de ‡guas territoriais; 19.450 habitantes (2000) FIJI 332 ilhas, 100 das quais habitadas, 2 delas muito grandes; 18.272 km2; 1.260.000 km2de ‡guas territoriais; 799.265 habitantes (2000) QUIRIBçTI 28 at—is, 17 dos quais habitados; 690 km2; 3.600.000 km2de ‡guas territoriais; 84.440 habitantes (2000) ILHAS MARSHALL 5 ilhas coralinas, 29 at—is e 1200 ilhŽus; 170 km2; 2.131.000 km2de ‡guas territoriais; 51.665 habitantes (2000) ESTADOS FEDERAIS DA MICRONƒSIA 4 grupos de ilhas que perfazem 607 ilhas, algumas vulc‰nicas e outras do tipo at—is coralinos; 700 km2; 2.978.000 km2de ‡guas territoriais; 117.644 habitantes (2000) NAURU 1 ilha coralina sobrelevada, 24 km2; 320.000 km2de ‡guas territoriais; 12.500 habitantes (2000) NIUE 1 atol coralino sobrelevado; 259 km2; 390.000 km2de ‡guas territoriais; 1800 habitantes (2000) PALAU 200 ilhas coralinas ou vulc‰nicas, 8 das quais habitadas; 487 km2; 600.900 km2de ‡guas territoriais; 19.485 habitantes (2000) PAPUA-NOVA GUINƒ 462.840 km2, 3.120.000 km2de ‡guas territoriais; mais de 5.099.000 habitantes (2000) SAMOA 2 ilhas principais e 7 ilhas adjacentes; 2857 km2; 120.000 km2de ‡guas territoriais; 169.900 habitantes e cerca de 100.000 que vivem no estrangeiro (2000) ILHAS SALOMÌO 6 grandes ilhas, 20 pequenas e centenas de ilhŽus; 28.446 km2; 1.630.000 km2de ‡guas territoriais; 416.200 habitantes (2000) TONGA 169 ilhas, 45 das quais habitadas; 699 km2; 700.000 km2de ‡guas territoriais; 98.850 habitantes (2000) TUVALU 9 at—is coralinos, nos quais h‡ 8 ilhas habitadas; 26 km2; 757.000 km2de ‡guas territoriais; 9900 habitantes (2000) VANUATU 12 ilhas grandes e cerca de 70 pequenas habitadas; 12.189 km2; 680.000 km2de ‡guas territoriais; 192.910 habitantes (2000) Os 14 pa’ses ACP do Pac’fico: ILHAS DOPACÍFICO SUBMERSAS devido ao AQUECIMENTO CLIMÁTICOCostas corro’das, len—is fre‡ticos salinizados, primeiros xodos de refugiados "clim‡ticos": o aquecimento clim‡tico j‡ Ž uma dura realidade para a maioria dos insulares do Pac’fico. Do mesmo modo, Ž dada prioridade a programas que permitam a esta popula‹o e ao seu ambiente adaptar-se ˆ nova situa‹o clim‡tica. Estes programas beneficiam do apoio da Uni‹o Europeia. Atol de Funafuti.© Hegel Goutier Imagem do atol de Funafuti. Ë direita o oceano, ˆ esquerda a lagoa. © Hegel Goutier

PAGE 11

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008A s ilhas ACPdo Pacífico não serão as únicas a sofrer severamente as consequências das alterações climáticas. Os Estados insulares das Caraíbas e a África também se encontram entre os pontos do globo que deverão ser, e já o são, os mais afectados pelo aquecimento anunciado. Reconhecendo a responsabilidade dos países industrializados neste processo, a Comissão Europeia elaborou, em 2003, uma estratégia destinada a ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar os desafios colocados pelas alterações climáticas. Esta estratégia foi adoptada em 2004 pelo Conselho de Ministros da UE através de um plano de acção para o período 2004-2008. A partir daí, o processo acelerou um pouco. Depois, houve as Jornadas Europeias do Desenvolvimento (JED), cujo tema da segunda edição, organizada em Novembro passado em Lisboa, foi consagrado às alterações climáticas. As Jornadas aconteceram apenas um mês antes da Conferência Internacional sobre o Clima que, em Bali, adoptou finalmente um roteiroŽ, empenhando países industrializados e países em desenvolvimento a envidar esforços para reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa para além de 2012, data final do primeiro período do Protocolo de Quioto. Na reunião de Novembro, em Lisboa, o Comissário Europeu do Desenvolvimento, Louis Michel, lançou um apelo à constituição de um empréstimo mundialŽ para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar as alterações climáticas. Imaginemos de maneira criativa um Empréstimo Mundial que permita angariar meios para responder a este problema criado pelo clima. Se não adoptarmos, aqui e agora, uma decisão política forte com resultados imediatos, estaremos na mesma situação daqui a 15 anos.Ž Este empréstimo, acrescentou o Comissário, deverá ser gerido pelas instituições internacionais e totalmente apoiado e financiado pelos países mais ricos.> Necessidade de aliança global O Empréstimo Mundial permitiria, nomeadamente, apoiar as acções previstas na estratégia adoptada pelo Conselho da UE em 2004, mas também pelo Conselho Conjunto ACP-UE de Junho de 2006, em Port-Moresby, na PapuaNova Guiné. Mais recentemente, a Assembleia Paritária ACP-UE, reunida de 19 a 22 de Novembro em Kigali, exigiu a criação de uma estratégia completa sujeita a prazosŽ, a fim de integrar a prevenção das catástrofes e as estratégias de adaptação concebidas em todos os planos de desenvolvimento nacionais, na política europeia de desenvolvimento e na ajuda humanitária. Solicita também aos países ACPe à UE que fixem um objectivo específico para as energias renováveis, que deveriam ser o elemento central dos programas de cooperação. Por sua vez, Bernard Petit, director-geral adjunto do Desenvolvimento na Comissão Europeia, reconheceu nas JED de Lisboa que a parte da ajuda actualmente consagrada às estratégias de adaptação era insignificanteŽ e indicou as duas orientações principais que a UE deveria seguir. Primeiro, a necessidade de incluir a parceria UE-África nas estratégias de adaptação. Segundo, definir uma abordagem mais política que englobe todos os países. É nesta perspectiva que a UE trabalha actualmente na construção de uma aliança global, envolvendo os países em desenvolvimento, especialmente os Estados insulares, e atribuindo uma grande importância às alterações climáticas nas estratégias de desenvolvimento. M.M.B. D D o o s s s s i i e e r r Clima Pacífico19 Perante esta subida inexorável das águas e a recrudescência de ciclones por vezes assustadores … como o ciclone Val, de funesta memória, que, em 2001, devastou a ilha de Samoa, provocando danos avaliados em 230% do PIB desta pequena economia e causando a morte de 13 pessoas …, a Comissão Europeia criou uma Facilidade ACP-UE para as catástrofes naturais. Também estão previstos outros fundos. Por sua vez, o secretáriogeral do Programa Regional Oceânico do Ambiente (PROE), Asterio Takesa, indicou que a UE já contribuiu com 200 milhões de euros para a adaptação às alterações climáticas e 150 milhões de euros para planos de acção nacionais. O PROE é uma organização intergovernamental encarregada de promover a cooperação, apoiar os esforços de protecção e melhoria do ambiente do Pacífico e favorecer o seu desenvolvimento sustentável. O PROE conta com 25 membros, quatro países desenvolvidos com interesses directos na região (França, Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos) e 21 países e territórios insulares do Pacífico: os Estados Federados da Micronésia, Fiji, Guam, Ilhas Cook, Ilhas Marianas do Norte, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Quiribáti, Nauru, Niue, Nova Caledónia, Palau, Papua-Nova Guiné, Polinésia Francesa, Samoa, Samoa Americana, Tokelau, Tonga, Tuvalu, Vanuatu e Wallis e Futuna.>Ecossistemas em perigo Para Espen Ronneberg, responsável pelas questões climáticas do PROE, o Pacífico representa uma grande variedade de desafios, devido à sua topografia, à capacidade limitada para enfrentar as mutações ambientais e à escassez de competências locais. No seu entender, embora exista um consenso científico sobre o efeito de estufa e a realidade das alterações climáticas, ninguém sabe ao certo se as temperaturas mundiais vão continuar a subir ou se haverá acontecimentos imprevistos. E acrescenta que, se os recifes coralinos e os ecossistemas insulares podem naturalmente adaptar-se em certos limites, ninguém sabe, porém, o que ocorrerá se estes limites forem atingidos rapidamente. É o caso, nomeadamente, dos mangues, dos ecossistemas preciosos e com grande valor económico. Segundo um estudo financiado, entre outros, pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) (Os mangues das ilhas do Pacífico face a um clima em evolução e à subida dos maresŽ 2006), cerca de 13% dos mangues do Pacífico correm o risco de extinção, sendo os das Ilhas Fiji e Samoa os mais ameaçados. Neste estudo, Kitty Simonds, director executivo do Conselho de Gestão das Pescas do Pacífico Ocidental, explica que devido aos laços funcionais entre as zonas húmidas de mangues e os restantes ecossistemas costeiros, bem como à sua contribuição importante para a produção haliêutica nas proximidades das faixas costeiras, os governos e as comunidades locais das ilhas do Pacífico devem agir imperativamente para assegurar o aprovisionamento sustentável dos serviços inerentes aos ecossistemas de mangues. O Conselho procedeu recentemente à substituição de todos os seus planos actuais de gestão das pescas por planos integrados, baseados nos ecossistemas, para cada arquipélago. As conclusões e as recomendações do presente estudo contribuem para a elaboração destes novos planos relativos aos ecossistemas haliêuticos e adaptados ao localŽ. M.M.B. D D o o s s s s i i e e r rClima Pacífico UNIÃO EUROPEIA E ESTADOS ACP PROCURAM  ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO ŽFloresta destru’da.© IStockphoto.com/Geralda Destrui›es provocadas pelo tsunami na prov’ncia de Choiseul. © Robert Iroga Curso de sensibiliza‹o sobre as altera›es clim‡ticas. © Hegel Goutier 18

PAGE 12

Estados insulares, nos países africanos, nomeadamente os do Sael. É importante que a sua voz seja ouvida em Washington, Pequim ou Nova DeliŽ, declarou José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, presente na capital portuguesa. Um apelo repetido pelo convidado surpresa das JED 2007, Kofi Annan, que usou de toda a sua autoridade para apontar aos países ricos as suas responsabilidades. Não nos podemos dar ao luxo de falhar. Necessitamos de um regime pós-Quioto que comece hoje, não amanhã!Ž, declarou em tom grave o antigo Secretário-Geral da ONU. >A aldeia das ONGAntes de serem uma plataforma política, as JED são um espaço de debate e de encontro entre os profissionais e o grande público, que fora convidado a visitar em grande número a aldeia das ONGŽ e a participar nas discussões. No parque da FIL, 650 lisboetas, jovens ou menos jovens, aliaram-se às figuras de proaŽ das alterações climáticas e às ONG, oriundas tanto do Norte como do Sul. Yvo de Boer, secretário executivo da ConvençãoQuadro sobre as Alterações Climáticas das Nações Unidas, encontrou os representantes da Climate Action Network ou ActionAid International. Com mais de 2100 participantes, Lisboa foi o ponto de encontro entre Davos e Porto AlegreŽ, declarou entusiasmado Durão Barroso. O tema das alterações climáticas foi abordado sob todos os prismas nas múltiplas mesasredondas, tendo como prioridade o enraizamento local. Os países ACPnão foram esquecidos no debate específico sobre as consequências do aquecimento para os seus agricultores. É útil estar aqui. Isto permite trocar conhecimentos, alargar contactos... e, eventualmente, encontrar financiamentos para os nossos projectosŽ, explica Samuel, agricultor do Gana. As JED também são um grande salão onde os profissionais do desenvolvimento podem encontrar-se, trocar impressões e... fazer negócios. É um espaço incontornável no sector, nomeadamente para encontrar parceiros e fazer negócios!Ž, explica um representante de Granada, uma produtora de audiovisual especializada em documentários sobre os países em desenvolvimento. Os pavilhões de Radio France Internationale ou France 5 atestam que o desenvolvimento é mesmo um mercado de futuro no sector do audiovisual. Para os estudantes seduzidos pelo sector caritativo, as JED são uma boa oportunidade para conseguirem um primeiro emprego.>VitrinaOs Estados aproveitam estes encontros como uma vitrina para mostrarem os seus esforços em prol dos países pobres. Assim, todos os Estados-Membros da UE, excepto a Bulgária, instalaram um pavilhão nas margens do Tejo. Até havia um pavilhão de Cuba! Os Estados que aderiram à UE desde Maio de 2004 responderam presente e nada os distingue dos mais antigosŽ. Na nossa opinião, fazemos coisas boas em matéria de desenvolvimento, logo, é importante demonstrá-loŽ, explica a representante do pavilhão da República Checa. Nos meandros da aldeia, alguns pavilhões repletos de ecrãs planos do último grito impressionam pelo seu design rebuscado, embora nem sempre sejam dos Estados mais virtuosos em matéria de ajuda pública ao desenvolvimento. Mas esta abundância de iniciativas não ocultou a mensagem principal das JED 2007: a urgência em ajudar os mais pobres no combate às alterações climáticas. Algumas partes da África serão afectadas por acontecimentos climáticos extremos, como inundações ou tempestades. Isso acontecerá não no final do século, mas durante a nossa própria existênciaŽ, advertiu o administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Kemal Dervis. Serão os mais desfavorecidos os primeiros a serem afectadosŽ, preveniu Mamadou Cissokho, presidente da rede das organizações de camponeses e produtores da África Ocidental. Louis Michel não esperou muito para passar da reflexão à acção ao propor, na sessão de encerramento, um empréstimo mundialŽ para ajudar os países pobres a enfrentar as alterações climáticas. Se não tomarmos, aqui e agora, uma decisão política forte com resultados imediatos, daqui a 15 anos estaremos na mesma situaçãoŽ, afirmou o Comissário. Foi um desafio lançado a todos os decisores da Europa e de outros continentes, mas também uma forma de lembrar que as JED são um meio de que dispõe a UE, primeiro doador mundial, para influir na agenda do desenvolvimento ainda, o mais das vezes, determinada em Washington. Aterceira edição das JED já está agendada para Novembro de 2008 em França, provavelmente em Estrasburgo, tendo como tema promissor o papel dos poderes públicos no desenvolvimento. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 21 20Apoucos metros do Tejo, no imenso parque da Feira Internacional de Lisboa (FIL), ONG e diplomatas, agricultores africanos ou Chefes de Estado, misturam-se alegremente num ambiente próprio de um salão de estudantes. Esta mescla improvável é a receita detonadora das Jornadas Europeias do Desenvolvimento (JED), cuja segunda edição teve o êxito esperado de 7 a 9 de Novembro de 2007, em Lisboa. Após a primeira edição em forma de balão de ensaio em 2006, em Bruxelas, esta iniciativa, concebida pelo Comissário Europeu do Desenvolvimento, Louis Michel, entrou em ritmo de cruzeiro na capital portuguesa, subordinada a um tema central: o impacto das alterações climáticas sobre o desenvolvimento. Se não integrarmos as alterações climáticas nas nossas políticas de desenvolvimento … aqui e agora … perderemos o benefício de todos os investimentos que fizemos.Ž O Comissário deu o tom, o da gravidade, já na sessão de abertura perante José Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal, que detinha a Presidência da UE, cuja presença assinalava pela primeira vez a aprovação das JED pelo Conselho. Este apelo à responsabilidade transformou-se em grito de alarme quando o Presidente das Maldivas, Maumoon Abdul Gayoom, explicou que o aquecimento global ameaçava a própria sobrevivência do seu arquipélago. Daí a ideia de lançar um apelo solene a todos os países desenvolvidos e emergentes para se empenharem em objectivos coercivos de redução das emissões de gás carbónico. Na véspera da tão aguardada Conferência Internacional sobre as Alterações Climáticas em Bali, no mês de Dezembro, as JED apresentaram uma plataforma ideal à UE para que manifeste a sua solidariedade com os países pobres e aumente, assim, a pressão sobre os outros parceiros mais hesitantes em empenharse nas negociações. São os que menos contribuíram para as alterações climáticas que são os mais afectados. Refiro-me aos pequenos I nteracções JORNADAS EUROPEIAS DO DESENVOLVIMENTO Sebastien FallettiJuntos frente àsALTERAÇ'ES CLIMÁTICAS Jornadas Europeias do Desenvolvimento, Lisboa, 7 a 9 de Novembro de 2007. © CE KKofi Annan e JosŽ Manuel Barroso, Lisboa, 7 a 9 de Novembro de 2007. © CE I nterac›es ACP-UE

PAGE 13

22 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008Sete anos depois da primeira Cimeira UE-África realizada no Cairo e do fracasso da realização de um segundo encontro em 2003, devido a um desacordo quanto a convidar ou não o Presidente do Zimbabué Robert Mugabe, a Cimeira de Lisboa lançou a nova parceria estratégica entre os dois continentes. Este novo relacionamento e a nova Estratégia Conjunta África-UE serão implementados através de um primeiro Plano de Acção (2008-2010) com oito parcerias específicas UE-África, que abrangem mais de 20 acções prioritárias em domínios como a paz e segurança, governação democrática e direitos humanos, comércio e integração regional, Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), energia, alterações climáticas, migração, mobilidade e emprego, ciência, sociedade da informação e espaço. Os resultados iniciais serão analisados na próxima Cimeira, agendada para se realizar em 2010 em África. >Plano de acçãoOs mais de 70 Chefes de Estado e de Governo dos dois continentes comprometeram-se a assegurar que a Arquitectura Africana de Paz e Segurança passará a funcionar plenamente, criando ao mesmo tempo a estrutura necessária para o financiamento previsto de actividades de manutenção de paz em África. Nos próximos meses a Somália dará uma oportunidade para testar este compromisso no terreno. Aparceria deverá igualmente abranger a promoção do Mecanismo Africano de Avaliação pelos Pares e o apoio à Carta Africana da Democracia, das Eleições e da Governação, intensificando ao mesmo tempo a cooperação no domínio dos bens culturais. O Plano de Acção aborda igualmente o comércio, a integração regional e medidas para reforçar a capacidade de África para estabelecer normas e controlos de qualidade e assistir ao lançamento de uma parceria UEÁfrica ambiciosa em matéria de infraestruturas, a que foi afectado um pacote de 5,6 mil milhões de euros. Outras partes do Plano de Acção incluem acelerar o progresso para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e melhorar a segurança energética e o acesso à energia comuns. Outro objectivo fundamental é desenvolver uma agenda comum de decisões políticas para abordar as implicações das alterações climáticas. Também estão incluídas as migrações, a mobilidade e o emprego, sendo dada ênfase à aplicação da declaração da Conferência de Trípoli sobre Migração e Desenvolvimento e ao Plano de Acção UE-África relativo ao tráfico de seres humanos. Além disso, o Plano de Acção centra-se igualmente no apoio ao desenvolvimento de uma sociedade da informação em África e na realização de esforços especiais para estabelecer capacidade científica. No contexto mais vasto UE-África e a fim de implementar as prioridades acordadas, a Comissão Europeia e 31 Estados ACPda África Subsariana assinaram em Lisboa programas de cooperação conhecidos por Documentos de Estratégia Nacionais para o período 2008-2013, avaliados em mais de 8 mil milhões de euros (ver extratexto). Serão assinados acordos semelhantes com outros países nas próximas semanas, o que fará aumentar a dotação da UE através do 10.º Fundo Europeu de Desenvolvimento para os países da África Subsariana para um montante entre 11 e 12 mil milhões de euros no período 2008-2013. Este valor não inclui o financiamento adicional para imprevistos, a ajuda regional, os financiamentos do Banco Europeu de Investimento (BEI) e o programa de cooperação separado com a África do Sul, os países do Norte de África e outros acordos, como a assistência relacionada com o comércio. Para além destes, foram concluídos acordos de cooperação separados com os países do Norte de África, bem como empréstimos do BEI.>Aliança indispensávelŽNas palavras do Comissário para o Desenvolvimento, Louis Michel, a Estratégia Conjunta, o Plano de Acção e os acordos individuais procuram criar uma "aliança indispensável" entre os dois continentes, abordando em conjunto os desafios do futuro e ultrapassando as diferentes perspectivas que podem ter sido expressas na Cimeira de Lisboa. Foi uma Cimeira que correspondeu a todas as expectativas em termos de discussão aberta e séria e relegando para a história a antiga relação unilateral doador-beneficiário. Um exemplo foi quando a Chancelerina alemã, Angela Merkel, aproveitou a oportunidade para lembrar ao Presidente Robert Mugabe o carácter universal de valores como os direitos humanos. Ele reagiu criticando fortemente a "arrogância" da Alemanha e de outros países que o criticaram. Mais tarde, um apelo do Presidente da Líbia, Muamar Gaddafi, para uma indemnização pelos danos coloniais deparou com a recusa de Louis Michel, que referiu o enorme volume de ajuda ao desenvolvimento atribuída pela Europa nas últimas décadas à região. Procurando unir os dois lados, o Presidente da Comissão da União Africana, Alpha Omar Konaré, instou os líderes dos dois continentes a "enterrarem definitivamente o passado colonial". E actualmente, apesar destas declarações francas, as relações entre a UE e a Líbia deram um passo em frente com a decisão do Conselho Europeu de 14 de Dezembro de dar início a negociações para concluir um acordo de cooperação com Trípoli. Os dois lados também não se furtaram a questões sensíveis, como as migrações. Uma questão em que a Europa está preocupada com o afluxo de imigrantes ilegais e África está ansiosa por acabar com a fuga de cérebros, mas em que ambos os lados querem aproveitar as oportunidades oferecidas pela migração circular, as oportunidades de emprego e a criação de empregos. Os projectores também se viraram para a perspectiva de acordos comerciais compatíveis com a Organização Mundial de Comércio (OMC) … os designados Acordos de Parceria Económica: APE. Prevê-se que em 2008 estes acordos substituam as preferências comerciais não recíprocas de que os Estados ACPtêm beneficiado ao abrigo das cláusulas comerciais do Acordo de Cotonu. O Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, exprimiu a opinião de que África não estava preparada para criar uma zona de comércio livre com a Europa. Dois dirigentes europeus concordaram em certa medida com esta opinião. O Primeiro-Ministro irlandês Bertie Ahern afirmou que era preciso mais tempoŽ para as negociações, enquanto o Presidente francês Nicolas Sarkozy reconheceu a vulnerabilidade de alguns países ACP. No entanto, alguns funcionários europeus salientam que estes pontos de vista não reflectem a posição da UE, que atribuiu um mandato à Comissão Europeia para negociar os APE com os países ACP. Apesar disto, a Comunidade da África Oriental, vários Estados da África Austral e do Oceano Índico, a Costa do Marfim e o Gana concluíram acordos provisórios de comércio de mercadorias com a Comissão Europeia. O Presidente desta Instituição, Durão Barroso, comprometeu-se a consultar os líderes das quatro regiões africanas antes de lançar uma nova ronda de conversações, em Fevereiro próximo, para concluir APE globais com todos os países da África Subsariana. Estes acordos abrangerão igualmente o comércio de serviços, investimentos, propriedade intelectual e a abertura dos contratos públicos à concorrência F.M. 23 Uma nova PARCERIA estratégica Uma EstratŽgia Conjunta e um primeiro Plano de Ac‹o para 2008-2010, destinados a lanar a nova parceria estratŽgica entre a UE e çfrica, foram os dois resultados principais da segunda Cimeira UE-çfrica, realizada em Lisboa, em 8 e 9 de Dezembro de 2007. Foi uma Cimeira sem tabus e com debates francos, que mostrou uma vontade clara de virar a p‡gina do passado colonial e enfrentar em conjunto os desafios do futuro. JosŽ Manuel Barroso durante a Cimeira UE-çfrica em Lisboa (8 e 9 de Dezembro de 2007). © ECJosŽ Manuel Barroso e Alpha Oumar KonarŽ, Presidente da Uni‹o Africana em Lisboa. © EC O Comiss‡rio Europeu para o Desenvolvimento e a Ajuda Humanit‡ria, Louis Michel, durante a Cimeira UE-çfrica em Lisboa (8 e 9 de Dezembro de 2007). © EC I nterac›esUE-África I nterac›es UE-África

PAGE 14

24 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 Ajuda por país Montantes dos programas indicativos nacionais para os 31 Estados signat‡rios dos documentos de estratŽgia de coopera‹o com a UE (rubricas A e B): Em milh›es de euros Benim 340,2 Botsuana 77,3 Burquina Faso 537,2 Burundi 202,1 Camar›es 245,9 Comores 48,1 Congo-Brazzavillle 85 Jibuti 41,1 Eti—pia 674 Gab‹o 50,2 G‰mbia 77,9 Gana 373,6 GuinŽ-Bissau 102,8 QuŽnia 394,4 Lesoto 138 LibŽria 161,8 Madag‡scar 588,2 Malavi 438 Mali 559,3 Maur’cia 63,4 Moambique 634,1 Nam’bia 104,9 Ruanda 294,4 S‹o TomŽ e Pr’ncipe 18,2 Senegal 297,8 Seicheles 6,3 Serra Leoa 268,4 Suazil‰ndia 63,9 Tanz‰nia 565,1 Chade 311 Z‰mbia 489,4NB: A estes montantes podem acrescentar-se subs’dios suplementares para cobrir necessidades imprevistas, bem como ajudas regionais e os financiamentos do Banco Europeu de Investimento. Fonte: Direc‹o-Geral do Desenvolvimento da Comiss‹o Europeia 25 REPARTIÇÃO DO 10¼ FEDDos 22.682 milh›es de euros do 10.¼ FED (2008-2013), 21.966 milh›es v‹o para pa’ses ACP, 286 milh›es para Pa’ses e Territ—rios Ultramarinos (PTU) e 430 milh›es para a Comiss‹o, a t’tulo de apoio ˆ programa‹o e execu‹o do FED. O montante total para os pa’ses ACP inclui 17.766 milh›es de euros para os programas indicativos nacionais e regionais, 2700 milh›es para coopera‹o intra-ACP e intra-regional e 1500 milh›es para Facilidades de Investimento. O FED vai centrar-se mais nos programas regionais para apoiar a execu‹o dos Acordos de Parceria Europeus (APE) e tambŽm nos "incentivos" para a boa governa‹o. Os APE INFLAMAMŽ a Assembleia Paritária "N ão há plano B! O plano são as regras da OMCŽ, declara com firmeza Louis Michel na sala em polvorosa do centro de conferências do Serena Hotel, em pleno centro de Kigali, onde uma centena de parlamentares, oriundos dos quatro continentes, o ouviram. O Comissário Europeu do Desenvolvimento deu o seu apoio total aos Acordos de Parceria Económica (APE) que a UE tenta celebrar com os países ACP, a fim de satisfazer as exigências da OMC. Mais do que nunca, os APE dominaram os debates da Assembleia Parlamentar Paritária (APP) UE-ACP, na sua 14ª reunião, que decorreu de 19 a 22 de Novembro de 2007 na capital ruandesa, desencadeando não só discussões acesas com a Comissão Europeia, mas também divisões entre deputados europeus. Apoucas semanas da data-limite de 31 de Dezembro, fixada pela OMC para a conclusão das negociações, a APPserviu de portavoz às inquietações provocadas pela liberalização comercial prevista nos APE. E os parlamentares ACP, apoiados por muitos dos seus colegas do Parlamento Europeu, não deixaram escapar a oportunidade de transmitir a mensagem à Comissão, encarregada das negociações, mas também ao Conselho, tirando partido da presença de João Cravinho, Ministro da Cooperação de Portugal, que então detinha a Presidência da UE. Estaleiro no centro de Kigali (Ruanda).© Andrea Frazzetta (Agenzia Grazia Neri) Por cortesia de Andrea Frazzetta I nterac›esACP-UE I nterac›es ACP-UE

PAGE 15

A ÁFRICA QUER TRANSFORMAROS SEUS DIAMANTES EM CASA N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 27 C omércio 26>A Declaração de KigaliCom um resultado tangível, fruto de vários dias de debates e de negociações nos bastidores, foi finalmente adoptada a Declaração de Kigali, que sublinha as inquietações dos ACPem relação à estratégia da Comissão, que ameaçava impor o sistema de preferências generalizado … muito menos generoso em termos de acesso ao mercado da UE … aos países que não assinassem um acordo dentro do prazo. ADeclaração de Kigali considera que este sistema poria em perigo o bem-estar e os meios de subsistência de milhões de trabalhadoresŽ, lembrando os compromissos assumidos pela UE no Acordo de Cotonu revisto, que especifica que nenhum país ACPdeverá encontrar-se numa situação menos favorável no final das negociações. No entanto, sob a pressão dos democratas-cristãos e dos liberais, a Declaração refere igualmente a necessidade imperiosa de compatibilidade com as exigências da OMC. No momento em que os negociadores da Comissão tentavam concluir dentro do prazo acordos de comércio livre compatíveis com as regras da OMC, os parlamentares, como não houvesse APE completos, denunciaram as pressõesŽ e a abordagem dogmática e ditatorialŽ do executivo europeu. Como nos bons velhos tempos das colónias, pedem-nos que sejamos meninos de bem e venhamos assinar em Bruxelas!Ž, afirmou irritado o Sr. Sebetela, do Botsuana, desencadeando um coro de aplausos. É uma autêntica chantagem!Ž, exclamou o socialista belga, Alain Hutchinson. Apesar deste dilúvio de críticas, Louis Michel manteve-se firme. Reafirmou a sua fé nos APE descritos como instrumentos de desenvolvimentoŽ e tentou serenar os ânimos, lembrando que a liberalização comercial seria progressiva e acompanhada de ajudas financeiras europeias substanciais. Não se trata de uma liberalização estúpida e pérfida!Ž explicou o Comissário antes de lembrar o fracasso do sistema de preferência comercial existente há várias décadas. Para ele, chegou a altura de os países ACPaceitarem o jogo da abertura económica, tomando por modelo o crescimento dos países asiáticos. >O monopólio da ChinaAÁsia e suas potências emergentes, como a China ou a Índia, que estão a tomar posições no continente africano, provocaram outro debate aceso em Kigali, desta vez entre parlamentares europeus e os seus homólogos ACP. Estes últimos opuseram-se a qualquer crítica a Pequim num relatório sobre os investimentos estrangeiros adoptado pela Assembleia, desencadeando a fúria da co-relatora luxemburguesa Astrid Lulling. AChina açambarca os recursos naturais e as matérias-primas deste continente. Isso não contribui para o seu desenvolvimento, só beneficia as empresas chinesas. Aajuda da China faz mais mal do que bemŽ, declarou sem ambiguidade a deputada europeia, provocando por sua vez a ira dos parlamentares africanos, apoiados pelo Co-Presidente da APP, Radembino Coniquet. Cada país tem o direito de estabelecer relações com quem o desejarŽ, retorquiu secamente um representante da República Democrática do Congo (RDC), acrescentando que os ACPnão devem receber lições de uma Europa cujas empresas estão mais interessadas em externalizar-se para o Império do Meio do que para África. Foi um fogo cruzado que revelou a sensibilidade da questão e o trabalho hercúleo que se depara à UE, que deseja estabelecer um diálogo a trêsŽ com Pequim e o continente africano. AAssembleia recuperou a sua unidade para denunciar a degradação da situação no Leste da RDC, onde a prossecução dos combates entre o exército congolês e as forças rebeldes, chefiadas pelo general Laurent NKunda, forçou 350.000 pessoas a fugir dos seus lares em menos de um ano. Os parlamentares, numa resolução de urgência, apelaram à mobilização da comunidade internacional e dos países vizinhos. O Congo é o gatilho da ÁfricaŽ, afirmou um parlamentar da RDC. Aviolação de mulheres, o assassínio de crianças, a violência e a pilhagem por razões étnicas fazem desta crise uma ameaça à estabilidade da regiãoŽ, confirmou o deputado alemão, Jürgen Schroeder. O aviso da APPfoi tragicamente confirmado dias depois pela intensificação dos combates à volta da cidade de Goma, perto da fronteira com o Ruanda. AAssembleia foi também uma ocasião para enviar um sinal de alarme sobre um assunto menos dramático, mas com repercussões sérias para os países ACP: o atraso na ratificação do Acordo de Cotonu revisto põe em perigo o desbloqueio do 10.°Fundo Europeu de Desenvolvimento previsto para o período 2008-2013. Os Co-Presidentes, Glenys Kinnock e Radembino Coniquet, lançaram um apelo à mobilização dos parlamentos nacionais para que garantam a ratificação no prazo previsto e permitam, assim, o desbloqueio da ajuda europeia. Os 27 países da UE e dois terços do Grupo ACPdevem obrigatoriamente ter ratificado o acordo para que a Comissão possa utilizar os 22,6 mil milhões de euros do FED. O problema é muito sério. Enquanto não for concluído o processo de ratificação, não haverá financiamentos para os projectos nem ajuda orçamentalŽ, preveniu a Srª Kinnock, esperando que esta questão já esteja regularizada na próxima reunião da APPna Eslovénia. S.F. Na sequência dos países produtores de hidrocarbonetos da América do Sul, eis que o nacionalismo dos recursosŽ se estende aos Estados africanos produtores de diamantes, que exigem que a indústria os ajude a transformar os seus produtos no seu próprio continente. Uma aspiração difícil em termos de rentabilidade. Apedido dos países produtores africanos, a última conferência sobre o diamante, realizada em Antuérpia em 15 e 16 de Outubro passado, focalizou-se essencialmente no debate sobre a transformação in loco das suas gemas, processo a que os Sul-Africanos chamaram beneficiaçãoŽ. O ponto de partida deste debate é a tomada de consciência pelos dirigentes da África Austral de que a África, que fornece a maior parte das matérias-primas (diamantes, ouro, platina, etc.) do sector mundial da joalharia, só obtém o equivalente de 10% das receitas deste sector (150 mil milhões de dólares). Mas contrariamente a um Estado como a Bolívia, que decidiu pura e simplesmente nacionalizar a indústria do petróleo exigindo que as companhias lhe retrocedessem as suas quotas, os países produtores da África Austral, detentores de quotas importantes no capital das companhias mineiras, tencionam garantir que a mais-valia resultante da lapidação dos diamantes beneficie a sua balança comercial e o seu mercado de emprego. Trata-se de uma onda de fundo. Com o Botsuana, África do Sul, Angola, RDC e Namíbia, a África representa cerca de 60% do volume e do valor da produção mundial de diamantes brutos e tenciona tirar partido da situação de oligopólio em que se encontram as companhias mineiras produtoras (as filiais da De Beers, mas também a companhia angolana estatal Endiama) para impor as suas condições ao mercado. >Ocupar um nicho de mercado Para acrescentar valor aos seus produtos, estes Estados tencionam impor ao mercado a sua determinação em assegurar, desde já, o acesso a um mínimo de pedras de grande calibre, para as quais o custo salarial representa uma parte menor do que no caso dos diamantes. Com isto tencionam criar um nicho de mercado, abandonando o das pequenas mercadoriasŽ aos Indianos, Tailandeses ou Chineses, cujos custos salariais são imbatíveis. Na África do Sul, um acordo celebrado entre a De Beers e o State Diamond Trader (SDT) autoriza esta entidade a adquirir 10% de toda a produção para a mandar lapidar no local, preferencialmente por empresas de promoção económica de Negros (Black Economic Empowerment). Na Namíbia, outro acordo celebrado entre a De Beers e a NamíbiaA ÁFRICA QUER TRANSFORMAROS SEUS DIAMANTES EM CASA ActivitŽ commerciale, Bamako 2007.© Afrique in visu /Baptiste de Ville d'Avray I nterac›esACP-UE

PAGE 16

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 M imi Barthélémy e o conto são inseparáveis. É difícil encontrar um dramaturgo ou actor profissional que trabalhe a partir dos contos que não conheça esta haitiana que transformou uma arte, senão um folclore tradicional, em teatro experimental de alto nível, e apresentou as suas criações em diferentes continentes, recebendo várias distinções pelo seu trabalho de desbravadora de terrenos encantadores. Aborda o conto sob todos os prismas: pela escrita, a encenação, a música, a sociologia, a semiologia. Asua obra valeu-lhe muitos prémios e distinções. Recebeu distinções como a de Chevalier de lOrdre National du Mérite (França), Officier de lOrdre des Arts et des Lettres (França), Becker d'Or no 3.°Festival da Francofonia (1989), Prémio Arletty da Universalidade da Língua Francesa (1992), sem contar as presidências de júris e outras distinções. Em 11 de Novembro passado, encontrava-se em Bruxelas, na Roseraie , para apresentar uma peça destinada sobretudo a um público jovem, Quand les chiens et les chats parlaient ( No tempo em que os cães e os gatos falavam). Mas, como acontece habitualmente nestes espectáculos, os adultos não se fazem rogados e acorrem aplaudir, tanto neste estilo de apresentação como em peças para um público mais exegeta do teatro moderno, caso de Une si belle mort (Uma bela morte), ainda nas memórias, cuja estreia foi um triunfo em Avinhão em 2001. Mimi Barthélémy chegou cedo a Bruxelas. Após a sua chegada, limitou-se a tomar um pequeno-almoço convivial com os organizadores do espectáculo. Tinha de se dirigir rapidamente para o teatro da Roseraie para as últimas afinações, mas também para o prazer dos reencontros com pessoas conhecidas e admiradores, antes de subir ao palco. Ela conta, plácida, calma como sempre, com uma afabilidade que seduz todos os que privam com ela. E ouve, deixando pensar que os seus interlocutores são, para ela, o que mais conta na vida. Mimi … como lhe chamam carinhosamente … é uma presença, uma alquimia que seduz rapidamente todo o público por mais morno que possa ser à partida, transformando-o em figurantes que retomam cantos e textos, muitas vezes em crioulo ou em espanhol, que o público muitas vezes não compreende. As crianças são atraídas por ela, ficam boquiabertas, sem respiração. Não perdiam pitada, fosse uma palavra, uma sílaba ou uma respiração da história dos dois gatos esfomeados que decidem que um deles faria de morto para a vizinhança, que acorreu à vigília, artimanha que inventaram para comer os veladores e assim matar a fome. O resumo da história que nos fez previamente já deixava antever que era de cortar o fôlego. Através deste simples fio e num mundo de animais (ratazana, rato, zandolite, pipirite, etc.), aproveito para recriar todo o ambiente de uma vigília mortuária em Haiti. Da cozinha ergue-se a voz que conta  Ti Fou e o monstro de sete cabeças ou como o dia e a noite desceram à terra(e isso passou-se no Haiti)...Ž É o maravilhoso que se torna realidade! Depois deste espectáculo, Mimi ainda estava extasiada com o encanto que criara nos pequenos anjos que vieram admirá-la e beber as suas palavras e a sua música. Aconversa com os amigos e a parte belga da família do seu ex-marido defunto, Gérard Barthélémy, pai dos seus filhos, coautor com ela de livros e estudos diversos. O tempo era pouco, ela tinha de apanhar o Thalys nessa mesma noite. Mimi recordar-se-á do seu pai, ex-decano da Faculdade de Medicina de Port-au-Prince, antigo clínico dos Hospitais de Paris e descendente de um antigo chefe negro da guerra de independência do Haiti que fugira para os bosques para viver em liberdade; e a sua mãe, filha de um antigo presidente do Haiti dos anos 20. Mimi Barthélémy viajou muito, a partir dos dez anos, nas Caraíbas e na Florida, antes de rumar a Paris para estudar Ciências Políticas. Expatriação e desilusão. Quando, aos 16 anos, a jovem que havia concluído os estudos secundários parte do Haïti para França, depressa compreende o doloroso sentido da palavra exílioƒ Tinha laços de parentesco com os Franceses, pertencia a uma família mulata cultivadaƒ AFrança de então era colonial e encontrava-se em29 E m foco 28Diamond Trading Company (NDTC) garante a entrega de diamantes brutos a 11 oficinas de lapidação de 2007 a 2011. O objectivo para 2009 é pôr à disposição destas oficinas de lapidação quantidades de diamantes no valor de 300 milhões de dólares. Por sua vez, o Botsuana espera aumentar o volume de negócios anual das suas 16 oficinas de lapidação nos próximos dois anos de 200 para 500 milhões de dólares, o que representa o equivalente ao quarto das suas exportações de diamantes brutos (cerca de 2 mil milhões de dólares). Este país espera colher dividendos da sua posição de primeiro produtor mundial e do facto de a sua capital, Gaborone, receber, a partir de 2008, o maior centro de triagem e distribuição da Diamond Trading Company, o braço comercial da De Beers, que externaliza para o Botsuana uma parte das suas actividades da praça de Londres. Esta terá, aliás, a obrigação de alimentar as oficinas de lapidação locais em condições que lhes permitam ser competitivas, ou seja, em pedras de média ou de grande dimensão. Angola evolui na mesma direcção, apoiada em projecções que deixam antever a duplicação da produção actual (cerca de 9 milhões de quilates para receitas de exportações de cerca de 1,2 mil milhões de dólares) dentro de dez anos. À De Beers, número um mundial da oferta de bruto, não lhe resta outra alternativa senão seguir o movimento. Está em jogo a recondução dos seus acordos de joint-venture com os três Estados, o Botsuana, a África do Sul e a Namíbia, que ainda constituem o suporte da sua capacidade de acção no mercado mundial e que partilham o mesmo objectivo estratégico.> Um novo oligopólioEstá assim em vias de formação um oligopólio africano da oferta, perante o enxame de negociantes e de lapidadores mundiais. Acapacidade de acção deste oligopólio sairá tanto mais reforçada quanto, a partir de 2008, a procura excederá a oferta e o desnível continuará a acentuar-se ulteriormente, de acordo com as projecções do outro gigante do sector, Rio Tinto Diamonds, segundo o qual a beneficiaçãoŽ é inevitávelŽ (sic). Mesmo se a De Beers tenciona investir cerca de 2,6 mil milhões de dólares em novos projectos, nomeadamente na África do Sul, Botsuana, Namíbia e Tanzânia, o desnível vai tomar proporções consideráveis. Outro peso pesadoŽ do mercado mundial, o presidente da companhia russa Alrosa, Sergey Vybornov, considera que, em 2020, a procura mundial de diamantes brutos andará por volta dos 20 mil milhões de dólares, quando a oferta só atingirá 9 mil milhões de dólares à cotação actual. Resultado: as cotações vão subir. Dito isto, a aposta na beneficiaçãoŽ só poderá ser ganha em determinadas condições, avisa o director da De Beers, Gareth Penny. Aprimeira é que é necessário ter em conta o desafio asiático dos baixos custos salariais de produção. As oficinas de lapidação implantadas em África deverão identificar os segmentos do mercado em que poderão ser competitivos e deixar as oficinas de lapidação indianas tratar a produção de menor valor, que não é económico transformar no continente. Além do mais, os governos africanos deverão criar um ambiente atraente para os investimentos directos estrangeiros no sector. Mas os negociantes de diamantes de Antuérpia não escondem que o desafio não será fácil, quanto mais não seja devido à penúria de mãode-obra qualificada de que sofre actualmente a África. Convém não esquecer que a formação de um lapidador leva, no mínimo, cinco anos. E por último, as perspectivas não se apresentam da mesma maneira para os grandes produtores, como o Botsuana, Angola e, mesmo, a RDC ou a África do Sul, e os mais modestos, como a Serra Leoa ou a Libéria. Sendo o peso dos primeiros muito mais importante no mercado mundial, podem pressionar muito mais facilmente as companhias mineiras no sentido que lhes convém. F.M. MIMI BARTHÉLÉMYDramaturga, actriz, contadora de hist—rias, mœsica e escritora A metamorfose dos contos tradicionais caribenhos em teatro experimentalUm dia na vida de As fotografias das p‡ginas 27 e 28 ilustram diferentes etapas da produ‹o de diamantes numa oficina de lapida‹o em AntuŽrpia.Por cortesia do Centro Mundial de Diamantes de AntuŽrpia (Antwerp World Diamond Centre Ð AWDC) C omŽrcio

PAGE 17

O OURO VERDE NO CENTRODASCONTROVÉRSIASMMenos mediatizada do que a sua congénere climática, a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) surgiu, como a Convenção sobre o Clima, após a Cimeira da Terra no Rio de Janeiro, em Junho de 1992. Mas nem por isso o alcance da CDB é menos importante, porque ambiciona conservar e utilizar de forma sustentável todos os elementos do mundo biológico, de que depende a nossa sobrevivência, muito embora não se contente em desempenhar o papel de defensora da natureza. Com o aparecimento das biotecnologias e a extensão dos direitos de propriedade … nomeadamente a patente … ao mundo dos seres vivos, a CDB propõe um quadro jurídico que assegure uma partilha justa e equitativa dos benefícios resultantes dos recursos genéticos, quer se trate de plantas, extractos de animais ou micro-organismos, que estão na origem, nomeadamente, dos princípios activos de muitos medicamentos. Como se depreende, o desafio é enorme. Tanto a nível biológico como económico.> EmpobrecimentoAriqueza biológica da Terra vai empobrecendo. É a conclusão a que chegaram os cientistas para os quais a quantidade de espécies que existiram na Terra é 10 vezes superior à das espécies actuais. Aser assim, a extinção seria um fenómeno normal na natureza, excepção feita à diferença de ritmo de extinção, que acelerou. Pode-se demonstrar que, há mais de um século, a causa do desaparecimento de inúmeros organismos vivos é o homem. Se a tendência actual se mantiver, as perdas serão de cerca de 50.000 espécies por ano nas próximas décadas. Devido à sua posição geográfica, a maioria dos Estados ACPdesfruta de um clima tropical e subtropical favorável à multiplicação das espécies. Assim, as florestas da África Central contêm uma mistura extremamente variada de plantas e animais, compreendendo cerca de 400N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 31 N ossa terra 30plena guerra da Argéliaƒ Ao emigrante estrangeiro, a França não oferecia outra opção que a assimilação.Ž Mimi abandonou os estudos para acompanhar o marido, Gérard Barthélémy, adido cultural nas embaixadas de França na Colômbia, Bolívia, Sri Lanka e novamente Bolívia. Depois das referidas peregrinações, retomou os estudos em 1972 e licenciou-se em Letras Hispânicas em França. Após uma estadia de um ano nas Honduras entre os Garifunas, para estudar esta cultura rara … primeira mescla no continente americano de negros e de ameríndios … cuja língua, o garifuna, é a sobrevivência africanizada da língua arawak. Uma língua que tem a singularidade de ser sexuadaŽ, as mulheres e os homens não falam da mesma maneira. Os substantivos utilizados para designar o mesmo objecto, uma mesa por exemplo, dizem-se diferentemente em função do locutor ou da locutora. Foi um doutoramento de teatro sobre o tema do papel do teatro da identidade numa minoria cultural: os Garifunas. AAmérica Latina e sobretudo a Colômbia deram-me a oportunidade de contactar personalidades culturais de vulto na década de 60. Aminha iniciação artística fez-se pela frequentação assídua do TEC, Teatro Experimental de Cali, fundado e dirigido por Enrique Buenaventura, e da Casa de la Cultura de Bogotá, fundada e dirigida por Santiago Garcia. Tive a oportunidade de descobrir, graças a eles, as obras de autores contemporâneos militantes europeus e latino-americanos, como Brecht, Kantor, Grotowski, Eduardo Manet, José Triana, Arrabal, Borges, João Cabral de Melo Neto, etc.Ž Interessou-se também por teatros tão variados como os de Claude Alranq, LOdin Théâtre de Eugenio Barba, o Théâtre du Soleil de Mnouchkine e Peter Brook. Frequentou os estágios de Eduardo Manet e do Roy Hart Théâtre. Actuou em França sob a direcção de Rafael Murillo Selva, conhecido na Colômbia, e foi assistente do encenador contestatário Manuel José Arce, produzindo então um teatro bastante crítico sobre as ocupações militares americanas na América Central e do Sul. Uma grande parte da sua investigação universitária ocorreu paralelamente a estas experiências teatrais. Orientou-se para o teatro por espírito de sobrevivência, como ela própria disse. Os meus primeiros passos no teatro, a minha aprendizagem no terreno e os meus estudos universitários conduziram a uma prática do teatro sobre a memória do meu país. Tinha de resistir à perda de identidade, à alienação a que me condenava a minha assimilação à França. É numa óptica de resistência pela minha sobrevivência mental, de revolta e de militância que abordo o teatro.Žmimibarthelemy.com òltima obra publicada: Livro com disco "Dis-moi des chansons d'Ha•ti" Editor: Lise Bourquin MercadŽ H.G. O OURO VERDE NO CENTRODASCONTROVÉRSIAS 2007 foi o ano do clima, 2008 ser‡ o da biodiversidade. De 19 a 30 de Maio pr—ximo, os 188 Estados signat‡rios da Conven‹o Internacional sobre a Diversidade Biol—gica reunir-se-‹o em Bona, na Alemanha, para fazerem o balano dos seus esforos e tentarem restabelecer a biodiversidade em queda livre. Mas tambŽm, e sobretudo, para procurarem entender-se sobre a quest‹o controversa da "partilha justa e equitativa dos benef’cios resultantes dos recursos genŽticos". Trata-se de uma quest‹o que ainda divide os pa’ses do Norte e do Sul e sobre a qual a Uni‹o Europeia desempenha muitas vezes um papel conciliador. Fouad Maazouz (Marrocos), Azzamour, SŽrie Ici et / est l'ailleurs, Bienal de Fotografia, Bamako 2006. © Fouad Maazouz P‡ginas 29 e 30: Mimi BarthŽlŽmy durante o seu show no teatro de La Roseraieem Bruxelas (Novembro de 2007).© Hegel Goutier E m foco

PAGE 18

espécies de mamíferos, mais de 1000 espécies de aves e mais de 10.000 espécies de plantas, 3000 das quais são endémicas. Mas é nas estepes e nas savanas, nomeadamente africanas, que se encontra a mais impressionante abundância de plantas e animais, a que não é alheia uma mistura de luminosidade natural e de alternância das estações secas e húmidas. Para preservar estas riquezas, tanto continentais como marítimas, os Estados ACP, em colaboração com a UE, tomaram várias iniciativas, designadamente o projecto FISHBASE … Reforço das capacidades de gestão das pescas e da biodiversidade nos países ACPŽ. O objectivo do projecto é fornecer informações que permitam a execução de políticas de conservação da biodiversidade aquática, da sua exploração sustentável e da partilha equitativa dos benefícios, segundo as disposições da Convenção sobre a biodiversidade. O projecto estabeleceu três eixos regionais de coordenação em África. Nas suas regiões respectivas, os coordenadores supervisam as actividades do projecto de formação e dão o seu apoio aos cientistas e gestores das pescas. >Partilha dos benefíciosParalelamente à sua missão de conservação e gestão sustentável da biodiversidade, a CBD foi sobretudo o primeiro tratado internacional a reconhecer o papel primordial do saber tradicional, das inovações e práticas em matéria de ambiente e de desenvolvimento sustentável, e a incentivar a sua protecção através de Direitos de Propriedade Intelectual (DPI) ou de qualquer outro meio. As comunidades locais passam a ser consideradas como importantes agentes na execução da CDB. Todos estes preâmbulos estão sujeitos a divergências na comunidade internacional, a começar pela noção de DPI, que se presta a interpretações diferentes. Assim, a União Africana (UA) elaborou uma lei-modelo para servir de quadro de referência em matéria de gestão da biodiversidade, em especial da gestão das espécies comercialmente interessantes: sementes para os agricultores, mas também espécies de interesse para a indústria, sem esquecer a farmacêutica. Esta lei confirma o privilégio do agricultorŽ, que lhe permite guardar uma parte da sua colheita para ulterior utilização, privilégio que se tornou facultativo nas demais instâncias internacionais. AUAreconhece igualmente o papel das comunidades locais detentoras de saberes e prevê o pagamento de direitos (royalties) em caso de utilização destes saberes. No terreno, os países africanos dispõem de legislações ainda embrionárias, esperando com certeza que a questão seja resolvida no quadro da CDB. O que está longe de ser o caso. No final de 2007, os representantes dos 188 signatários da Convenção nada conseguiram, a não ser constatar os seus desacordos sobre a questão. Países como a Austrália, a Nova Zelândia ou o Canadá (os Estados Unidos não assinaram a CDB) opuseram-se às pretensões dos países do Sul de regulamentar o acesso aos recursos. M.M.B. eportagem N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 33 HAITIO Haiti tem sofrido mais agita‹o pol’tica e social do que a maior parte das na›es desde a sua independncia em 1804. As subleva›es frequentes prejudicaram o bemestar econ—mico e social. Mais de 50% da popula‹o vive com menos de um d—lar por dia. A Miss‹o das Na›es Unidas para a Estabiliza‹o, a MINUSTAH, criou um certo grau de segurana a partir de 2004. Isto significa que o governo pode avanar com os planos de relanamento da economia e abastecer a sua popula‹o. Apesar da falta de recursos aut—ctones, o Haiti tem potencial comercial por estar rodeado de pa’ses com rendimentos mŽdios, incluindo a Repœblica Dominicana, que fica situada na mesma Ilha Hispaniola. "A primeira condi‹o para o investimento s‹o a paz e a estabilidade. ƒ por esse motivo que concentramos toda a nossa energia na manuten‹o da paz e da estabilidade", afirmou o Presidente PrŽval na abertura anual do Parlamento, em 14 de Janeiro de 2008. Os doadores internacionais participam com um projecto e ajuda oramental na sustenta‹o da estabilidade. Existem diversas dicotomias neste pa’s das Cara’bas. As estat’sticas revelam uma grande pobreza no pa’s, mas apesar disso, a sua cultura Ž surpreendentemente rica e fascinanteÉ32 BIO PIRATARIAUm dos receios, ali‡s verificados, dos pa’ses do Sul Ž a confisca‹o da sua biodiversidade, mas tambŽm dos seus saberes, por interesses econ—micos. Os casos de biopirataria s‹o intermin‡veis: Em 1995, a Universidade de Wisconsin (Estados Unidos) entregava quatro patentes sobre a braze’na, uma planta 1000 vezes mais aucarada que o aœcar e muito menos rica em calorias. Benef’cio previsto: 100 mil milh›es de d—lares por ano. Mas, embora as bagas de braze’na sejam cultivadas no Gab‹o desde tempos imemoriais, este pa’s n‹o tirar‡ disso qualquer benef’cio: os detentores das patentes venderam a licena de explora‹o da planta a v‡rias empresas de biotecnologias, nenhuma das quais Ž gabonesa. Em Setembro de 2007, o governo sul-africano decidiu proibir atŽ nova ordem a explora‹o do pelarg—nio (tambŽm conhecido por sardinheira), uma planta da fam’lia dos ger‰nios, ap—s a colheita de centenas de toneladas desta espŽcie pelas sociedades farmacuticas estrangeiras, uma das quais acaba de registar em patente a sua utiliza‹o no combate ˆ SIDA. O MinistŽrio do Ambiente sul-africano anunciou a sua inten‹o de reexaminar todos os projectos de prospec‹o biol—gica para se certificar da sua conformidade com a nova regulamenta‹o, que visa proteger os direitos comerciais dos prestadores tradicionais. Sede.© IStockphoto.com/Vladm Campons.© IStockphoto.com/Brasil2 Vista de casas em Port-au-Prince.© Debra Percival N ossa terra

PAGE 19

34 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008Os Taínos, parentes dos Arawaks da América do Sul que chegaram ao Haiti em 2600 a.C., foram os primeiros habitantes conhecidos da Ilha Hispaniola. Uma das personalidades mais veneradas até ao presente foi a Rainha Anacaona, ou Flor DouradaŽ, que reinou em Xaragua, um dos cinco reinos da Hispaniola liderados pelos caciques (chefes tribais). Foi uma das últimas a sucumbir à influência espanhola com a chegada de Cristóvão Colombo em 1492: numa recepção do novo governador espanho em 1503, os seus seguidores foram detidos e executados. Anacaona escapou, mas foi capturada e enforcada em São Domingo. Estima-se que existissem originalmente entre 100 mil a um milhão de taínos na ilha, que foram progressivamente desaparecendo depois da chegada de Colombo com epidemias e trabalho escravo forçado. Mas as raízes taínas do Haiti estão ainda presentes na cultura do país e alguns haitianos alegam ter laços de sangue com os antigos habitantes da ilha. Os colonialistas franceses trouxeram escravos africanos em 1520, que povoaram a parte ocidental da Ilha Hispaniola. Em 1731, os Espanhóis reconheceram a colónia francesa de São Domingo e foi constituída uma fronteira ao longo de dois rios. Vários líderes de escravos, incluindo François Dominique Toussaint lOuverture, viram os seus donos conceder-lhes a liberdade e a França aboliu a escravatura em 1803. O coração branco foi simbolicamente rasgado da bandeira francesa pelo líder rebelde Jean-Jacques Dessalines e o vermelho e o azul foram cosidos, sendo finalmente içada a bandeira haitiana sob a divisa Liberté ou la MortŽ. Em Janeiro de 1804, após uma batalha decisiva com os franceses, Dessalines anunciou a independência em Gonaives e os Haitianos africanos assumiram o controlo da ilha recuperando o seu nome taíno HaitiŽ, ou terra montanhosaŽ. > Século XXAvancemos agora a passos largos para o Século XX e para a importância estratégica do Haiti enquanto rota marítima. Aligação proporcionada pelo recém-aberto Canal do Panamá resultou numa invasão dos EUAem 1915, tendo a ocupação durado até 1934. Vários anos depois e vário golpes, entrou em vigor a ditadura de François Duvalier, em 1957, contando com o apoio de uma classe média em florescimento e da população pobre rural. Reforçou o seu poder graças aos Tontons MacouteŽ, assim denominados por analogia com o fictício Tio Knapsack, que raptava as crianças malcomportadas, que tinham autorização para extorquirem dinheiro e bens à população e que, em troca, protegiam fielmente o seu presidente. Jean-Claude BabydocŽ Duvalier sucedeu ao seu pai quando este morreu, em 1971. Em 1986, BabydocŽ fugiu para França. Seguiu-se um período de instabilidade, de 1986 a 1990. Confrontado com o regresso dos apoiantes de Duvalier, o Supremo Tribunal decretou eleições em Dezembro de 1990, quando um jovem padre, Jean Bertrand Aristide, que contava com o apoio generalizado da sociedade civil, chegou ao poder em Setembro de 1991 sob a égide do movimento LavalasŽ, que significa torrenteŽ. O actual Presidente, René Préval, foi seu PrimeiroMinistro entre Fevereiro e Setembro de 1991. Ao fim de apenas sete meses de funções, um golpe perpetrado pelo General Raoul Cédras foi imediatamente condenado e seguido de um embargo económico que se manteve até Outubro de 1994, quando Aristide regressou com o apoio dos EUA. Aristide foi impedido de conseguir um mandato consecutivo nas eleições presidenciais de 1996, ganhas por René Préval, que, em 2001, se tornou no primeiro líder da história do país eleito democraticamente a concluir um mandato. Aristide manteve-se uma figura popular e formou o partido "Fanmi (famíliaŽ) Lavalas" e a Fundação para a Democracia, que oferecia empréstimos sem juros e apoio à saúde e educação. Foi eleito Presidente em Novembro de 2000 com 91,7 % dos votos. O 200.º aniversário da independência do país foi marcado por protestos civis que conduziram Aristide ao exílio em 29 de Fevereiro de 2004, embora este alegue que foi forçado a abandonar o país por temer as agitações generalizadas fomentadas pelos EUA. Boniface Alexandre tornou-se Presidente interino encarregado de organizar eleições no prazo de dois anos. Em 7 de Fevereiro de 2006, René Préval tornou-se novamente Presidente, eleito para o período de 2006 a 2011, no âmbito do movimento alargado LESPWA(EsperançaŽ), que reunia vários partidos políticos e grupos da sociedade civil. Obteve uma magra maioria de 51,21%, depois da contagem dos votos em branco, o que exigia o apoio de outros partidos para formar um governo de coligação.> Um país em mudançaAsituação no nosso país está a mudar. Apolítica pode ser feita de forma diferente. O país não pode, à mínima oportunidade, resvalar para a instabilidadeŽ, afirmou Préval no seu discurso de abertura anual ao Parlamento em 14 de Janeiro de 2008. Sublinhou alguns dos principais desafios económicos e a necessidade de modernização do Estado como forma de reforçar a segurança, incluindo mudanças no sistema judicial e a necessidade de crédito e investimento (ver artigo sobre a indústria) e de energia fiável e a preços adequados. Apresença da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) tem sido a grande responsável pelo regresso à estabilidade, embora o Presidente afirme que ainda se verificam muitos sequestros e que os seus responsáveis devem ser justiçados. Na sequência da partida do ex-Presidente, Jean Bertrand Aristide, uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU de Junho de 2004 mandatou uma força para estabilizar o país e auxiliar o governo de transição na realização de eleições. Bandos armados tinham o país como refémŽ, declarou David Wimhurst, director de relações públicas da MINUSTAH, discursando na sua sede, o antigo Hotel Christopher, em Port-au-Prince. AMINUSTAH conta actualmente com 7060 militares, na sua maioria provenientes da América Latina, com um grande contingente do Brasil, e 2091 agentes da polícia (dados da ONU de Novembro de 2007), que estão a contribuir para a criação de uma força policial haitiana. O novo comandante da MINUSTAH, desde Setembro de 2007, é o diplomata tunisino Hédi Annabi. Wimhurst explicou que era necessária alguma força para refrear os bandos responsáveis pela violência e pelos sequestros. Foram necessários três meses para desagregar os bandos, algumas vidas foram perdidas e 800 pessoas foram detidas em Cité SoleilŽ, acrescentou Wimhurst. Desde Fevereiro de 2007 é mais fácil circular em Cité Soleil. As acções da MINUSTAH criarão espaço para um desenvolvimento a mais longo prazoŽ, referiu ainda Wimhurst. Só poderemos abandonar o Estado se houver uma força policial profissional e totalmente equipada ao serviço do país.Ž Até à data, foram formados 11.000 agentes da polícia haitiana, ao passo que são necessários pelo menos 20.000. Wimhurst declarou que a MINUSTAH está igualmente a financiar 16 barcos para a patrulha das costas do Norte do Haiti, que são um ponto de entrada de drogas ilegais. > Diáspora dinâmica Um estudo recente de uma ONG, o International Crisis Group (ICG), refere que o Governo deveria incentivar a diáspora haitiana a investir mais no país: trata-se de três milhões de pessoas, cujas remessas ascenderam a 1,65 mil milhões de dólares americanos em 2006, o equivalente a 35% do PIB. Damien Helly, analista principal do ICG, afirmou que esta contribuição económica deveria estar reflectida no sistema político através da oferta de sistemas de voto no estrangeiro e da autorização de dupla nacionalidade e representação da diáspora no Parlamento, o que provavelmente exigiria uma reforma constitucional. O documento incentiva também a criação de uma força de trabalho da diáspora mandatada por responsáveis governamentais do Haiti, por todas as forças políticas, pela sociedade civil e pelo sector privado, que elaborasse uma estratégia em 10 anos com o apoio internacional. É também importante para o futuro do país uma estratégia conjunta com a República Dominicana, apesar da condenação 35 CONSTRUIR COM BASENA ESTABILIDADEUm olhar sobre as subleva›es pol’ticas do passado coloca em perspectiva a actual estabilidade relativa no Haiti. Para o governo, Ž uma oportunidade, juntamente com o apoio indispens‡vel dos doadores, para consolidar a sua administra‹o e implementar medidas de relanamento da economia e, assim, atenuar a pobreza. Pal‡cio presidencial, Port-au-Prince.© Debra Percival Esquina em Les Cayes.© Marc Roger R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 20

internacional das violações dos direitos dos trabalhadores haitianos no país vizinho (ver artigo de Pierre Gotson). Em Março de 2008, terá lugar em Belledère, no Haiti, a 3ª edição de uma feira conjunta dos dois países sobre ecoturismo e ligações culturais organizada conjuntamente pelo organismo dominicano a Fondation Science etArt, a Fondation pour le Développement du Tourisme Alternatif (FONDTAH) e a San Pon Ayiti, conforme explicou José Serulle, Embaixador da República Dominicana no Haiti. Adescentralização governamental está a evoluir progressivamente na sequência da eleição de responsáveis municipais. O Haiti acolheu recentemente a 23ª edição da Conferência Mundial de Presidentes de Câmara em Côte des Arcadins, subordinada ao tema do fortalecimento dos municípios.Projectos individuais como o estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conduzido pela consultora haitiana Société dAménagement et de Développement (SODADE), sobre o desenvolvimento de Les Cayes, que, de infra-estrutura de prevenção de inundações, se transformou em marina, é simplesmente um exemplo dos projectos individuais à escala nacional orientados para o desenvolvimento das regiões, explicou Marc Roger, da SODADE.> Boas práticas administrativas No seu discurso ao Parlamento, o Presidente Préval sublinhou também a modernização dos ministérios graças à tecnologia, e a necessidade de registar todas as entidades empresariais. Necessitamos de reconquistar as boas práticas de administração perdidas durante os anos DuvalierŽ, explicou Price Pady, Ordenador Nacional do Haiti, responsável pela coordenação e aprovação de projectos de doadores. O apoio orçamental para melhorar a capacidade dos ministérios constitui uma parte importante do planeamento dos doadores no Haiti (ver artigo sobre o 10.º FED). Encaramos o apoio orçamental como um instrumento de diálogo intergovernamental. Este diálogo concentra-se em prioridades e políticas identificadas pelo governoŽ, afirmou o chefe da Delegação da UE no Haiti, Francesco Gosetti-di-Sturmeck, aquando do anúncio de apoio orçamental suplementar em Outubro de 2007. Amelhoria do ensino é vista como essencial para a construção da base de competências do país. 40 % da população com mais de 10 anos não sabe ler nem escrever. Como afirmou o Ministro da Educação, Gabriel Bien Aimé: Para alterar esta situação necessitamos de mais professores qualificados e de instalações, salas de aulas e materiais de ensino mais adequadosŽ, que complementariam o financiamento de instituições de formação de professores por parte da UE (ver artigo sobre o FED). O Ministro Bien Aimé quer inverter os valores segundo os quais 80 % da educação é actualmente fornecida pelo sector privado e somente 20 % pelo sector público. Isto significa o aumento do orçamento anual para a educação para 8 % em 2008 e 13 % no ano seguinte, elevando-o gradualmente para 25 %, colocando a despesa ao nível da que se verifica na maioria dos países e alcançando, eventualmente, o objectivo "educação para todos", afirmou o Ministro.1 www.crisisgroup.org 2 Para mais informa›es, contacte a FONDATH: fondtah@yahoo.fr , San Pon Ayiti: Sanponayiti@acn2.net e a Fundacion Cienca y Arte Inc: Fund.ciencia@codetel.net.do 3 Conferncia Mundial de Presidentes de C‰mara: www.world-conference-of-mayors.org Conferncia Nacional de Presidentes de C‰mara Negros: www.ncbm.orgD.P. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 S erge Gilles é líder do partido Fusion des Sociaux Démocrates HaitienneŽ (Partido de Fusão dos SociaisDemocratas do Haiti), que detém uma das maiores representações parlamentares no país: seis dos 30 assentos no Senado e 20 dos 99 na Câmara dos Deputados. Este partido participa na coligaçãoŽ ou, como Gilles subtilmente se lhe refere, de um governo pluralistaŽ formado na sequência das eleições de 2006. Com 2,62 % dos votos, Gilles foi um dos candidatos derrotados de um grupo de 33 que se apresentou às eleições presidenciais de Fevereiro de 2006 e que colocou o Presidente Préval no poder. O secretário-geral do partido Fusão, Robert Auguste, está actualmente à frente do Ministério da Saúde. Gilles passou 25 anos no exílio durante o período das ditaduras Duvalier, regressando ao Haiti em 1986. Em meados de Novembro, quando nos conhecemos, preparava-se para uma reunião ministerial, que teria à tarde com o Conselho de Ministros para a qual o Presidente Préval convidara os cinco líderes da oposição. O objectivo era debater uma avaliação do governo feita pelo Banco Mundial. No nosso encontro em Pétionville, apesar de aplaudir esta consulta aberta, Gilles manifestou a preocupação de que a actual liderança do Primeiro-Ministro, Jacques Edouard Alexis, e do Presidente Préval se tenha mostrado até agora aquém do necessário no que se refere à resolução dos grandes desafios do passadoŽ.> Funcionamento da coligaçãoRené Préval conta com experiências anteriores na governação do país. Já foi Primeiro-Ministro e também Presidente, mas não abusa dos seus poderes. Compreende a fragilidade da situação. Até à data, conseguimos ultrapassar os problemas de segurança. Apolícia nacional que se desagregou foi novamente restabelecida e, apoiada pela MINUSTAH, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, está a fazer um bom trabalho. O governo pluralista trouxe consigo a estabilidade política. Há algumas críticas, mas de pessoas que não estão representadas no governo. Todos os que se encontram representados aceitaram permanecer neste governo formado por consenso a fim de garantir a estabilidade do país e, com a ajuda da comunidade internacional, tornar possível a construção de estradas e a reabilitação dos serviços públicos para dar ao governo alguma paz de espírito. O país tem muitos problemas. Do lado negativo, volvidos dois anos, o Governo ainda não conseguiu ultrapassar os principais desafios do passado. Aquilo que lhe digo disse também ao Presidente, René Préval. As nossas conversas são muito francas.Ž37 36 Superf’cie: 27.750 km2 Popula‹o: 8,7 milh›es de habitantes PIB: 5 mil milh›es de d—lares americanos Crescimento anual do PIB: 2,3% D’vida a longo prazo: 1,3 mil milh›es de d—lares americanos (em 2005) Esperana de vida: 52 anos (nœmeros de Junho de 2005) êndice do PNUD: 146 em 177 (relat—rio de 2007-2008) Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita: 480 d—lares americanos Importa›es: 1,55 mil milh›es de d—lares americanos (estimativa de 2006), nomeadamente alimentos, combust’vel, m‡quinas, produtos manufacturados. Exporta›es: 494 milh›es de d—lares americanos (estimativa de 2006), cafŽ, —leos, mangas, vetiveria. Pol’tica Presidente: RenŽ PrŽval, desde 14 de Maio de 2006 (mandato de 5 anos). Chefe do governo : Primeiro-Ministro, Jacques Edouard Alexis, desde 30 de Maio de 2006. Assembleia Nacional Bicameral e Senado: As elei›es para o Senado (30 senadores) s‹o realizadas de seis em seis anos, mas o candidato com a maioria dos votos em cada um dos dez departamentos cumpre um mandato de 6 anos, o candidato seguinte cumpre 4 e o terceiro candidato 2 anos, o que significa que haver‡ elei›es de substitui‹o de um tero dos membros em 2008. A C‰mara dos Deputados (99 deputados) Ž eleita de 4 em 4 anos Ð pr—xima elei‹o em Abril de 2010. Principais partidos pol’ticos: Aliana, Fus‹o Haitiana Social-Democrata; OPL, Organiza‹o do Povo em Luta; Alyans, Aliana Nacional Democr‡tica; Frente para a Reconstru‹o do Haiti; Artibonite em Ac‹o (LAAA). Fontes: Banco Mundial, PNUD, Uni‹o Europeia, CIA, Governo do Haiti. Temos de saber a quem PERTENCE A TERRA NESTE PAÍSŽ Resumo estat’stico do Haiti (nœmeros para 2006, salvo indica‹o em contr‡rio): Entrevista a um l’der da oposi‹o Fusion, Serge Gilles O "Tap-Tap" Ž o mais famoso t‡xi pœblico do Haiti. © Hegel Goutier Est‡tua do escravo desconhecido, Champs des Mars, Port-au-Prince.© Debra Percival R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 21

> O receio do neoliberalismo Sinto que os antecedentes do Presidente são extremamente neoliberais. Vivemos num mundo de números, controlado pelo comércio e pela democracia. Se ficarmos simplesmente à margem, seremos engolidos pelo comércio internacional, dominado pelo grande capitalismo. Temos de progredir rapidamente recorrendo a princípios democráticos para corrigirmos as regras do jogo, para controlarmos o mercado através da intervenção estatal.Ž> O papel da MINUSTAHAMINUSTAH foi necessária porque, após a partida de Aristide, tornou-se impossível gerir as crises. Na época, não havia exército e a polícia era corrupta. Aopção pela MINUSTAH não foi má.Ž Aquilo que temos de fazer agora é prepararmonos para a partida da MINUSTAH. Temos de tirar partido da presença da MINUSTAH aqui para formar a força policial e estabelecer outra força. Alguns chamam-lhe gendarmerie, outros um novo exército. Qualquer que seja o seu nome, é necessária para patrulhar os portos, os aeroportos e as fronteiras e para combater eficazmente o problema da droga.Ž> Fraca administraçãoTemos uma administração muito fraca. Quando se vivem as catástrofes que nós vivemos, deixa-se para trás o facto de se ter uma administração muito fraca. Apoio os Canadianos, que investiram imenso em formação. Gostaria de ver uma escola de formação para a administração em cada província e também duas aqui (na capital, Port-au-Prince).Ž> Corrupção no HaitiNão se pode dizer que a oposição seja corrupta, evidentemente. Não se pode dizer que René Préval seja corrupto, já que não é seguramente o caso. Conheço Estados que são corruptos de cima a baixo. Se existe corrupção no Haiti, esta refere-se ao tráfico de droga e a uma parte do sistema de justiça. Préval estabeleceu um comité para avaliar a reforma do sistema de justiça e o Parlamento acaba de adoptar três leis sobre a independência e o saneamento do sistema de justiça (leis decretadas em 27 de Novembro de 2007). Será criada uma escola de formação para juízes. Todos os nossos parlamentares apoiaram esta reforma.Ž> Descentralização do governoSinto que a descentralização faz progredir a democracia, mas é verdade que ainda não delineámos um quadro legal para a descentralização. Os parlamentares estão a trabalhar no sentido de proceder a esta tarefa para que as autoridades municipais (collectivités territoriales) possam dar início ao processo. O funcionamento de uma autoridade municipal não é apenas uma questão de angariação de financiamento.Ž D.P. 38 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008> Reforma agráriaEm primeiro lugar, precisamos de uma reforma cadastral. Temos de saber a quem pertence a terra neste país. Não é normal que um país como o nosso tenha de importar arroz. É fundamental saber que terra pertence a quem antes do lançamento da produção nacional, que é o principal desafio. Um governo que não consegue alimentar o próprio povo é um governo com problemas. Areforma agrária significa saber que terra pertence a quem. Se tal acontecesse, a pessoa que a cultiva estaria muito mais interessada em fazê-lo, já que aquela seria a sua propriedade.Ž> Falta de créditoO Governo não fez nada para colocar o crédito ao alcance da maioria dos haitianos. O crédito aqui é proibitivo; não é normal. Temos de recapitalizar o país. Concordo com o Governo no que se refere à necessidade de construir estradas porque as estradas proporcionam também a criação de um mercado, mas o governo tem também de lidar com a questão do aumento da produção à escala nacional.Ž 39 P‡gina 38: Vista de ruas em Les Cayes.© Marc RogerDe cima para baixo: L’der da oposi‹o, Serge Gilles.© Debra PercivalLes Cayes.© Marc RogerMapa do Haiti.© Minustah R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 22

40 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 200865 % da população do Haiti ainda depende da terra para viver, mas o sector apenas representa 25% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo JeanBaptiste Chavannes, presidente do amplo órgão de camponeses, o Congresso Nacional do Movimento Camponês da Papaia (MPNKP). Chavannes afirma que a agricultura tem sido caracterizada por anos de negligência. Este processo foi acelerado pela liberalização nos anos 80 e por um excesso de dependência das importações. Outro elemento responsável pelo declínio da produção local foi o embargo económico contra o Haiti, de 1991 a 1994, cortando as importações de produtos como os alimentos preparados para animais necessários à agricultura. Chavannes afirma que a situação dramáticaŽ de hoje tem origens mais distantes. Diz ainda que o atraso da reforma agrícola é em parte responsável, pois não há uma partilha adequada da terra desde a independência em 1804, quando a divisão da terra de escravos pobres por entre os generais apenas produziu o que chama de neo-escravaturaŽ. Chavannes acrescenta ainda que a reforma agrária urge e que 80% dos processos judiciais locais envolvem discussões sobre quem tem jurisdição sobre esta ou aquela parcela de terra. Contudo, até aos anos 60, o Haiti era auto-suficiente a nível alimentar. Depois disso, o regime neoliberalista começou a reprimir e gradualmente destruiu a produção local, sendo exemplos disso a cultura do arroz e as indústrias avícola e dos ovos. Chavannes argumenta que, desde então, o país tem sofrido com a falta de compromisso político para com o sector. O número cada vez maior de habitantes é também responsável. No momento da independência, 85% do meio milhão de habitantes do Haiti era essencialmente rural no Centro, Sudeste e Nordeste. Hoje, a população aproxima-se de 8,7 milhões de habitantes (número da UE para 2007), dos quais 40% vivem em zonas urbanas. Os custos elevados do combustível fazem com que a maioria da população utilize combustíveis da madeira, devastando florestas e provocando ainda mais degradação e erosão do solo de cultivo. 50% dos terrenos do Haiti encontram-se actualmente impróprios para cultivo. O resultado, segundo Chavannes, é uma subida da factura da importação de alimentos: Importamos 300 milhões de dólares em comida todos os anos. É uma catástrofe.Ž> Falta de crédito Muitas outras pessoas envolvidas neste sector no Haiti concordam que o país poderia responder melhor às suas próprias necessidades alimentares, nomeadamente as relacionadas com aves e ovos. Nos anos 80, a produção industrial de ovos disparou. Depois, eram produzidos 100.000 diariamente no Haiti, segundo Michel Chancy da Association Haitienne pour la 41 Nos primeiros anos do século XX, os Haitianos deixaram as suas casas para irem trabalhar para as plantações de cana-de-açúcar dominicanas que abasteciam fábricas construídas ou financiadas pelos americanos. Nos anos 60, foi celebrado um acordo entre os dois países para o fornecimento de trabalhadores sazonais que fizessem as colheitas da cana-deaçúcar dominicanas. Depois da condenação deste acordo, no seguimento da queda da ditadura de Duvalier em 1986, muitos haitianos continuaram a migrar para a República Dominicana, principalmente à procura de emprego. Hoje em dia, embora não se tenha feito um censo da população, as entidades dominicanas dizem que vivem no país mais de um milhão de haitianos. ARepública Dominicana vê esta imigração como um fardo e está sempre a repatriar imigrantes haitianos em condições que violam os direitos humanos mais básicos, incluindo a desagregação de famílias, a deportação nocturna sem coordenação com as autoridades haitianas e outras formas de maus-tratos. Os antecedentes da situação actual são uma longa história de hostilidades e disputas. Os Haitianos não esqueceram o massacre de cerca de 30.000 conterrâneos na República Dominicana em 1937 sob as ordens do ditador Rafael Trujillo. Por seu lado, os Dominicanos lembram-se do severo regime de ocupação que lhes foi imposto pelo governo haitiano de Jean-Pierre Boyer entre 1822 e 1844. Existem igualmente diferenças culturais entre as duas sociedades que alimentam preconceitos na República Dominicana, cuja população reivindica uma herança índia e espanhola, enquanto que os Haitianos invocam a sua herança africana. Esta situação não favorece o entendimento entre Haitianos e Dominicanos e influencia o trabalho dos meios de comunicação, afectando a informação sobre as relações haitiano-dominicanas. Durante muito tempo, os meios de comunicação haitianos apenas faziam uma cobertura esporádica da questão dominicana, com base em despachos das agências de imprensa internacionais. Enquanto a imprensa haitiana operava ignorando quase totalmente o país vizinho, a imprensa dominicana simplesmente divulgava as informações oficiais sobre o Haiti fornecidas pelas autoridades dominicanas.>Novas tecnologias Contudo, nos últimos anos, o desenvolvimento de Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) e as actividades de sectores alternativos no campo da comunicação permitiram que as informações sobre as relações haitiano-dominicanas tomassem outro rumo e adquirissem uma maior presença nos meios de comunicação haitianos. Uma das agências que tem trabalhado sistematicamente nesta questão é a AlterPresse (www.alterpresse.org), uma rede noticiosa alternativa haitiana e membro do Groupe Média Alternatif, que iniciou funções em 2002. AAlterPresse dá prioridade à divulgação das relações haitiano-dominicanas, cobrindo regularmente temas essenciais, tanto em francês como em espanhol. Elaborou centenas de artigos, alguns deles em cooperação com colegas dominicanos, relacionados principalmente com a imigração, questões fronteiriças, comércio binacional, direitos humanos, ambiente, catástrofes naturais, saúde, turismo, cultura, etc. Com mais de 20.000 ocorrências por dia e relatórios transmitidos por vários meios de comunicação (rádio, televisão, jornais, sítios web) em todo o Haiti, República Dominicana e outras regiões, a AlterPresse tem ajudado a garantir uma melhor cobertura mediática dos assuntos haitiano-dominicanos, bem como a influenciar várias decisões sobre estas questões. AAlterPresse tem relações profissionais e de amizade com a Espacio Insular, uma agência dominicana alternativa criada em Agosto de 2006. Em Fevereiro de 2007, celebraram um acordo de cooperação e, em Novembro passado, completaram um estudo sobre as relações haitiano-dominicanas e sobre como são apresentadas nos meios de comunicação em ambos os países, tendo organizado uma reunião de jornalistas haitianos e dominicanos em Port-auPrince para discussão dos assuntos em questão. Os jornalistas aperceberam-se que dois países que partilham a mesma ilha partilham igualmente um destino. Por esse motivo, é necessário haver compreensão e cooperação para ultrapassar qualquer hostilidade, para facilitar a compreensão e a harmonia e para criar perspectivas de um desenvolvimento comum enraizado num sentido de solidariedade. Gotson Pierre* RELAÇ'ESHAITIANO-DOMINICANAS E MEIOS DE COMUNICAÇÃOAs rela›es nem sempre foram f‡ceis devido aos direitos dos trabalhadores haitianos nos "Bateys"** dominicanos. As iniciativas de uni‹o dos dois pa’ses atravŽs da abertura de canais de informa‹o apenas conseguem contribuir para uma melhor compreens‹o entre as duos partes. Isto reforar‡a pol’tica bilateral adotada pelo governo do Haiti, visando o estabelecimento de rela›es mais estreitas em prol dos dois pa’ses. PRECISAMOS DEIRRIGAÇÃO, REFLORESTAÇÃOE INSUMOS AGRÍCOLAS Ž Tudo no Haiti Ž captado em prospec›es e as d‡divas da terra n‹o s‹o uma excep‹o, mas ser‡ isto uma licena meramente art’stica? A verdadeira imagem Ž a da degrada‹o da terra, do fraco investimento e da baixa produ‹o, incitando a reformas urgentes.Vista sobre o Lago Saumatre, do Haiti em direc‹o ˆ Repœblica Dominicana. © Debra Percival *Gotson Pierre Ž co-fundador do Grupo Media Alternatif**Lugar reservado nas explora›es aucareiras aos escravos e mais tarde aos cortadores de cana.R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 23

Promotion de lElévage (Associação Haitiana para a Promoção da Actividade Pecuária) (AHPEL) e também da ONG Vétérimed. Agora apenas são produzidos 30.000 ovos por mês, na maior parte das grandes quintas do Haiti. Com melhores infra-estruturas, crédito e um bom abastecimento eléctrico, a República Dominicana tem preenchido as lacunas deixadas nos mercados, conforme explica Greet Schaumans da ONG belga Broederlijk Delen. Relativamente à produção de frangos, de 6 milhões produzidos anualmente nos anos 80, a produção caiu fortemente no início dos anos 90 devido ao embargo económico. No final dos anos 90, o mercado foi preenchido com importações maciças de rações de frango congelado, segundo números da Vétérimed. Agora, a produção de frangos no país é de apenas um quarto da dos anos 80, ou seja, 1,2 a 1,5 milhão por ano. Quase toda a gente ligada ao sector refere que falta crédito para investir em tecnologia e produtos que permitam à agricultura realizar o seu potencial. Gabriele lo Monaco, conselheira da delegação da UE no Haiti, afirma que não existe praticamente investimento na agricultura por parte dos pequenos agricultoresŽ. Chavannes acrescenta: Tem havido uma descapitalização da agricultura dos camponeses.Ž Chavannes refere que os agricultores da República Dominicana conseguem aceder a créditos com uma taxa de 12% ao ano e com uma redução de até 6%. No Haiti, o crédito ou é inacessível ou está indisponível. As taxas de juro de 20 a 30% são comuns. Diz-nos ele: Precisamos de um compromisso político que falta à agricultura. Precisamos de irrigação, de reflorestação e de produtos. No 35.º Aniversário do Congresso, em Março de 2008, vamos apelar para uma agricultura diversificada, bem como para um comércio justo e reforma agrária.Ž Serge Gilles, líder do partido Fusão dos SociaisDemocratas, referiu igualmente numa entrevista à necessidade de crédito e de reforma agrária por forma a permitir que as pessoas possuam terra, o que encorajaria o investimento individual. Considera igualmente que o Haiti tem futuro na agricultura orgânica, sendo que estes produtos são vendidos em mercados internacionais a preços mais elevados do que os produtos normais.> Lèt AgogoA Vétérimed , ONG de profissionais especializados em saúde e produção animais, cujo objectivo é ajudar a aumentar os rendimentos das pequenas quintas rurais, criou um projecto agrícola que marcou. Os lacticínios, como o leite e o iogurte esterilizados, fabricados em 10 unidades de micro-transformação, são distribuídos por todo o país por organizações rurais de juventude. ALèt Agogo, o nome comercial dos produtos, recebeu um prémio de melhor produto na América do Sul. Aagricultura não é um sector prioritário para o 10.º FED, mas a UE já financiou muitos projectos com ONG para a promoção da segurança dos alimentos e lançou igualmente um esquema de diversificação agrícola para o Centro e o Sul. Um projecto aprovado recentemente no valor de 3 milhões de dólares, dos quais 495.000 dólares são fornecidos pelo governo do Haiti, vai elaborar informações sobre a vulnerabilidade daqueles que dependem da agricultura em todo o país. Este projecto será realizado pela Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Instituto Haitiano de Estatísticas e Informações, com o objectivo de desenvolver estratégias contra a insegurança alimentar. Alguns produtos de nicho de mercado, como o café Rebo e Haitian Blue e a manga Francis, popular na diáspora haitiana de Miami, tiveram algum êxito em termos de exportação, embora as fracas infra-estruturas e as instalações de refrigeração limitadas constituam obstáculos às exportações de produtos perecíveis a uma maior escala. Há quem pense que o Haiti deveria seguir os passos do Brasil no que respeita ao cultivo de mais cana-de-açúcar para produção de bioetanol. Isto reduziria a despesa de combustível do país. Mas a ONG belga Broederlijk Delen afirma num documento que antes de seguir em frente deverá haver um questionamento sobre se esta seria a melhor utilização a dar à terra. Argumenta que a utilização generalizada da terra para produção de bioetanol a nível global fará subir os preços dos géneros alimentícios. Neste caso, além de precisar de investir muito em água e infra-estruturas necessárias a qualquer empreendimento relacionado com o bioetanol, o Haiti agravaria sua dependência das importações de alimentos e arriscaria perder qualquer benefício decorrente da produção de combustível mais barato. D.P. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 43 42 Magnificncia da terra do Haiti, land,tela de Casimir pendurada na Villa Creole (Port-au-Prince). © Debra Percival Vendedora de maracuj‡, Port-au-Prince. © Debra Percival R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 24

Handschuh diz que o programa foi inspirado pelo sucesso nacional de algumas Pequenas e Médias Empresas (PME), incluindo o INDEPCO para a indústria e a ONG Vétérimed (ver artigo sobre a agricultura) para o sector dos lacticínios. O INDEPCO, Institut de Développement et de Promotion de la Couture, cujo director é Hans Garoute, importa tecidos que vão ser utilizados na confecção de uniformes escolares e outro vestuário acabado. AVétérimed melhorou a vida de agricultores com unidades para processamento e produção de lacticínios (ver artigo sobre a agricultura). O PRIMAoferece uma gama de apoio a novas PME e associações comerciais. Disponibiliza subsídios para estudos de exequibilidade, seminários, assistência técnica, formação de pessoal, compra de equipamento de escritório, participação em exposições de feiras comerciais e a compilação e impressão de folhetos promocionais. Segundo Handschuh, existe um grande potencial na transformação de frutos e vegetais e na produção de cimento e outros materiais de construção. O projecto financia igualmente o reforço do diálogo entre os sectores público e privado, tendo como objectivo o lançamento de sociedades associadas. Handschuh diz que os dois sectores não comunicavam entre siŽ. Para abranger tanto quanto possível o país inteiro, de acordo com a política geral de descentralização do governo, o PRIMApossui igualmente um escritório em Les Cayes, no sul do país. Segundo Handschuh, o objectivo é que os projectos em curso sejam, a determinada altura, apoiados por instituições de crédito. Adisponibilidade de crédito e os seguros são actualmente muito maus no sector agrícola. > OptimismoExistem outras iniciativas em curso no sector comercial. Um Fórum de Comércio e Investimento do Haiti (HITF), realizado em Port-au-Prince nos dias 15 e 16 de Novembro de 2007, reuniu representantes do governo haitiano e do sector privado, para procurarem maneiras de fazer mais negócios no Haiti, impulsionados pelo acesso mais facilitado aos mercados regionais ao abrigo da iniciativa Encorajamento à Oportunidade de Parceria Hemisférica no Haiti ( Haitian Hemispheric Opportunity Partnership Encouragement … HOPE). As áreas que se julgam ter potencial incluem o turismo, a indústria agroalimentar, os biocombustíveis, as telecomunicações e o artesanato. O secretário-geral adjunto da Organização dos Estados Americanos (OEA), Albert R. Ramdin, que dirige o grupo de trabalho da OEA-Haiti, anunciou aos jornalistas presentes no evento que a geração de empresas iria propiciar um governo democrático e segurança. O Embaixador do Haiti em Bruxelas, Raymond Lafontant Jr., também nos disse que as regras de origem melhoradas eram um dos pontos principais de interesse do país no novo Acordo de Parceria Económica (APE) que a UE celebrou em finais de Dezembro com todos os países da Caricom.* Irá permitir ao Haiti a utilização de produtos importados na manufactura, continuando contudo a exportar o produto final para a UE com isenção de direitos.* O Haiti tornou-se um membro de pleno direito da Comunidade do Caribe (Caricom) em 1996 e Ž o œnico pa’s menos desenvolvido no grupo. Os outros membros s‹o Ant’gua e Barbuda, Baamas, Belize, Dominica, Repœblica Dominicana, Granada, Guiana, Jamaica, Santa Lœcia, S‹o Vicente e Granadinas, S‹o Crist—v‹o e Neves, Suriname e Trindade e Tobago.D.P. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 45 44Oque parece ser um vigoroso negócio num mercado de quase nove milhões de consumidores, ao nível da rua esconde uma falta de organização, uma procura interna fraca e falta de crédito bancário, o que leva a um fraco investimento nos sectores produtivos e pouco valor acrescentado aos produtos. Abalança comercial total com a UE foi negativa em 77 milhões de euros em 2004, sendo os têxteis o único sector que registou um excedente de exportação de 2 milhões para o mercado da UE nesse mesmo ano. Com mais segurança nas ruas e um governo estável no poder, os Haitianos esperam que uma economia doméstica mais saudável proporcione emprego e melhore o nível de vida no país. As questões de segurança impediram recentemente que empresas internacionais investissem no Haiti, mas existem agora sinais de investimento externo. ADigicel, o operador de rede móvel que cobre a totalidade das Caraíbas, é uma grande empresa regional que se apercebeu que pode ter grandes lucros no mercado haitiano e os seus painéis publicitários vermelhos atraem as atenções nos espaços públicos da capital. Aabundância de criatividade no Haiti e o mercado interno potencialmente grande, bem como os mercados próximos dos Estados Unidos e do resto das Caraíbas, são trunfos óbvios, mas no que respeita à criação de pequenas empresas, as que contactámos durante a elaboração desta reportagem mencionaram frequentemente a falta de crédito como o maior obstáculo ao lançamento de um negócio. O perfil de negócios do país não melhora devido às pobres infra-estruturas, especialmente as estradas que ligam a capital ao resto do país, as falhas de electricidade frequentes e o facto de possuir poucas matérias-primas locais.> O PROJECTO PRIMAO PRIMAou, em Kwèyol, o Pwogram Ranfosman Entegre na sektè Komès an AytiŽ é um projecto da União Europeia (UE) que apoia o esforço para estimular a produção nacional. O projecto no valor de 8 milhões, a realizar em quatro anos, de 2005 a 2009, está a ajudar as pequenas empresas. Já tem inscrições em excesso, segundo o seu director, Klaus Dieter Handschuh, o que levou o Ordenador Nacional (NAO) a sugerir que seria benéfico um projecto de seguimento. B B A A R R B B A A N N C C O O U U R R T T , , M M A A R R C C A A L L Í Í D D E E R R D D O O H H A A I I T T I I A marca de rum do Haiti mundialmente famosa, Barbancourt, tem vindo a expandir-se apesar da recente falta de segurana no pa’s, segundo Thierry Gardre, director-geral da empresa. A Barbancourt Ž reconhecida por revistas de bebidas como uma das cinco melhores marcas de rum no mundo. Gardre diz que os barris de carvalho branco francs da regi‹o de Limousine, utilizados para o envelhecimento, e a utiliza‹o de cana-de-aœcar em vez de melao importado s‹o a raz‹o da diferena no sabor deste rum particularmente suave. Actualmente, a empresa, com 250 empregados, produz por ano 3 milh›es de garrafas de rum de 4, 8 ou 15 anos, realizando vendas particularmente boas nos Estados Unidos, Panam‡ e Chile. Gardre pertence ˆ quarta gera‹o desta empresa familiar iniciada em 1862. Explica que um projecto regional comunit‡rio para produtores de rum caribenhos fez aumentar a produ‹o. O projecto œnico no valor de 70 milh›es de euros, com dura‹o de 4 anos para todos os produtores de rum, foi originalmente criado para compensar as perdas no sector, devido a um acordo realizado na OMC em 1996, em Singapura, sobre a abertura do mercado ˆs bebidas espirituosas brancas. Lanado em 2002, foi recentemente prorrogado atŽ Junho de 2010 para utilizar todos os fundos dispon’veis. PROCURA-SECRÉDITO para NEG"CIOS Se vende maracuj‡s, roupa ou mœsica e n‹o se levanta antes do sol nascer, pode esquecer encontrar um lugar para vender em Port-au-Prince ou na ‡rea comercial vizinha de PŽtionville. Todos os espaos no passeio ter‹o sido ocupados. Vendedores ambulantes tentam ganhar o seu dia-a-dia.Com mais segurana nas ruas e um governo est‡vel no poder, os haitianos esperam que uma economia domŽstica mais saud‡vel proporcione emprego e melhore o n’vel de vida. © Debra Percival "Necessidade de crŽdito e investimento para aumentar a produ‹o".© Debra Percival R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 25

> Estradas importantes para a economiaTodos os projectos são uma prioridade no HaitiŽ, afirma o ordenador nacional, Price Pady. Aconstrução e a melhoria de estradas como forma de estimular o crescimento económico é o principal ponto de interesse do 10.º FED (175 milhões de euros). Dos 3400 km totais de estradas do Haiti, apenas 10 % se encontram em bom estado. As extensões a que se destina o apoio do 10.º FED são as que vão de S. Rafael ao Cabo Haitiano e as estradas circulares ao redor do Cabo Haitiano e Mirebalais, bem como uma estrada entre Mirebalais e a fronteira com a República Dominicana. Espera-se que o apoio orçamental se destine ao sector e que seja atribuída uma contribuição ao Fonds dEntretien Routier … FER haitiano (Fundo de Manutenção Rodoviária) para a manutenção da rede. Esperase também que o Banco Mundial e a França façam melhorias numa extensão entre Hinche e S. Rafael (ver mapa), por forma a completar a artéria entre a capital e o Cabo Haitiano. O 10.º FED financiará também a boa governação (36 milhões de euros), que é uma prioridade para sustentar a estabilidade política do país. O documento de estratégia da UE para o Haiti do 10.º FED indica que a reforma do sistema judicial é, a curto prazo, o principal desafio do governoŽ. Haverá apoio para a descentralização e para ajudar a implementar o Document de Stratégie National pour la Croissance et la Réduction de la PauvrétéŽ (DSNCRP), o documento que se espera da parte do governo sobre os seus planos de crescimento económico e redução da pobreza a longo prazo. Estão previstos cerca de 48 milhões de euros de apoio orçamental directo, um pagamento anual ligado à boa gestão das finanças públicas. Todos os projectos fora dos sectores específicos incluem o auxílio a intervenientes não estatais (8,8 milhões de euros), iniciativas culturais (3,7 milhões de euros), Ordenador Nacional e apoio técnico institucional (7,5 milhões de euros), estratégias binacionais com a República Dominicana e a implementação do novo Acordo de Parceria Económica (12 milhões de euros). D.P. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 46Elegível para o Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED) pela primeira vez ao abrigo da Convenção de Lomé IVem 1990, o Haiti sofreu uma série de crises políticas e institucionais, dos anos 90 até 2004, que fizeram com que o pagamento de fundos pela UE destinados a sectores fundamentais da economia fossem canalizados para projectos de emergência, humanitários e de pós-conflitoŽ. O golpe de estado contra o Presidente Bertrand Aristide em 1991 atrasou a implementação dos 112,2 milhões de euros do 7.º FED (1990-1995). O pagamento dos 148 milhões de euros do 8.º FED (1995-2000) caracterizou-se por uma ausência de governoŽ, resultando na adopção de medidas apropriadasŽ por parte da UE em 2001, tendo os fundos sido destinados para benefício directo da população, incluindo ajuda de emergência, projectos através da sociedade civil e ajuda adicional do Serviço de Ajuda Humanitária da Comunidade Europeia (ECHO). Um dos poucos projectos a mais longo prazo a realizar era o apoio ao sector da educação em 1999. Um montante de 28 milhões de euros para o PARQUE (Programme dAmélioration de la Qualité de lEducationŽ Programa de Melhoria da Qualidade da Educação) incluía a construção e reabilitação de 17 locais de formação de professores, Ecoles Fondamentales dApplication et Centres dAppui PédagogiqueŽ (EFACAP), que iriam servir 350 escolas em 4 departamentos. O ordenador nacional Price Pady afirma que este esquema extremamente bem-sucedidoŽ foi recentemente alargado com 14 milhões de euros do fundo pós-conflitoŽ do 9.º FED (ver abaixo).> Ajuda pós-conflitoQuando terminou a crise política de 2004, estava a ser concebido o 9.º FED (2000-2007). O seu orçamento de 167,6 milhões de euros foi redireccionado para apoio pós-conflitoŽ, apoio às eleições de 2006 e reabilitação do país. Juntou-se o que restou dos 7.º e 8.º FED, dando um total de 276 milhões de euros pós-criseŽ. Financiou-se a realização de eleições (18 milhões de euros), bem como o apoio comercial à educação através do PRIMA(ver artigo sobre a indústria), alguma construção de estradas e diversos projectos através da sociedade civil (ver AVSI abaixo). Aextensão de estrada que liga Port-au-Prince a Mirebalais estava a ser asfaltada por altura da nossa visita, embora a construção no terreno inclinado e rochoso que desce de Port-auPrince tenha sido difícil, como explica Roberto Rivoli, engenheiro de estradas da empresa francesa BCEOM, que está a orientar o trabalho do grupo de construção dominicano. Trata-se de uma secção da estrada situada entre a capital e o Cabo Haitiano na costa norte. Estão também em curso uma secção adicional desta estrada para Hinche e uma melhoria da estrada que vai do Cabo Haitiano a Dajabon, na fronteira da República Dominicana, com verbas do 9.º FED. Amelhoria na gestão económica por parte do governo eleito recentemente também atraiu a ajuda orçamental geral (36 milhões de euros) em 2006-2007. RESPEKTE MOUN, Bati KayŽ"A gora podemos andar por todo o lado em segurana", comenta Fiammetta Cappellini, consultora s—cioeducacional da ONG italiana AVSI, que est‡ a executar um projecto FED para a constru‹o da paz no bairro CitŽ Soleil, situado a norte de Port-au-Prince, cujas barracas albergam cerca de 350.000 haitianos. Anteriormente controlado por bandos armados, que usavam a violncia e faziam sequestros, a partir de Fevereiro de 2007 a vida nas ruas Ž mais f‡cil, tendo sido detidos muitos dos respons‡veis pela violncia com a ajuda da MINUSTAH. O projecto, no valor de 1,2 milh‹o de euros, a realizar em trs anos, de 2007 a 2009, intitulado "Bati lap" (Consolida‹o da Paz), ao qual s‹o atribu’dos 200.000 euros pela ONG Justia e Paz, ensina que "existe uma alternativa aos bandos armados", segundo Carlo Zorsi, representante da AVSI no Haiti. N‹o Ž dif’cil explicar a frustra‹o das pessoas que vivem nesta por‹o de terra de 5 km2 sem equipamentos b‡sicos, sem emprego e sem saberem de onde vir‡ a pr—xima refei‹o. Os buracos de balas nalgumas casas s‹o a prova da disponibilidade de armas. Fiammetta Capellini explica que no in’cio foi dif’cil transmitir a mensagem de paz, pois as pessoas estavam habituadas a receber algo material em troca. O programa d‡ forma‹o a "mediadores da paz" que transmitem a mensagem a outros que assinam uma "Declara‹o de compromisso para com a paz". Carlo Zorsi diz que foi dif’cil transmitir uma vis‹o do futuro aos jovens, principalmente ˆqueles que tm idades compreendidas entre 18 e 28 anos. O programa d‡ igualmente apoio mais geral, por exemplo na ajuda ˆ elabora‹o de CV. Fornece tambŽm assistncia social e aconselhamento psicol—gico a crianas mais novas. Fiammetta Cappellini explica que a violncia do meio engendrou a violncia no seio das fam’lias contra as mulheres e as crianas. Zorsi diz que h‡ necessidade de se continuar a trabalhar em "CitŽ Soleil" e tambŽm no bairro social de Matissant, a sul da capital. Afirma ainda que poderia ser œtil um projecto de horticultura urbana com pneus e telhados e sublinha a necessidade de auxiliar as autoridades locais. Zorsi diz que "o presidente da C‰mara (de CitŽ Soleil) foi eleito, mas tem pouca influncia ou capacidade". www.avsi.org 47 Obras na estrada que vai de Port-au-Prince a Mirebalais financiada pelo FED.© Debra Percival No cimo :Projecto de Educa‹o da AVSI para as Crianas, CitŽ Soleil, um bairro da lata em Port-au-Prince. © Carlo ZorziA constru‹o e a melhoria de estradas como forma de estimular o crescimento econ—mico Ž o principal ponto de interesse do 10¼ FED, tendo sido atribu’dos 175 milh›es de euros. © Debra Percival Mapa do Haiti que mostra as principais redes rodovi‡rias.Direitos de autor: Vincenzo Collarino 10.OFED VISA ESTRADAS E GOVERNAÇÃO 10.OFED VISA ESTRADAS E GOVERNAÇÃO A estabilidade pol’tica actual significa que o 10.¼ FED (2008-2013) poder‡ ser dedicado a sectores cruciais para o futuro do pa’s. Um total de 291 milh›es de euros ao abrigo do 10.¼ FED (2008-2013) destinar-se-‡ ˆ constru‹o de estradas e ˆ governa‹o, ˆ reforma do sistema judicial e ˆ descentraliza‹o, bem como a algum aux’lio oramental geral. R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 26

naïve. Ao ver o Palácio Presidencial totalmente branco, imagine as entradas e saídas de governantes do Haiti. Não muito longe, não se podem perder as noites de voodoo jazz das quintas-feiras do Hotel Oloffson. Sabe-se que o Hotel Trianon de Graham Greene em Os ComediantesŽ era baseado no Hotel Oloffson, onde o autor escreveu parte do romance. Várias casas adornadas de Port-au-Prince são caracterizadas por varandas vitorianas enfeitadas, torreões, frontões e telhados inclinados. Colina acima, as galerias no bairro comercial de Pétionville estão cheias de trabalhos de artistas haitianos muito procurados. Ainda mais acima, em Botilliers, aprecie uma vista geral sobre Port-au-Prince. Para noroeste, Gonaives é o local onde foi declarada a independência do Haiti em 1 de Janeiro de 1804, e na parte sudoeste do Haiti, o Parque Nacional de Macaya é o que resta do pico da floresta nebulosa virgem do país que ascende aos 2347 metros. Anne Rose Durocher pretende partilhar a sua paixão: Temos de mostrar o incrível país que é o Haiti.Ž> 600.000 excursionistas de um diaCom tão poucos viajantes a dormir uma noite no Haiti, é uma surpresa tomarmos conhecimento, através do Ministério do Turismo, que 600.000 turistas visitam o país anualmente. Quase todos os viajantes de um só dia são trazidos a bordo do paquete Royal Caribbean, da Liberty Overseas. O barco faz escala nas praias de areia branca de Labadie, no norte, 2 a 3 vezes por semana e cada viagem faz desembarcar cerca de 4300 turistas. São cobrados 6 dólares americanos aos visitantes pelo desembarque, indo metade para o governo haitiano e o resto para a empresa que dirige as instalações na praia. Paul Emile Simon, arquitecto urbano no Ministério do Turismo explica que, com a Citadelle a apenas alguns passos, tem-se a sensação de que os visitantes podiam despender mais dinheiro em viagens a esta fortaleza no céu, mas as fracas infra-estruturas são um entrave às visitas. Há igualmente muita esperança em relação aos projectos binacionais com a República Dominicana, incluindo o desenvolvimento do Lago Saumâtre e do Lago Enriquillo na República Dominicana. Simon explica que os lagos se situam na mesma faixa ecológicaŽ e partilham a fauna, crocodilos, iguanas e flamingos. Simon vê oportunidades para hotéis e campos de golfe na parcela de terreno plana da área circundante. Alguns pensam que se deveria oferecer o Haiti como um destino paraleloŽ num circuito que abrangesse a República Dominicana, Jamaica e Cuba. Giliane Joubert, da associação do turismo do Haiti, acha que embora existam muitos hotéis familiares de muito boa qualidade no Haiti, o país tiraria benefícios do investimento de uma cadeia internacional. Encoraja-se igualmente a diáspora do Haiti a investir mais no sector. ACimeira de Desenvolvimento do Turismo no HaitiŽ organizada pela MWM Associates, em Port-auPrince, de 20 a 22 de Junho de 2008, vai ver, entre outras coisas, a forma como as parcerias, entre o sector público e o privado, podem trabalhar em conjunto por forma a desenvolver o sector. D.P. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 49 48 E m Novembro de 2007, uma viagem de três dias de um grupo de turistas japoneses foi alvo de notícia de destaque no jornal Le NouvellisteŽ do Haiti. O que este grupo tinha de especial era o facto de não serem trabalhadores para o desenvolvimento, nem amigos ou familiares de pessoal da ONU, nem pessoas que iam assistir a conferências, e todos mantiveram os hotéis do Haiti ocupados. Estando por chegar outro grupo destes turistas reaisŽ do Extremo Oriente, em inícios de 2008, existe optimismo pelo facto dos veraneantes estarem de novo a ser aliciados para o Haiti. O turismo tem sido seleccionado como uma prioridade para o Governo como forma de gerar emprego, rendimentos e crescimento, mas atrair visitantes é ainda uma enorme tarefa de relações públicas. É comum verem-se os capacetes azuis da ONU por todo o país, e assim o será num futuro próximo. Também os sequestros esporádicos em troca de dinheiro, noticiados na imprensa internacional, assustam os turistas. As estradas com sulcos e buracos profundos significam que, por todo o país, a visita de locais é apenas atractiva para quem gosta da aventura. Por outro lado, é fácil ver por que razão o governo está empenhado em potencializar o sector. Há uma grande variedade de locais a visitar que levam os visitantes a penetrar nas ricas história e cultura do país. Ao mesmo tempo, pode desfrutar dos trunfos das Caraíbas: areia branca e um ambiente descontraído na maior parte dos locais do país.O Haiti é um cocktail de destinosŽ, explica Giliane César Joubert, directora executiva da associação de turismo do Haiti. Anne Rose Schoen Durocher, directora da empresa publicitária ARCA, em Port-au-Prince, que vive no Haiti há 28 anos, e que chegou como guia turística de uma operadora europeia líder, afirma que o turismo era saudável nos anos 70. Nessa altura, um dos ex-libris mais famosos do país, La CitadelleŽ, dramaticamente situada no topo de Pic-la-FerrièreŽ, construída pelo rei Henri-Christophe para evitar novas invasões por parte dos franceses, costumava ter 600 visitantes por semana. No sopé da Citadelle ficam as ruínas do palácio Milot Sans Souci de Henri-Christophe, destruído por um terramoto em 1842. Segundo Durocher, a visão dos refugiados a deixar o Haiti em barcos nos últimos anos de Duvalier e a crise do VIH, com a qual não se lidou muito bem do ponto de vista das relações públicas, afastaram os turistas e o sector nunca recuperou. Explica ainda que o país andou para trás muito depressa e o turismo também foi à mesma velocidade. Por volta de 1986-1987, o turismo estava paralisado.> Locais de paragem obrigatóriaŽPara ela, os locais de paragem obrigatóriaŽ incluem Jacmel, uma bonita cidade do século XIX, perdida no tempo a sul, construída por comerciantes de café com pilares vitorianos de ferro fundido e agora associada ao artesanato. O Cabo Haitiano, no norte, é a segunda cidade do Haiti e fica perto de La Citadelle. Les Cayes, construída em 1720, é uma cidade descontraída situada a sudoeste. Anne Rose Durocher diz que todo o sul está em bom estado de conservação e possui quilómetros de praias de areia incríveis. Côte des Arcadins, mesmo a norte de Port-au-Prince, tem também extensões de praias de areia. Os turistas não devem deixar de ver a agitada cidade de Port-au-Prince. Mesmo no centro, o Champs de Mars, construído em 1953 e recentemente renovado pelo Presidente René Préval, é uma espécie de espaço recreativo ou ponto de encontro, um local para os Haitianos verem e serem vistos. No mesmo local, o Museu de Arte Haitiana alberga uma vasta colecção de arte ALICIAR a los TURISTAS para um país incrívelŽ Cena na praia perto de Les Cayes.© Marc Roger De cima para baixo: "O Haiti Ž um cocktail de destinos" Ð explica Giliane CŽsar Joubert, directora executiva da associa‹o de turismo do Haiti. © Marc Roger Cenas de rua em Les Cayes.© Marc Roger R eportagemHaiti R eportagem Haiti

PAGE 27

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008> Um percurso instável Encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente, a Roménia constitui uma ilha de latinidade num oceano eslavo. Na sua história, alternam-se períodos de modernização acelerada e de estagnação devastadora. Das origens geto-dácias e romanas da Antiguidade até à formação de uma nação, a Roménia conheceram as invasões bárbaras, a divisão em principados independentes na Idade Média, o domínio otomano e o dos Habsburgos antes da unificação no século XIX. Os territórios do que viria a ser a Roménia absorveram inúmeras influências como, por exemplo, a dos colonos saxões enviados pelos soberanos húngaros na Idade Média, a fim de tornar segura uma fronteira oriental a contas com os ataques dos tártaros e turcos. Estes últimos, outrora mestres da Moldávia e da Valáquia, não colonizaram nem islamizaram o que para eles não passava de uma província periférica do império. Concederam uma ampla autonomia aos seus vassalos, sujeitando-os à administração das poderosas famílias gregas de Constantinopla, os Fanariotes. Estes legados alemães e gregos ainda perduram. Por fim, foi pouco tempo após o primeiro conflito mundial que o país pôde adquirir as fronteiras daquilo a que chamamos a Grande RoméniaŽ. No decorrer desta história atribulada, os romenos assistiram muitas vezes a guerras nas suas terras, mas nunca estiveram do lado dos agressores. Tiveram de se conciliar com os apetites dos três grandes impérios que os rodearam ou mesmo os anexaram: russo, austro-húngaro e otomano. A Segunda Guerra Mundial ao lado da Alemanha nazi, de 1941 a 1945, custou caro ao país, não só em termos de perdas humanas, como também pela subsequente incorporação no bloco comunista. ARevolução de 1989 pôs fim ao comunismo extravagante e destrutivo do ditador Nicolae Ceausescu. No dia 1 de Janeiro de 2007, a Roménia aderiu à União Europeia, dando assim provas de uma estabilidade inquestionavelmente benéfica para o seu desenvolvimento. Latina e ortodoxa, é uma síntese original entre o Ocidente e o Oriente que só enriquece a Europa. 51 D escoberta da Europa 50 Sergine André é tudo o que o país tem de cativante: vibrante, criativa, sensual, um espírito livre. As pinturas dela reflectem a extrema mistura de esperança e desespero, optimismo e pessimismo do país. Os primeiros trabalhos de Sergine André apresentam figuras quase imperceptíveis escondidas em segundo plano na tela. Algumas são sólidas com traços visíveis e sorridentes rodeadas por um segundo plano cor-de-laranja. São quase protectoras. Outras figuras são dificilmente perceptíveis, com as suas características esqueléticas e espectrais que deixam um mero rasto na tela, e são mais ameaçadoras. Será que todas estas formas e feitios diferentes são as representações da artista dos espíritos Iwa do Vodu? O VodouŽ ou vòduŽ nas línguas da África Ocidental, Fon e Éwé, que significa espíritos ou criação divina, foi trazido para o Haiti quando os Bkongos da África Central e os Igbos e Iorubas da África Ocidental chegaram ao país como escravos. No vodu, um bom BondyèŽ é adorado, mas os espíritos são servidos (Sèvis Lwa). Existem literalmente centenas de espíritos, ou LwaŽ, geralmente divididos em RadoŽ, espíritos quentes, que são mais agradáveis e PetwoŽ, espíritos frios mas agitados. Nenhum dos grupos é puramente bom ou mau. O vodu incorpora igualmente algumas influências dos habitantes originais do país, os índios taínos, e utiliza também as imagens de santos católicos romanos para representarem espíritos. Pensa-se que isto tenha tido origem na altura em que os escravos tinham de esconder a sua religião aos senhores coloniais. Durante as cerimónias vodu, oferecem-se aos espíritos comida, bebida e presentes quando os sacerdotes vodu, HougansŽ, e as sacerdotisas, MambosŽ, tentam entrar em contacto com eles e com os espíritos dos antepassados de sangue através de cânticos e orações. Os espíritos podem possuir as pessoas que num estado de transe agem e falam através do espírito. Acredita-se que todos tenham uma relação especial com um espírito específico, mas podem servir vários. Sou influenciada pelo vodu, claro que faz parte de mimŽ … afirma Sergine André, explicando contudo que as figuras que pinta podem apenas ser sombras ou sonhos de noites negras da região rural de Artibonite, no Haiti, onde cresceu. Após ter estudado na Ecole des ArtsŽ em Otava, Canadá, regressou ao Haiti. Em Dezembro de 1997, ganhou o concurso Connaître les JeunesŽ (que exibiu o trabalho de jovens pintores) do Instituto Francês. Foi então artista convidada, de Abril a Junho de 1998, na Ecole Nationale des Beaux-ArtsŽ em Paris. Entre Abril e Junho de 2006, viajou para a África do Sul com a Bag FactoryŽ para trabalhar com jovens artistas e onde se entristeceu com as brechas da sociedade sul-africana. Por entre as suas inspirações, cita o recentemente falecido artista abstracto haitiano Jean Claude TigaŽ Garoute, a cujo Solèy BrileŽ, um método de utilização de tinta e ácido que produz um efeito lustroso ao trabalho artístico, a pintora prestou homenagem no próprio trabalho. Cores-de-laranja, vermelhos e outras cores vibrantes mostram a sua energia e paixão. Actualmente está a trabalhar numa série de pinturas com tonalidades azuis. Utilizando grandes pinceladas, aparecem formas simétricas em segundo plano, quase como janelas. Talvez sejam os espíritos Iwa frios. Talvez eu pinte apenas o que vejoŽ, diz ela, deslocandose para uma janela aberta do seu estúdio. O olho de Sergine André é uma janela para a alma do Haiti. D.P. Jean-Franois Herbecq R R O O M M É É N N I I A A , , p p a a í í s s d d e e c c o o n n t t r r a a s s t t e e s sNova fronteira oriental da Europa, a RomŽnia Ž, sem dœvida, o pa’s do continente que regista o desenvolvimento mais acelerado. Membro da Uni‹o Europeia h‡ pouco mais de um ano, caracteriza-se tanto por um crescimento econ—mico r‡pido como por estruturas obsoletas e necessitadas de reforma. O pa’s oferece igualmente fortes contrastes regionais. Como tal, revela-se um destino tur’stico mal conhecido mas com um enorme potencial. Com as suas inœmeras minorias, a Transilv‰nia oferece um belo exemplo de modelo de coabita‹o multicultural. Captura da alma do Haiti:SERGINE ANDRÉPor entre o vasto conjunto de pintores, escritores, mœsicos e talentos cinematogr‡ficos do Haiti, Sergine AndrŽ, ou "Djinn", parece evocar a alma do Haiti.Sergine AndrŽ no seu estœdio em PŽtionville com uma das suas novas pinturas. © Debra PercivalSergine AndrŽ, sem titulo, îleo em tela, 30 x 40cm.Por cortesia da artista. Fotografia: Debra PercivalFundo: Sergine AndrŽ, sem titulo, îleo em tela, 30 x 40cm.Por cortesia da artista. Fotografia: Debra Percival O Rei Decebal.© J.-F. Herbecq Estrada em Bucareste.© J.-F. Herbecq Cena popular em Bucareste.© J.-F. Herbecq R eportagemHaiti

PAGE 28

UM NOVO PAÍS DOADOR 52 N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 O dia 1 de Janeiro de 2007 foi um momento histórico para a Roménia. Os benefícios da sua adesão à União Europeia já se faziam sentir antes desta data, com as reformas e um crescimento médio de 6% ao longo dos últimos sete anos. Os investimentos estrangeiros registaram uma forte progressão, o desemprego permaneceu baixo. Além disso, a adesão trouxe os benefícios de um acesso completo ao mercado interno, às políticas económicas e de coesão social da UE. Permitiu igualmente uma presença reforçada na cena internacional. Em suma, para a representação permanente da Roménia na União Europeia, este primeiro ano de adesão 2007 foi para o país um sucesso muito claro nos planos económico, social e político. Apartir de agora, qual será a sua política face os países ACP? O apoio definitivo concedido pelo regime comunista de Ceausescu a alguns países africanos denegriu a imagem da cooperaçãoŽ, advertiu logo de início Daniel Daianu, recentemente eleito para as bancadas liberais do Parlamento Europeu. Os regimes políticos vão-se, as pessoas ficamŽ, relembra, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Adrian Cioroianu, que não excluiu do diálogo político uma dimensão económica a fim de recuperar os mercados e diversificar as fontes de abastecimento energético. Porque a Roménia perde mercados em Áfricaƒ Os principais países da África subsariana com os quais a Roménia mantém trocas comerciais são Angola, Costa do Marfim, Etiópia, Gana, Guiné, Nigéria, Sudão e África do Sul. As relações económicas e comerciais reorientaram-se para os parceiros ocidentais ou geograficamente próximos. ARepresentação Permanente da Roménia recorda que o país apresenta uma série de vantagens interessantes para os Estados africanos: em matéria de economia e de tecnologia, por exemplo. As universidades romenas formam mais de 30 000 especialistas, que têm contribuído para a realização de obras e infra-estruturas na Nigéria e no Gana, explorações mineiras e petrolíferas na Nigéria, Senegal e Burundi, culturas agrícolas em Moçambique e Madagáscar, prospecção de água na Zâmbia e instalações de montagem 53 Aslan: concebido pela Dr.» Ana Aslan nos anos 50, o Gerovital H3, cujas propriedades antienvelhecimento s‹o extraordin‡rias, cura tudo ou quase tudo: da artrite ˆ depress‹o, passando pela queda de cabelo. Tornou-se no emblema da investiga‹o romena e numa prenda muito estimada. Brancusi: o mais cŽlebre escultor romeno foi um dos primeiros a tentar a arte abstracta, sobretudo em Frana, onde passou uma grande parte da vida. Ceausescu: era para ser sapateiro mas ascendeu ao poder, um pouco surpreendentemente, em 1965. Ap—s anos resplandecentes, em que se posicionou de forma muito independente em rela‹o a Moscovo, mergulhou o pa’s numa ditadura surrealista que lhe valeu mesmo um telegrama de felicita›es de É Salvador Dali. O seu grande amigo Mobutu ficou muito afectado com a sua morte. Dr‡cula: "o facto de Dr‡cula n‹o ter existido n‹o quer dizer que n‹o exista", escreveu a historiadora Lucia Boia. O Pr’ncipe Vlad Tepes, "o Empalador", do sŽculo XV, est‡ na origem deste mito muitas vezes associado a Ceausescu, o "vampiro vermelho". Ecologia: palavra desconhecida na RomŽnia atŽ h‡ pouco tempo. Francofonia: ilha de latinidade num oceano eslavo, a RomŽnia conserva, graas ao francs, uma janela aberta para o mundo, nomeadamente para çfrica. Guarda de Ferro: movimento extremista dos anos 30, mescla de m’stica nacionalista, antisemitismo e fervor ortodoxo. Os seus "Legion‡rios do Arcanjo S‹o Miguel" foram finalmente eliminados, pol’tica e fisicamente, pelo Marechal Ion Antonescu. Hœngaros: a principal minoria Žtnica na RomŽnia 1,7 milh›es de hœngaros para 22 milh›es de romenos Ð representa um quinto da popula‹o da Transilv‰nia, onde continua a afirmar a sua identidade ap—s a repress‹o comunista. Indœstria cinematogr‡fica: o cinema romeno goza de renome internacional graas ˆs obras de Cristi Puiu, Cristian Mungiu e Corneliu Porumboiu, sem esquecer o saudoso Cristian Nemescu. Mas por tr‡s das Palmas de Ouro e dos prŽmios, existem milhares de profissionais. Muitos cineastas estrangeiros, com destaque para Francis Ford Coppola, vm filmar na RomŽnia, beneficiando nomeadamente das paisagens fabulosas. Judeus: segundo a Comiss‹o Wiesel, "a RomŽnia Ž respons‡vel pela morte de mais judeus do que qualquer outro pa’s a seguir ˆ pr—pria Alemanha", mas em compara‹o com os massacres cometidos na Bessar‡bia, na Bucovina e na Transn’stria e apesar das persegui›es, a maioria dos judeus da RomŽnia sobreviveu ˆ Guerra. Contudo, 250 000 judeus e romanichŽis foram assassinados pelo regime de Antonescu durante a Guerra. Kronstadt e Koloszvar: nomes respectivamente alem‹o e hœngaro de duas cidades da Transilv‰nia, Brasov e Cluj, o que ilustra a diversidade Žtnica da regi‹o. Logan: mais de 700.000 modelos vendidos em menos de quatro anos. A Dacia fez um sucesso em 55 pa’ses com este ve’culo cobiado "a menos de 5 000 euros" constru’do pela Renault. Produzido em sete pa’ses (entre os quais a RomŽnia, Marrocos e, brevemente, a çfrica do Sul), existe em trs vers›es autom—vel de quatro portas, carrinha e camioneta para responder ˆs necessidades de todos os mercados emergentes. Manele: estilo musical em voga. Trata-se de uma fus‹o de mœsica tradicional romena com melopeias ciganas, caracterizada pelo pop comercial com um sabor oriental. Possui, sem dœvida, tantos adeptos entre jovens e romanichŽis como entre os detractores intelectuais. Os textos, frequentemente vulgares, falam de dinheiro e mulheres, de m‡fia e amorÉ ƒ um pouco o rap, n'dombolo ou zouk local. Novo leu: Um novo leu vale 10 000 lei antigos e as notas novas s‹o de pl‡stico, logo, lav‡veis ˆ m‡quina! îrf‹os: as crianas de rua ou colocadas em lares constituem sempre uma das categorias mais desfavorecidas, apesar dos progressos recentes. Pequena Paris: alcunha de Bucareste, herdada da vontade de ocidentalizar a cidade e os costumes no sŽculo XIX. Quadril‡tero: dois departamentos bœlgaros do sul da Dobruja incorporados na RomŽnia entre 1913 e 1940. Pretexto para o desafio face ao que Ž bœlgaro. Religi‹o: 86% da popula‹o romena Ž ortodoxa. A queda do comunismo abriu caminho a uma igreja ortodoxa de valores conservadores e nacionalistas. Sarmale: prato nacional de folhas de couve em salmoira recheadas, acompanhadas de mamaliga, espŽcie de polenta. TškŽs, Laszlo: pastor protestante hœngaro que acendeu o rastilho, condenando publicamente Ceausescu em 1989, em Timisoara. Acaba de ser eleito para o Parlamento Europeu. Universidade: foi no recinto da Universidade de Bucareste que a Revolu‹o de 1989 teve in’cio. Mais de mil manifestantes mortos. ƒ o "quil—metro zero da democracia na RomŽnia". Vegetariano: uma refei‹o sem carne n‹o Ž uma refei‹o. Excepto durante a Quaresma. Wurmbrand, Richard: Nasceu em Bucareste, em 1909, e foi atŽ ˆ sua morte, em 2001, um dos maiores pregadores crist‹os. Este judeu alem‹o da RomŽnia converteu-se ao protestantismo e passou 14 anos nas pris›es comunistas. Xenofobia: os romenos tm tendncia a culpar os ciganos e romanichŽis, que representam praticamente um dŽcimo da popula‹o (muito menos, segundo o governo) por todos os males da terra. Yuan: cigarros, m—veis, bicicletas, produtos agro-alimentaresÉ s‹o os investimentos chineses na RomŽnia ap—s a entrada na Uni‹o Europeia. Encontra-se igualmente em constru‹o um novo "Chinatown" em BucaresteÉ no bairro denominado Europa! Ziz‰nia: ambiente de trabalho na classe pol’tica romena. J.F.H. Roménia de A a Z UM NOVO PAÍS DOADOR A ades‹o da RomŽnia ˆ Uni‹o Europeia, no in’cio de 2007, assinalou uma viragem na sua pol’tica externa: o pa’s integrou os objectivos europeus de coopera‹o e, acima de tudo, juntou-se ao grupo dos pa’ses doadores. No entanto, esta pol’tica face aos pa’ses ACP permanece embrion‡ria. Fotografia da T-shirt do Dr‡cula© J.-F. Herbecq Igreja de Timisoara© J.-F. Herbecq O Edif’cio Berlaymont, Bruxelas 2006. © EC D escoberta da EuropaRoménia D escoberta da Europa Roménia

PAGE 29

SER AFRICANO NA ROMÉNIADois milh›es de romenos expatriados contra apenas 60.000 estrangeiros residentes no pa’s. E no entanto, a RomŽnia comea a tornar-se numa terra de imigra‹o. A economia do pa’s est‡ em crescimento e necessita de m‹o-de-obra. Os recŽm-chegados s‹o provenientes da Mold‡via, Turquia ou çsia e, por vezes, de çfrica. Para os africanos, a integra‹o nem sempre Ž f‡cil.54 N. 4 N.E. … ENERO FEBRERO 2008para a indústria automóvel e ferroviária na Nigéria. Actualmente, um número significativo de especialistas romenos trabalha em diferentes países africanos. Para a eurodeputada socialista Corina Cretu, é altura de fomentar novas relações entre a Roménia e os países terceiros. Contudo, recorda que, como doador, a Roménia deverá ter em conta as suas próprias capacidades. O antigo ministro das Finanças Daniel Daianu mostra-se optimista: O alargamento da União Europeia a Leste não significa uma redução do orçamento reservado à cooperação, pelo contrário: o orçamento global encontra-se em crescimento. Isto quer dizer que a política de cooperação para o desenvolvimento da Roménia continua um pouco paroquial e isso deverá mudar!Ž>"Bom soldado"Mesmo se, após a adesão à União Europeia, as relações entre a Roménia e os países da África subsariana constituem uma dimensão importante da sua política externa, esta integração euro-atlântica continua a ser o seu principal objectivo, explica a representação romena em Bruxelas. Os países geograficamente próximos, nomeadamente os países de Leste e os Balcãs Ocidentais, têm prioridade, tal como os países em vias de estabilização onde a Roménia participa nas forças de paz, como por exemplo no Iraque ou no Afeganistão. Efectivamente, já há muito tempo que a Roménia é o "bom soldado" da cena internacional. Bucareste participa, sem hesitar, nas operações de manutenção da paz em quatro continentes: Haiti, Congo, Costa do Marfim (todos países francófonos!), Etiópia, Eritreia, Sudão, Libéria, Afeganistão, Nepal, Timor-leste, Geórgia e Kosovo. Aadesão da Roménia à União Europeia fê-la passar do estatuto de beneficiário para o de fornecedor de ajuda. Brevemente, contribuirá para o FED, o Fundo Europeu de Desenvolvimento, que visa co-financiar projectos no continente africano com outros Estados-Membros da UE. Simultaneamente, o governo romeno exprimiu a sua vontade de apoiar os objectivos de desenvolvimento do milénio, assim como as actividades da ONU nos domínios da educação e da saúde, alterações climáticas, segurança alimentar, ajuda humanitária e manutenção da paz.>Francofonia Com 5 milhões de habitantes que dominam o francês numa população de cerca de 22 milhões, a Roménia constitui um posto avançado da francofonia na Europa de Leste. Em 2007, o governo romeno implementou um sistema de bolsas de estudo, baptizado de Eugène IonescoŽ, destinado aos residentes estrangeiros das instituições de ensino superior da Roménia. ARoménia concede, assim, um montante anual de um milhão de euros para os doutorandos e os investigadores dos países do Sul e membros da francofonia. O objectivo deste programa é permitir aos investigadores e doutorandos dos países do Sul beneficiarem de um estágio de, no máximo, 10 meses em 15 instituições de ensino superior romenas reconhecidas pela sua excelência. O número mínimo de bolsas concedidas anualmente é de 70 e, em 2008, será de 120. O programa Eugène Ionesco tem agora um ano e, entre os investigadores já inscritos, há representantes do Benim, Camarões, Costa do Marfim, Guiné, Mauritânia, Madagáscar e Senegal. A10.ª Cimeira da Francofonia realizada em Bucareste de 25 a 29 de Setembro de 2006 apresentou uma série de manifestações culturais abrangendo diversos aspectos da vida artística. Deste modo, sob o nome de Ritmos e Imagens da Francofonia, artistas e grupos provenientes de Marrocos, Haiti, Congo, Djibuti, Vietname, Senegal e Guiné apresentaram espectáculos ao ar livre, altamente apreciados pelo público romeno. Uma exposição de pintura sobre vidro  Senegal … Roménia : o diálogo sobre a rota do vidroŽ venceu o desafio de conjugar a diversidade cultural destes dois países apresentando as obras de dez artistas. J.F.H. Amadou Niang, antigo estudante, testemunha: Como bolseiro senegalês, fiquei desde logo decepcionado com as más condições reservadas aos estudantes no terceiro ciclo. O quarto na cidade universitária estava em muito mau estado e foi preciso alugar um estúdio com o meu próprio dinheiro. Aqualidade dos estudos também deixa a desejar. Há corrupção nos exames.Ž Uma vez terminados os estudos, Amadou Niang quis ficar na Roménia. Por amor. Mas mesmo o casamento com uma romena não impede as discriminações, tanto a nível administrativo como na procura de emprego. Quanto à dificuldade de existir como um casal misto, afirma que a lei anti-discriminação é uma fachada e não é eficaz. Para além de uma multa, não prevê a indemnização da vítimaŽ, insiste, salientando que os romanichéis são, sem dúvida, mais vítimas do racismo do que os africanos e que, apesar de tudo, tem muitos amigos romenos. Amadou Niang criou uma associação para ajudar os imigrantes a instalarem-se. E não é o único a reagir: um programa intitulado Democracia e coragemŽ ensinará os jovens das escolas a renunciar ao racismo.J.F.H. 55 " E m 2004, aquando da nossa estreia, pouca gente nos dava uma oportunidade de sucessoŽ, recorda Andrei. Porém, aqui estamos no mercado ao fim de três belos anos. Anossa imagem, um branco e um negro, teve um impacto muito forteŽ. Kamara acrescenta: Anossa mensagem é bem transmitida. Ao ver-nos juntos, dois amigos e duas raças para uma única música, as pessoas compreenderam que o entendimento entre dois homens de cores e culturas diferentes é possívelŽ. As músicas guineense e francesa sempre me fascinaram. Fui influenciado pela minha cultura franco-guineense enriquecida, com o tempo, pela cultura da RoméniaŽ, conta o Guineense de Bucareste. E isto faz de Kamara uma personagem à parte no mercado musical romenoŽ, acrescenta o seu comparsa branco, Andrei. Os êxitos dos AlbNegru, Noi doiŽ (nós os dois) ou Muza meaŽ (minha musa), conjugam o romeno e o francês. Uma aposta arriscada num país francófilo, é certo, mas que associa muitas vezes a modernidade à língua inglesa. É verdade que a língua francesa na música romena é uma novidade. Os anos passaram e podemos dizer que a fusão entre o rap francês e o pop romeno é uma aposta ganhaŽ, avalia Kamara. Três álbuns em três anos, uma participação no Festival da Canção da Eurovisão com um grupo cosmopolita e muitos projectos, entre os quais digressões em Espanha e, sem dúvida, em França: o êxito dos AlbNegru é total.J.F.H. BRANCONEGRO Branco-negro: O duo AlbNegru, formado pelo romeno Andrei e o franco-guineense Kamara, constitui um manifesto vivo a favor da toler‰ncia. Mistura de pop romeno com um sabor oriental e de hip-hop francs com toques de reggae, a mœsica dos AlbNegru canta o amor e a abertura aos outros. Not‡vel num pa’s onde os estrangeiros s‹o, por vezes, vistos com desconfiana.Festival Franc—fono em Bucareste, 2006.Bernard Verschueren Celebra‹o do Tratado de Ades‹o ˆ UE da Bulg‡ria e da RomŽnia, 25 de Abril de 2005. © EC Antiga moeda © EC Amadou Niang© A. Niang O duo AlbNegruAlbNegru D escoberta da EuropaRoménia D escoberta da Europa Roménia

PAGE 30

Ciganos munidos de Motorola fotografam os bólides que desfilam. As grandes cidades já atraem os turistas. Cluj continua a atrair a atenção e a conhecer um enorme êxito. Em 2007, com a nomeação para capital europeia da cultura, saiu a sorte grande a Sibiu, mais conhecida pelo nome alemão de Hermannstadt: esta jóia urbana pôde ser renovada para ascender ao estatuto de destino de turismo de qualidade. Brasov é menos concorrida, mas não lhe falta charme ao pé das montanhas. Em Sighisoara, outra cidade saxã, os turistas japoneses já desembarcaram. Disparam as objectivas à vista da mais pequena placa draculesca. Os parques de campismo dos castelos e cidadelas enchem-se completamente. Os agoráfobos evitarão a visita ao castelo (chamado de Drácula) de Bran, enquadrado num mercado perfeitamente kitsch: é bonito e bem restaurado mas só dificilmente consegue absorver a enchente de turistas na época alta! Mais a leste da Transilvânia, a partir de Tirgu Mures, depois no país sicule, estamos como que numa ilha húngara em pleno centro da Roménia. Escritas em romeno e húngaro na melhor das hipóteses, a sinalização encontrase, muitas vezes, apenas em magiar. Os parques memoriaisŽ são ornados de estátuas enfeitadas com fitas com as cores húngaras. Vendem-se recordações diversas, chávenas ou t-shirts vangloriando a Grande Hungriaƒ SensívelƒJ.F.H.N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 56ATransilvânia atrai. O céu é lindo ao pôr-do-sol. Aqui, ao longo da estrada, vendedores de cebolas, amoras ou framboesas. Mais abaixo, águas termais, lagoas quentes ou salinas. Vulcões antigos, minas de sal com virtudes curativas. Vales arborizados ou pastagens verdejantes. Alguns parques de campismo mais ou menos selvagens, muitos churrascosƒ os romenos adoram essas coisas. Aregião é um mosaico de culturas. Aqui, falase húngaro, ali conversa-se em romeno. Pergunta-se em alemão, responde-se em inglês. Não existem fronteiras, mas a língua mudaƒ Ao longo das estradas, muitas vezes em construção, assistimos a um trânsito barulhento. Nas passagens de nível, o trânsito abranda. T T R R A A N N S S I I L L V V   N N I I A A : : T T E E R R R R A A P P R R O O M M E E T T I I D D A A D D O O T T U U R R I I S S M M O ON‹o h‡ dœvidas de que a Transilv‰nia deve muito ao autor irlands, Bram Stoker, que, ao criar a personagem do Conde Dr‡cula em 1897, inaugurou uma galeria de clichŽs que assentam na Transilv‰nia como uma luva. Todavia, a regi‹o n‹o se resume aos castelos perdidos nas brumas dos C‡rpatos. O seu patrim—nio arquitect—nico tambŽm inclui igrejas fortificadas, cidades sax‹s e aldeias bem conservadas. As suas montanhas e colinas oferecem igualmente paisagens magn’ficas. Trunfos a destacar. 57 P‡gina 56: Os castelos e os vales s‹o atrac›es potenciais para o turismo. © ECË esquerda: Em Sfantu Gheorghe, uma parede divide a rua Varady Jozsef. © J.-F. HerbecqFoto central: Na Transilv‰nia, promovem a identidade hœngara.© J.-F. HerbecqEm baixo: Os parques "memoriais" est‹o adornados com est‡tuas decoradas com as cores hœngaras.. © J.-F. Herbecq UMMURODIVIDE UMARUAEMDUAS EMSFANTUGHEORGHEEstamos em Szekelfšld, o pa’s dos Sicules. Os hœngaros Žtnicos habitam a parte oriental da Transilv‰nia. Trata-se de uma pequena cidade onde se fala mais hœngaro do que romeno. Para alŽm de um museu, tem muito pouco interesse para os turistas. Longe do centro da cidade, uma rua residencial sobe. Ë partida, nada a distingue das outras. A seguir a uma igreja, o bairro residencial Ž muito modesto. Menos vivendas, mais pavilh›es, depois blocos de apartamentos. Nada de especial. Mas, de repente, a rua divide-se em duas em todo o seu comprimento: um muro de 2,5 metros separa o lado direito do lado esquerdo. Um lado Ž de asfalto, alguns carros encontram-se estacionados ao longo dos blocos de apartamentos. No outro lado, a rua transforma-se em caminho de terra que ladeia pequenas casas modestas. Nem um carro. Alguns rapazes brincam. Basta um olhar para identificar as duas popula›es separadas. De um lado, os "brancos", do outro, os "negros", os "morenos", os ciganos, os romanichŽis. Entre eles, um muro de bet‹o. D escoberta da EuropaRoménia D escoberta da Europa Roménia

PAGE 31

A7ª edição dos Encontros Africanos da Fotografia, uma das raras iniciativas que valorizam as realizações dos criadores de África, é um momento esperado por todos aqueles que, tanto no Sul como no Norte, se interessam por este meio particularmente contemporâneo: a fotografia. Próxima do vídeo, com que trabalham inteligentemente vários fotógrafos profissionais, a fotografia artística de expressão, ou mais simplesmente de autoria, é dificilmente rentável para um criador africano demasiado afastado das editoras, das salas de exposição, das redes de difusão e dos pontos de encontro profissionais. Isto torna os Encontros Africanos da Fotografia ainda mais indispensáveis e só podemos lamentar o facto de, à excepção da África do Sul, onde vários autores e organizadores são activos, muito poucos projectos profissionais ligados à fotografia serem desenvolvidos no continente. Apenas podemos citar algumas acções no Mali, Botsuana, Gabão, Zimbabué e na Tunísia. Nesta perspectiva em que falta fazer tudo, os 7º Encontros de Bamako são indispensáveis ainda que, de facto, tivessem sido iniciados, organizados e supervisionados com a ajuda de peritos vindos de Paris em colaboração com a Casa Africana da Fotografia de Bamako. Como dizia com humor um visitante maliano: Antes víamo-los fotografar-nos, agora ajudam-nos a olhar para as nossas próprias fotografiasŽ e a colocar os operadores culturais malianos perante um dilema: autogerirem-se ou sujeitarem-se. N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 59 riatividade 58 A pequena região montanhosa de Maramures, encostada à Ucrânia a norte da Transilvânia, é, por vezes, apresentada como o Shangri-LaŽ da romenidadeŽ. Com efeito, num país maioritariamente agrícola é difícil dissipar o mito do camponês romeno, mesmo na altura da adesão à União Europeia. Longe do turismo de massas do litoral do Mar Negro ou dos castelos que se diz terem abrigado o Conde Drácula, esta região verde, com tradições bem enraizadas, viu desembarcar uma espécie particular: a do turismo pós-moderno, explica Raluca Nagy. Há 10 anos, os turistas descobriram Praga. Hoje, rumam a Bucareste ou SófiaŽ, resume ela. O etnoturista recusa-se a bronzear como um idiota. Pelo contrário, informa-se e mostra-se curioso e atraído pelas outras culturas. Apaisagem dos postais de Maramures e o mito de uma autenticidade romena (algo falacioso, tendo em conta a sua história que viu desfilar húngaros e ucranianos) fizeram o sucesso da região. Em alguns anos, o turismo «amigável», baseado na hospitalidade tradicional, deu lugar a uma relação mais comercialŽ, constata no local a antropóloga. As pessoas de Maramures, na maior parte dos casos agricultores a tempo parcial devido à pobreza da terra, enveredaram pelo turismo rural. Alguns, que trabalham no estrangeiro, construíram novas casas para receber os visitantes com mais conforto do que as casas tradicionais dos bosques. O desenvolvimento destes pensiuniŽ assépticos ameaçam precisamente aquilo que constitui a característica principal do turismo em Maramures: a sua autenticidade. Arrisca-se mesmo a esgotarseŽ, afirma a investigadora. E contudo, o turismo verde é um trunfo para a Roménia, diz Raluca Nagy: nenhum outro país na Europa tem uma oferta tão vasta, mas é um potencial que deve ser utilizado de forma inteligenteŽ.J.F.H. QUAL SERÁ o futuro do turismo rural na ROMÉNIA?Os campos e as montanhas preservam as suas paisagens e tradi›es. O turismo verde Ž uma oportunidade para a RomŽnia, mas o seu desenvolvimento ameaa a autenticidade de regi›es œnicas como Maramures.Encontro com Raluca Nagy, investigadora em Antropologia na Universidade Livre de Bruxelas (ULB) e na Universidade de Cluj Mirko Popovitch* Uma ocasião DEMASIADO rara para VALORIZAR os FOT"GRAFOS AFRICANOSEncontros africanos de fotografia em Bamako De cima para baixo: Fanie Jason (çfrica do Sul), Carters on the Way to the epping scrap yard, SŽrie Cape Carting, Bienal de Fotografia, Bamako 2005. © Fanie JasonSamy Baloji (RDC), GŽcamines 3, SŽrie MŽmoire, Bienal de Fotografia, Bamako 2006. © Samy BalojiO porto de Bamako, lugar surpreendente de intensa actividade e de vida © Anne Sophie Costenoble No cimo: Interior t’pico de uma casa em Lunca Livei. © ECVida nas zonas rurais. © EC D escoberta da EuropaRoménia

PAGE 32

60Num soberbo catálogo franco-inglês de 269 páginas, magnífica ferramenta editada pela CULTURES FRANCE, descobrimos um verdadeiro directório das múltiplas sensibilidades que alimentarão durante décadas a diversidade cultural tão apreciada. É esse o desafio de um encontro como este. AÁfrica fotografada pelos Africanos; a Europa, a América, o mundo, fotografados pelos Africanos. Em Bamako em 2007, o tema exacto era A Cidade e o AlémŽ, o que inspirou tantos olhares diferentes, tantos apelos ao diálogo, clichés reveladores, imagens de amor e de paz. Acidade africana é um labirinto improvável para o visitante estrangeiro à procura de pontos de referência familiares. Os códigos inventam-se aí à medida que vão surgindo. Ao sabor do vento. E é o vento que fabrica este sincretismo arriscado que, apesar de tudo, funciona. Porque é feito de carne e de sangue. (Simon Njami, Comissário-Geral dos Encontros Africanos da Fotografia em Bamako) O interesse de um encontro fotográfico está em constituir uma ocasião para os fotógrafos de se confrontarem com a criação mais actual. Claro que, em Bamako, as referências eram de qualidade. O olho experiente de Simon Njami e o do seu comissário associado, Samuel Sidibé, director do Museu Nacional do Mali, permitiram a selecção de uma plêiade de talentos de 16 nacionalidades de origem africana. Mas de que se trata ao evocarmos a origem de um artista e, sobretudo, de um fotógrafo? De uma identidade de nascença, administrativa, cultural? Sabendo que uma parte dos fotógrafos presentes na Bienal vivem em Londres, Paris, Nova Iorque e vão de tempos a tempos, de máquina ao pescoço, procurar novas forças nos seus países, podemos interrogar-nos o que significa hoje a fotografia africana. Será realmente africana, mais africana que a de alguém de origem ocidental que passou metade da vida em terras de África e que se empenha em olhar e palpar as luzes e os contrastes da vida africana? E o que dizer da condição dos fotógrafos africanos menos providos que escolheram permanecer na terra dos seus antepassados e se esforçam por afirmar, na indiferença, uma sensibilidade do terreno? Voltemos ao evento: os Encontros de Bamako eram também a impressionante presença da Fundação Jean-Paul Blachère, que tem o nome do seu mecenas, que a partir do local da sua residência de artistas de Apt (França) valoriza há vários anos com subtileza as obras dos artistas africanos mais originais. Em matéria de fotografia, devemos-lhe o facto de ter revelado muito cedo Saïdou Dicko (Burquina Faso), a quem foi atribuído um Prémio mais uma vez este ano, o da Organização Internacional da Francofonia. Em Bamako, num baldio arranjado, expunha o trabalho de 16 artistas que combinavam fotografias e vídeos numa espantosa cenografia. O Âmbito da promoção para a Formação em Fotografia (CFP) de Bamako, apoiado pela União Europeia, nada ficava a dever. Este centro de formação em imagem, apoiado pela associação ContrasteŽ de Bruxelas, acolhia uma formação cruzada de 18 estagiários malianos e belgas. Este projecto, apoiado pela Africalia, permitiu a criação de 200 fotografias, expostas e projectadas nos bairros populares de Bamako. Paralelamente, o Cinema digital ambulanteŽ fazia deambular um estúdio digital pelos mercados da cidade, captando aqui e ali, num louco ambiente de festa, centenas de retratos de habitantes que associava, com um computador, a paisagens da aldeia global. O sucesso foi assegurado pelas projecções em ecrã gigante das figuras do bairro que ficavam então sorridentes à frente da torre Eiffel, das pirâmides de Quéops, da Grande Muralha da China! Por fim, e porque é indispensável multiplicar o intercâmbio, mergulhar os criadores em confrontações estéticas, criar ocasiões para visionar obras, os organizadores tinham convidado a Finlândia e a sua nova geração de captadores de imagens para exporem os seus trabalhos. Choque, descoberta, partilha de valores, de sensibilidade e de urgência, sempre com uma questão: o que pode aproximar mundos em si tão diferentes? O homem escondido por detrás do gesto artístico? O desejo de conhecer outros lugares? Agenerosidade de um rosto? Ou simplesmente a vontade de viver uma experiência positiva: ver fotografias? * Mirko Popovitch, Director da Africalia (BŽlgica) O Fundo Príncipe Claus para a Cultura e Desenvolvimento foi criado em 6 de Setembro de 1996, para celebrar o 70º aniversário de Sua Alteza Real, o Príncipe Claus, marido da Rainha Beatriz da Holanda. Este fundo premeia artistas, pensadores e organizações culturais em África, Ásia, América Latina e Caraíbas desde 1997. O Fundo Príncipe Claus atribuiu um prémio a Faustin Linyekula pelo seu total empenhamento em prol do Congo, pela excepcional coreografia, bem como pelo corajoso regresso ao respectivo país e pela sua inovadora estimulação da vida cultural, apesar da instabilidade e turbulência que prevalecem. O coreógrafo de Kisangani utiliza movimentos, textos, imagens e sons para divulgar e sensibilizar para a experiência de viver no meio de um conflito que tem assolado o seu país durante décadas. Descreve-se a si próprio como um contador de histórias. Ao honrar Lineykula em Dezembro de 2007, o júri mencionou que as suas actuações eram fortes e retratavam uma linguagem vanguardista. Desde há dez anos até à data, o Fundo Príncipe Claus tem atribuído prémios de 100.000 euros a personalidades notórias e organizações de África, Ásia, América Latina e das Caraíbas no ramo da cultura e do desenvolvimento. São convidadas personalidades do mundo inteiro a propor nomes e, baseando-se em pesquisas, um júri restrito seleciona alguns candidatos dos quais sairá um vencedor que receberá o prémio numa cerimónia realizada na presença da família real em Amesterdão. Em 2007, o Prémio Príncipe Claus decidiu homenagear artistas e organizações que trabalham para impedir o poder destrutivo dos conflitos, promovendo a beleza, o diálogo e o respeito, a dignidade e auto-estima face à devastação. Dez prémios mais pequenos de 25.000 euros foram atribuídos, nomeadamente, ao produtor de teatro e revolucionário cultural, Augusto Boal (Brasil), à actriz e poetisa Patricia Ariza , que trabalha na Colômbia, ao cartonista da Tanzânia Gado , ao grupo artístico Ars Aevi (Bósnia e Herzegovina), à União Sudanesa de Escritores (Sudão) e à Rádio Isanganiro fundada em 2002, no Burundi, por um grupo de jornalistas. 61 Sandra FedericiPRÉMIO PRÍNCIPE CLAUSDE 2007 No cimo: Bienal de Fotografia, Bamako 2007.© Afrique in visu /Baptiste de Ville d'Avray Em baixo: Bienal de Fotografia, Bamako 2007.© Afrique in visu / Baptiste de Ville d'Avray Faustin Linyekula com Papy Ebotani e Djodjo Kazadi em The Dialogue Series III, Dinozord 2006. © Sammy Baloji, por cortesia de Faustin Linyekula Sudanese Writers Union.Por cortesia de SWU N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 Palmarés: PRƒMIO SEYDOU KEìTA: Calvin Dondo , ZimbabuŽ PRƒMIO DA UNIÌO EUROPEIA: A•da Muluneh , Eti—pia PRƒMIO DA ORGANIZA‚ÌO INTERGOVERNAMENTAL DA FRANCOFONIA (OIF): Sa•dou Dicko , Burkina Faso PRƒMIO ELAN DA AGæNCIA FRANCESA DE DESENVOLVIMENTO (AFD): Mohamed Camara , Mali PRƒMIO DE IMAGEM: Amal Kenawy , Egipto PRƒMIO ESPECIAL DO JòRI: Nontsikelelo "Lolo" Veleko , çfrica do Sul PRƒMIO çFRICA EM CRIA‚ÍES: Sammy Baloji , Repœblica Democr‡tica do Congo PRƒMIO FUNDA‚ÌO BLACHéRE: Adama Bamba (primeiro prŽmio) Os Encontros Africanos da Fotografia foram co-produzidos pela Casa Africana da Fotografia, pelo MinistŽrio da Cultura do Mali e por CULTURES FRANCE, com o apoio da Uni‹o Europeia, e beneficiaram do apoio da Agncia Francesa de Desenvolvimento (AFD) e da Organiza‹o Intergovernamental da Francofonia (OIF). Publica‹o Facts de Ars Aevi. Por cortesia de Ars Aevi Desenhos animados por GadoPor cortesia de GadoC riatividade C riatividade

PAGE 33

N. 4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 D iz-se cada vez mais que na região do Pacífico e das Caraíbas, por exemplo, muitas das pequenas ilhas remotas, que são de uma rara beleza, correm o risco de desaparecer. Desde há um certo tempo, a Terra não cessa de aquecer. Nos países mais frios, como na Europa, há menos neve do que antes, chove um pouco menos e, por vezes, está calor quando devia estar frio. Nos países onde não há Inverno, há muito calor, quase sempre demasiado calor. Em certas regiões, já quase não chove. Nestas circunstâncias, as plantas crescem dificilmente e é difícil encontrar água para beber, porque é a água da chuva que penetra profundamente na terra. É esta água que se bombeia e que sai das torneiras. Verifica-se igualmente um aumento do número de grandes catástrofes mortíferas: furacões, terramotos, inundações, vulcões em erupção. No Pólo Norte e no Pólo Sul, onde havia constantemente enormes quantidades de gelo, hoje o gelo derrete depressa. Ao derreter, aumenta a quantidade de água nos mares. Em certas zonas da Europa, por exemplo na Bélgica e nos Países Baixos, e sobretudo nas pequenas ilhas do Pacífico, que são como grandes corais planos, quase ao nível do mar, isto pode ser grave. Num destes países, Quiribáti (deve pronunciar-se Kiribass), duas das pequenas ilhas foram desaparecendo pouco a pouco no mar. Não eram habitadas, mas havia gente que dava ali os seus passeios. Conta-se que, um dia, o Príncipe de Gales, o Príncipe Carlos de Inglaterra, quando jovem, almoçou numa delas. Nalgumas pequenas ilhas de Quiribáti, a população tem medo e tanto as pessoas deste país como de um outro, as Ilhas Marshall, já partiram refugiar-se noutro pequeno país da região que se chama Niue. Niue tem sorte, é montanhoso. Mas o país ameaçado do Pacífico de que mais se fala é Tuvalu. Dizse que poderá ser o primeiro país a desaparecer inteiro se a água do mar continuar a subir. Visitámos Tuvalu. Dizia-nos uma avozinha: Deixarei partir os meus filhos e os meus netos, mas eu ficarei, é aqui que quero morrer.Ž É triste. As crianças aprendem nas escolas o que se pode fazer para ajudar o país: não esbanjar a água, proteger as árvores, etc. Aprendem igualmente o que devem fazer em caso de perigo, se o nível das águas subir. Mas nem pensar em partir. Susana, de 9 anos, diz-nos: Não sei o que fazer, mas não quero partir.Ž Uma outra miúda, Tepula, disse-nos que subirá a uma árvore e aguardará que o nível das águas baixe. Um miúdo, Teisi, quer ficar para vigiar o seu país e Kanava, outro rapaz, diz que encherá o mar para fazer uma montanha. Averdade é que Kanava tem razão. Ele pensa o mesmo que os governantes do seu país que querem construir uma ilha artificial mais alta perto da praia. Para isso, é necessário muito dinheiro e materiais. Pensam, como estas crianças, que as pessoas do mundo inteiro vão dar uma ajuda para evitar que o seu belo país desapareça do mapa. H.G. 63 ara os mais jovens 62 Opatrimónio, material ou imaterial, é um elemento essencial da identidade de um país. Portanto, a sua protecção é uma obrigação moral e de responsabilidade pública. Os Camarões compreenderam isto perfeitamente e têm feito grandes esforços nessa área. O Ministério da Informação e Cultura dos Camarões, aquando da realização dos Estados Gerais da Cultura, tomou resoluções e assumiu compromissos em termos de valorização do património daquele país. Contudo, a partir de 1980, com o concurso do Gabinete de investigação científica e técnica do ultramar e do Fundo universitário de apoio à investigação, lançou-se num vasto programa de investigação sobre o inventário do seu património. Isto levou à instituição de estruturas como centros de informação, educação, formação e investigação. Deste modo, existem em Iaundé, em Douala e nalgumas localidades do Oeste dos Camarões alguns museus, galerias e monumentos, onde encontramos colecções de natureza diversa (etnografia, história local e regional, geografia, história natural, artes plásticas). O Ministério da Cultura muniu-se igualmente de uma política de aquisição de obras contemporâneas através de concursos de criação. No entanto, a rede de museus é demasiado fraca, se considerarmos toda essa riqueza. Estão abertos apenas 15 museus e alguns não merecem essa designação. Os museus privados representam mais de metade dessas instituições em actividade. > LetargiaApesar das resoluções tomadas, existe uma certa letargia na gestão dos museus públicos. Por esse motivo, encontramos aí alguns problemas. Além da falta de espaço e de equipamento necessários para exposição permanente, os meios financeiros são demasiado limitados para o bom funcionamento dos museus: o equipamento de controlo do clima, os serviços educativos e missões de recolha e transporte das obras pelo país e a montagem das bibliotecas especializadas em museologia e ciências auxiliares. As obras ficam, assim, expostas a diversos factores de degradação. Temos também, e sobretudo, dificuldade em recrutar pessoal qualificado. Aisto se devem os enormes atrasos observados em matéria de conservação e restauração. Aliás, todas estas lacunas colocaram o problema da própria pertinência da criação de tais instituições em África a nível geral. Felizmente, o equívoco foi retirado aquando de um encontro organizado pela ICOM, no Gana, em 1991 (Que museus para África? Património de futuro), que teve como efeito a melhoria da situação dos museus africanos. Actualmente, os organismos internacionais tomam medidas para ajudar esses países a enfrentar verdadeiramente estes desafios. Espera-se que os especialistas da cultura dos Camarões que participam nestes seminários possam concretizar as suas sugestões para ultrapassar as dificuldades ligadas à conservação das colecções e garantir uma melhor valorização do património cultural camaronês junto do público. * Historiadora de Arte. Professora na Universidade de Yaoundé I, Camarões1Actas dos Estados gerais da cultura, IaundŽ, Pal‡cio dos Congressos, MinistŽrio da Informa‹o e da Cultura, 23-26 de Agosto de 1991, p. 54, 55. 2 -Boletim ZAMANI, 1993, n¡5/6, p. 8. As ilhas remotas vão MESMO DESAPARECER? Radek Steska, 2007 Manifesta!© Africa e MediterraneoApresenta‹o de m‡scaras, Museu Bandjoun, Grassland, Camar›es.© Projecto de museus de GrasslandMuseu Nacional dos Camar›es: entrada principal.© Achille Komguem © Kirill Livshitskiy. Imagen de BigStockPhoto.com dos museus camaroneses Ruth Colette Afane Belinga*A HIST"RIA NATURAL dos museus camaronesesC riatividade

PAGE 34

orreio do leitor çFRICA çfrica do Sul Angola Benim Botsuana Burquina Faso Burundi Cabo Verde Camar›es Chade Comores Congo (Repœblica Democr‡tica) Congo (Brazzaville) Costa do Marfim Djibouti Eritreia Eti—p’a Gab‹o G‰mbia Gana GuinŽ GuinŽ-Bissau GuinŽ Equatorial Lesoto LibŽria Madag‡scar Malawi Mali Maurit‰nia Maur’cia (Ilha) Moambique Nam’bia N’ger NigŽria QuŽnia Repœblica Centro-Africana Ruanda S‹o TomŽ e Pr’ncipe Senegal Seicheles Serra Leoa Som‡lia Suazil‰ndia Sud‹o Tanz‰nia Togo Uganda Z‰mbia ZimbabuŽ CARAêBAS Ant’gua e Barbuda Baamas Barbados Belize Cuba Dom’nica Granada Guiana Haiti Jamaica Repœblica Dominicana S‹o Crist—v‹o e Nevis Santa Lœcia S‹o Vicente e Granadinas Suriname Trindade e Tobago PACêFICO Cook (Ilhas) Fiji Marshall (Ilhas) MicronŽsia (Estados Federados da) Nauru Niue Palau Papu‡sia-Nova GuinŽ Quirib‡ti Salom‹o (Ilhas) Samoa Timor Leste Tonga Tuvalu Vanuatu UNIÌO EUROPEIA Alemanha çustria BŽlgica Bulg‡ria Chipre Dinamarca Eslov‡quia EslovŽnia Espanha Est—nia Finl‰ndia Frana GrŽcia Hungria Irlanda It‡lia Let—nia Litu‰nia Luxemburgo Malta Pa’ses Baixos Pol—nia Portugal Reino Unido Repœblica Checa RomŽnia SuŽcia As listas dos pa’ses publicadas pelo Correio n‹o prejulgam o estatuto dos mesmos e dos seus territ—rios, actualmente ou no futu ro. O Correio utiliza mapas de inœmeras fontes. O seu uso n‹o implica o reconhecimento de nenhuma fronteira em particular e tampouco prejudica o estatuto do Estado ou territ—r io. Países de África … Caraíbas … Pacífico e União Europeia Janeiro 2008 > 22-23 Fórum do sector privado africano organizado pelo Departamento dos Assuntos Económicos da União Africana … Adis Abeba> 28-29 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas … Bruxelas> 31-2.2 Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana … Adis Abeba Fevereiro 2008 > 18 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas … Bruxelas> 20-22 PNUE … Fórum Ministerial Mundial para o Ambiente … 10ª sessão extraordinária … Mónaco Março 2008 > 10-11 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas … Bruxelas> 15-22 Assembleia Paritária ACP-UE … Liubliana> 17-20 CNUCED … Conselho sobre o Comércio e o Desenvolvimento … 24ª sessão extraordinária … Genebra Abril 2008 > 28-29 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas … Bruxelas Maio 2008 > 16-17 Cimeira UE-América LatinaCaraíbas (EU-LAC) … Lima> 26-27 Conselho de Ministros da UE sobre Assuntos Gerais e Relações Externas … Bruxelas AGENDA Janeiro Ð Maio 2008 Fico feliz por esta Revista muito educativa estar de volta e estou ansioso por ler novamente sobre os acontecimentos nos Pa’ses ACP.< peterskwi >Obrigado pela edi‹o nœmero 1 do O Correio . Depois de ler a publica‹o, acolho o novo estilo com prazer.Michel Baudouin , Professor de agronomia na Universidade de Gembloux (Bélgica) e perito em desenvolvimento ruralParabŽns pela vossa revista. Melhores cumprimentos,Paméla dAuthier Cirad Direcção das Relações Europeias e Internacionais Delegação para a Europa comunitária (Montpellier França)Estou a escrever a partir do F—rum Europeu da Juventude (FEJ). Estamos felizes por saber que O Correio ACP-UE voltou a ser lanado.Angela Corbalan Coordenadora de Imprensa e Relações Externas da FEJ (Bruxelas Bélgica)Deixem-me felicitar-vos pelo restabelecimento desta publica‹o que tem sido sempre extremamente valiosa para n—s no Uganda. Com agradecimentos, Michel Lejeune Vice-Director executivo NCHE (Kampala Uganda)Bem-vindo de volta a revista O Correio ACP-UE Ž muito educativa nos pa’ses ACP-UE. Aceitem os meus parabns por terem voltado a imprimir esta revista. AtenciosamenteAsagaya Jasper Iaundé CamarõesCartas dos leitores A vossa opini‹o e as vossas reac›es aos nossos artigos interessam-nos. N‹o hesitem em no-las comunicar.Endereo: O Correio Ð 45, Rue de Trves 1040 1040 Bruxelas (BŽlgica) S’tio Internet: info@acp-eucourier.info Correio electr—nico: www.acp-eucourier.info

PAGE 35

Venda proibida ISSN 1784-682XC rreioOA revista das rela›es e coopera‹o entre çfrica-Cara’bas-Pac’fico e a Uni‹o Europeia N°4 N.E. … JANEIRO FEVEREIRO 2008 REPORTAGEMHAITI despontar da esperançaDOSSIERIlhas do Pacífico.As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes REPORTAGEMHAITI despontar da esperançaDOSSIERIlhas do Pacífico.As alterações climáticas em foco África Tirar mais proveito dos seus diamantes