• TABLE OF CONTENTS
HIDE
 Front Cover
 Main
 Back Cover














Title: Arquivo de bibliografia portuguesa.
ALL VOLUMES CITATION THUMBNAILS PAGE IMAGE ZOOMABLE
Full Citation
STANDARD VIEW MARC VIEW
Permanent Link: http://ufdc.ufl.edu/UF00089414/00003
 Material Information
Title: Arquivo de bibliografia portuguesa.
Physical Description: Book
 Record Information
Bibliographic ID: UF00089414
Volume ID: VID00003
Source Institution: University of Florida
Holding Location: University of Florida
Rights Management: All rights reserved by the source institution and holding location.

Table of Contents
    Front Cover
        Front Cover 1
        Front Cover 2
    Main
        Page 1
        Page 2
        Page 3
        Page 4
        Page 5
        Page 6
        Page 7
        Page 8
        Page 9
        Page 10
        Page 11
        Page 12
        Page 13
        Page 14
        Page 15
        Page 16
        Page 17
        Page 18
        Page 19
        Page 20
        Page 21
        Page 22
        Page 23
        Page 24
        Page 25
        Page 26
        Page 27
        Page 28
        Page 29
        Page 30
        Page 31
        Page 32
        Page 33
        Page 34
        Page 35
        Page 36
        Page 37
        Page 38
        Page 39
        Page 40
        Page 41
        Page 42
        Page 43
        Page 44
        Page 45
        Page 46
        Page 47
        Page 48
        Page 49
        Page 50
        Page 51
        Page 52
        Page 53
        Page 54
        Page 55
        Page 56
        Page 57
        Page 58
        Page 59
        Page 60
        Page 61
        Page 62
        Page 63
        Page 64
        Page 65
        Page 66
        Page 67
        Page 68
        Page 69
        Page 70
        Page 71
        Page 72
        Page 73
        Page 74
        Page 75
        Page 76
        Page 77
        Page 78
        Page 79
        Page 80
        Page 81
        Page 82
        Page 83
        Page 84
        Page 85
        Page 86
        Page 87
        Page 88
        Page 89
        Page 90
        Page 91
        Page 92
        Page 93
        Page 94
        Page 95
        Page 96
        Page 97
        Page 98
        Page 99
        Page 100
        Page 101
        Page 102
        Page 103
        Page 104
        Page 105
        Page 106
        Page 107
        Page 108
        Page 109
        Page 110
        Page 111
        Page 112
        Page 113
        Page 114
        Page 115
        Page 116
        Page 117
        Page 118
        Page 119
        Page 120
        Page 121
        Page 122
        Page 123
        Page 124
        Page 125
        Page 126
        Page 127
        Page 128
        Page 129
        Page 130
        Page 131
        Page 132
        Page 133
        Page 134
        Page 135
        Page 136
        Page 137
        Page 138
        Page 139
        Page 140
        Page 141
        Page 142
        Page 143
        Page 144
        Page 145
        Page 146
        Page 147
        Page 148
        Page 149
        Page 150
        Page 151
        Page 152
        Page 153
        Page 154
        Page 155
        Page 156
        Page 157
        Page 158
        Page 159
        Page 160
        Page 161
        Page 162
        Page 163
        Page 164
        Page 165
        Page 166
        Page 167
        Page 168
    Back Cover
        Page 169
        Page 170
Full Text


ARQUIVO

DE


BIBLIOGRAFIA PORTUGUESA




ANO VII PW JANEIRO-JUNHO W N.os 25-26


ATLANTIDA
C01MBRA 1 6 1


(/_ .69
,-4^ 7j.."'" .- 6


Op.
X%
















Arquivo de Bibliograjia Portuguesa

(Publicaqgo trimestral)




D1RECCAO DE

MANUEL LOPES DE ALMEIDA


S U M A R I 0


D E S T E


N 0M ER 0


Luis FERRAND DE ALMEIDA Mem6rias e outros escritos de D. Luis da
Cunha A ADELINO DE ALMEIDA CALADO- Piano de um catdlogo colec-
tivo da Faculdade de Letras de Coimbra A JosE MARIA VIQUEIRA -
Notas portuguesas en la obra de Gracian A JoiO DE SOUSA DA
CAMARA -As misses de P. Ant6nio Maldonado ao servipo de Car-
los V A. Epistoldrio A Notas de Leitura A Noticias


Assinatura annual (4 nimeros). .. . .
Ncmero avulso . . . . .
NOimero duplo avulso . . . .


50000
. 25*00
40*00


Toda a correspondencia deve ser dirigida ao Arquivo de Bibliografia
Portuguesa, Rua de Ferreira Borges, jo3-niI Coimbra





Arquivo de Bibliografia Portuguesa

ANO VII W JANEIRO-JUNHO )W N.0' 25-26




Mem6rias e outros escritos
de D. Luis da Cunha

Alguns dos maiores problems suscitados pelos escritos de D. Luis
da Cunha foram resolvidos, por forma que bem parece definitive, em
dois trabalhos de Gastio de Melo de Matos, publicados hi cerca de
trinta anos (i). Um cuidadoso estudo de numerosos manuscritos levou
este investigator a concluir que os copistas frequentemente confundi-
ram sob um mesmo titulo duas obras diferentes do celebre diplomat:
as Memdrias da PaT de Utrecht e a Traducfo e Pardfrase dos Tra-
tados de PaT e Comdrcio celebrados em Utrecht, Baden e Anvers.
No primeiro destes escritos, corn quatro parties e um suplemento
(ao todo cinco volumes), D. Luis da Cunha descreve as origens e cau-
sas da Guerra da Sucessdo de Espanha, o desenvolvimento do conflito
e as negociag6es da paz, designadamente as que tiveram a participagio
dos representantes de Portugal. A outra obra, na inteng9o do autor,
devia constar de tries parties: a i.a seria dedicada aos tratados realiza-
dos pela Franca corn a Inglaterra e seus aliados (exceptuando o Imp&
rio); a 2.' trataria dos convenios celebrados pela Espanha e o Impirio;
a iltima tinha por object os tratados de comrrcio. Haveria introdu-
96es de caricter hist6rico e geogrifico e a cada artigo seguir-se-ia uma
nota explicativa.
Ora, a correspondencia dirigida por D. Luis da Cunha ao 2.0 conde
de Assumar (2), da qual publicamos hoje os extracts que interessam


(i) Noticia de alguns memorialistas portugueses do principio do sdculo X VIII,
in Nafdo Portuguesa, sdrie vi, tomo 1, 1929, p. 267-281 ; Duas obras de D. Luis da
Cunha. As aMem6rias da Pa' de Utrechtu e a aTradufdo e Pardfrase do Tratado
de Pap), Lisboa, 1931. Este Oltimo estudo constitui o prefdcio de uma edicao das
Mem6rias que foi iniciada, mas nio continuou.
(2) D. Joio de Almeida de Portugal, 2.0 conde de Assumar (1663-1733).
Entre os cargos importantes que desempenhou, foi embaixador de Portugal (1705-
-1713) junto do Arquiduque Carlos, que o nosso pais reconheceu como Carlos III
de Espanha (Cfr. D. Jose Barbosa, Elogio do Excellentissimo Senhor D. Jodo de
Almeida e Portugal, Conde, e Senhor do Assumar [...], in Collefam dos Documen-
tos e Memorias da Academia Real de Historia Portugueya, tomo xi fAisboa, 1734,










para este efeito, vem confirmar as principals conclus6es de Gastao de
M. de Matos, e, conjugada corn outros elements, permit ainda esclare-
cer diversos pontos de pormenor.
Nela se faz clara disting9o entire as Memdrias e a Traducdo e
Pardfrase (Docs. i, 2, 3 e 4) (1). Temos assim a confirmagdo, pelo
pr6prio autor, da concluslo a que chegara Gastao de M. de Matos por
confront dos manuscritos.
As referencias As Memdrias sao breves, talvez por ji se encon-
trarem entdo inteiramente elaboradas. Em Janeiro de 1716 tratava-se
de encadernar os adous vltimos Tomos das Memoriasa e trabalhava-se
na c6pia do Suplemento (Doc. i) (2). Ainda na primeira metade
de 1716, o autor enviou ao conde de Assumar os vltimos tres Tomos
das cousas de Vtrecht, dos quaes o derradeiro era dedicado ao
S.or Infante D. Manoel (Doc. 9) (3). Nao se esqueceu de pedir
ao amigo que os apresentasse ao Rei, se os achasse dignos disso
(Docs. 2 e o10).
No fim da 4.* parte das Mem6rias, D. Luis da Cunha anunciou
a intencao de prosseguir (4) e nrio tardou, na verdade, a elaborar o
Suplemento; mas, ao p6r termo a este, revelava a existencia de novos
projects: a...Como a seu tempo diremos, em cazo que possamos
continuar as nossas Memorias, cujo trabalho por agora nos pareceo
interromper, por nos empregarmos em outro, que nao deixarA de ser
util, ainda que na6 excite tanto a curiozidades (5).
Este novo trabalho era certamente a Traduco e Pardfrase.
E possivel que o autor tivesse pensado, alguns anos antes, num sim-
ples volume de complement As Memdrias (6), mas cremos que nio

n.* vin; D. Ant6nio C. de Sousa, Mem6rias Hist6ricas e Genealdgicas dos Grandes
de Portugal, 4.*a ed., Lisboa, 1933, p. 181-182; Gastao de M. de Matos, Cartas do
Conde de Galway ao 2.* Conde de Assumar, Lisboa, 1931, p. 5-1 1).
(i) Para evitar a multiplicaqio das notas citamos no texto, entire parente-
sis, os documents que constam do apendice.
(2) V8-se que este, embora tenha no frontispicio do original a data de 1716
(Bibl. da Acad. das Ciencias [= B. A. C.]: Ms. 595-A.) deve ter sido redigido ainda
em 1715.
(3) 0 Suplemento foi realmente dedicado ao Infante. As palavras do
document nao favorecem a hip6tese, admitida por Gastgo de M. de Matos, da
existencia de um 6. volume das Memnrias. Adiante voltaremos a este assunto.
(4) c... Se a Mizericordia Divina nos dilatar a vida e soubermos que este
nosso trabalho merece ser do real agrado e serviqo de Sua Magestade que Deos
guard, esta fortune convidarA a nossa applicaga6 para o proseguirmos...M
(Memorias da Pay de Utrecht, 4.' part Bibl. Nac. de Lisboa [= B. N. L.]:
Col. Pomb., Ms. 45o, p. 899).
(5) Supplemento das Memorias da Pay de Utrecht B. A. C.: Ms. 595-A.,
p. 538.
(6) Na carta a Diogo de Mendonga, escrita de Utrecht a 2o-Junho-1714,
corn o pedido de apresentar ao Rei a i.* parte das Memnrias, dizia D. Luis da










chegou a escreve-lo e que se decidiu por uma obra independent e de
maior extensgo (i).
Sabemos ji que D. Luis da Cunha organizou umrn vasto piano (2),
que nos aparece confirmado, quanto A i." parte, pela correspondencia
dirigida ao conde de Assumar, sendo de notar, no entanto, a falta de
referencia ao tratado franco-portugues, o que nao deixa de ser curioso
(Docs. 2, 4, 5, 8 e 1i).
Sobre a data da Traducao e Pardfrase e sobre as condig6es em
que foi escrita tambdm as cartas nos fornecem alguns dados.
VW-se que o autor ji trabalhava nesta obra em 23-Janeiro-1716
(Doc. i). Em Margo dizia que nao deixava de avangar e prometia
para breve wo Tratado de InglaterraD, em que estava acabando de
p6r a mao (Doc. 2), mas que na realidade s6 foi remetido em Agosto
(Doc. 4). A informacgo, dada neste moment, de que ana mesma
formaD tinha quasi feito os maisa, e provAvelmente exagerada, por-
que, se a parte relative a Sab6ia foi enviada em Setembro (Doc. 5), a
da Prussia e mais tardia, ainda que do mesmo ano (Docs. 5 e 8), a da
Holanda nao estava terminada em Janeiro de 1717 (Doc. 8) e da de
Portugal nada se sabe...
Seria completamente errado admitir que as parties da Tradupdo
e Pardfrase a que a correspondencia se refere como ja escritas adqui-
riram logo forma definitive. As pr6prias cartas nos dto elements
para pensarmos o contririo. Assim, aludindo ao tratado franco-ingles,
diz D. Luis da Cunha: a...em que estou acabando de p6r a mao,
bem que nio sera a vltima... (Doc. 2). Quando o enviou ao conde
de Assumar, prometeu mandar os restantes asegundo os for acabando,
porque neste mesmo ainda falta6 algumas couzas que sera necessario
ajuntar) (Doc. 4).

Cunha que o seu intent ahe de offereqer a ElRey Nosso Senhor os Tratados, e
Convengoens, que ajunto em volume separado segundo os tempos em que se fize-
ra6, (Memorias, ed. organize. por G. de M. de Matos, vol. i incompleteo], Lisboa, 1931,
p. 9). E na dedicat6ria a D. Jofo V, da mesma data, anunciava o animo em que
estava de continuar as Memnrias at6 as terminar corn os Tratados da paz de
Utrecht, a cujos artigos ta6 bem farei minhas observagoens e notas (Ibid., p. 7).
(1) Gastrlo de M. de Matos cita os testemunhos de Barbosa Machado e
D. Ant6nio Caetano de Sousa a respeito do exemplar das Memdrias existente na
biblioteca de D. Joao V, o qual constaria de seis volumes (Cfr. Duas obras de
D. Luis da Cunha, p. 8 e 12). Nio nos parece argument decisive. Em primeiro
lugar, 6 duvidoso que Barbosa Machado tenha visto a obra e o conhecimento de
D. Ant6nio C. de Sousa deve ter sido superficial (Ibid., p. 8). Em segundo lugar,
e nao havendo prova em conirario, nada nos impede de pensar que o suposto
6.0 volume fosse apenas um manuscrito de parte da Tradufdo e Pardfrase. Neste
caso, as palavras dos dois conhecidos escritores do seculo xvm s6 provariam que a
confusao das obras de D. Lufs da Cunha principiou cedo.
(2) Cfr. Gastao de M. de Matos, Duas obras de D. Luis da Cunha, p. 17,
18, 19-21.










Os rascunhos que ainda existem de obras do cdlebre diplomat
estao cheios de palavras riscadas, acrescentamentos e alterag6es do
seu pr6prio punho. Isso verifica-se precisamente num manuscrito que
contim parte das notas ao tratado franco-ingles e que esti hoje
na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (i). E evidence
que certos passes s6 podem ter sido escritos em data posterior a
Agosto de 1716, visto que se faz referencia express a acontecimen-
tos de 1717 (2).
Note-se tambem que o autor vdrias vezes apela, em attitude de
moddstia, para os conselhos e correcg6es do conde de Assumar, que
nao deixou de corresponder, segundo parece, as solicitag6es do amigo
(Docs. 4, 6 e 7). Essa afectada humildade fazia parte das boas nor-
mas dos escritores do tempo. D. Luis da Cunha chegou a dizer a
D. .oglo de Almeida que, se nao achasse os seus cadernos dignos de
se verem, guardasse segredo e os mandasse queimar (Doc. 4), reco-
mendag o que ji fizera alguns anos antes a Diogo de M. Corte Real,
a respeito da i.a parte das Memdrias da Pal de Utrecht...
Fosse sincere ou nio nessa attitude, certo e que D. Luis da Cunha,
em principio, destinava A publicidade a Traducdo e Pardfrase, contrA-
riamente As Mem6rias, que deviam ficar secre.tas, por motives que o


(i) B. U. C.: Ms. 86. No Catdlogo de manuscritos (Cddices i a 250), de
A. M. Sim6es de Castro, reimpresso corn introduqIo e notas de Luis de Castro
(Coimbra, 1940), diz-se que o autor do Ms. aparece ter sido personagem impor-
tante. Citam-se various passes do texto em apoio desta opinido e conclui-se corn
a pergunta: uSera acaso D. Luls da Cunha o autor deste livro?, (p. 71-72). Nio
temos quaisquer duvidas quanto a autoria. 0 Ms. (de 339 fis. + 62 fls. inms. e em
branco) 6 constitutdo por uma serie de pequenos cadernos cosidos uns aos outros
*e escritos em duas letras muito diferentes (de forma alternada, mas sem obedecer
a qualquer criterio aparente). Uma delas tern todo o aspect de ser a do pr6prio
D. Luis da Cunha e a outra serA naturalmente a do seu secretario. Alguns cader-
nos parecem revelar uma terceira letra, semelhante A do diplomat, embora menos
regular. Ficamos na dtivida: serd de um 2.0 secretario ou do autor (dado que a
letra de uma pessoa pode variar) ?
0 texto, mutilado no principio, comeqa corn a nota ao artigo xiv do tratado
franco-ingl8s e terminal, depois da nota ao art. xxx (e uiltimo), corn a aNota aos Plenos
podereso (fls. 331-339). Faltam tambmrn as notas aos artigos xx e xxil e algumas das
outras parecem incompletas. 0 inicio do Ms. (aNota ao Tituloo) encontra-se nas
fls. 243-259, que nao estao cosidas, mas soltas, e que devem ter ido parar a este
lugar e corn esta numeraqio modernn) por engano. A encadernagao, que julga.
mos da 6poca, tern na lombada esta errada indicaggo : aFragmentos sobre o Estado
de Saboia).
(2) Vit6ria do prfncipe Eugenio contra os turcos, em Belgrado, a 16-Agosto-
-1717 (B. U. C.: Ms. 86, ft. 49); ataque da armada inglesa A sueca, no mesmo ano
(Ibid., fl. 141 v.); tratado entire a Franqa, a Russia e a PrCissia, em 15-Agosto-1717
(Ibid., fl. 156 v.). Na nota ao art. vi, que nio se encontra neste Ms., ha tambem
alusdo a um edito de Luis XV, de 8 de lulho de 1717 (Notas ao Tratado de
Utrecht-B. N. L.: F. G., Ms. 2634, p. 218).









pr6prio autor nio deixou de explicar (i). Como bem observou Gastio
de M..de Matos, a Traducao e Pardfrase era, fundamentalmente, uma
obra didictica (2). D. Luis da Cunha queria adar ao public do nosso
PortugalN a traducgo dos tratados, com as convenientes anotag6es
(Doc. i); a sua preocupacgo era a de instruir e portanto a de ser uitil
a esse mesmo pdblico (Docs. i e 4) (3).
Infelizmente, aquilo que hoje conhecemos da Traducdo e Pard-
frase nio corresponde sequer a toda a i.a parte do vasto piano da
obra. Temos as describes da Franca e da Inglaterra, corn a traducao
do tratado de paz entire estes dois paises e respectivas notas e temos
tambrm complete a parte relative a Sab6ia e ao tratado franco-
-saboiano (4). Num manuscrito do Museu Britanico (Add. 22872)
encontra-se um rascunho da descrigio da Holanda e da traducao do
tratado de paz tranco-holandes, sern as notas; o Conde de Tovar e
Gastao de M. de Matos, admitiram, a titulo de hip6tese, que esta
parte fosse a utltima a ser escrita (5). Podemos, por nosso lado,
acrescentar que existe em Portugal outro rascunho corn a descriaio
das Provincias Unidas e a traducio do tratado franco-holandes, sendo
o texto dos artigos seguido de notas, o que nao acontece, como vimos,
no exemplar do Museu Britanico (6).
De estranhar d o silencio de D. Luis da Cunha a respeito do tra-
tado franco-portugues, anunciado, contudo, no prefdcio da obra. Em
compensagao, a correspondencia para o conde de Assumar di-nos
agora a certeza de que a parte relative A Prtissia ainda chegou a ser
escrita (Docs. 5, 8 e 1), se bern que nao conhegamos qualquer manus-
crito que a contenha. Quanto A 2.a e 3.a parties da Tradu do e Pard-
frase, e provAvel que nao chegassem a ser compostas (7). Devemos
especialmente lamentar a falta da ultima, sobre os tratados de comtr-


(i), Carta a Diogo de Mendonqa, 'cit. (Mem6rias, ed. de G. de M. de Matos,
p. to). Cfr. Duas obras, p. 12-14.
(2) Duas obras, p. 2o.
(3) Cfr. Supplemento das Memorias B. A. C.: Ms. 595-A., p. 538.
(4) Al6m da c6pia de que deu noticia G. de M. de Matos (Duas obras,
p. 22-23), existe outra (ou rascunho ?) corn correcq6es e acrescentamentos da
mao de D. Luis da Cunha. Faz parte de uma colecgo de papeis do diplomat
que esta na B. A. C.: Ms. 593-A., e cuja encadernacgo, da 6poca, tern na lom-
bada: aFragmentos para a traduccao do tratado do Duque de Saboia feito em
Wtrecht,. Este titulo nio da ideia exacta do contefido (V. infra, nota 6).
(5) Duas obras, p. 7 e 23-24.
(6) Encontram-se na B. A. C.: Ms. 593-A., corn acrescentamentos em vdrias
letras, sendo alguns do punho de D. Luis da Cunha. No mesmo Ms. esta uma Breve
e Geral Descripfa6 das Sete Provincias Vnidas do Pais Baixo, escrita mais
tarde pelo diplomat e da qual tencionamos publicar as paginas de maior inte-
resse.
(7) G. de M. de Matos, Duas obras, p. 24.










cio, pelos dados interessantes que nos poderia fornecer a respeito das
ideias econ6micas de D. Luis da Cunha (i).
0 famoso diplomat foi um trabalhador infatigivel, tendo dei-
xado escritas numerosas obras, por vezes extensas, alm de uma vas-
tissima correspondencia. Nem sempre esses trabalhos puderam ser
realizados nas melhores condi96es e em virios casos ficaram incom-
pletos. NAo e de admirar. Em 22-Junho-i716, D. Luis da Cunha
confessava ao seu amigo conde de Assumar que pouco tinha adiantado
a Traducdo e Pardfrase, aporque assistencia da Corte e andar atraz
dos seus Ministros leva6 a mayor parte do tempo) (Doc. 3). Outras
vezes queixava-se da mi satde e das interrupq6es provocadas pelas
viagens que as suas fun96es Ihe impunham (Docs. 7 e 8). Para ctimulo,
ficou a certa altura sem o secretirio, que ji Ihe tinha perdido os abor-
radores do Tratado de Pruzia (Doc. xi). Apesar de Ihe custar escre-
ver, reconhecia que a isso o levavam o costume e a inclinacgo (Doc. i ).
A esse gosto e A capplicaga6 do autor (Cfr. Doc. 7) ficimos
devendo algumas centenas de piginas de grande interesse para a his-
t6ria diplomitica da 6poca de D. Jolo V e para o conhecimento das
ideas de quem as escreveu, como esperamos mostrar em futures
trabalhos.
Luis FERRAND DE ALMEIDA



DOCUMENTS

(CORRESPONDENCIA ORIGINAL DE D. LUIS DA CUNHA
PARA 0 CONDE DE ASSUMAR -BIBL. NAC.
DE LISBOA: F. G., MS. 1608)

I
Haia, 23-Janeiro-17i6

[...]. Os Gelos tern impedido a encadernaga6 dos meus dous vltimos Tomos
das Memorias, como tambem o trabalharse na Copia do Supplemento, o que tudo
dezejo remetter a V. Ex.'; e ja que me fez tanto favor, Ihe communicarei a minha
present occupaga6, que he dar ao public do nosso Portugal a Traducqa6 dos Tra-
tados de Vtrecht, Baden e Anvers, corn breves annotaqoens historical e geografi-

(i) Na i.& pane, D. Luis da Cunha vArias vezes alude a assuntos que tencio-
nava tratar na 3.'. Cfr. Notas ao Tratado de Utrecht B. N. L., F. G., Ms. 2634:
"...na Traducqa6 dos Tratados do Comercio, (p. 33); ... como mais largamente
direi no Tratado do Commercio..., (p. 25o); (Nas Notas dos Tratados de Com-
mercio explicarei..., (p. 297); ... de cujo negocio espero fallar particularmente
nos seos tractados de Commercio (p. 374).










ficas para a intelligencia dos interesses qufe dera6 occasia6 ao: ditos Tratados. Na6
avanqarei muito este trabalho sem que V. Ex.* me faqa favor de o approval ou
desaprovar, conforme a mais ou menos vtilidade que nelle Ihe achar, porque em
tudo dezejo seguir os seus Dictames e obedecer aos seus preceitos.


2
Haia, 6-Marfo-176

[...]. Pedro da Cunha ira entregar a V. Ex.* os vltimos dous Volumes das
Memorias da Paz de Vtrecht.
V. Ex.* me far& a honra de lhes querer p6r os olhos, despindo-se da parcia-
lidade cornm que me honra, e, se os achar dignos de os apresentar a El-Rey N. S.,
seria para my human mayor vaidade levarem em ta6 born Padrinho a segura appro-
vaga6. No mesmo Caixa6 va6 dous exemplares dos Actos de Vtrecht. V. Ex., me
fara favor de querer guardar hum e dar outro da minha parte a loseph da Cunha
Brochado.
0 Supplemento das minhas Memorias se fica encadernando, e na6 deixo de
avangar o trabalho da traducca6 dos mesmos Tratados, corn as Notas Genealogicas,
Historicas e Geograficas; mas sempre espero saber de V. Ex.* se Ihe parece que
esta obra sera agradavel nessa terra, e para que V. Ex.*, cornm conhecimento de
causa, me made dizer o que entende, brevemente ]he mandarei o Tratado de
Inglaterra, em que estou acabando de p6r a ma6, bem que na6 sera a vltima sena6
depois de V. Ex.* a castigar [...].

3
Londres, 22-Junho-1716

[...]. Nao sei onde foy dar comsigo o navio que levava dous tomos do meu
trabalho, e assim espero que tambem haja chegado o que levava o supplement.
Pouco tenho adiantado a obra que emprendi, porque assistencia da Corte e
andar atraz dos seus Ministros leva6 a mayor parte do tempo [...].


4
Londres, i-Agosto-1716

[...]. Espero que V. Ex.- esteja entregue hd muitos dias dos livros que Ihe
remeti; agora tomo a liberdade de Ihe presentar a Traduc9a6 do Tratado de Franqa
e Inglaterra, e na mesma forma tenho quasi feito os mais; mandeme V. Ex.X dizer
sinceramente se Ihe parece que este trabalho sera agradavel. De Franga fallo mais
sucintamente que de Inglaterra, e assim tambem dezejo saber de V. Ex." que method
Ihe parece mais conforme ao primeiro object da obra. Se ella se julgar util para
que eu a continue, irei mandando cada Tratado, segundo os for acabando, porque
neste mesmo ainda falta6 algumas couzas que sera necessario ajuntar, e assim
V. Ex." me fara merce de mandar emendar alguns terms menos portuguezes de
que me haverei servido, porque desde logo aceito todas as correcqoEs que V. Ex.a
e as pessoas a que communicar esses quadernos Ihe fizerem, acrecentando que, se
V. Ex.* os na6 achar dignos de se verem, me guard segredo, mandandoos queimar,
que por isso me ponho nas ma6s de V. Ex.', confiandome na sincere merce que
me faz. [. .].












Londres, zS-Setembro-I 76

[...]. 0 Correo do-'Emperador entregara a V. Ex.' hum eboxe (?) do Tra-
tado de Saboya, que corn as mesmas condigoens sogeito a censura de V. Ex.A; bre-
vemente hira o de Prussia e o de Holanda, que he de mayor trabalho. [...].


6

Amsterdam, r-Outubro-z7V6

[...]. Bejo a Vx. a mao por querer emmendar nesses quadernos todos os
erros que achar, a todos os respeitos, porque para isso me confiei a V. Ex.' [...].


7

Haia, 5-Novembro-z7i6

[...]. Estimo infinito que V. Ex.* queira tomar o trabalho de emendar e de
me advertir tudo o que lhe parecer nos Cadernos que Ihe mandei, porque so isso
me podera animar a continualo, ainda que, por falta de saude, na6 possa ser ta6
continuada a minha applica;a6.

8

Haia, 3o-Janeiro-1717

Ha muitos dias que o Conde da Ribeira tern na sua ma6 o Tratado de Prus-
sia para o remetter a V. Ex.* na primeira occasia6, e espero que por esta o faga.
0 de Holanda, em que trabalho, tern tido muitos intervallos, ora os das minhas
jornadas e ora os das minhas repetidas vertigens.


9

Haia, 31-Janeiro- 1717

[...]. Tem-me esquecido perguntar a V. Ex.' se por fim final recebeo of
vltimos tres tomos das cousas de Vtrecht, dos quaes o derradeiro era dedicado ao
S.or Infante D. Manoel. [...].

10

Haia, i-Abril-17I7

[...]. Como na6 duvido que os tres volumes esta6 bem guardados e resguar-
dados na ma6 de V. Ex.V, espero que os queira aprezentar a Sua Magestade, quando
Ihe parecer tempo, na certeza de que na6 espero premio algum deste trabalho, por-
que supponho que o na6 merece. [...].

































11

Haia, 29-Abril-17 7

[...]. Estou sem pessoa que me escreua, e me custa maito este exercicio,
ainda que a elle me leua o custume e a inclinaca6.
0 meo Secretario, que a tinha mais guerreira, me perdeo os borradores do
Tratado de Pruzia, que em ultimo lugar remeti a V. E., e assim me fara grande
merce irme remetendo as folhas em letra meuda e papel de Posta huma copia,
porque sempre you ajuntando alguma couza a hums outros, segundo as you
achando. [...].














Piano de um catailogo colectivo da Faculdade
de Letras de Coimbra (*)


CAPITULO I

OS PROBLEMS TECNICOS PERANTE
0 CATALOG COLECTIVO

A reform das Faculdades de Letras portuguesas, publicada e
posta em execu~go em Outubro de 1957, nao veio de forma alguma
simplificar o problema que, de hi muito, as bibliotecas universitirias
constituem. Na verdade, os terms do diploma sdo claros e expres-
sivos no que respeita A tripla finalidade que o ensino deve procurar
atingir: ai.0 Formacao de um escol no dominio das letras e da cul-
tura humanistica, em sentido lato; 2.0 Prepara9do de professors de
ensino secundario, particularmente de ensino liceal, e de peritos de
outros ramos da vida cultural; 3.0 Aprendizado da investigacao no
ambito das disciplines ai professadasD (i). Nao valeria a pena fazer
notar que a formagao de um escol intellectual andari intimamente
ligada A assimila9go de uma ticnica de investigacgo. Mas o facto
interessa-nos sobremaneira porque a tiltima finalidade apontada, aliada
a um objective inequivoco de especializagdo, apresenta no texto da
reform um surto que nao pode passar despercebido. La se diz, corn


(*) 0 present estudo foi apresentado como trabalho te6rico na discipline
de Bibliologia e Biblioteconomia, do Curso de Bibliotecario-Arquivista, no ano
lectivo de 196o-61. Pelas caracteristicas especiais do tema tratado, nao quisemos
publicA-lo sem express aquiescencia do Ex.mo Director da Faculdade de Letras de
Coimbra. Muito grato nos confessamos pela imediata autorizagao concedida. Aqui
deixamos tambem os nossos agradecimentos ao Sr. Dr. Jorge Peixoto pela faculta-
qao de quase toda a bibliografia consultada, al6m de preciosas sugest6es, por-
menores de orientagao e revised final; e ao Sr. Prof. Doutor Jos6 Herculano de
Carvalho pelo interesse expontAneo pelo nosso trabalho e alguns reparos, que
tomamos na devida consideragqo.
(i) Reforma das Faculdades de Letras Decreto 1n.0 41 34r, de 3o de Outu-
bro de 1957, Lisboa, 1957, p. 4.









efeito, que, para dar mais s61lida formag o cientifica aos licenciados,
a6 indispensivel [...] proporcionar, pelo menos aos mais aptos, um
aprendizado efectivo da investigac.o cientifica, dentro de pianos de
estudos regulares (i). E a redugdo do nimero de cadeiras no 5. ano
de todos os cursos visa directamente a apermitir nesse ano o funciona-
mento de seminarios para aprendizado da investigag9o cientifica e ela-
boragdo da dissertagAo de licenciatura, (2).
Decerto, esta insistencia numa aquisicgo de mrtodos de investiga-
cgo nao e nova no ambito universitario, mas a sua aplicap.o pritica no
ensino superior portugues pode abrir amplas perspectives A alta cultural
national. Simplesmente e corn isto tocamos ji no ponto que nos inte-
ressa sublinhar -a investigacgo cientifica, quer universitiria, quer p6s-
-universitiria, necessita imperiosamente de bibliotecas mais ou menos
especializadas e, em qualquer caso, rigorosamente integradas em nor-
mas de funcionamento actualizadas de modo a acompanharem sincrb-
nicamente os processes de aquisig.o dos conhecimentos. A evolugo
que o conceito de biblioteca tern acusado, corn acentuada progressao
nas uiltimas decadas, nao pode de modo algum entender-se apenas em
relagao As bibliotecas ptiblicas, nacionais ou municipals. Nessa evolu-
cao tern de integrar-se, arrastada imperativamente pelo movimento cul-
tural que a solicita, a biblioteca universitiria-ate mesmo porque dela
deve partir a iniciativa de qualquer attitude de progress e actualizag9o.
Sem divida e a biblioteca universitiria aquela que mais fAcilmente
podera furtar-se a qualquer paralizaqdo por indrcia, mas seria indescul-
pivel que, dispondo de tais condig6es, estagnasse indefinidamente.
Excluida do nosso prop6sito a minima generalizagio, que nos leva-
ria demasiado long, circunscrevamos o ambito do problema para que
possamos trati-lo em profundidade: Como responded a Faculdade de
Letras de Coimbra a essa necessidade premente de bibliotecas especia-
lizadas, tanto no seu conteido como no seu funcionamento organic ?
Qual o conspecto da situag9o, tal como ela se nos depara no moment,
e quais as solug6es a adoptar para as deficiencias que inevitAvelmente
encerra ? E o que tentaremos ver.


i. Tipos de bibliotecas da Faculdade de Letras

Se, por um lado, e certo que o sistema de bibliotecas da Univer-
sidade de Coimbra, corn a sua antiga e prestigiosa Biblioteca Geral e
as bibliotecas das diversas Faculdades, n.o difere essencialmente do


(i) Ibidem, p. 6.
(2) Ibidem, p. 7.









piano a que obedece a quase totalidade das universidades estrangeiras,
por outro lado tambem nio e menos exacto que a Faculdade de Letras
possui, nas suas linhas gerais, caracteristicas bibliotecol6gicas identicas
is das Faculdades de Letras de todos os paises que tmr com o nosso
alguma afinidade cultural. Corn efeito, verifica-se que nela existed
dois tipos de bibliotecas:
1. a Biblioteca da Faculdade;
.0 as bibliotecas de institutes, cada uma das quais dedicada a
uma especialidade bern definida, e determinada de acordo corn o qua-
dro de materias do ensino.
Um pouco A magem do nosso objective, mas cremos que corn
sobeja razao, poderemos estranhar que nao exista em toda a Facul-
dade qualquer biblioteca de seminario, ao menos uma por cada secqco
de estudos. Mas isso tern uma explicaqao: uma vez que rnao se tern
praticado o regime de semindrio corn regularidade (uma ou outra tenta-
tiva pessoal de professor nio pode constituir um regime) a biblioteca
pr6pria de tal mdtodo de ensino nao teria razaio de existir, visto ser o
pr6prio funcionamento do seminirio que determine a sua existencia e
funcionamento (i). Isto justifica-se, naturalmente, pelo facto de esse
tipo de biblioteca possuir caracteristicas activas, e nao passivas como
as de qualquer outra biblioteca (2).
A Biblioteca da Faculdade, mais ampla e dotada de maior diver-
sidade bibliogr~fica do que as dos institutes, abrange, corn os seus
funds, todas as materias estudadas na Faculdade e guard as obras
que, pelo seu caricter geral, impr6priamente se integrariam em qual-
quer especialidade. E o caso das obras de referencia (enciclopedias,
dicionirios bibliogrificos) e de grand parte das revistas recebidas.
Todavia, nao e raro suceder que alguns livros de cultural especializada
ai se encontrem, o que evidentemente acrescenta o interesse do aluno
pela biblioteca e torna indispensivel a sua frequencia. Materialmente,
tambem a Biblioteca da Faculdade se encontra diferenciada dos insti-
tutos. Situada no 2.0 piso do edificio, corn o amplo dep6sito no infe-
rior, esti afastada de todos os pisos consagrados especialmente a
determinada secqao. Nao cremos que essa situacgo seja digna de
reparo. E evidence que nem tudo se poderia acumular nos pisos mais
acessiveis ou mais frequentados pelos alunos, e, se a biblioteca pode
parecer a algudm um tanto deslocada, isso deve-se apenas as facto de


(1) Como vimos em texto atras trancrito, a Reforma de 1957 prev6 a implan-
tagqo do regime de semindrio.
(2) Sobre o funcionamento e caracterfsticas das bibliotecas de seminario,
v. especialmente: Manuel de Paiva Boleo, Orientad6es da filologia romanica na
Alemanha; id. Introdufdo ao estudo da filologia portuguesa, pp. v-vn; e Javier
Lasso de La Vega, Tratado de biblioteconomia, Madrid, 1956, pp. 474-476 e 478-490.










se manter fechada a porta posterior do edificio, que se destinaria prin-
cipalmente a servi-la.
Os institutes, actualmente em nmimero de dezasseis incluindo
o Laborat6rio de Fonetica Experimental (i) representam, corn maior
ou menor latitude, o quadro das disciplines mais importantes que cons-
lituem os programs do ensino de linguas e literaturas. E evidence
.que esse quadro nio 6 ja exactamente o da reform actualmente em
vigor, e, corn efeito, nao sera dificil notar uma inadequagio entire o
conjunto de institutes existentes e as disciplines que, ou ji exigiam ins-
tituto pr6prio no moment da construg.o da nova Faculdade, ou o exi-
gem actualmente, ou ainda virio a exigi-lo num future pr6ximo. Este
facto constitui um problema que ultrapassa bastante o objective do
nosso trabalho, e seria mesmo inoportuno focA-lo mais pormenorizada-
mente. Mas, de qualquer modo, encare-se ou nio a possibilidade de
alargar o ntimero de institutes, a verdade e que a biblioteca de institute
se justifica plenamente, prevendo-se ate o seu desenvolvimento em
paises que, como a Franca, cuidam a serio de resolver os muitos pro-
blemas levantados pelas bibliotecas universitArias (2).
Quanto se tern dito e escrito sobre os institutes contribui para
dar cada vez mais relevo A sua utilidade. Verifica-se fAcilmente que
uma rede de pequenas bibliotecas especializadas permit uma utilizagio
mais ampla e proveitosa dos recursos bibliogrAficos (3), uma distribui-
cio mais homoginea e adequada dos livros, uma aplicagio mais racio-
nal de novos principios pedag6gicos que interessam a qualquer Univer-
sidade dos nossos dias. 0 limitado ambito de um institute especializado
proporciona ao aluno um ambiente que ele corn razdo desejard sempre:
simplicidade na requisiiao e obtengio de livros, tranquilidade na con-


(i) Sio os seguintes, al6m do ja referido laborat6rio: Instituto de Estudos
Geograficos (4.- piso), Instituto de Estudos Filos6ficos, Psicol6gicos e Pedag6gicos
(6.0 piso), Instituto de Estudos Hist6ricos aDr. Ant6nio de Vasconcelos, (3.0 piso),
Institute de Arqueologia (3.0 piso), Instituto de Estudos Ultramarinos (3.0 piso),
Institute de Estudos Classicos (5.0 piso), Instituto de Estudos Alem.es (6.0 piso),
Institute de Estudos Ingleses (6.0 piso), Instituto de Estudos Norte-Americanos
(6.0 piso), Instituto de Estudos Romanicos aD. Carolina Michaelis de Vasconcelos
(7.o piso), Instituto de Estudos Portugueses (7.* piso), Instituto de Estudos Brasi-
leiros (5.0 piso), Instituto de Estudos Franceses (5.0 piso), Instituto de Estudos
Espanh6is (5.0 piso) e Instituto de Estudos Italianos (5.0 piso).
(2) Cf. Charles-Edmond Perrin, Reflexions d'une usager, em Bibliotheques
Universitaires (Cahiers des Bibliothbques de France), 1953, p. 19: oOn pr6parerait
judicieusement I'avenir en creant ou en d6veloppant les biblioteques d'instituts....
(3) Cf. George Alan Works, College and University Library Problems,
,cit. por Lasso de La Vega, Tratado de Biblioteconomia, p. 477: (cLa idea que deve
informer la existencia (dos Institutos) debe ser la de que los recursos bibliografi-
cos puedan ser utilizados lo mas amplia y eficazmente possible por los profesores y
-estudiantesm.









sulta ou na investigaqdo, possibilidade de convivio com colegas da
mesma especialidade. Todos estes factors, muito importantes para
o exito do seu trabalho, desaparecem totalmente numa biblioteca de
funcionamento mais complex como tern de ser, sobretudo, uma Biblio-
teca Geral universitiria. Mas, para que todas as vantagens se colham
intactas, indispensivel se torna tomar apertadas medidas no sentido de
manter os institutes integrados na directriz que orientou a sua criaq-o:
a especializacgo. Esta, no entanto, s6 se consegue atravis de uma
selecq o e distribui9do criteriosa dos livros, isto 4: uma obra de cul-
tura clissica deveri ser entregue ao Instituto de Estudos Clissicos, ou
uma de Arqueologia ao Instituto de Arqueologia e nao a quaisquer
outros, sob pena de negarmos a fungao essencial de cada institute.
E nao 4 s6 a especializacgo que obrigard a seleccionar os livros que
hio-de integrar os funds de cada um deles: o espaqo tambem manda,
e de facto ele promete vir a escassear dentro de poucos anos.
A organica dos dois tipos de bibliotecas que atris verificimos
existirem na Faculdade 4 muito simples. A Biblioteca da Faculdade
nao tern, em relaqdo aos institutes, qualquer funcgo coordenadora, e
estes possuem plena independancia, pelo menos sob o ponto de vista
ticnico. Dirigidos superiormente por um Professor, sdo servidos por
um funcionirio privativo de categoria variavel dentro do quadro do
pessoal, a cujo cargo estdo os servings de cataloga9go e arrumagdo de
livros, leitura e emprdstimo. Por outro lado, a Faculdade nio 4 obri-
gada a estabelecer, neste campo, qualquer especie de relac6es corn a
Biblioteca Geral da Universidade nem corn as das restantes Faculdades.
Tudo isto, como se vera, levanta complexos problems que, natu-
ralmente, se reflected no funcionamento das bibliotecas e no desempe-
nho da sua missdo pedag6gica.


2. Problems tMcnicos interns

A multiplicagio de Universidades por todo o mundo, simultanea-
mente fruto e embrido de uma crescente sede de cultural, vem pondo,
de hi muito, serios problems de organiza9go, tdo variados e tao com-
plexos que mal se compadecem hoje corn simples ensaios ou tentativas
pessoais de solugdo. Entre eles, o mais simples nao 4 decerto a siste-
matizagao de relag es administrativas e ticnicas entire as bibliotecas
universitarias, especialmente entire a biblioteca central e as das virias
Faculdades (i). Mas isso ainda nao 4 tudo: dentro de cada Faculdade,
a existencia de institutes e laborat6rios vem criar o que poderemos cha-


(i) Cf. Lasso de La Vega, ob. cit., p. 472.









mar um sub-problema, final ainda tgo complex que nao tem sido pos-
sivel domini-lo totalmente. Sirva esta simples verificaggo sumAria, ao
menos para fazermos compreender isto: ao tratarmos, nas linhas seguin-
tes, dos problems tecnicos internos da Faculdade de Letras de Coim-
bra, estamos apenas a isolar uma pequena parcela de uma vastissima
questao, e ainda s6 em funqgo do objective deste trabalho.
Torna-se evidence que a organica simplificada que atris delinei-
mos nao esti de acordo corn as exigencias de ura Faculdade actual
nem corn as possibilidades que a ciencia bibliotecon6mica oferece para
satisfagdo dessas exigencias. Grande parte das dificuldades e mesmo
devida A carencia de t&cnicos que as resolvam, nao s6 em fungio do
present mas ainda corn alguma presciencia do future. Outras tantas
responsabilidades cabem A falta de uma centralizag9o efectiva e legal-
mente regulada dos services. Ora a dispersed dos institutes da Facul-
dade produz resultados como os que vamos examiner.
0 funcionArio que prove aos servigos de catalogacio, classificacgo,
leitura e empristimo nao tern categoria fixa para todos os institutes.
0 aluno-leitor tanto pode ser servido por um conservador licenciado
e bibliotecArio-arquivista, como por um catalogador habilitado corn o
2.0 ciclo liceal, como ainda por um continue ou assalariado que nao
passou da instrugao primAria elementary. Isto pode significar que as
atribui96es dos diversos quadros nao estao bern definidas (ou nao estao
mesmo definidas), mas, de qualquer modo, coloca os diversos institutes
em situa9oes muito dispares e, na maior parte dos casos, acarreta acen-
tuados prejuizos para a uniformidade de todos os servigos tecnicos que
ihes sao assinados.
Uma das opera96es.mais elementares mas nao das menos neces-
sarias -o registo dos livros recebidos -n no se faz regularmente em
todos os institutes, nem mesmo os livros destinados ao efeito apresen-
tam caracteristicas comuns. Ora, como se sabe, o registo d absoluta-
mente indispensivel em qualquer biblioteca, nao s6 para responder, em
qualquer moment, ao levantamento duma estatistica, mas tambem para
permitir, quando necessiria, uma contagem e conferencia dos volumes
existentes. Os tratadistas de biblioteconomia nao discrepam neste ponto,
e a verdade e que a generalizagio dos catAlogos de fichas independen-
tes, de inutilizaqgo ou extravio facil, mais contribuem para a valoriza-
c.o do livro de registo, que s6 precAriamente poderia ser substituido
pelo catAlogo topografico.
No que respeita A catalogagao, nota-se a diversidade de mode-
los de fichas utilizadas nos vArios institutes. Na recolha e confront, a
que procedemos, de todos os exemplares, raras e insignificantes coinci-
cidencias encontrimos: apenas as actuais fichas da Biblioteca da Facul-
dade sao identicas As do Instituto de Estudos Filos6ficos, as da Sala
Ferreira Lima As do Instituto de Estudos Brasileiros e as do Instituto









de Estudos Romanicos As do Instituto de Estudos Espanh6is. Decerto
isto e muito pouco, tanto mais que esses models nao coincidem entire
si. Daqui result um conjunto muito intrincado, mas que vale a pena
expor-se, embora o mais rApidamente possivel.
Encontrimos ainda muito espalhado um antiquado modelo de ficha
mais ou menos quadrada (geralmente 102 X98 ou oi x< 95 mm.,
impressa de um lado corn a indica9go dos elements catalogrificos e
respectivas pautas. Utilizam esta ficha os Institutos de Estudos Clis-
sicos, Franceses, Alemres, Ingleses e Norte-Americanos, corn divergen-
cia na disposigio grifica, consoante se trata do catilogo de autores
ou do de matdrias.
A Biblioteca da Faculdade e o Instituto de Estudos Filos6ficos
tern fichas de format international (125X75 mm.) em cartolina ama-
rela corn a indicagio dos elements catalogrificos impressa, e pautadas
de ambos os lados. Disp6em de dois models diversos, um para o
catalog onomistico, outro para o ideogrifico, este com diversas cores
conforme o assunto. Fagamos notar, a prop6sito, que a disposicao9
grifica destas fichas nao permit a aplica9go das normas de cataloga-
cgo mais generalizadas (i), alm de que nao sao nem poderdo vir a ser
perfuradas.
O Institute de Estudos Hist6ricos usa fichas do mesmo format,
numa variante ji deformada (127x80 mm.) corn pautas impressas a
preto dum s6 lado, e nao perfuradas.
O Institute de Estudos Romanicos e o de Estudos Espanh6is uti-
lizam, dentro do format international, fichas pautadas a duas cores,
perfuradas no centro da margem inferior, com uma linha para o enca-
becamento.
Os Institutos de Estudos Portugueses e de Estudos Brasileiros tem
fichas semelhantes, mas sem linha para o encabecamento. Divergem
tambem nas cores da impressed e da cartolina, e na espessura desta.
No Institute de Estudos Italianos veem-se fichas de tres modelss.
entire eles a ficha branca nao perfurada e dactilografada a azul e ver-
melho (2).
Nao precisamos ir mais long. Bastard acrescentar que a varie-
dade de fichas corresponde A variedade dos processes de catalogagao,,
da elei9&o dos encabegamentos, da distribuig9o dos elements da ficha,
da escrita e da ordena9To nos ficheiros.



(i) Sobre os muitos inconvenientes da ficha corn impressio dos elements
catalogrdficos e respectivas pautas, ver Carlos Vitor Penna, Catalogaci6n y clasi-
ficaci6n de libros, Buenos Aires, 1945.
(2) 0 catalog deste Instituto estd a ser actualizado e em parte, refeito
pelo Prof. Giacinto Manuppella.









Nao esti superiormente estipulado que se fagam catilogos ideo-
grificos ou sistemiticos, alem de que a habilita9go de catalogadores e
assalariados para essa tarefa nao permitiri nunca adoptar tal media.
Quanto A classificagao bibliogrAfica, ainda mais exigente na qua-
lificagAo do pessoal a utilizar, certo e que nada se faz nesse sector.
E nao se pense que a classificagdo se pode dispensar. Mesmo que
ponhamos de parte a ideia de um catilogo sistemitico, nao se duvi-
dara de que a ordenagdo dos livros nas estantes tern de obedecer a
uma metodiza9go-que 6, final, a chave da organizacao bibliotecon6-
mica, precisamente aquela opera9ao que distingue uma biblioteca de
um armazem de livros (i). E nao hi duvida de que a falta de impo-
sigo de uma mesma classificagao a todos os institutes di margem A
adopcao dos mais dispares criterios de arrumagio, corn todas as gra-
ves consequencias que dai resultam.
Outro problema ticnico ainda prAticamente intacto e o da coor-
denagao das aquisig6es. Neste moment nao existe, entire os institutes
e a Biblioteca da Faculdade, qualquer especie de coordenacao relative
As aquisig6es, tal como nao existe entire as vArias Faculdades e a Biblio-
teca Geral da Universidade. Quer dizer que tern sido e continue a ser
possivel a cada institute fazer as aquisig6es que Ihe parecem necessi-
rias, sem recorrer a um sistema de control. Nao sucederA todos os
dias comprar-se um livro que talvez exista noutro institute, na Biblio-
teca da Faculdade ou mesmo na Biblioteca Geral. Mas e provavel que
isso suceda muitas vezes, e o caso torna-se mais grave quando se trata
de livros de alto prego ou da assinatura de uma revista onerosa o
que, aliAs, nao invalida o facto de um livro ou uma revista baratos,
quando iniitilmente repetidos, prejudicarem o orgamento de uma Facul-
culdade, limitando a possibilidade de outras aquisig6es mais necessi-
rias. Finalmente (e este nao d o altimo dos problems existentes, mas
o ultimo dos que nos interessam agora) verifica-se, na organic biblio-
tecon6mica da Faculdade, plena liberdade de intercAmbio de livros e
revistas, corn autores e organismos de cultural. E, facto muito sabido
no dominio da biblioteconomia que os livros e revistas publicados por
uma instituigao universitiria constituem poderoso meio de enriqueci-
mento dos seus funds, em virtude das possibilidades de permuta corn
outras instituig6es. E isso explica-se: a Universidade ou Faculdade
destina certo niumero de exemplares das suas publicag6es ao servigo
de intercambio, cedendo, portanto, exemplares ao prego de custo, em
troca de outros que, de outro modo, s6 obteria ao prego de venda.



(i) ,No existe operaci6n mds decisive para el 6xito o fracaso de una Biblio-
teca que la clasificaci6n y ordenaci6n de sus fondose (Lasso de La Vega, ob. cit.,
p. 58).

'7









Ora a Faculdade de Letras de Coimbra public um avultado numero
de revistas e livros cujo elevado nivel intellectual e impecavel apresen-
taggo grifica Ihe permitem estabelecer permutas em condiq6es deveras
vantajosas e, corn elas, ampliar e actualizar constantemente os seus
funds. Mas, para que isso realmente suceda, 4 indispensavel que
exista urn servigo de intercambio, que esse servigo esteja organizado,
e, sobretudo que possua esta qualidade inestimavel: funcione.
Para alem de todos estes problems ticnicos que acabamos de
sumariar, existem naturalmente outros problems, talvez nao menos
importantes por se porem num estabelecimento de ensino (chamemos-
-lhes problems pedag6gicos), e que, no fundo, derivam dos pri-
meiros.
Comecemos por fazer notar que as sensiveis divergencias nos
processes de catalogagao exigem do aluno consulente uma readaptacao
constant sempre que tenha de trabalhar em diversos institutes da Facu-
dade, e o caso nao 4 tao raro que possamos deixar de Ihe prestar aten-
cao. Aldm da readaptacao que Ihe e exigida, o aluno perde tempo a
esgotar todas as possibilidades de encontrar o livro em lugares do
catilogo em que ele nao deveri normalmente estar. Por outro lado,
perderi tempo e energies sempre que tenha de percorrer virios insti-
tutos em busca dum livro que nao podera localizar por outro process.
E isto sucede porque ele sabe que nem todos os livros de Hist6ria
estao no Instituto de Estudos Hist6ricos, nem todos os livros de lite-
ratura italiana estao no Instituto de Estudos Italianos, e assim suces-
sivamente. No fim, sentir-se-a desencorajado e tera perdido a alegria
intellectual que animava as suas pesquisas e Ihe 4 indispensivel para
o exito dos seus trabalhos. Entretanto, ele nao encontra tambem na
Faculdade um bibliotecArio habilitado e especializado que possa auxi-
lia-lo na organizagao das suas bibliografias ou na orientaqdo das suas
consultas. Esta parte tern estado confiada A boa vontade, dedica'&o e
solicitude dos Mestres e na verdade nao 4 necessirio que isso se veri-
fique senao para alem de certos limits.
A tudo isto hi que acrescentar uma deficiencia ji hoje eliminada
em muitas universidades estrangeiras: a inaptidao do aluno para
consultar catilogos e manejar os elements bisicos da informaqao
bibliografica. Para este problema hi virias solug6es (i), mas, infe-
lizmente, a recent reform das Faculdades de Letras nao pensou em
nenhuma delas.





(i) Pode ver-se uma elucidativa exposigio dessas soluq6es em Lasso de La
Vega, ob. cit., pp. 496-497.









3. 0 catdlogo colectivo como solucdo


Nao sabemos se poderiamos dizer que, na generalidade, a solu-
go faz parte do problema, ou que e apenas do reverse do pro-
blema. Mas o certo e que ela deve segui-lo tao de perto quanto for
possivel. E, na verdade, uma solugio tern acompanhado, em muitos
paises, a posiqdo dos problems que enuncidmos e de muitos outros
que fomos obrigados a preterir: trata-se da centralizagco dos serviqos,
numa escala tao ampla quanto se torne necessario. 0 interesse na
perfeigdo e regularidade do funcionamento das bibliotecas universita-
rias e sobretudo do aluno, mas e tambem, em grande parte, do pro-
fessor e da cultural national, na media em que as fontes bibliogra-
ficas sdo indispensaveis A investigagio cientifica.
Nao 6 dificil a urn observador atento certificar-se de que todas as
irregularidades verificadas, quer na organica, quer no funcionamento
das bibliotecas de Universidades, de Faculdades ou de institutes e
laborat6rios, resultam da incoerancia e dispersdo dos esforgos, e da
diversidade dos metodos de trabalho. No entanto, a complexidade da
centralizacgo nao deve conduzir ao desanimo e A desistencia, antes
exige uma attitude de persistent coragem para a enfrentar e de escla-
recida inteligencia para a p6r em pritica. Numa Universidade como a
de Coimbra, em que a Biblioteca Geral se situa em plena area da
cidade universitaria, portanto corn todas as vantagens de rapidez e
facilidade de acesso, a centralizacao bibliotecon6mica encontra 6pti-
mas condig6es para se impor e generalizar. Digamos, pois, que con-
sideramos indispensivel e at6 urgente a sistematizag9o das relag6es
entire as bibliotecas de todas as Faculdades, corn atribuicao de fun-
96es coordenadoras a Biblioteca Geral. Mas nio julgamos necessirio
esperar por um hipotetico texto legal para se adoptar na Faculdade de
Letras uma organizagao cujos beneficios reverterdo imediatamente a
favor dos seus alunos, dos seus mestres e dos seus funcionirios. Por-
que a Faculdade de Letras 4, talvez mais do que qualquer outra, uma
vasta rede de bibliotecas que nao poderdo integrar-se numa centraliza-
cao universitiria sem se haverem integrado pr6viamente num sistema
de centralizacgo internal. Todos os possiveis inconvenientes da exis-
tencia de numerosos institutes dentro da Faculdade podem eliminar-se
quando se estabelecer entire eles uma coordenag9o eficiente dos servi-
gos ticnicos essenciais.
De entire todas as medidas a tomar, afigura-se-nos que a mais
susceptivel de produzir beneficios amplos, imediatos e palpiveis e a
organizacgo de um catilogo colectivo da Faculdade. Ele permitiria
nao s6 centralizar, mas tambem normalizar todos os servigos que para
ele terdo de concorrer.
Ora o que e um catilogo colectivo?









Hi duas definig6es muito simples que permitem fazer a priori
uma idea do que seja um catilogo dessa natureza. Para Louise-
Nodlle Malels, co catilogo colectivo e um catilogo comum a vwrias
bibliotecas, proveniente da fusdo, em um s6, de virios catAlogos
independentes (i). Knud Larsen exprime-se de outro modo: aCati-
logo colectivo e um catilogo que regista numa uinica ordem de
sucessdo, e na sua totalidade ou parcialmente, os funds de duas ou
mais bibliotecas (2). L. Brummel, no tratadinho que redigiu para
a UNESCO, adoptou, como plenamente satifat6ria, esta titima defi-
nicio (3).
Naturalmente, a organizacgo de um catilogo colectivo preve sem-
pre a incorpora5o de mais de duas bibliotecas, dai resultando uma uti.
lidade muito maior. Mas, de facto, as restriq6es de Larsen justificam-se
precisamente porque hi diversos tipos de catilogos, classificados de
acordo corn as suas limitac6es (4).
Uma dessas limitac6es e de caricter geogrifico (catilogos gerais).
Consoante a area abrangida, o catilogo pode ser:
-local, se inclui bibliotecas de uma mesma localidade ou de
uma mesma institui9do;
-regional, se inclui bibliotecas de diversas localidades situadas
na mesma regido de determinado pais;
-nacional, se inclui todas as bibliotecas de um pais, embora
seleccionadas em obediencia a um plano de organizacgo;
international, se inclui bibliotecas de diversos paises.
Outra limitacgo relaciona-se corn o material bibliogrAfico a catalo-
gar (catilogos especiais). Pode-se, corn efeito, seleccionar, entire a tota-
lidade dos funds de cada biblioteca, apenas uma ou varias especies de
livros. Digamos, por exemplo: s6 livros ticnicos, s6 livros de car6cter
literirio, s6 incunibulos, s6 manuscritos.
Uma terceira limitagio, que nAo imprime caracteristicas espe-
ciais a um catalogo colectivo, mas a que se recorre corn frequen-
cia, e a limitag o cronol6gica. Assim, podem-se incluir no ficheiro
apenas os livros publicados depois ou antes de certa data, conforme
a indole das bibliotecas abrangidas ou os objectives que norteiam o
catilogo.
Compreende-se que nio nos interessem, de moment, quaisquer
tipos que nio sejam o catilogo geral de tipo local, do qual uma forma


(1) Cours de Bibliographie A l'intention des dtudiants de l'Universitd et
des candidates aux examens de bibliothicaire, Geneve-Lille, 1954.
(2) Los servicios bibliogrdficos nacionales: creaci6n y funcionamiento,
Paris, 1955, p. 67.
(3) Los catdlogos colectivos Problemas y organifacidn, Paris, 1956, p. 3o.
(4) Cf. L. Brummel, ob. cit., pp. 3o-33.










tipica e precisamente o catilogo colectivo de uma Universidade (1).
Este incluiri os funds da biblioteca central e de todas as Faculdades.
Perante o catilogo colectivo, as Faculdades apresentam-se como unida-
des, nao importando, para a organizacgo, que cada Faculdade possua
maior ou menor nimero de bibliotecas de in3titutos, laborat6rios ou
seminirios. 0 que importa e que a Faculdade possa dominar todas
as suas dependencias de modo a inclui-las no catilogo colectivo da
Universidade. S6 um caminho se abre para a consecucio de tal objec-
tivo: a realizacao de catilogos colectivos dentro das Faculdades.
Decerto a investigagio cientifica exige que os livros estejam dispersos
por numerosas dependencias, quer de acordo corn determinadas espe-
cialidades, quer de acordo corn necessidades ocasionais de consult e
utilizag9o. Mas esse facto nao deve confundir-se corn a impossibili-
dade material e efectiva de, em qualquer moment, se poder localizar
um livro na babel de um edificio vastissimo.
Nao trataremos agora de todas as vantagens ticnicas e pedag6-
gicas que se podem esperar da realizacgo de um catalogo colectivo na
Faculdade de Letras de Coimbra, mas, para ji, convem assinalar uma
enorme vantagem ticnica: conduzir, como condicao sine qua non, a
uma centralizacgo rigorosa de determinados servigos e eliminar mui-
tas das anomalias atris indicadas.
De resto, alIm de que uma Universidade 6, por certo, a institui-
9ao mais adequada para concretizar em Portugal a idea ji corn tanto
8xito posta em pritica no estrangeiro (2), um catilogo colectivo da
nossa Faculdade de Letras movimentari ntimeros bern modestos em
relaggo a quantos catilogos do gdnero se realizaram ate hoje.
Todavia, nao tomemos o catilogo colectivo como panaceia uni-
versal: para alem dele ainda ficaro existindo problems.





(1) Cf. Brummel, ob. cit., p. 3o.
(2) A organizacao de um catalogo colectivo national em Portugal foi deter-
minada pelo decreto-lei n.0 19.952, de 27 de Junho de i9g3, art.* 55, n.0 4.
A sede do catalogo seria a Biblioteca Nacional de Lisboa. Em artigo publicado
pouco depois (Catdlogo colectivo das bibliotecas portuguesas, em Anais das Biblio-
tecas e Arquivos, vol. x, 1932, n.0' 37-38, pp. 13-21), dizia Ant6nio Ferrio: aParece-
-nos [...] sumamente urgente elaborar o Catdlogo colectivo das bibliotecas portu-
guesas. Para isso, poderia recorrer-se aos m6todos e processes jA 1 fora muito
experimentados e aperfeigoados, aplicando, e, sobretudo, adaptando ao nosso Pais,
mais ou menos as normas que acima vimos ser seguidas na organizacgo do cata-
logo retrospective das bibliotecas alemais, (ib., p. g9). Que saibamos, a iniciativa
nao teve aplicagio pratica. Ver ainda, sobre o assunto, Alvaro Neves, Bibliologia-
-Catdlogo colectivo das bibliotecas portuguesas, em Arquivo Coimbrdo, vol. v, 195o,
pp. 2ao-213, especialmente, p. 210.









CAPITULO II


EXECUCAO TECNICA DO CATALOG COLECTIVO


i. Condic6es prgvias

Conquanto nos convencamos de que um catalogo colectivo da
Faculdade de Letras de Coimbra e tarefa perfeitamente acessivel sob
todos os pontos de vista, desde que se Ihe adapte uma organica diverse
da que actualmente existe, conviri sopesar as possibilidades da sua
realizaqlo e estabelecer as condiq6es preliminares que hdo-de obstar
ao seu fracasso dentro de um period de tempo mais ou menos curto.
E o fracasso nao e uma vaga ameaga: perigos bern reais espreitam
os catilogos colectivos, perigos crescentes na razdo direct da ampli-
tude da empresa e dos seus objectives (i). InevitAvelmente se teri, em
qualquer caso, de fazer o balango dos recursos corn que se conta. No
nosso caso, cremos que o problema & um pouco divers: trata-se de
criar condic6es novas, visto as preexistentes nao poderem responder,
de forma alguma, ao que a tarefa exige. Examinemos ate que ponto
serA necessirio encarar a adopqdo de medidas pr6prias.

a) Dotacao. -A imperiosa necessidade de uma dotaglo conve-
viente nao 6 exigencia peculiar a um catilogo colectivo. 0 dia-a-dia
ensina-nos que a pr6pria vida do espirito nao existe sern adequadas
condig6es materials. E indispenrisvel, portanto, que a Faculdade dis-
ponha de meios financeiros para ocorrer As necessidades de uma reali-
zagio catalografica corn caricter permanent. Mas 6 necessario mais
alguma coisa: e que, dentro do orgamento da Faculdade, a verba con-
sagrada ao catilogo colectivo disponha de uma independencia que obste
ao s eu desvio subsequent para outras realizaq6es, corn prejuizo total
da catalogacao. Depois (quase seria in6til dize-lo) quando essa verba
puder ser impreterivelmente destinada ao catilogo colectivo, tera de
prover nao s6 As necessidades presents mas ainda dispor de certa
flexibilidade para que, em qualquer oportunidade, possa ser adaptada a
um acr6scimo das despesas acrescimo tanto. mais tardio quanto
mais ampla for a margem inicial prevista. Pensamos, evidentemente,
na dotaqgo de um catalogo colectivo em pleno funcionamento nor-
mal, o que equivale a excluir, para ji, a hip6tese de um trabalho
retrospective que exigiria uma verba suplementar concedida a titulo
temporirio.


(i) Cf. L. Brummel, ob., cit., pp. 12-03 e 32.









b) Adaptac9o do quadro de pessoal. A formacgo de um qua-
dro complete de pessoal nao e factor de menor relevancia do que a
dotagio. Nao se pode planear e normalizar um trabalho complex
como um catilogo colectivo, corn a centralizagao bibliotecon6mica que
ele implica, sem Ihe adaptar corn realismo o quadro do pessoal que
hi-de encarregar-se dele. Nem se trata apenas da satisfaqgo de neces-
sidades actuais, mas de assegurar no future a sua manutenqgo corn
vista A actualizagdo permanent de todos os servigos previstos numa
organica nova.
Evidentemente que a primeira coisa a fazer seri ponderar um
certo nimero de factors relacionados corn a colaboraqco do catilogo
colectivo. E precise ter em conta a extensao aproximada deste, corn
base nas estatisticas da recepgao de livros e revistas pela Faculdade,
pelo menos nos ultimos tres anos. Seri possivel, assim, fazer uma
ideia aproximada da amplitude do catilogo no primeiro ano de orga-
nizaqao e da proporcgo do seu crescimento dentro do period que se
convencionar. Este period nao deveri, entretanto, ser inferior a cin-
quenta anos e tera de englobar uma previsao tanto quanto possivel
aproximada do provivel aumento do ingresso de material bibliograi-
fico (1).
A definig9o de um quadro de pessoal bibliotecario para a Facul-
dade de Letras de Coimbra terd toda a conveniencia em abstrair de
comparaq6es corn os quadros de qualquer outra biblioteca national ou
estrangeira, dada a contingencia de tais aproxima96es, que serial ape-
nas prejudiciais. Esti provado que, de biblioteca para biblioteca e de
pais para pais, as condiq6es do trabalho intellectual variam e, corn elas,
a utilizapgo de elements de investigaggo como aquele de que nos ocupa-
mos (2). Teremos, portanto, de nos cingir A instituigdo que objectiva-
mente interessa, e elaborar para ela um quadro que satisfaga as suas
necessidades orgdnicas e pedag6gicas.
Nao sera demais insistir, a prop6sito, na conveniencia de prepa-
rar um quadro que de margem razoavel A intensificacgo do trabalho
inevitAvelmente exigida pelo catilogo colectivo quando em pleno fun-
cionamento. As dificuldades passadas e presents na ampliagao do
antigo quadro constituem preciosa advertancia para o future, e nao


(1) Julgamos convenient fazer urna observacgo que tanto vale para a dota-
q9o como para o quadro de pessoal. A restauraggo da Faculdade de Letras do
Porto, ainda que esta alcance dentro de poucos anos pleno rendimento, vird ineg.-
velmente descongestionar a Faculdade conimbricense de grande n(imero de alunos.
Mas os servigos bibliotecdrios em nada saio alterados por esse motivo, visto que o
niimero de livros e revistas recebidos, assim como a necessidade de os catalogar e
distribuir, n.o diminuem corn a trequencia dos alunos.
(2) Cf. Brummel, ob. cit., pp. 75-76.









temos motivos para crer que, daqui por tres ou quatro decadas, os
problems bibliotecol6gicos sejam superiormente resolvidos de maneira
mais satisfat6ria do que hoje o sao.
De resto, o problema do pessoal bibliotecario da Faculdade nao
e apenas uma questao de nimero: e tamhim uma questao de quali-
dade. HA aqui, como em todas as bibliotecas, uma necessidade pre-
mente de pessoal qualificado e tecnicamente preparado para as mtilti-
plas actividades que a sua profiss.o imp6e. Nao queremos teorizar
sobre o assunto, nern mesmo repetir os lugares comuns que se tern
dito em manuais ou tratados de biblioteconomia (i). Mas parece-nos
uitil insistir em que o pessoal destinado ao contact corn os alunos seja
modelar no tocante A educac.o e delicadeza do trato. Ainda que admi-
tissemos a possibilidade de um funcionario de biblioteca national ou
municipal ser um individuo destituido de educacao e cultural, urnm fun-
cionario de biblioteca universitAria nao podera, de modo algum, apre-
sentar sequer vestigios dessas deficiencias. Em qualquer biblioteca
deve existir um element que reputamos essencial: ambiente acolhe-
dor e convidativo. Ora esse ambiente e criado, mais que por condi-
96es de comodidade material, pela cortesia pessoal e professional do
bibliotecario, e pelas facilidades de consult de catialogos e livros.
E muito important que os institutes da Faculdade estejam bern ser-
vidos sob este ponto de vista, muito embora as habilitaq6es exigidas
aos funcionArios nao sejam pr6priamente as de um tdcnico.
Os ticnicos-isto 6, individuos habilitados corn uma licenciatura
e o curso de bibliotecario-arquivista s.o, no entanto, imprescindiveis
na mais rigorosa acepcao deste termo. E nao faltam raz6es para esta
afirma9ao. Os servigos de uma biblioteca ou como no caso da Facul-
dade de uma rede de bibliotecas de caricter erudito nao se compa-
decem corn o amadorismo. E precise reconhecer a biblioteconomia
como uma ciencia posta ao servigo de todas as outras ciencias e por
isso mesmo necessdria a todas elas. Alias, e precisamente para essa
concepq9o que hoje somos conduzidos pelas crescentes necessidades
vitais da investigagdo cientifica e pela complexidade organica que as
bibliotecas vdo adquirindo. Nomeadamente a cataloga9go de livros e
revistas exige um conhecimento de causa, uma especializagao e uma
pritica que nao estio ao alcance do actual catalogador. Temos a jus-
tificada convicq9o de que catalogar correctamente, adoptando uma solu-
9go certa para cada problema que surge, nao e tarefa onde a falta de
saber possa ser substituida pela simples boa-vontade. Ora a verdade
e que a catalogacao de rotina tern de ser necessAriamente feita corn


(i) Veja-se sobre o assunto Lasso de La Vega, Tratado de Biblioteconomia,
pp. 470-472.









correcqlo, dentro de normas internacionais pr6-estabelecidas. A negli-
gencia ou a suposicao de que uma soluqgo pessoal de emergencia pode
substituir corn vantage tais normas (alias desconhecidas...) e um
erro inicial que, a ser teimosamente mantido, tornari a certa altura
impossivel o regresso ao born caminho. Digamos por outras palavras:
depois de redigidos milhares de fichas segundo uma directriz errada, ji
nao e possivel fazer qualquer correccao, e a biblioteca ficard para sem-
pre mal catalogada, constituindo um instrument de trabalho defeituoso
e talvez mesmo, em certos casos, inUtil.
Na melhor das hip6teses tudo isto aconteceri corn o catilogo ono-
mistico, apesar de tudo o mais acessivel. Que dizer, pois, dos cati-
logos ideogrdfico e sistemrtico ? E evidence que nenhum deles pode
ser realizado sem capacidade tecnica e sem uma base de conhecimentos
ao nivel da especializagio. Ambos term exigencias de precisdo que nao
podem ser iludidas. Talvez ainda mais do que o sistematico, o cati-
logo ideogrifico tern de ser feito por um individuo que alie A sua com-
petencia tecnica os conhecimentos que Ihe foram facultados por uma
licenciatura adequada ao trabalho a realizar (i). Analisar correcta-
mente um texto de modo a formular os encabeqamentos que satisfaqam
o especialista sem deixar de o tornar acessivel ao investigator nao espe-
cializado, nao 6 ja tarefa ficil quando se trate de documents nacionais,
e a dificuldade aumenta no caso de livros publicados em linguas estran-
geiras (2). Ora nada disto esti, segundo todas as aparencias, ao alcance
do catalogador tal como o actual estado de coisas o apresenta, e o resul-
tado e faltarem, em quase todos os institutes da Faculdade, ambos os
tipos de catalogos, nao obstante reconhecer-se a imperiosa necessidade
de em todos eles existir pelo menos um ou outro.
Mas, ainda que se tivessem elaborado, corn mais ou menos acerto,
catilogos onomisticos, ideograficos e sistemiticos, muita coisa ficaria
ainda por catalogar por falta de capacidade tecnica. Na Faculdade
existem manuscritos, edig6es raras quinhentistas, estampas, ex-libris.
A alternative e clara nos seus terms: ou essas unidades nao se
catalogam, e ficam inutiliziveis por tempo indefinido; ou se catalo-
gam e a sua catalogaato s6 pode ser feita por bibliotecArio devida-
mente apetrechado. Nao nos parece que, ponderados todos estes
casos, a Faculdade possa prescindir de um quadro mais numeroso
de ticnicos.


(t) <...el bibliotecario debe conocer cientfficamente, ante todo, los fondos
que ha de organizer, y conocerlos con grado o nivel de maestro, licenciado o doc-
tor en la materia... (Lasso de La Vega, ob. cit., pp. 406-407).
(2) Cf. Paule Salvan, Le personnel des bibliotheques universitaires, em Biblio-
thbques Universitaires (Cahiers des Bibliotheques de France), 1953, pp. 3 1-32. V. tam-
bem, Cahiers, i, p. io3.









Todavia os problems sucedem-se... um estabelecimento de
ensino superior tern exigencias intelectuais e pedag6gicas que transcen-
dem os objectives puramente t6cnicos. 0 aluno, na sua fase de forma-
qdo mental, no seu primeiro contact com as realidades do esforgo
pessoal, perante a necessidade de construir por suas pr6prias maos
grande parte da sua future preparacgo professional, encontra-se por
vezes carecido de orienta9do pratica nos m6todos de consult, de infor-
maco no recurso As fontes do seu trabalho. E mesmo vulgar o seu
embarago no contact corn uma biblioteca, a sua perplexidade ante um
tema proposto para desenvolvimento ou ate mesmo para tese de licen-
ciatura. Quantas vezes essa tese 6 o primeiro trabalho pessoal a que
ele 6 obrigado! Pois procuremos nio desconhecer a solugdo de tal
problema: trata-se de prover a Faculdade corn um numero conve-
niente de bibliotecarios que sejam, segundo a nomenclatura ji consa-
grada no dominio da biblioteconomia, bibliotecdrios de referencia. De
resto, como adiante veremos, esse tipo de bibliotecario 6 absolutamente
necessario A engrenagem do catalogo colectivo e s6 poderi obter-se corn
um quadro compieto de licenciados nas diversas secq6es actualmente
professadas na Faculdade.
A utilidade destes vira a revelar-se ainda noutro aspect de incon-
testivel relevAncia: a organizagao dos servigos de extensao bibliotecd-
ria. Pense-se na intensificagdo da vida intellectual que resultaria da
realizagdo peri6dica de iniciativas muito interessantes como exposig6es
bibliogrAficas, conferencias de mestres nacionais e estrangeiros, confe-
rencias e col6quios de alunos da Faculdade (sempre orientados, natu-
ralmente, por um professor), e sess6es culturais de diverse natureza.
Tudo converge, pois, para a formacao de um quadro de pessoal
muito divers, nas suas bases, daquele que existe.
Pondo inteiramente de parte quest6es de dota9do financeira, em
que nao nos cumpre agora tocar, optariamos pelo seguinte esquema:
Um i.0 bibliotecario, licenciado em qualquer secqAo da Facul-
dade ;
-Dcis 2.0' bibliotecirios, tamb6m licenciados indiferentemente
em qualquer secgo (o acesso a estes lugares deve ser possivel aos
3."0 bibliotecarios que venham a reunir condiq6es de promogdo);
Quatro 3.*8 bibliotecirios, licenciados nas sec96es que nao pos-
suam 2.0S bibliotecarios ;
-Dezassete sub-bibliotecarios, habilitados corn o 2.0 ciclo liceal,
destinados a cada um dos institutes e A Biblioteca da Faculdade ;
-- Quatro dactil6grafos, habilitados corn o curso commercial.
Serao, de preferencia, escalonados em duas categories, diferenciadas
na remuneraqao.
Fagamos notar, primeiro que tudo, a substituigdo da nomencla-
tura antiga por uma nova e actualizada. Nao haveri conservadores,









mais pr6prios do conceito de biblioteca-museu, mas sim bibliotecarios
adequados ao sentido de biblioteca viva e actuante. Tambem deixarao
de existir catalogadores, precisamente porque passarao a nao catalogar.
Em seu lugar surgirio os sub-bibliotecdrios, de acordo corn uma hie-
rarquia jA adoptada largamente no estrangeiro (i). Finalmente, reco-
nhece-se a necessidade de dar urn lugar definido aos dactil6grafos, cuja
utilizaqao e imprescindivel numa biblioteca modern.
Objectivemos as atribuiq6es de cada uma destas classes de fun-
cionirios.
Todos os bibliotecirios e os dactil6grafos constituiriam a equipa
permanent para a realizagao do catilogo colectivo. E necessirio que
a organizagao se integre nestes terms: equipa permanent. S6 assim
se pode esperar que surja, de entire os funcionarios nela integrados,
urna unidade de acalo e uma especializa go cada vez mais apuradas.
0 especialista holandes em catilogos colectivos, L. Brummel, e cate-
g6rico a este respeito: aTorna-se claro, por conseguinte, que urn
catilogo requere de qualquer modo um certo rnumero de pessoas que
trabalhem nele, as quais deverdo estar perfeitamente ao corrente da
ticnica de catalogagao. Mas nao e menos important que disponha de
bibliotecarios inteligentes, treinados na investigaqao, que dominem
virias linguas e saibam prestar ao ptiblico as informa96es pertinentes,
corn as devidas ateng6es de correccao e delicadezaD (2).
A equipa consagrada ao catilogo sera, naturalmente, dirigida
pelo i.0 bibliotecario, cuja situacao hierirquica e retribuigao nao serdo
exageradas para as func6es que teri de desempenhar. Conviri que
ele seja estruturalmente devotado A sua profissao e A sua tarefa, e que
a sua competencia Ihe permit abordar problems relatives a todas as
secq6es da Faculdade. Quanto as aptid6es especiais que Ihe deverao
ser exigida's, cedamos a palavra a Brummel, que admirAvelmente as
sintetiza:
aO Director encarregado de umrn catilogo colectivo tern uma mis-
sdo extremamente variada, que nao s6 exige conhecimentos especiali-
zados mas tambem faculdades de organizador e certas qualidades de
caricter. Devera ser um erudito habilitado a apreciar em seu just
valor os pedidos que receba das diferentes bibliotecas e dos investiga-
dores. TerA de possuir, alum disso, urna boa preparacto de bibliote-
conomia, estar familiarizado corn a te.cnica de catalogagio, conhecer a
fundo as bibliografias-de que disp6e, estar informado de como funcio-



(i) 0 sub-bibliotecArio 6 uma realidade nas bibliotecas francesas e espa-
nholas e poderd revelar-se de grande utilidade numa nova organizagio das biblio-
tecas portuguesas.
(2) Ob. cit., p. 78.









nam as bibliotecas participants e das colecq6es especiais que possuam,
e conhecer pessoalmente os seus principals bibliotecarios. Igualmente
deverA possuir as qualidades necessarias para resolver os muitos e
variados problems de organizaqao que lhe ir.o aparecendo; por
ultimo, deve ser um administrator hibil e pritico, capaz de inspirar
confianqa aos seus diversos colaboradores (i).
Quanto aos 2.s e 30s bibliotecArios, parece-nos convenient que
possuam licenciaturas diferentes, a fim de se dedicarem, como especia-
listas, aos trabalhos ticnicos relatives a cada seccgo, e desempenharem
as funq6es de informadores junto dos alunos que necessitem de qual-
quer esclarecimento ou orientacio. Quando dizemos etrabalhos ticni-
cos empregamos naturalmente os terms em toda a amplitude do seu
sentido: registo, catalogagdo, classifica9lo, verificaqgto das fichas e da
sua intercala~go, coordenacao das aquisig6es, services de extensao
bibliotecAria, etc. Consideramos ttil que, para um perfeito rendi-
mento do catalogo colectivo, todos eles constituam, em p6 de igual-
dade, uma equipa homoginea, de func6es pessoais identicas e orga-
nizadas cornm o mesmo e tinico objective.
Os quatro dactil6grafos a que nos referimos sao indispensiveis
A equipa, para os servigos de rotina. Numa biblioteca modern e ao
dactil6grafo que compete a c6pia dactilogrifica das fichas, qualquer
que seja o catilogo a que se destinem. Desde que se integrem nas
normas de disposi9qo grAfica da ficha, os dactil6grafos podem exe-
cutar, no seu dominion, um trabalho muito mais perfeito e mais ripido
do que um bibliotecArio. Este tern, evidentemente, outras func6es a
desempenhar e nao Ihe pode ser exigida competencia em matiria de
dactilografia.
Por seu turno, os sub-bibliotecirios, disseminados pelos institutes
da Faculdade, completam a organizaaio do catilogo colectivo sem faze-
rem pr6priamente parte da equipa central. Cabem-lhes as tarefas de
intercalacgo de fichas no catilogo privativo de cada institute, os ser-
vicos de leitura nas salas e o servigo de empristimo de livros para lei-
tura domiciligria. Decerto, todos esses servigos terdo de obedecer a
normas rigorosamente unificadas em toda a Faculdade, e seguir, em
casos especiais, as indicaq6es do bibliotecArio adstrito A seccio de que
o institute faz parte.

c) Normaligacao da catalogacdo. 0 problema da normaliza9go
da catalogacgo esta ji por demais debatido no ambito da bibliotecono-
mia para que possa suscitar, neste moment, qualquer observag~o de
caricter geral. Queremos apenas vincar a urgencia da sua aplicacao As


(i) Ibidem, p. 75.









bibliotecas da Universidade de Coimbra e especialmente aos institutes
da Faculdade de Letras, onde verificimos existir a maior diversidade
de materials e de processes de catalogagAo. Cremos que, se numerosos
e persistentes esforgos se fazem para que a normalizag.o da cataloga-
cao adquira caricter international, nao sofre a menor diuvida que, den-
tro do ambito circunscrito de uma Universidade, a catalogagao das suas
diversas bibliotecas deve obedecer a normas comuns, e tanto mais cuida-
dosamente unificadas quanto e certo serem miltiplas e complexes. Nao
vem, pois, para o caso, o facto deveras lamentdvel de nao se terem
redigido, atW hoje, umas normas portuguesas nem se terem tornado
disposiq6es legais para adopgao, em bloco, de quaisquer regras estran-
geiras. A normalizacgo imposta pela Inspecgao-Geral dos Produtos
Agricolas e Industriais nada adianta neste aspect, deixando portanto
intacto o problema das bibliotecas, ate mesmo porque se limita a
manter, para os trabalhos de catalogag9o, a ficha international
de 125 X75 mm (1).
As vantagens da normalizacgo nao sto, todavia, despiciendas,
ainda que nos circunscrevamos apenas ao caso particular de que nos
ocupamos. A identidade de materias e de processes t6cnicos imprime
aos servigos uma regularidade que, de outro modo, nio passaria de
limitada coincidencia, e permit operaq6es de relevant utilidade, como
a permuta de livros, de revistas e sobretudo de fichas, quer impressas,
quer multiplicadas por outro qualquer process. Aldm de tudo isso, a
normalizagao revela-se extremamente preciosa quando se trata de um
catilogo ideogrAfico. E indispensivel que, para facilidade e eficiencia
das pesquisas efectuadas dentro de um mesmo tema por alunos duma
mesma Faculdade, todos os catilogos encerrem determinada obra sob
um encabecamento precisamente igual. Evidentemente, nao s6 o enca-
becamento das fichas deveri ser igual em todas as bibliotecas: os outros
elements, corn excepcao da notacgo internal, deverio ser tambem iguais
para cada volume catalogado.
Para os funcionarios de cada biblioteca, as vantagens resultam
igualmente apreciAveis: uma transferencia, a substituigqo de um
empregado doente ou qualquer outra exigencia andloga do servico
nio constituirdo obstaculo para o seu pleno rendimento professional
nem Ihe impordo o minimo esforgo de adaptago, sempre penoso
e muitas vezes prejudicial para o servigo (2).
Finalmente e isto e final o que sobretudo importa os alunos



(1) Cf. NormalifafJo dos papdis (Divulgafdo dos formatos normaligados),
Lisboa, g196o, p. t1.
(2) Cf. Ant6nio Cruz, As bibliotecas americanas. OrganiTaqio, funciona-
,nento, ensinamentos, Porto, 1949, PP. 118-119.









tambem terao toda a conveniencia em enfrentar, nas suas consultas
e pesquisas, um s6 mrtodo de catalogacao, classificag9o e obtencgo de
livros, e nao uma infinita variedade de mitodos que os faca perder
tempo e os desoriente em pleno trabalho.
Todos os motives que se possam invocar para defesa duma cata-
logaq9o normalizada sdo ainda mais s6lidos e mais imperiosos no caso
de um catilogo colectivo (i). Ora, no que respeita A Faculdade de
Letras, o problema inverte-se prAticamente: sem normalizacgo o cati-
logo colectivo nao poderia realizar-se, mas a sua realizago e, por si
mesma, a solucqo do problema. Por outras palavras: o catilogo
colectivo, posto em pr6tica como pensamos que deve p6r-se, modifica
as condi96es organicas do sistema bibliotecario da Faculdade no sen-
tido da centraliza9go dos servigos ticnicos, de modo a ser unifor-
mizada a catalogaiao, pela simples razdo de ser toda realizada no
mesmo ponto, por uma mesma equipa e subordinada As mesmas
regras.
No entanto, ainda nao estamos dentro da solucgo total. 0 pro-
blema deixa de existir entire os institutes e os servigos centrais de cata-
logacao da Faculdade, mas persiste entire a Faculdade e a Biblioteca
Geral, que e born nao o esquecer deve vir a possuir, mais tarde ou
mais cedo, um catilogo colectivo de toda a Universidade. Dai result
a necessidade de subordinar o catilogo colectivo da Faculdade a nor-
mas ji adoptadas e aplicadas na Biblioteca Geral, corn a condigio de
que estas venham a aplicar-se no future catilogo colectivo da Universi-
dade. Para se chegar a um canone rigoroso e objective neste aspect,
afigura-se-nos indispensivel a realizacgo privia de um col6quio em que
participem todos os bibliotecarios-arquivistas da Biblioteca Geral e do
quadro da Faculdade, e onde sejam estabelecidas as bases da cataloga-
cgo a adoptar. Naturalmente nesse col6quio participariam bibliotecarios
de todas as Faculdades interessadas na realizacgo dos respectivos catt-
logos colectivos. E se pensamos em todos os bibliotecarios e porque
cremos que as solug6es aprovadas por todos terato decerto mais proba-
bilidades de satisfazer do que as aprovadas apenas por alguns. 0 impor-
tante seria atingir, corn toda a brevidade possivel, objectives praticos e
definidos, e tdo vdlidos no present como num future mais ou menos
remote. Os principals pontos a debater seriam:
Unifica9go do format das fichas, com aboligio do format
quadrado, ainda tao radicado em virios institutes da Faculdade, e
generalizagao definitive do international 125 x 75 mm.
AdopqAo da ficha de cartolina branca perfurada, eliminando
portanto a diversidade de pautagem que ainda se verifica. A ficha


(i) Cf. Cahiers des Biblioteques de France, I, p. 117.









branca 6 a inica aceitivel para a utilizaqgo dos processes de reprodu-
cao mecdnica a que adiante nos referiremos. No respeitante A quali-
dade e peso da cartolina, nada mais haveria a fazer do que seguir as
normas jA adoptadas.
Normas de catalogag9o, pelo menos relatives aos pontos em
que a Biblioteca Geral se afaste das normas espanholas ou da Vati-
cana, ai seguidas nas suas linhas gerais. Evidentemente, as normas
abrangeriam cataloga96es especiais, como as de incunibulos, manus-
critos, estampas, ex-libris, obras musicais, etc.

d) Centraliaf9do da distribuicao de livros. Uma das condi-
c6es pr6vias mais importantes para a consecuqgo dum catilogo colec-
tivo da Faculdade de Letras de Coimbra e a centralizag9o da distribuigdo
de livros. FAcilmente se compreende que um trabalho como o do cati-
logo colectivo nao pode prescindir de uma acgdo direct sobre os livros
que entram na Faculdade. E preciso que os livros adquiridos ou obti-
dos por intercambio corn outras institui96es entrem directamente na
sala de registo e catalogacao, e, ap6s estas opera96es, sejam dai irra-
diados para o institute a cuja indole melhor convenham. S6 assim se
pode controlar o aumento dos funds da Faculdade e obstar a que a
distribui9ao pelos institutes se faga de maneira ca6tica e em tudo con-
trAria A especializag9o respective (i).
Admitimos que, neste tiltimo pormenor, haja casos especiais a
ponderar, mas nao 6 possivel fazer o catilogo colectivo sem uma
entrada de livros centralizada nas maos da equipa que hA-de rea-
lizi-lo.

2. Preparacdo do catdlogo

a) Seleccdo do tipo de catdlogo. De entire os tipos de catalogo
colectivo a que atras nos referimos, nao teinos a menor dtvida em indi-
car para a Faculdade de Letras de Coimbra o tipo local. Nem ha que
justificar a escolha, de tal modo ela e intuitiva. Poder-se-A perguntar
qual sera, nesse caso, o tipo indicado para um future catilogo colectivo
da Universidade, e n6s responderemos que continue a ser o local,
apenas corn caracteristicas de funcionamento ligeiramente diferencia-
das, que adiante pormenorizaremos. Locais, sao, de facto, todos os de


(i) Nao 6 propriamente muito facil a tarefa de evitar que uma obra sobre
determinada especialidade se encontre em institute de r6tulo muito diverso. Sobre-
tudo as doaq6es de funds particulares, mais ou menos heterog6neos, obstam a que
os livros sejam distribuidos pelos varios institutes de acordo corn a especializaq o
de cada um. Neste aspect 6 que um catalogo colectivo pode intervir, corn acen-
tuado beneficio do aluno e do trabalho que este se prop6e realizar.









Universidades e cada vez existem em maior numero, nao s6 nos
Estados Unidos como em muitos paises da Europa.
0 catilogo da Faculdade, embora acompanhado de uma centrali-
zag o dos servigos essenciais (e decerto por isso) apresentari todas as
vantagens dos catilogos colectivos locais: os elements da sua equipa
podergo trocar impresses pessoalmente sempre que se levante qual-
quer divida ou problema; constituird uma base s61lida para o estabele-
cimento de uma coordenacgo de aquisic6es, quer no piano da Faculdade
quer no piano da Universidade; forneceri aos consulentes uma infor-
macao bibliogrifica relative a livros que se podem encontrar na pr6pria
altura dentro do mesmo edificio em que o catilogo esti instalado; podera
ser mantido em permanent actualizacgo, sobretudo devido ao sistema
organico que lhe e inerente; permitiri frequentes e fAceis verificaq6es
do material catalografico existente em cada uma das bibliotecas subsi-
diirias (1).
Parece-nos que a pondera9go de todas estas vantagens justifica
a confianpa que havemos de depositar na viabilidade da sua realizagdo,
contanto que esse optimism nao nos iluda a respeito da complexidade
da sua montagem. L. Brummel, ao tratar deste ponto, adverte corn
sobeja razAo: Sdo muitos os catilogos colectivos locals que se inter-
rompem ao cabo de alguns anos, corn o que perdem todo o seu valor.
A causa disso reside muitas vezes em que, precisamente por se consi-
derarem de muito simples realizagqo, se examinam um pouco ligeira-
mente as dificuldades que a sua organizagAo levanta)) (2).

b) Bibliotecas incluidas. -Tambem nao nos parece que a deci-
slo relative As bibliotecas que devam ser incluidas no catilogo colec-
tivo da Faculdade levante qualquer problema: sergo incluidos a Biblio-
teca da Faculdade, todos os institutes e os laborat6rios experimentais,
desde que possuam n6cleos bibliograficos. Naturalmente sera super-
fluo diz8-lo nao haveri exclusdo de especie bibliaca alguma, nern
tampouco de espkcies de caricter particular, como sejam as gravuras,
estampas, ex-libris.

c) Material bibliogrdfico a catalogar. 0 catilogo colectivo s6
seri inteiramente Citil se encerrar todo o material bibliogrifico adqui-
rido ou recebido pela Faculdade, isto 4, tudo quanto se integre na con-
cepgdo de unidade bibliaca formulada pelas normas de catalogacgo a
adoptar. Todos os arguments que possamos mobilizar militam a
favor desta solu9do.


(i) Cf. Brummel, Los catdlogos colectivos, pp. 38-39.
(2) Ibidem, p. 39.









Hi-de pensar-se, em primeiro lugar, que uma catalogacgo total
Sa forma mais simples de resolver todos os problems. Mais comple-
xas e mais morosas seriam sem duvida as discusses relatives as exclu-
s6es a fazer, final nao isentas do risco de serem faliveis em muitos
aspects e de acarretarem lament.veis consequencias para o trabalho
dos alunos. Por outro lado, sdo conhecidos os inconvenientes de uma
catalogagao parcial: o serviqo torna-se hesitante e confuso, deparando
corn frequentes dtvidas; cai-se a todo o moment na imprecisao de
limited; o leitor nao chega a tomar consciencia nitida da linha de sepa-
racgo entire o que se encontrara ou nao encontrara no catilogo, e acaba
por perder toda a contianga neste; e o pr6prio catilogo sofre, tor-
nando-se int]til em boa soma de casos, quando a sua missao e respon-
der a todas as interrogaq6es tdo completamente quanto possivel (t).
Em nosso entender, e sobretudo no caso present, nao ha que
distinguir, como ji se tern feito, entire cobras de alta culturaD e ,obras
de .z.a ordemD (2). Nao podemos garantir que os alunos da Faculdade
de Letras prescindam totalmente das obras consideradas inferiores.
Pelo contrario, devemos admitir que tudo pode vir a ser-lhes neces-
sario: compendios elementares, tratados de f6lego, folhetos e separa-
tas, livros antigos e modernos, literature infantil e ficqdo, e atd catAlogos
de leil6es ou de livrarias, e bibliografias de toda a especie. Mais ainda :
nao podemos garantir que um folheto hoje insignificant nao seja, den-
tro de alguns anos, uma raridade de alto valor. Por todos os motives,
portanto, preconizamos uma inclusio total no catilogo colectivo, aten-
dendo parcialmente aos interesses do trabalho e da investigaqao cien-
tifica que os alunos da Faculdade possam levar a cabo.
A prop6sito das exclus6es, objectou em favor destas P. Bourgeois
que nao conv6m sobrecarregar o catilogo corn registos superfluos (3).
Tern razao. Mas tratemos de evitar que a objecqao nos toque tomando
medidas para que na Faculdade de Letras nao entrem obras super-
fluas...
Hi, evidentemente, o problema dos livros que chegam por inter-
m6dio do fundo legal. Todavia, tambdm esse problema apenas afecta
a Biblioteca Geral e 6 esta que terd de resolve-lo quando pensar a sdrio
no catalogo colectivo da Universidade.

d) Limites cronol6gicos.- A ideia de impor aos catailogos colecti-
vos determinados limites-a quo ou ad quem ou ainda ambos simultinea-
mente tem uma origem puramente pragmdtica. Baseia-se na urgen-



(0) Idem, ibidem, pp. 42, 43 e 44.
(2) Cf. Idem, ibidem, p. 43.
(3) Zweck und Aufbau der Gesamtkataloge, cit. por Brummel, ob. cit., p. 43.

33









cia de levantar catialogos actualizados ap6s a perturbacao da 2.* guerra
mundial e toma sobretudo em linha de conta a necessidade de livros
recentes, quase sempre de caracter ticnico, de acordo corn as tenden-
cias da hora present. Motivos hi tambem de ordem econ6mica: utili-
zar pessoal mais ou menos reduzido ao indispensavel, evitar o aumento
ripido e excessive do catilogo, poupar tempo e material catalogrifico.
Assim, conforme as circunstdncias, o catalogo colectivo pode incluir s6
as obras publicadas a partir de uma data bastante pr6xima, por exem-
plo o inicio do seculo xx, ou, quando muito, o principio do s6culo xix.
Limitado nos dois sentidos, pode dividir-se em fragments respeitantes
a certo period, que pode ser de 5o anos.
FAcilmente se depreende que nada disto constitui o ideal a atin-
gir na Faculdade de Letras. Aqui, a necessidade de localizar livros
anteriores ao seculo xx ou ao seculo xix e tio imperiosa como a de
conhecer a bibliografia do moment que passa. Utm livro do seculo xvi,
xvni ou xviii nao perde actualidade, antes o tempo acrescenta constan-
temente o seu valor, mesmo o seu valor pratico. Isto pode significar
que um catalogo colectivo feito s6 a partir de uma data muito recent
venha a ser de reduzido interesse para a preparac.o de grande parte
dos trabalhos escolares e, na quase totalidade dos casos, para a elabo-
ragho das teses de licenciatura.
De resto, os prejuizos causados por um catilogo colectivo limi-
tado cronol6gicamente sdo bastante conhecidos. Walter Bauhuis, no
seu estudo sobre a matiria (i), denuncia os perigos da limitaqdo: por
muito econ6mica que tal media parega actualmente, a verdade 6 que,
para localizar um livro dos secs. xvi, xvii ou xvii haverA necessidade
de percorrer ou interrogar todas as bibliotecas participants, e isso
acaba por resultar mais dispendioso e mais demorado do que a inclu-
sao de todas essas obras no catAlogo colectivo. Brummel, que dA o
seu pleno assentimento ao ponto de vista de Bauhuis, transcreve estas
palavras de outro especialista, Merritt, que, na realidade, p6e o pro-
blema A sua verdadeira luz: ((HA que lembrar que os trabalhos de
investigacao nao se adaptam fAcilmente As normas que arbitrAriamente
estabelegam os bibliotecArios, e que o exito de um catalogo colectivo
depend da sua capacidade para responder a todas as perguntas e
satisfazer todos os pedidos, independentemente do seu carActer de
investigation ou da sua seriedade. Tambem hi que ter em conta-e
e: mister repeti-lo constantemente que um catilogo colectivo com-
p1leto constitui a uinica base adequada para o estudo dos funds biblio-
graficos de que disp6e uma regito, o fnico instrument para um pro-


(i) Zentralkataloge. Grunds.Ytye und Aufbanvorschldzge, cit. por Brummel,
Lps.4,1tdtogos colectivos, p. 45.









grama de especializacao de bibliotecas e o corolArio fundamental de
um amplo program de cooperagao entire elass (i).
Em Universidades francesas que se viram perante situaqao iddn-
tica A da Faculdade de Letras de Coimbra, isto 4, corn milhares de
volumes anteriores A data em que se iniciou o catalogo colectivo, o
caso foi resolvido da melhor maneira: o pessoal permanent do cati-
logo realize a sua tarefa a partir do inicio da sua organiza9dao; pessoal
temporirio contratado encarrega-se de levantar o catalogo do material
bibliogrifico existente, ate encontrar o ponto de partida do catalogo
colectivo actualizado. Em Portugal cremos bern que depararia corn
enormes dificuldades uma tentative neste genero. 0 catalogo colectivo
da Faculdade de Letras tera de limitar-se, quando f6r viavel, a levar a
sua tarefa a partir do moment em que a sua orgdnica entrar em vigor.
E esta a soludao que preconizamos mas por motivos de ordem exclu-
sivamente econ6mica e corn piena consciencia dos prejuizos pedag6gi-
cos que tal solugao vai acarretar. Que ela nao seja, pois, de molde a
perder-se de vista a necessidade de se realizar o catilogo colectivo
total, ainda que isso custe, como inevitavelmente tudo custa, um sacri-
ficio material corn o contrato de pessoal temporario mas pessoal
competent e em nuimero suficiente para uma realizatdo rapida da
tarefa.

e) Piano catalogrdfico. Um catalogo colectivo pode, eviden-
temente, center varios tipos de catalogos, tantos quantos se julgar
convenientes. Por outras palavras: pode ser composto por um cata-
logo colectivo onomastico, um catilogo colectivo sistemitico, e assim
por diante ate aonde se queira. Dai a necessidade de tomar uma
decisdo privia quanto aos tipos a elaborar.
Decerto um deles aparece como indiscutivel: o catalogo onomas-
tico de autores e obras an6nimas. Mas ji o mesmo nao sucede
quanto ao ideogrifico e ao sistemitico. Hi entire os propugnadores
de um e de outro um esboco de poldmica que nio .nos interessa
aqui sumariar, apenas nos interessa sublinhar o acordo geral na.impos-
sibilidade ou pelo menos inconveniencia da elaboraqio simuitanea de
ambos.
A mais acentuada tendencia actual e para a reduqao do nuimero
de catilogos dentro de cada biblioteca, e, se pensarmos na complexidade
de um catilogo colectivo e nas tarefas que o seu funcionamento impoe,
teremos de concluit pela necessidade de evitar desdobramentos inuteis.
Teremos mesmo de evitar que o consulente se veja perante uma multi-


(i) Le Roy C. Merritt, The administrative, fiscal and quantitative aspects of
the regional union catalogs, cit. por Brummel, Los catalogs colectivos, pp. 45-46.










plicidade de catilogos que final nao conseguirio fornecer-lhe mais
elements de trabalho (i).
Sobre este aspect da preparacqo do catilogo colectivo pensamos
que nao fariamos mal em adoptar a soluqao da Direccqo das Bibliote-
cas de Franca para as Universidades do pais. Imp6e esse organismo
director a elaboracgo obrigat6ria de um triple catilogo em fichas-cati-
logo alfabitico de autores e obras an6nimas (onomistico); -catalogo
alfabitico de materias (ideogrifico);-catilogo das publicac6es peri6-
dicas (2).
A exclusAo do catilogo sistematico nao constitui uma negacgo
das suas qualidades, mas result de alguns dos seus inconvenientes (3).
Entre estes conta-se a necessidade pr6via da escolha ponderada de um
sistema complete de classificacao das matirias -e e bern sabido quan-
tas dificuldades se levantam para conseguir tal objective, e quantas
hesitaq6es haveria numa escolha acertada. Depois, ainda que.tudo se
resolvesse a content, haveria o problema de conservar esse sistema
sempre actualizado, o que seria dificil no caso de a actualizagqo ter de
ser sancionada por um organismo international. 0 catalogo ideogri-
fico tern um caricter mais director e, na verdade, os leitores universi-
tirios revelam maior interesse por ele, tanto mais que nao exige conhe-
cimento previo de uma tabela de classificacao mais ou menos complex.
A seu favor militam ainda a inteira liberdade de investigaqao que ele
permit, abstendo-se de sugerir determinada orientagao, que seria sem-
pre igual para todos os investigadores que partissem do mesmo ponto.
Evidentemente, todas as qualidades do catilogo ideogrifico depen-
dem da precisao corn que ele e elaborado, precisao que estA na razdo
direct da especializaqao dos funds e dos leitores. Este trabalho s6
pode ser levado a cabo corn fxito por bibliotecarios corn um substrato
cultural tambem especializado (4) requisitos a que, segundo cremos,
responded o quadro de pessoal tal como atris o delineAmos.


(i) ,Sauf cas particuliers, le nombre des catalogues en service dans une
bibliotheque universitaire doit 8tre restreint. Limiter le nombre des catalogues
est une necessite depuis longtemps comprise. Rien n'est plus irritant pour l'usa-
ger que d'avoir A consulter plusiers fichiers pour une meme recherchen (Cahiers
des Bibliothbques de France, I, p. 96).
(a) Cf. Charles-Edmond Perrin, Rdflexions d'un usager, em Bibliotheques
Universitaires, pp. 05-i6
(3) Cf Cahiers des Bibliothbques de France, I, p. 1o0.
(4) ,Si le problem des catalogues est l'un des plus important qui se pre-
sentent dans les biblioth6ques d'etude, il faut reconnaitre qu'il est aussi l'un des
plus ddlicats A resoudre et tout particulierement pour les bibliotheques universi-
taires, don't les- catalogues sont consults par des professeurs, des 6tudiarits et des
chercheurs et doivent, par consequent, repondre aussi bien aux exigences de la
recherche qu'd celles de l'enseignement et de l'etude (Cahiers, I. 91).









Em conclusAo, haveri que elaborar os seguintes catilogos:
catilogo onomastico;
catilogo ideogr6fico;
catalogo de revistas ;
catilogos especiais: manuscritos, mapas, gravuras e desenhos,
e quaisquer outros que sejam necessirios.
Infelizmente, nao adquirirao grande extensdo os catalogos espe-
ciais, mas o pouco que actualmente existe na Faculdade para os justi-
ficar e realmente precioso.


3. OrganiTacdo do service de catalogacdo

Vamos, finalmente, passar A parte prAtica da realizacqo do cati-
logo colectivo da Faculdade de Letras de Coimbra. Nao e tarde
demais: nada se poderi fazer sem que se verifiquem as condic6es
expostas e se tomem as decis6es indispensaveis. E precisamente por-
que tudo isso e bastante complex, e que a realizacao parecer, bas-
tante simples.

a) Salas da catalogacao. Corn a centralizaqdo do ingresso,
registo, catalogaqao e distrlbui9ao de livros e revistas, os servigos do
catilogo colectivo da Faculdade adquirem o movimento de uma grande
biblioteca. Isso significa que o serviqo, para se desenvolver em boas
condiqoes, necessita de instalaq6es adequadas, dotadas de complete
independencia. Nao seria para desprezar a possibilidade de se reser-
varem, no tuturo complement do 7. piso da Faculdade, tres amplas
salas para esse efeito 0 numero n.o e exagerado: -uma sala desti-
na-se aos trabalhos de recepqAo, registo e catalogacao dos livros e
revistas; outra A reproduqdo e distribuiqdo das fichas ; a terceira con-
teri os ficheiros para consult direct dos leitores. Todas elas dispo-
rdo de luz e conforto adequado.
Na primeira sala, alum de uma mesa de trabalho para cada um dos
bibliotecarios (para absolute independencia do seu trabalho) e de uma
mesa central para ordenacao dos livros recebidos, terao de existir todos
os elements de consult de que a elaboragqo de um catalogo carece:
bibliografias, dicionarios bibliogrificos, catilogos, enciclopedias, dicio-
narios de linguas estrangeiras, dicionArios biograficos, etc. Estes ele-
mentos e a proximidade do ficheiro geral da Faculdade devem propor-
cionar excelentes condiq es de trabalho (i).
Na segunda sala instalar-se-a a aparelhagem de reprodug9o das


(i) Cf. Brummel, ob. cit., p. 72.









fichas e os services de dactilografia, cujos ruidos devem, naturalmente,
ser isolados das restantes salas.
A sala dos ficheiros tera de dispor, naturalmente, de uma ou
varias mesas de estudo, onde os alunos possarn tomar as suas notas e
redigir os seus apontamentos.
Nao 6 por acaso que o catilogo colectivo tern conveniencia em
ficar no prolongamento do 7.0 piso da Faculdade. Isso justifica-se por
nao ser possivel destinar-lhe instala6es adequadas junto da Biblioteca
da Faculdade, aldm de na.o se dever privar esta das poucas e reduzidas
salas de que disp6e para os seus services. Mas hi ainda uma razao
tecnicamente mais forte: e que o catilogo colectivo nada tera de comum
corn o catilogo dessa biblioteca, tal como o nao teri corn qualquer dos
institutes e laborat6rios. Desejamos, corn efeito, vincar bem este aspect
da questao: o catalogo colectivo e um servico independent e realizado
em plano superior a Biblioteca da Faculdade e aos institutes (i).
E a experiencia que leva a adoptar esta distincao. Em primeiro
lugar, hi toda a vantage em que o pessoal do catalogo colectivo nao
faga parte do pessoal de qualquer biblioteca, para que as atribuiq6es de
cada um estejam bem definidas, sem darem ocasiao a situac6es ambi-
guas e subterfuigios, assim como para rigorosa delimitacqo das respon-
sabilidades. Em bibliotecas estrangeiras que cederam parte do seu pes-
soal ou parte do tempo de trabalho ao catilogo colectivo nelas instalado,
verificou-se sempre prejuizo de qualquer das parties. Inuitil seria, por-
tanto, cairmos de novo no erro que outros agora evitam. Por outro
lado, sdo conhecidos os inconvenientes da fusdo de um catlogo de
biblioteca corn um catalogo colectivo. 0 leitor prejudica-se psicol6gica
e prAticamente corn o facto de encontrar, num mesmo ficheiro, fichas
relatives a livros que nao se encontram na biblioteca em que esti
a trabalhar o que ndo sucederi corn um catilogo colectivo isolado
de todas as bibliotecas e onde apenas procura informag6es de caracter
bibliogrAfico. No caso da Faculdade de Letras de Coimbra hi atd
raz6es de ordem pratica: a linica sala destinada ao catilogo da Biblio-
teca nao tern anexas salas indispensiveis aos services do catilogo
colectivo.
Este nao perdera nada corn a sua independencia, desde que dis-
ponha dos elements de trabalho indispensiveis.

b) Catalogaicdo. 0 que ha a dizer sobre este ponto depreen-
de-se ji do que atrAs dissemos. A catalogacao seri sempre feita pelos
2.0 e 3.0s bibliotecarios-arquivistas do quadro, ocupando-se cada um
deles dos livros e revistas referentes a secqao da sua especialidade,


(i) Cf. Brummel, ob. cit., p. 72.









cabendo-lhes tamb6m decidir sobre o institute a que se destinam os
volumes que catalog. As fichas que os bibliotecarios escreverio A
mio passam para a sala de reproducio, onde serao dactilografadas ou
impressas pelo mitodo que se adoptar, e voltario para rigorosa veri-
ficacio.
Em todos os pormenores ticnicos, a cataloga9io seguira as nor-
mas estabelecidas de acordo corn a Biblioteca Geral da Universidade,
nao havendo necessidade de adoptar outro sistema especial, como o
de Berghbffer para a redacqio dos encabecamentos e ordena9io das
fichas (i). Cremos mesmo que s6 uma catalogagio normalizada dard ao
catilogo colectivo da Faculdade a sua plena capacidade de informagio.

c) Reproducao mecanica das fichas. -A reproducio das fichas
em numero tao elevado quanto necessario, e urn dos pontos vitais do
catilogo colectivo. A reproducio manual e a dactilogrifica sio, sem
ddivida, morosas e imperfeitas, portanto susceptiveis de inutilizarem,
logo de inicio, o funcionamento da organiza9io.
Corn efeito, e precise produzir pelo menos os seguintes exempla-
res de cada ficha:
um destinado ao ficheiro privativo do catilogo colectivo;
outro, que acompanhara cada livro catalogado, destinado ao
ficheiro do institute ou laborat6rio a que o livro for entregue;
-um terceiro, destinado ao future catilogo colectivo da Univer-
sidade, e que ficara retido na Faculdade ate que esse catilogo se
organize.
Nio temos, evidentemente, de contar cornm qualquer outro cata-
logo colectivo regional, national ou universitArio que venha a orga-
nizar-se, mas os tres exemplares indicados sio indispensiveis, e o
ultimo pode, na devida altura, economizar considerAvelmente tempo e
dinheiro.
Claro esti que nos referimos a exemplares da mesma ficha, diga-
mos: a ficha principal. Mas escusado seria advertir que em cada cati-
logo realizado haveri inevitAvelmente fichas remissivas em numero
variavel para cada volume catalogado. Ora n6s nio vamos fazer ape-
nas um catilogo em fichas, mas sim tres (onomistico, ideogrAfico e de
revistas), e sabe-se ate que ponto determinada obra pode desentranhar-se
em fichas ideogrificas.
Cremos que bastari atentar nestes pontos para concluirmos que
os processes tradicionais de reprodugao de fichas saio manifestamente
insuficientes, acrescendo o facto de ser indispensivel bastante rapidez
no desenvolvimento dos trabalhos quando se trata de manter actuali-


(i) Ver, sobre este sistema, Brummel, ob. cit., pp. 51-52.










zado urn catilogo colectivo e mante-lo actualizado e a tinica forma
de evitar o seu complete fracasso.
Assente, pois, por forqa de circunstAncias inalieniveis, a neces-
sidade de recorrer a um process eficiente de reprodugao mecdnica das
fichas, seri preciso seleccionar, de entire os muitos ji existentes, aquele
que possa satisfazer o objective proposto. Nao cabe no ambito deste
trabalho uma anilise ticnica desses processes, que por si exigiriam
um estudo A parte e subordinado a caracteristicas de precisdo que nao
nos e possivel debater aqui (i). Em principio, os requisitos a que prin-
cipalmente hi-de obedecer o process escolhido, serdo, em ordem
decrescente:.
a durabilidade,
a perfeigao da execugao,
a economic.
No fundo, a escolha seri facilitada pela solucao que a Biblioteca
Geral venha a adoptar. Haveria a maxima conveniencia em que a
aparelhagem fosse identica A daquela em todas as Faculdades, a fim de
se criar uma uniformidade de apresentaqdo grifica em todas as fichas
a incluir no catilogo colectivo da Universidade (2). E possivel que a
experiencia venha a aconselhar a opgo pelo sistema de reproducgo
offset, ji em uso corrente na Biblioteca Nacional de Lisboa.

d) Adopcdo e registo de siglas. Em cada ficha incluida no
catilogo colectivo tern de existir um element suplementar que 4, afi-
nal, a chave da localizaqdo dos livro dentro da Faculdade: trata-se de
uma sigla indicative da biblioteca em que o livro se encontra. Torna-se,
portanto, necessirio adoptar um sistema de siglas, de preferdncia a uma
sdrie de indicaq6es por extenso. Essas siglas tanto podem ser consti-
tuidas por nirneros como por letras, mas nao hi duivida que, sendo
possivel utilizar letras ou conjuntos de letras, estas apresentam muito
maior clareza na indicagdo, sem se precisar recorrer constantemente a
uma tabela (3). No caso da Faculdade de Letras, estimamos suficiente



(1) Veja-se, de entire a vasta bibliografia consagrada ao assunto, principal-
mente: Donald C. Holmes, L'emploi de la xdrographie d la Library of Congress, em
Bulletin de l'Unesco d l'intention des bibliotheques, xv, t961, n.0 I, p. 19; Jenny Del-
saux, Le service de multigraphie, em Bulletin des Bibliotheques de France, Julho-
-Agosto de 1959, p. 3oi; Otto Frank, Quelques methodes d'dtablissement et de repro-
duction des fiches de catalogage, em Bulletin de l'Unesco, xm, 1958, p. 43.
(2) Uma vez adoptado qualquer sistema de reproduqgo, 6 aconselhavel
utilizar o corpo da ficha-mie para as fichas remissivas, evitando-se assirn que
o leitor perca tempo em duas ou mais buscas, quando pode ficar imediatamente
servido.
(3) Cf. Brummel, Los catdlogos celectivos, p. 70o.









designar-se cada institute por um conjunto de tres letras, todas maids-
culas ou combinadas corn mintisculas, de modo a fornecer ao con-
sulente uma localizagao imediata e perfeitamente clara. Poderiamos
mesmo ir ate A combinaqco de duas letras corn um algarismo (con-
junto alfabitico-num6rico), sendo este indicative do piso do edificio
em que se encontra o livro. Alim da sigla imposta pelos servigos
centrais, cada institute acrescentari, no lugar pr6prio, a cota topogri-
fica de acordo corn a estate e a prateleira em que o livro ai for colo-
cado, ou a cota decimal, em caso de adopcao da C. D. U..

e) Intercalacdo das fichas. Depois de reproduzidas mecAni-
camente e conferidas pelo bibliotecario que as redigiu, as fichas sdo
separadas consoante o catilogo e a biblioteca a que se destinam. Em
seguida procede-se A sua intercalacgo nos respectivos ficheiros, corn
excepcao das que se reservam para o catilogo colectivo da Universi-
dade e que, por economic de tempo, poder.o deixar de ser alfa-
betadas.
Esti averiguado que esta operaqao n.o exige pessoal dotado de
formaq o tecnica especial (i), pelo que poderi ser executado por dacti-
16grafos disponiveis, no que respeita ao catilogo colectivo. Nos ins-
titutos ficarA a cargo do respective sub bibliotecario, sem qualquer
prejuizo para a perfeigao do trabalho. Simplesmente, esta perfeigao
depend de um certo numero de qualidades, mais que da preparaq.o
tdcnica: o funcionario encarregado de intercalar fichas, seja em qlue
ficheiro for, teri de ser consciencioso e meticuloso, pondo no seu tra-
balho toda a exactidAo possivel e executando-o corn pleno conheci-
mento da responsabilidade que sobre ele pesa. E precise que saiba
em que media depend do seu cuidado o bom funcionamento do cati-
logo do institute. Evidentemente, uma ficha colocada fora do lugar que
Ihe pertence inutiliza, como instrument de cultural, o livro a que cor-
responde. E se o nuimero de fichas deslocadas crescer na razao direct
do catilogo, este tornar-se-i defeituoso e intitil dentro de pouco tempo.
Por isso, bom seri que o classificador recorra, em caso de dtivida, ao
saber de um bibliotecArio, de preferdncia a introduzir no catilogo algum
ou alguns erros de ordenaqdo. Entretanto, nao devemos desprezar a
conveniencia de cada um dos bibliotecarios efectuar, peri6dicamente,
uma verifica9do da forma como a intercalacao de fichas esti a ser
feita, tanto no ficheiro central como nos dos institutes da sua secqdo.
Convem mesmo que a verificacao seja feita por pessoas diversas das
que fizeram a intercalacao, a fim de se manter uma fiscalizago mais
eficiente.


(1) Cf. idem, ibidem, pp. 47 e 76-78.









HA ainda que estabelecer uma diferenciacao de m6todo de acordo
corn as dimens6es do catilogo colectivo, relativamente A operacgo de
que estamos a ocupar-nos.
Enquanto o catilogo nao adquirir grande extens.o digamos:
enquanto nao ultrapassar 3oo.ooo fichas a intercalacgo das fichas
produzidas far-se-A directamente no ficheiro central, sern levantar
qualquer dificuldade. Mas ja assim nao acontecer, quando aquele
n~mero for superado. X media que o numero de fichas aumenta,
a intercalagao vai-se tornando mais morosa e pode afectar a organi-
zagdo dos trabalhos. Pode-se adoptar entao o sistema de former um
suplemento corn as fichas mais recentes, e nesse suplemento se intro-
duzir.o as fichas que forem sendo produzidas. A intercalagao num
suplemento 6 mais ripida do que na totalidade do catilogo, facilitando
portanto o trabalho e economizando tempo. Todavia, deve-se evitar
que o suplemento alcance grande extensao, a firn de n.o dificultar
excessivamente o trabalho final de insercao no ficheiro central (i). Na
Faculdade de Letras de Coimbra, a necessidade de former um suple-
mento n.o surgiri nos primeiros anos do catilogo colectivo, mas na
altura em que haja necessidade de se recorrer a tal process, restari
sempre a solug o de former o suplemento corn as fichas relatives aos
livros entrados durante o ano lectivo, fazendo a insergao no period
correspondent As ferias grandes. De qualquer maneira, nao con-
vira acumular fichas relatives a dois ou mais anos lectivos, ate porque
raz6es de ordem pedag6gica contra-indicariam essa solugao.

f) Relac6es corn a Biblioteca Geral da Universidade. Como
atris fizemos notar em virios pontos, o catilogo colectivo da Facul-
dade de Letras, embora organizado corn certa autonomia, naio pode
alhear-se da constitui9go, em future que desejariamos pr6ximo, de um
catalogo colectivo da Universidade, a instalar na Biblioteca Geral. Dei-
ximos bem claramente express a necessidade de uma colaboracao entire
bibliotecarios para o estabelecimento previo das normas de catalogagao,
e indicamos a necessidade de se reservar para o efeito um exemplar de
cada ficha produzida na Faculdade. Adiante veremos que, no ambito
da coordena9do das aquisig6es, a colaboragao pode vir a ser tambdm
proveitosa.
Poder-se-A perguntar se as fichas de um catalogo tao especiali-
zado como teri de ser o da Faculdade de Letras, feito exclusivainente
para os seus alunos, podera vir a interessar A organizacgo de um
catilogo colectivo da Universidade, que tera objectives mais gerais.
Ora ainda que as fichas viessem a integrar-se no catilogo da pr6pria


(i) Cf. idem, ibidem, pp. 76-77.









Biblioteca Geral, nao poderiamos perder de vista esta realidade:
o facto de a Biblioteca Geral procurar servir todas as Faculdades nao
invalida o facto de quase todos os seus leitores serem, dentro das res-
pectivas especialidades, tao especialistas como no moment em que
consultam o catilogo de uma biblioteca de institute ou laborat6rio.
Nao temos, portanto, dtivida de que a constituigco do catilogo
colectivo na Universidade deve fazer-se corn a colaboraygo individua-
lizada de todas as Faculdades, A semelhanpa do sistema que preconi-
zamos em relagao A Faculdade de Letras. Tio-pouco duvidamos de
que o catilogo colectivo da Universidade 6 tarefa tao urgente como
qualquer dos outros e que nao pode protelar-se indefinidamente a sua
realizagco.

CAPITULO III

OBJECTIVES PRATICOS DO CATALOG
COLECTIVO

Em nosso entender, decerto partilhado por quantos se interessam
por temas identicos, o catilogo colectivo da Faculdade de Letras de
Coimbra nao valera por si s6 mas ainda pelos objectives priticos
que possa atingir, na media em que for iutil, sob qualquer aspect,
a Faculdade considerada como institui9do viva. E evidence que na
apreciagAo do valor do catilogo nao terdo de entrar em linha de
conta as multiplas finalidades propostas aos catilogos colectivos estran-
geiros, quer eles sejam universitirios, regionais ou nacionais. Tam-
b6m nao deveremos pedir ao nosso, final t.o modesto quando com-
parado corn os de Universidades francesas ou americanas, aquilo que
n.o lhe cabe dar, nem desviA-lo do caminho que Ihe 6 imposto pelo
pr6prio condicionalismo em que nasceri e viver6. No entanto, vamos
ver que as consequencias serdo apreciAveis e justificam plenamente
a sua realizaqao.


i. Sob o ponto de vista pedag6gico

a) Localigacdo de livros e revistas.- Determinar em que biblio-
teca se pode encontrar o livro ou revista que se pretend consultar, 6 a
finalidade essencial de qualquer catilogo colectivo (i). Todas as outras
Ihe estio subordinadas. Mas esta capacidade de localizagio revelar-se-a
utilissima numa Faculdade dotada de tao elevado nimero de bibliotecas


(i) Cf. idem, ibidem, p. 34.









e apetrechada corn tao elevado nimero de livros. Acresce que, como j)
fizemos notar, os livros e revistas n.o estao dissemminados pelos institu-
tos em concordancia rigorosa corn a especialidade destes. Para o aluno
desprovido de uma indicaqao prdvia, a necessidade de percorrer virios
institutes, num edificio de sete pisos, para procurar uma obra que pode
estar em vArios ou ate em nenhum deles, e uma perda de tempo lamen-
tAvel, corn repercuss6es psicol6gicas sempre nocivas. Nao seri exagero
dizer-se que a predisposicqo para o estudo e para a investigated e mui-
tas vezes afectada pelo aparecimento de sucessivos fracassos na busca
de elements. E, pois, ficil compreender o auxilio inestimivel que o
catilogo colectivo presta em casos como esses : o aluno teri apenas de
dirigir-se ao ficheiro central e ai encontrari a indicacao imediata do ins-
tituto em que existe a obra procurada; por outro lado, se se trata de
explorer um tema para a dissertaqdo, o ficheiro ideogrifico dar-lhe-A
a indicacao de que obras poderi encontrar e onde. Em muitos casos
podera mesmo localizar virios exemplares da mesma obra e consultar
o exemplar que nao esteja em leitura. Tudo isso lhe permitiri organi-
zar um piano de investigacao tao met6dico quanto possivel, sem desani-
mos, sem perdas de tempo e de energies.
Naturalmente, na pritica ainda result dai outro beneficio: des-
congestionar os institutes de grande parte das pesquisas intiteis que
actualmente se fazem neles. Na major parte das vezes, o aluno s6
ai procurari as obras que o catilogo colectivo Ihe indicou como ai
existentes.

b) lnformac.o bibliogrdfica. 0 consulente podera tambdm
recorrer ao catilogo colectivo para obter informaq6es de caricter
meramente bibliogrifico. Poderi ficar a saber que obras a Faculdade
possui de determinado autor ou sobre determinado assunto. Podera
completar um nome de autor, um titulo de obra, uma data ou lugar de
edigdo, o ntCmero de paginas de um volume, a revista em que determi-
nado artigo foi publicado, em que numero e em que data. Podera com-
binar dados e fazer confrontos de acordo corn a orientacgo das suas
pesquisas.
Alem de todos os elements que o catalogo lhe possa dar, resta-
-Ihe ainda o recurso ao bibliotecario da seccgo, que completara uma ou
outra informaqdo e sugerira uma ou outra consult. Pelo menos, o biblio-
tecario sabera langar mao de fontes informativas e auxiliarA o aluno na
media em que os seus conhecimentos e a sua experiencia de licenciado
Iho permitam. Mais uma vez, portanto, hi razao para multiplicar o
nimero de bibliotecarios e variar as licenciaturas.
E ao bibliotecario que cumpre, neste aspect, humanizarD o
catilogo colectivo, diluindo corn a sua intervenlaio o character de
miquina passiva que ele possa ter.









2. Sob o ponto de vista tMcnico

a) Normali{acdo dos services. 0 catilogo colectivo, centrali-
zando os services tdcnicos essenciais, substituindo a dispersao das
bibliotecas pela organizaqao de uma grande bibli6teca ramificada,
actuando de harmonia corn a Biblioteca Geral da Universidade, enca-
minhando os alunos da Faculdade para novos m6todos de trabalho -
constituiri, por si mesmo, uma extensa e profunda normalizacao,
cujos resultados se anunciam extremamente bendficos e representarao,
dentro do Pais, um impulso que nos colocara a par das mais per-
feitas organizag6es bibliotecon6micas universitirias da Europa e da
America.
Desde a simples uniformizaiAo das fichas em todos os seus aspec-
tos-formato, espessura, cor, redacgio e disposicgo grifica-ate aos
processes de funcionamento no piano intellectual, o catilogo colectivo e
susceptivel de renovar inteiramente a organica das bibliotecas integra-
das na Faculdade. Mas essa renovacio e precisamente valorizada pelo
facto de se efectivar dentro de uma rigorosa normalizacgo, o inico meio
de se obter uma colaboracgo mais estreita e mais proveitosa em prol
da cultural national.

b) Inventdrio das bibliotecas abrangidas. Secundiria e indi-
rectamente, o catilogo colectivo e um duplicado de todos os catilogos
privativos dos institutes e isso permit reconstituir, em qualquer opor-
tunidade, os funds de cada institute, quer para conferencia dos funds
totals da Faculdade, quer para-substituicgo de um livro perdido, quer
para estatisticas. Infelizmente, pode um dia servir para reconstituir
uma biblioteca destruida por acidente inevitivel (i) e sabe-se quantos
.perigos espreitam de todos os lados os iivros indefesos.


3. Sob o ponto de vista economic

a) Coordenacdo das aquisices.- A possibilidade de coordenar
oficialmente as aquisi96es de livros ndo e decerto a tinica nem a prin-
cipal missao de um catalogo colectivo, mas e das mais importantes e
sem divida a que maior projec9do alcanqa no piano econ6mico. Merce
da restri9do de aquisic6es inuiteis, levada a cabo de harmonia corn todos
os itteresses- a que e preciso tender, poder-se-i dizer que a coordena-



(i) Foi este. o caso de muitas bibliotecas duramente atingidas durante a
2a. guerra mundial. Veja-se L. Brummel, ob. cit., p. 37.









cqo acaba por compensar, pelo menos em grande parte, o custeio de
um catilogo colectivo.
Nao 6 preciso glosar corn muitos arguments a utilidade econ6-
mica da coordenaqio. E conhecida a normal exiguidade das dotaq6es
bibliotecarias, em contrast corn o fluxo crescente das novas publica-
q6es, e essa desproporq o imp6e medidas que lesem o minimo possivel
os interesses da cultural. Um servico de coordenacgo efectiva das
aquisiq6es revela-se particularmente precioso em casos como os
seguintes :
livros de alto preco, quer pelo seu volume, quer pelas gravu-
ras, quer pela dificuldade em obte-los ;
livros antigos, postos A venda por leiloeiros ou alfarrabistas;
-livros estrangeiros, geralmente de custo exagerado pela emba-
lagem, correio e cambio da moeda;
assinatura de revistas especializadas.
Ha, portanto, que evitar desperdicios em duplicaq6es inuteis-e
referimo-nos agora apenas As inuCteis porque adiante nos referiremos a
casos em que a duplicapao de livros e mesmo indispensivel.
A coordenacao, para ser verdadeiramente eficaz, deve fazer-se no
piano da Universidade (i) e e lamentavel que em Coimbra nao se tenha
ainda pensado em faze-la nem o que 6 pior haja ambiente adequado
para recebe-la. Nio resta dt&vida, no entanto, sobre o papel que a Biblio-
teca Geral teri a desempenhar na engrenagem coordenadora. Dentro do
mais estrito realismo e sem pretendermos jogar corn simples palavras
- podemos dizer que a Biblioteca Geral d uma verdadeira universidade
dentro da Universicade, em consequencia das suas caracteristicas e da
funggo que tern a desempenhar: rigorosamente alheia a qualquer exclu-
sivismo, mas apta a colmatar as lacunas que as bibliotecas das Facul-
dades, institutes ou laborat6rios nao possam eliminar por deficiencia de
recursos. Mas esta linha de rumo s6 poderi ser firmemente seguida
por meio de um piano universitArio de coordenagao, de que dependera
nao s6 uma aplicaqdo racional das dota6oes mas tambem o equilibrio
do desenvolvimento dos funds. Quer dizer: se apenas uma ou duas
Faculdades derem as suas bibliotecas um desenvolvimento especial,



(i) Na organizaqio bibliotecaria das Universidades francesas, o problema 6
encarado corn inexcedivel amplitude de visdo. Medite-se nas palavras duma biblio-
tecaria que estudou profundamente o assunto: ,C'est plus qu'une coordination des
achats, rI'tude em commun par les bibliothdcaires et les professeurs ou les direc-
teurs d'instituts, de programmes d'achats et d'abonnements don't les charges seraient
ensuit reparties, suivant les disponibilites de chaque etablissement et son r61le pro-
pre, au mieux des intdrets des &tudiants et de ceux de la recherche) (Yvonne Ruys-
sen, Les bibliotheques d'instituts et de laboratoires et leurs relations avec la bibliothe-
que universitaire, em Cahiers des Biblioteques de France, i, p. 79).









merc6 dos seus pr6prios recursos, e estabelecerem um sistema de
coordenacao corn a Biblioteca Geral, permitindo a esta a restrigIo
de aquisiq6es relatives a esses dois sectors, o facto pode dar como
resultado um desiquilibrio na homogeneidade da Biblioteca Geral.
Por outro lado, uma coordenaq.o centralizada das aquisic6es nao teria
como objective apenas evitar que as Faculdades adquirissem os livros
que a Biblioteca Geral se dispusesse a adquirir: evitaria tambem que
esta adquirisse livros que mais utilidade terao numa Faculdade do que
na Biblioteca central. Dai a vantage de tender, em conjunto, nao
s6 as dotaq6es de cada departamento da Universidade, mas tambem
as suas necessidades intelectuais e especializadas.
Claro esti que mais uma vez seri possivel tirar partido da proxi-
midade das Faculdades entire si e em relaqdo A Biblioteca Geral. Isso
facilitari a frequent troca de impresses e permitir, aplanar rApida-
mente as dificuldades e concertar pianos de coordenaqao.
Mas n.o e da coordenaq.o em plano universitirio que nos cum-
pre aqui tratar em pormenor. S6 nos importa sugerir como se hi-de
proceder na Faculdade de Letras.
Naturalmente, falamos apenas de aquisic6es em sentido literal,
isto 6, dos livros ou revistas comprados, e nao daqueles que ingressam
nos funds da Faculdade por oferta ou intercambio.
Parece-nos que a iniciativa duma aquisicao deve partir do insti-
tuto interessado. E convenient que ai se estabeleca um servico de
desiderata, subordinado As normas usuais. Assim, os alunos podergo
solicitar a compra de um livro de que necessitarn para estudo ou inves-
tigagAo. Por outro lado, o Professor Director do institute poderi tam-
bem proper as aquisig6es que julgue convenientes para apetrechamento
desse institute. A proposta, redigida corn todos os elements biblio-
grAficos necessArios A identificacao exacta da obra, transitar4 entao
para os servigos do catilogo colectivo, cujo i.0 bibliotecario averiguar.
da sua existencia na Faculdade ou na Biblioteca Geral da Universidade
e, em caso negative, procurara saber o seu preqo e possibilidade da sua
obtencao. Apresentari entio a proposta complete aos services admi-
nistrativos da Faculdade, para aprovacao e concess.o da verba. Final-
mente, comunicarA ao Director do institute a decisdo daqueles services
e a aquisicao do livro quando esta foi ultimada. No caso de a aqui-
sicqo ter partido da sugestdo de um leitor, o sub-bibliotecario do
institute encarregar-se-a de Ihe comunicar que o livro esti a sua
disposig o.
Normalmente, uma proposta correspondent a livro ji existente
em qualquer biblioteca serA cancelada. No entanto, convem tender a
dois casos que podem verificar-se:
.- -a proposta pode referir-se a uma edigdo mais recent e mais
actualizada do que a existence;









2.-a proposta pode refertr-se a um manual de estudo de que
convenha existir na. Faculdade mais um exemplar.
Claro esti que a decisao final dependerA dos recursos disponi-
veis .na ocasiAo, mas as novas aquisiq6es h5o aconselhiveis nesses dois
casos. Sabe-se que qualquer livro de investigaao esti sujeito a com-
pletar-se e aperfeigoar-se corn o prosseguimento das pesquisas, e mui-
tas vezes estas tendem a modificar substancialmente as conclus6es pri-
mitivas. Em vista disso, nao ha duvida de que a Oitima edicao constitui
um element de trabalho de valor positive, e entao sera indispensivel a
sua aquisiqao. A eficiencia do ensino universitArio dependera muitas
vezes do nivel de actualizacgo, que e precise manter constant, sob
pena de nos atrasarmos irremediavelmente.
Quanto aos manuais de estudo, tambem nao ha hoje duas opi-
ni6es acerca da necessidade de se p6r A disposiqao dos alunos nao
apenas um exemplar mas todos quantos se reconheqam necessarios (i).
A existencia, quer na Biblioteca Geral, quer nos institutes, de various
exemplares do mesmo manual ou do mesmo livro de consult obriga-
t6ria, tern, alum de outras, a vantage de impedir que o aluno se sinta
desencorajado na pesquisa direct e pessoal, e recorra A velha sebenta
como utnico meio, mais c6modo e acessivel, de satisfazer a sua neces-
sidade de aquisido de conhecimentos. Evidentemente, nao 6 missao
de qualquer biblioteca universitaria comprar um livro para cada lei-
tor, mas, na realidade, e precise tender ao numero de leitores para
determinar, numa proporgao direct, o numero de exemplares que e
necessario adquirir, a fim de evitar atropelos e prejuizos irreparaveis.
A funcgao docente da Faculdade exige que se encarem corn realismo as
situag es que, como esta, Ihe est.o intimamente ligadas.
No fundo, nenhum dos factors apontados deve sobrepor-se aos
outros corn exclusivismo. Aqui, como em quase tudo, a virtude esta
no termo m6dio e na pesagem cuidadosa de todos os pr6s e contras.
O que sobretudo importa e que a. coordenagdo das aquisiq6es seja um
facto e possa trazer uma solucgo adequada sempre que se recorra As
possibilidades que ela oferece.

b) Regulariaacjo do intercdmbio de publicac6es. A centrali-
zacgo decorrente do catilogo colectivo atinge tambem o servico de
intercambio. Os livros e revistas provenientes de troca corn outras



(i) a.. .1'acroissement du nombre des 6tudiants doit entratner la multipli-
cation des exemplaires de certain ouvrages ; quand il s'agit de manuels ou d'ou-
vrages d'erudition d'un usage courant, ce n'est pas assez d'acheter des doubles;
...il faut envisager d'acheter des exemplaires multiples de ces ouvrages.,, (Charles-
-Edmond Perrin, Rdflexions d'un usager, em Bibliotheques Universitaires, pp. 17-18).








instituii6es passam a entrar na Faculdade por uma tinica via. Isto
permitiri regularizar a situa~go nesse campo. Verificar-se-a em que
condig6es se efectuam as trocas e quais as vantagens que a Faculdade
dal tira, evitar-se-do os exemplares repetidos e far-se-a uma distribui-
0go racional pelos institutes, de acordo corn a especializagio de cada
um. Trata-se, final, de interpreter, sob o ponto de vista econ6mico,
processes de organizaqgo ja atris descritos e preconizados.

Coimbra, Janeiro-Fevereiro de 1961.


ADELINO DE ALMEIDA CALADO




































49













Notas portuguesas en la obra de Gracidin

El Padre jesuita Baltasar Graciin es uno de nuestros grandes
clasicos, cuya vida llen6 la primera mitad del siglo xvi. Hombre
arist6crata de espiritu, verdadeira cabeza de minoria intellectual, fue
muy diferente de los demis escritores de su 4poca, en su alma y en su
obra. Enemigo de todo lo feo y tosco, llev6 al fondo de sus escritos
un revelador desprecio por el vulgo.
Todo cuanto aparentase algo de huero y falso, asi en las letras
como en las formas de vida y trato, tenia en 61 un enemigo irreductible
y batallador. De ahi su tremendo encono para el culteranismo, que le
parecia un aestilo culto, bastardo y aparente, que pone la mira en sola
la colocaci6n de las palabras, en la pulideza material de ellas, sin
alma de agudeza... enfadosa, vana, inutil, afectaci6n indigna de ser
escuchada, como el.decia.
La belleza literaria no residia, para el, en las palabras huecas de
los culteranos, que eran como humo que.se desvanecia al primer soplo.
Al contrario, el placer estitico residia uinicamente en la agudeza, que
era sin6nimo de belleza.
Menindez Pelayo lo estima como sel segundo de aquel siglo en
originalidad de invenciones fantdstico-alegdricas, en estro satirico,
en alcance moral, en biqarria de expresiones nuevas y pintorescas, en
humorismo profundo y de ley, en vida y movimiento y efervescencia
continua... (i).
Se bebia los vientos por la originalidad, y a fe que era un inge-
nio singular, capaz de convertir a su lengua castellana en un vivero
de riquezas, segin demostr6 en sus obras. Y el ingenio y la agudeza
estin en el fondo del conceptismo, que viene a ser el estilo literario
opuesto al culteranismo, es decir, opuesto s6lo en cierta media, por-
que en otra, se complement y apareja con 1l a pesar de la repulsa
gracianesca.
Gracian es el te6rico autdntico del Conceptismo: ahi esti su


(i) Men6ndez Pelayo Historia de las Ideas Estdticas en Espafia, n 469-70
Madrid, ig3o.









colosal Ret6rica conceptista.
Su obra central, y fundamental, es novela moral, elegoria de la vida, en la que el autor sintetiza su inge-
nio, su pensamiento y sus ideas literarias. Y sin meternos ahora en el
anilisis de sus aciertos y de sus errors, bistenos con sefialar que
tanto su pensar como su sentir se patentizan en 6sta y en las demis
obras suyas, con un rigor mental, con una diafanidad de alma y con
una rectitud de conduct, que hace de el un arquetipo de hombre digno
y merecedor de la mayor atenci6n.
Y precisamente la sinceridad rotunda de sus palabras es lo que
mis interest al intent de este breve trabajo, sencillo, modesto y sim-
plemente informative que ofrecemos al lector.
El interns de estas notas reside, a mi juicio, en que constituyen
otra prueba mis de la mutua correspondencia, de la interdependencia
y del intercambio, profundo y constant, de las dos grandes literaturas
peninsulares especialmente durante los siglos xv, xvi y xvi, es decir,
los llamados aureos de uno y otro pais.
En nuestros castellanos escritores renacentistas y clisicos- dando
a estos terminos un contenido un tanto elhstico viven y perviven
Portugal y sus bellas letras de muchas maneras. Hay cantos apasio-
nados de la tierra lusitana; hay exaltaciones de sus glorias y de la
grandeza de muchos de sus monarcas. Aqui y alli podemos encontrar
elogios de la mas variada indole a los atributos del hombre portugues
en la guerra, en la paz, en el amor, en la aventura de sus giros oced-
nicos y en sus pasmosas hazafias.
Muchas veces no pueden menos de surgir, era inevitable y natu-
ral, las rivalidades castellano-portuguesas, que son en aquellos tiempos
como un tira y afloja de unos familiares y parientes pr6ximos que habi-
tan la misma gran casa iberica, en la que el hermano mayor quiere
absorber todo el espacio, y los otros, los menores, quieren defender a
toda costa su habitaci6n particular y privada.
Si de la mujer se trata, entonces son pocas todas las galas lite-
rarias para cantar a las lusitanas en toda una gama de arco iris mul-
tiplicado, desde la belleza fisica hasta la moral, pasando por todos los
grades psicol6gicos del temperament y sus correspondientes actitudes
en el amor, en la religion, en el valor, y hasta en la ciencia. Ejemplos
podriamos citar ahora mismo situindolos entire los polos vivientes de
una Dona Isabel Freire, savia que anim6 como un aliento sutil casi toda
la poesia de Garcilaso de la Vega, y una Doina Beatriz da Silva, que
venci6 y super a la belleza de su cuerpo con la sublimidad de su alma
dedicada al Sefior, dando motivo magnifico para una pieza dramitica
del gran lus6filo que fue Tirso de Molina. Pero esto nos llevaria dema-
siado lejos de la intenci6n de estas lines.









Y aun podemos aludir a la lengua-el de que hablaba Cervantes -, toda dulce lirismo expresivo para el
amor y el dolor y el paisaje, o para la firmeza endrgica en la defense
de los ideales, asi patri6ticos como religiosos. De esta lengua tambidn
hay much que decir en relaci6n con los escritores espafoles: unas
veces coleccionando elogios; otras, formando parte integrante de la
misma obra, bien como recurso literario absolutamente admitido y
comprendido por lectores o espectadores, segln los casos -, bien
como preferida forma expresiva de sentimientos determinados.
En fin, el dia en que podamos ofrecer una obra de conjunto-
y a eso aspiro acerca de la penetraci6n de Portugal y de los temas
portugueses en las letras espaniolas, de estos tiempos clasicos y de los
que no lo son, se podri comprender y admirar la grandeza de un
panorama insospechado por algunos e ignorado por muchos mas.
Si esto acontece con gran parte de los clasicos, no escap6 a la
regla nuestro adusto y recto Gracian. Claro que no 1o hizo, como
otros, en forma de studios, o cantos, o representaciones de tal o cual
aspect de Portugal, o de las facetas varias de las letras o personas de
este pais. Es decir, en sus obras no hay motivos centrales de indole y
origen lusitano, porque el objeto de aquillas no podia prestarse a ello.
Pero si, en cambio, eran las tales muy apropiadas para aludir a
cuanto material portugues personas, ideas, cosas pudiera servirle
como element ejemplificador de sus concepts y exposiciones.
Puede que para algunos esta mera inclusion ejemplificadora, estas
citas ejemplares de la obra de Graciin, sean un puro accident o
incident desprovisto de toda significaci6n. Yo me permit pensar
de otra manera: ese constant y entusiasta sacar a flote nombres de
grandes portugueses, ejemplos literarios de portugueses, acontecimien-
tos importantes portugueses, significa much, sobre todo, cuando se
hace por mano de Graciin, hombre cuya rectitud de criterio no admit
replica y cuya sinceridad de alma es inmensa y profunda.
Para mi significa, ni mis ni menos, dos cosas nada desprecia-
bles: Primera: que existe, entretejido en toda la obra de Graciin, un
mundo spiritual portugues valiosisimo, hasta el punto de ser tornado
por aquel ingenio lleno de saber como absolutamente digno de ser
imitado.
Segunda: que el reconocimiento de tal existencia lo hace Gra-
cian con un ardor y elegancia propias de quien no s6lo admite dicha
existencia, sino que la admira, la exalta y la defiende en su valor radical.
{ Que esto es poco ? Puede que si. Pero nadie discutiri, al
menos, que se trata de una prueba mas del mano a mano y del brazo
dado con que las dos grandes literaturas peninsulares o cespanholas
-en el lenguaje de Garrett se desenvolvian entonces, cuando los
dias eran gloriosos para las dos naciones.









Y es ya hora de que comuniquemos la breve pero jugosa colec-
ci6n de citas gracianescas que motivan las piginas presents.
Son ellas de variado orden: tanto se refieren a meros ejemplos
de figures del lenguaje o ret6ricas, como a figures hist6ricas, portu-
gueses de care y hueso que de algtin modo provocan la admiraci6n
del gran jesuita aragonds, o a figures literarias que merecen toda su
alabanza de ret6rico sabedor. Y aun veremos notas relatives a lugares
de la tierra lusa, y a caracteristicas temperamentales del lusitano genio.
He aqui el cuadro acabado de notas portuguesas que se encuen-
tran a lo largo de las obras completes de Graciin.


A. Personajes hist6ricos

a) REYES

Don Afonso Henrique\

El p6rtico real se abre justamente en Gracian con quien consti-
tuye la piedra angular de la Monarquia lusitana: la egregia figure de
Don Afonso Henriques. Y veamos c6mo, aunque brevemente, en cita
fugaz mas profundamente significativa, nuestro autor no tiene reserves
de ningun genero para exaltar al campe6n de las huestes occidentales
en su atributo mis digno y primordial: el de fundador de un reino
cat6lico.
Lo leemos en la obra ,EL POLITICO DON FERNANDO EL
CATOLICOD, que dice: a Celebren todos los siglos, depositadas todas
las prendas en el verdadeiro Geridn de Espafia, los fundadores de sus
tres catdlicos reinos, don Garcia JimdneT de Sobrarbe, don Pelayo de
las Asturias, don Alonso Enrique{ de Portugal que, con gloriosa emu-
laci6n, pasaron a ser imperios, extendidndose cada uno per diferente
parte del universoD (i).
Al hacer la cita de glorificaci6n que antecede, apunta el autor,
con loable acierto sin duda, el sentido providencialista de la aparici6n
de estos personajes en el campo de la historic y sus realizaciones tras-
cendentes, porque las principles prendas her6icas de aquillos no dejan
de constituir Jfavores del celestial destinoD. Recudrdese la leyenda
milagrosa de las Quinas en ia batalla de Ourique, y tendremos como
una confirmaci6n plena de la permisi6n del Cielo que llev6 a Don
Afonso a la fundaci6n definitive de su Reino.
Absolutamente ajeno al mis leve matiz de reproche, Gracian


(i) Gracian, Obras Completas p. 28 M. Aguilar Editor Madrid, 1944.









recuerda al Fundador de Portugal insistiendo en destacarlo como una
gloria providencial que los siglos, la historic, deben celebrar.
Y esto nos basta. Es un hombre de Iberia, un aragonds espaniol,
un cat6lico y un escritor clisico que admite, reconoce y ensalza la glo-
ria de la independencia de Portugal en la persona de su creador, que
tenia alma de temple fundador y regidor de grandes destinos.

Santa Isabel de Portugal

Hablando en la misma obra de la buena o mala influencia que
ejerce la mujer reina, segbn sea prudent o imprudente, include en una
larga cita de magnificas mujeres coronadas a la impar Dofia Isabel de
Arag6n, esposa de Don Dinis o Dioniz, la bienamada Reina Santa de
los portugueses.
La ensalza en su recuerdo hist6rico como de paz y de prudencia
en esto tono :
(La santa aragonesa doifa Isabel, inmortal reina de Portugal,
fun ordculo de virtud y de pa{ entire el rey don Dionisio, Ilamado el
Fabricador, su esposo, y el principle don Afonso, llamado el Bravo,
su hijo. Con su discipline religiosa vencia la military, y con su pie-
dad deshijo los armados escuadrones de un padre contra un hijo y de
un hijo contra un padre, cruces contra cruces y quinas que amena.a-
ban quinasD (i).
La cita es breve, como todas, pero sabrosa: el jugo esencial de
aquella mujer gloriosa del trono portugues esta recogido en la senten-
ciosa frase de Graciin, ((ordculo de virtud y de pap. Y con la misma
brevedad explica el porque de tal atribuci6n virtuosa y pacifica. Qud
mis podeis afadir en una cita fugaz ? Claro que podia decir muchas
cosas ; pero siempre serian aclaraciones y confirmaciones de la atribu-
ci6n esencial.
Y n6tese que, en este caso, estaria muy justificado en la pluma
de Graciin un canto pomposo a las gracias espirituales de la Reina
Santa, porque era una conterrdnea del jesuita. Nunca mas lejos de
este, sin embargo, la intenci6n de una digresi6n verbosa. C6mo iba
a hacerlo quien afirma y defiende que flo bueno, si breve, dos veces
buenon ?
Don Alfonso V

En su citada aARTE Y AGUDEZA DE INGENIOa, DIS-
CURSO XXX, se refiere a las miximas reales, que aunque son sen-
tenciosas, dice, merecen observaci6n especial por lo que tienen de


(t) Confr. Op. cit., p. 49.









her6icas. Y entire las que anota como ejemplos expresivos de com-
prensi6n esta una c6lebre frase del Rey Alfonso V de Portugal, quien,
segun Gracian, dijo lo seguiente:
(El principado, o habla al hombre sabio o le hace sabioD (i).
Realmente, la frase es profunda y bien seleccionada por aquel
autor para el objeto que le preocupa en las paginas a que aludimos.
Y en general, segun afiade, la profundidad y grandeza de estos dichos
es indicio de la del coraz6n. Lo cual no es ninguna suposici6n en el
caso de este Don Alfonso V: todos sabemos que fue un rey valeroso y
lleno de sabiduria political. En su reinado prosiguieron los portugueses
sus exploraciones por el litoral africano, Guinea, Cabo Verde, etc.,
aparte la acci6n military que el monarca continue en Marruecos con
la toma de Alcicer-Cequer, Arcila y Tanger y que le vali6 el mere-
cido sobrenombre de Africano.
Muy bien sabia Alfonso V, que si el principle no es sabio, la expe-
riencia de una vida cargada de responsabilidades lo ira haciendo tal...
o dejara el principado. He ahi, acaso, el origen de las palabras reco-
gidas por Gracian.

Don Juan II

MAs adelante, en el DISCURSO XLIX de la misma obra, explica
nuestro autor en esta su ret6rica curiosa en qud consiste la agudeza por
alusi6n, y las classes que de ella existen o pueden darse. La explicaci6n
de cada una va imediatamente ejemplificada con algtn dicho o hecho
hist6rico adecuado a la intenci6n del moment.
Y al llegar al fundamento de la ilusi6n por discordAncia y des-
conveniencia como 6l dice del sujeto con el termino a que se refiere,
nos recuerda una oportuna intervenci6n alusiva de Don Juan II de Por-
tugal en estas palabras:
nFue tan sagonada como picante la del rey don Juan de Portu-
gal sirvidndole la copa don Alvaro de Meneses; cayosele de la mano,
que aun materialmnente fue agilero de alegria, pues ocasidnd gran risa
en los seiiores y fidalgos: acudi6 el rey con su ordianaria prontitud, y
dijo: a Basta, que si a Meneses se le ha caido la copa de la mano, pero
no la espada en la batallaD, tocando a algunos de los que se reianD (2).
Nada nos extrafia, desde luego, de la poderosa agilidad mental
de un rey como Don Juan II, el Principe Perfecto, capaz de cortar de
raiz todas las burlas, como las mAs leves insinuaciones de rebeli6n o
sospechas de traici6n. Y que seguro que en este episodio palaciego


(i) Cfr. op. cit,, p. 181.
(2) Cfr. op. cit., p. 236.









estaba present alguno de los nobles a quienes el Rey tenia poca o
ninguna simpatia. Es muy possible que la mirada escrutadora del
monarca, acompafiando a sus palabras, habri helado en los labios y
cortado en la garganta la risa de mis de uno de quellos testigos cor-
tesanos. En cambio, nuestro Graciin si que habri sonreido al recor-
dar el caso del singular portuguds coronado.

Don Sebastidn

Por 61timo, en este corto desfile regio no podia faltar la simpA-
tica fiigura del Rey Don Sebastian, cuya desventura cal6 profunda-
mente en el sentimiento espafiol. La desgracia definitive, la poca for-
tuna que el destino le reserve en la tierra ardiente de Alcizarquivir,
tiene multiples destellos en las plumas de muchos de nuestros cldsi-
cos. Destellos de un sentimiento polifac6tico, que ofrege, unas veces,
expresiones de sentido dolor revestido del mis bello ropaje podtico
-Lope de Vega, Tirso de Molinn, Herrera, etc. -y que es, otras,
airado, aunque afectuoso reproche por la audacia y temeridad de una
empresa que mis pareci6 locura... si bien sublime locura.
Tambidn Gracian nos dej6 su toque en relaci6n con el desdichado
cuanto terrible episodio africano. No se trata de una contemplaci6n
demorada del mismo con su correspondiente reflejo literario de valor
po6tico, ni siquiera de una meditaci6n m~s o menos extensa de valor
hist6rico. No: Gracian nos ofrece, aqui y all, unos recuerdos, unas
simples alusiones, unos brevisimos comentarios, aducidos, como siem-
pre, para ejemplificar la exposici6n de sus concepts, pero impregnado
de simpatia por la figure del joven monarca, sin ocultar el dolor de su
perdida. Es Portugal que, una vez mis, vibra en 6l con la sinceridad
desnuda de su alma.
Acompandmosle en sus citas, haciendo de este modo un pequefio
homenaje sebastianista. En su libro EL POLITICO DON FER-
NANDO EL CATOLICOD, habla de la inconveniencia de que el rey
se ponga en peligro personalmente, porque si su presencia entire sus
soldados es como un premio para 6stos y vale por otro ejdrcito, los
daifos que pueden sobrevenir son tremendous e irreparables. De aqui el
reproche de altura y vision political de Graciin:
( Mucho daiio hicieron los dos Luises, el de Polonia y el de Hun-
gria, Y remaitd el portuguds don Sebastidn con sus Iragedias: su teme-
ridad higo sobradamente cuerdos a otros principles; ellos perdieron
sus reinos por su audacia, mas causaron que los perdiesen otros por
escarmientoD (i).


(i) Cfr. op. cit., pp. 46-7.









Justamente porque sigue exponiendo sus ideas el oficio de
rey es el mandar y no el ejecutar, y su esfera es el dosel y no la tienda;
en suma, es cabeza que debe guardar con sumo cuidado, pues por
defenderla, hasta los brutos exponen apieza a pieza todo el cuerpoD.
iQuidn podru defender el hecho de que un principle exponga vida
y reino, y honra al riesgo de una suerte despuds de tantos escarmientos,
entire ellos eel de un Sebastidn, sol que al amanecer le eclipsaron con
las lunas africanas ?i ( ).
Y he aqui ya el piropo de esa imagen radiante: don Sebastian era
un sol que hubiera iluminado a un gran reino. En otro orden de cosas.
vuelve a surgir el caso de Don Sebastian en aARTE Y AGUDEZA
DE INGENIOi, obteniendo de una decidida ocurrencia del rey un bello
ejemplo de paronomasia o juego de sentidos de un vocablo:
aRespondid el nunca bastante llorado rey don Sebastian a los
que le querian aterrar y divertir de su malogrado intent con el pro-
digio de un cometa, siempre fatales, que habia aparecido; dl, con la
rara prontitud y viveqa de ingenio que tenia, responded: aiEh, que no
lo entendeis! Que el cometa me estd diciendo que acometai (2).
Prestemos atenci6n a las dos notas de simpatia y afectos express
en este simple ejemplo de figure lingiUistica: el rey portugu6s es un
hombre anunca bastantemente lloradov, expresi6n dolorosa de autdntico
y sincero sentimiento; Graciin no era persona de ret6ricas falsas e
inttiles, ni de adulaciones, y cuando describe saca a flote la verdad pro-
funda de su alma, sin que le duelan prendas. Por eso, cuando estampa
en su obra las palabras precedentes esta haciendo una confesi6n hist6-
rica, no s6lo de sentido colectivo, o de puro historiador accidental, sino
en relaci6n con su propio y personal sentir de hombre peninsular. De
no ser asi, Gracian se hubiera ahorrado adjetivos y adverbios.
Y tal simpatia se acentta en el elogio claro de exclusive aplicaci6n
a la persona del Rey, no ya como figure hist6rica, sino como hombre, lo
cual se nos antoja much mas important y significativo para el vinculo
de cordialidad hispano-portuguesa en que estamos situando a Graciin.
El rey era, segbn el, de erara prontitud y viveza de ingenioD.
No lo dudamos, naturalmente. Pero, iquidn le obligaba o impulsaba a
Graciin para reconocerlo y proclamarlo asi, abierta y sinceramente, en
el terreno de la eternidad hist6rica y literaria que suponen sus obras ?
Muy sencillo: esa cordialidad, ese afecto, esos buenos ojos del espafiol
culto para con todos los merecimientos del portuguds.
Si esto no bastara, recordemos la rotunda afirmaci6n que en #EL
POLITICO DON FERNANDO EL CATOLICO, ya citado, hace,


(1) Cfr. op. cit., pp. 47.
(2) Cfr. op. cit,, pp. 127.









con una extraordinaria emoci6n y admiraci6n que lleva a Don Sebas-
tiin a la cumbre del elogio hist6rico, de esta forma:
c Vino a la monarquia, a cosa hecha, el porlugues Sebastidn; no
hall ya empleo connatural su generoso espiritu ; buscdlo violent, que,
a venir algunos siglos antes, el fuera otro Cesar r Lisboa otra Roma.
iOh, principle digno de mejor tiempo!s (i)
Cabe mayor entusiasmo, ni mas encendida admiraci6n y rendi-
miento ? Creemos que no, sinceramente, no. La figure del monarca
lusitano esti, mis que vista, sentida en sus singulares atributos de
dignidad, de valor y de intelecto como algo propio que cala hondo en
la sensibilidad de quien se siente orgulloso de poder hablar asi acerca
de una figure lusitana, participe, en definitive, del genio extraordinario
de la vieja Iberia.

b) CABALLEROS PORTUGUESES

Don Pablo de Parada

La presencia de lo portuguds en Gracian tiene su cuerpo de repre-
sentaci6n tambidn en una series de caballeros, seglares, militares y reli-
giosos, lusitanos que de una o otra forma surgeon brevemente alguno
con notable insistencia en la obra de nuestro autor. Iremos desta-
cando la resumida teoria sin orden alguno de preferencia, porque no
interest al caso el hacerlo.
Y empezaremos por uno a quien Gracian guard sus mayores
entusiasmos, prodigindole elogios repetidos y considerindole arque-
tipo de valor y de genio de la estrategia guerrera. Se trata del mili-
tar Don Pablo de Parada, que desarroll6 muchos anos de su actividad
professional en tierras espafiolas, sobre todo en Catalufia. Graciin lo
admiraba y sentia por l1 un hondo afecto, al extremo de acompafiarlo
en alguna de sus cdlebres y victoriosas acciones belicas, tal como la
batalla que gan6 contra los franceses en el sitio de LUrida.
Sus mdritos son apuntados calurosamente por nuestro autor, y
mejor que nuestras frias palabras, seri leer las muy calidas de Gra-
ciin, las cuales, dadas sus cualidades de severidad y rigidez moral,
adquieren un valor muy especial en una mezcla de dato rigurosamente
hist6rico con manifestaciones de amistad leal y profunda. No extrafie,
pues, el entusiasmo de las siguientes frases a aquel military dedicadas,
que constant en la citada obra aARTE Y AGUDEZA DE INGENIOD,
DISCURSO XXVIII. Dicen asi:
aAsi tambien oi ponderar algunas veces al tan juicioso como


(i) Cfr. op. cit., p. 38.









valeroso caballero portuguds, Pablo de Parada, el Cid de nuestros
tiempos, a quien se deben todas las victorias grandes de estas campa-
Ras, que si los generals ordenaron las jornadas, dl las ejecutd. El
defendi6 a Tarragona, cuando la siti6 el mis obrador frances de los
que han venido a la guerra de Cataluifa, el Mariscal de la Mota (sic).
El, en los campos de Lerida, en aquella memorable batalla, siendo
general don Felipe de Silva [acaso otro portugues; no podemos veri-
ficarlo ahora], fue el primero en el chocar y en el vencer, gobernando
el famoso tercio del senior Principe. El fue el que embisti6 con el
regimiento de la Guarda las insuperables trincheras del Conde de
Ancurt (sic), llamado el Invencible, ocup6 el primero el fuerte real y
lo conserve, contra el parecer de los mds, ddndole orden de retirarse,
suplico diciendo que mientras aquellos buenos caballeros, honrados sol-
dados y el tuiesen vida, no se perderia aquel puesto y prosiguiendo
en el vencer, higo huir al famoso Conde de Ancurt, y descerc6 a
Lerida. Todo esto, que refiero ahora, lo vi entonces, yendo a su
lado, hasta la misma trincheira enemiga. A este, pues, Marte portu-
guds, que renueva los hechos de aquellos primeros espaiioles en Italia
y Flandres, digno de aquel siglo del belicoso Carlos, le oi decir y pon-
derar: a Que son tontos todos los que lo parecen y la mitad de los que
no lo parecenD (i).
La cita es larga, pero vale la pena haberla copiado integramente,
porque lo dice todo y ahorra comentarios. No puede compulsar en este
moment documents hist6ricos relatives a aquellas guerras de Cata-
lufia a que se refiere el autor. Pero tampoco interest, ciertamente
ahora, porque no estoy haciendo investigaci6n hist6rica, sino recor-
dando lo que Graciin podia sentir hacia lo portugues. Y en este caso
nada hay que ponderar, despuds de los propios tdrminos de nuestro
autor. Si acaso, tener en cuenta que, muy naturalmente, la amistad
personal tal vez haya podido encender un poco de mis sus expressions.
De todas formas, no se le puede aplicar a un military, mas o menos
distinguido, las calificaciones de Cid y Marte, sin motivo justificado.
Cuando Graciin, cuya parquedad laudatoria conecemos, le adju-
dica atributos tales, es porque don Pablo de Parada los merecia, a
pesar de la amistad. Y, ciertamente, no desperdicia ocasi6n para rei-
terarlo. Por ejemplo, llega a dedicarle nada menos que su aCRITI-
CON, y en la dedicatoria insisted en sus elogios, con un desarrollo
sintdtico de sus acciones, desarrollo derivado a su vez de una que
pudidramos llamar premisa, muy concisamente establecida, de esta
manera:
aNaci6 con V. S. el calor en su patria, Lisboa, crecid en el


(i) Cfr. op. cit., p. 169.









Brasil entire plausibles braveras y ha campeado en Catalunia entire
cdlebres victorias (i).
El afecto al amigo y la admiraci6n al military portuguds persis-
ten en la explicaci6n de los atributos antecedentes.
Volvemos a encontrar parecida exaltaci6n de este personaje en
sus ICARTAS). En la que Ileva el numero xiv de la obra que com-
pulso, dirigida a un jesuita de Madrid, el dia 24 de Noviembre de 1646
y escrita en LUrida, cuenta la acci6n de las tropas espafiolas contra las
francesas, con la derrota de estas ultimas.
En la victoria national tuvo decisive parte la pericia y valor del
tal don Pablo Parada. Gracian lo narra de nuevo asi:
(Embistid Pablo de Prada (sic) por el lado de Villanoveta con
un tercio de la guard que liaman (de los GuaposD, y el es el hombre
mds valiente y dichoso que tiene el Rey. Es portugues, hermano del
Corregidor de Lisboa, a quien los portugueses, en sus relaciones,
llaman tel traidor Pradai, y las nuestras el mds leal y valeroso al
Rey nuestro Sehor. Asi deben llamar a quien despues de Dios Nues-
tro Senor, se le debe la victoria, y todos los dicen, r el marquis de
Legands le dijo, quando lo abrai6: aAl Seilor Pablo se lo debemos
todo.) Es como se verd...- (2).
Y a continuaci6n cuenta con detalle las peripecias de la batalla.
Y al final de la carta, reitera la adjudicaci6n del dxito a su amigo
lusitano:
a D&bese la victoria principalmente al valiente Pablo de Prada. .(3)
Como vemos por estas citas, Parada se convirti6 en Prada: no
sabemos si por lectura incorrect del manuscrito o por una simple y
hasta natural sincopa. No es problema que nos incumba ahora, ni
modifica en nada el objeto de estas lines.
Si, en cambio, merece destacarse la alusi6n de traidor con que
los portugueses motejaban a su compatriota valiente. Y no es de admi-
rar, la verdad sea dicha. Esto ocurria poco despues de la restauraci6n
de la independencia de Portugal, cuando todos los esfuerzos del pais
eran necesarios para la consolidaci6n definitive de sus anhelos como
naci6n soberana. Precisamente una buena oportunidad para ello habia
sido el levantamiento y guerra de Cataluia, con la ayuda e interven-
ci6n de los franceses. UC6mo habia de considerarse, por tanto, en
Portugal la acci6n de un gran military luso en favor de la pacificaci6n y
reducci6n de aquela tierra catalana, lo cual suponia indirectamente,
enfrentarse con las justas ansias de su patria ?


(i) Cfr. op. cit., p. 426.
(2) Cfr. op. cit., p. 931.
(3) Cfr. op. cit., p. 933.









Pero esto, no obstante, nada puede restar a los elogios encendidos
de GraciAn, puesto que incidian sobre unos actos de una persona realiza-
dos en el ejercicio de su profesi6n. Y much menos si tenemos en
cuenta que don Pablo de Parada se habia integrado en las tropas espa-
fiolas cuando aun Espafia y Portugal tenian un s6lo monarca, y el ser
military era ser del Rey, era servir al Rey autinticamente.
En la misma carta, y con iddntica ocasi6n, cita el autor al por-
tugu6s Conde de Ovasto, don Carlos de Mendoza, que muri6 en la
batalla. Fueron bastantes los portugueses que tomaron parte en aque-
llos episodios.

Alburquerque

Hablando en la tercera parte de aEL CRITICOND, CRISIS X,
de los grandes hombres de la historic, de aquillos que valen por cien-
tos y aun por miles, en su quehacer human, incluye por su grandeza
hist6rica, entire un Augusto, un Ciro, un Gran Capitin, un HernAn
Cortes, al lusitano conquistador de la India, el terrible Alburquerque.
Y con ello seguimos viendo como nuestro Graciin no olvida nunca a
los grandes portugueses, cuando de grandezas hist6ricas trata.

Conde de Portalegre

Otra figure lusitana que se cita muy ripida, pero galentamente,
en la misma obra CRISIS XII, es el Conde de Portalegre, aludiendo
a las palabras de 6ste acerca de un libro de instrucci6n que don Juan
de Vega habia escrito para su hijo. Dice Graciin:
aReal{d esta misma instruccidn, que no la comentd, mur a lo
senior y portugues, que es cuanto decir se puede, el conde de Portale-
gre en semejante ocasi6n de enviar otro hijo a la Cortes (i).
Cita fugaz, es cierto, pero sin dejar de incluir el piropo nmur a
lo senior y portugues, que es quanto decir se pueden, es decir, adjudi-
cando a la actitud portuguesa el maximo de sehiorio.
Mas adelante, en la misma CRISIS -Crisis es el nombre que
Gracian di6 a los capitulos de su aCRITICON -, donde vuelve a
aludir al Conde de Portalegre, y recomienda la lectura de cCORTE
EM ALDEIA E NOITES DE INVERNO, de Francisco Rodrigues
Lobo obra traducida al castellano por Juan Bautista Morales -,
habla de la obra de don Augustin Manuel de Vasconcellos aVIDA
DE DON JUAN EL SEGUNDO DE PORTUGALD y aprovecha
la oportunidad para incluir un gracioso elogio literario, en estos tsr-


(i) Cfr. op. cit., p. 520.









minos, valiosisimos en boca de Graciin: t...que los mtds de estos
autores portugueses tienen pimnienta en el ingenioD (i), con lo cual se
refiere sin duda, y con el tino que le es propio, a la ironia acerada de
los escritores lusos en general.

Don Diogo Lopes de Andrade

En el terreno de la Ret6rica que, como sabemos, desenvuelve
amplia y originalmente en su aAGUDEZA Y ARTE DE INGENIOD,
la admiraci6n de Graciin toca en su DISCURSO XIII nombre tam-
bien de los capitulos de esta obra- al padre agustino portugues Diogo
Lopes de Andrade, gran predicador y mis tarde Obispo de Otranto.
Lo cita varias veces, porque su admiraci6n estaba siempre pronta al
recuerdo. Hablando de la figure ret6rica que consiste en sacar al con-
trario la conformidad y semejanza de la desemejanza dice:
SVdlese para esto el ingenio de alguna circunstancia especial
para apoyo del concept. Sutilmente como siempre discurrid el con-
ceptuoso Andrada (sic), en el panegirico de San Marcos, y dijo: Que
el llamarle la Escritura ledn entire los evangelistas r pintarle con ledn,
fue para desmentir la opinion de cobardia, que algunos le prohijaron,
Y para significar el panal del Evangelio, que el Sansdn de la Iglesia,
Pedro, habia de sacar de su boca. Transforma con agradable arti-
ficio, en semejanga del ledn, la oposici6n y disimilitud que otros le
atribuyeronn (2).

Fray Felipe DieT

Otro portuguds que desfila por estas mismas piginas, DIS-
CURSO XIV, es el tambidn religioso franciscano Fr. Felipe Diez, a
quien pone de feliz ejemplo en el artificio de las paridades ret6ricas,
de esta forma:
qAun ai-adid la semejanla, o higo de ella soluci6n a un gran
reparo, aquel gran Menor fray Felipe DieT, ingeniosisimo francis-
cano, al fin portugues, Carea la Iglesia Santa a la triunfante Reina
en el dia de su Asuncidn, con las dos hermanas, Maria y Marta... (3).
Elogio de paso, mas en el que casi Ilega a asentar que basta ser
portugues para ser ingeniosisimo. No creo que tal extremosidad pudiera
nacer donde hubiera poca o ninguna simpatia.
La calidad de ingenio la aplica GraciAn constantemente a figures



(i) Cfr. op. cit., p. 835.
(2) Cfr. op. cit., p. 10o8.
(3) Cfr. op. cit., p. 113.









y escritores portugueses, como iremos viendo. Y ya que de religiosos
tratamos ahora, recordemos al Padre Sebastian de Barradas, cdlebre
jesuita llamado el Ap6stol de Portugal, hombre de una oratoria arra-
batadora y sapientisimo entire las gentes de su 6poca. Pues bien, para
Gracian era stan santo como ingeniosop, (op. cit., Disc. xxxiv, p. 196).

Condestable Nuno Alvares Pereira

Por uiltimo, en cuanto a figures hist6ricas, tenemos la cita del
santo Condestable Nuno Alvares Pereira, a quien en su CRISIS XII
de EL CRITICOND hace figurar Gracian en un lugar donde no
entran sino los varones eminentes cuyos hechos se apoyan en la Vir-
tud, porque en el vicio no cabe cosa grande ni digna de eterno aplauso.
Cuando Andrenio uno de los personajes de esta obra pergunta quid-
nos son unos caballeros que cubren sus rostros con las manos, le res-
ponden:
cAquellos son, les dijeron, no menos que el Cid espailol, el Rol-
ddn frances y el portuguds Pereiran (i).
No hay vuelta: siempre ensalzando y recordando las cosas y las
figures meritorias de Portugal.


B. Hombres de letras

Era de esperar que un escritor como Graciin guardase un lugar
de preferencia en su obra y su recuerdo para sus admirados colegas
portugueses. Y asi es. Bien que no se trate de studios particulars
sobre aqudllos, porque sus escritos no se proponen tal objective. Pero
si de una presencia ejemplar de la que nuestro autor echa mano cuando
llega el caso. Pudiera muy bien hacerlo, y lo hace tambidn, en efecto,
con escritores de su propia lengua en la que, desde luego, le sobran
ejemplos -; sin embargo, acude a menudo a los lusitanos, por esa
gracia especial de ingenio que en ellos encontraba, y movido ademais
por la admiraci6n y la simpatia que voy poniendo de relieve en estas
menguadas piginas.
El lugar adecuado para los ejemplos y citas de que me ocupo no
podia ser otro que la tantas veces citada obra aAGUDEZA Y ARTE
DE INGENIO que, como asimismo hemos dicho, constitute una
Ret6rica del Conceptismo. Y es en sus exposiciones donde aparecen.
las citas que interesan. Veimoslas, por tanto, con el detalle requerido,
sin preocuparnos del orden cronol6gico, indiferente para el caso.


(i) Cfr. op. cit., p. 839.









Don Diogo Bradan (sic)


Topamos en primer lugar con Diogo Brandan [Brand.o, en por-
tuguis], cuando Gracian estudia y expone lo que sea y contiene la
paradoja. Y dice:
(Son estos concepts unos agudisimos sofismas para declarar
con una extravagant exageracidn el sentimiento del alma. Tal fue
6ste de Diego Brandan, entire los antiguos portugueses:

Pois tanto gosto levaes,
Corn minha morte sabida,
Pera me matardes mais
Me deves dar esta vida.D (i)

Hemos de advertir que trataremos de transcribir los versos por-
tugueses con la ortografia lusa actual, a fin de facilitar la lectura y
comprensi6n sobre todo para lectures espafioles. La transcripci6n que
da GraciAn en su obra- al menos en la edici6n que manejo-presenta
muchas incorrecciones, que saltan a la vista de cualquier portugues
medianamente culto. En algunos casos, se trata de formas arcaicas:
otras veces, nacen seguramente de haberlas tornado Graciin al oido, o
citadas de memorial. Creo que lo mis prActico, pues, es actualizarlas,
ya que no se trata de una edici6n critical.

Sd de Miranda

Este celebre poeta aparece citado varias veces, como no podia
dejar de ser. No en vano es uno de los introductores de la mitrica
italiana y renacentista en la Poesia portuguesa. Dice Gracian que en
su obra van citados los varones eminentes en la agudeza, a prueba de
sus concepts ejemplares; pero se lamenta de que faltan algunos, por
no haberlos podido 9Kalcanjar a las manos, como el sentencioso e inge-
nioso portugues Sd, aquli que dijo...

Nosso prdprio entendimento
Ndo no lo querem deixarD (2).

En su CARTA XV, del 22 de Diciembre de 1646, describe a un
amigo rogdndole, entire otras cosas, que le traiga cra un tal Sd, portu-


(1) Cfr. op. cit., p. 149.
(2) Cfr. op. cit., p. 2)0.









guds poeta que es tan bueno que me dice lo tenia siempre abierto el
Conde-Duque...: es un portuguds en quintillas e redondillas... (i).
Se refiere, claro esta, a algon libro portico de Si de Miranda,
ya famoso hacia tiempo en aquella altura, en la Corte de Madrid.


Jorge de Montemayor o Montemor.

Uno de los escritores mis citados es el lusitano Jorge de Monte-
mor, que figure con el apellido castellanizado de Montemayor. Es author
que escrib6 much en castellano, empezando por su celebre novela pas-
toril ((LA DIANAx). Es object de repetido elogio en las piginas de
Graciin, el cual se aprovecha muy a menudo de ejemplos suyos.
He aqui los principles:
En el muy citado aARTE Y AGUDEZA DE INGENIOD habla
de la contraposici6n como figure ret6rica, y dice:
(Convirtid el content en pesar, con ingeniosa ponderacidn, el
raro asi en concept como en el afecto, Jorge de Montemayor. Era
portuguds, y dijo:

No me diste, ioh crudo amor!,
El bien, que tuve en presencia,
Sino, porque mal de ausencia,
Me pareciese mayor.

Explic6 uno con el equivoco la contraposici6n, convirtiendo en
risa un afectado llanto, r dijo: (Rio de las ldgrim'as que Iloro.
Debajo la palabra Rio exprimd a dos luces, que era tanto su Ilanto,
que se podia hacer un rio, r que era tan poco el sentimiento, que era
risa (2).
Mas adelante ilustra el conocido argument llamado a minori ad
majus, con otro ejemplo de aqruel poeta diciendo:
(
No te duelan mis enojos,
Vete, Sireno a embarcar,
Pasa de presto la mar,
Pues que por la de mis 'j'os,.
Tan presto puedes pasarD (3).



(i) Cfr. op. cit., p. 935.,
(2) Cfr. op. cit., p. 124.
(3) Cfr. op. cit., p. 204.

65
5.









Siguiendo el mismo tema de la contradici6n explica como se puede
comentar duplicando tambien la raz6n, y afiade: aAsi dejd el tan
ingenioso como afectuoso, Jorge de Montemayor:

jPor qud te escondes de mi,
Piues conoces claramente,
Que estoy, cuando estoy present,
Muy mds ausente de ti ?
Cuanto a mi, por suspenderme
Estando donde ti' estds;
Cuanto a ti, porque me ves,
Y estds muY lejos de vermeD (i).

Y en seguida: a Colma de ornato y de aprecio esta conceptuosa
sutilega, aquel extremado soneto de Montemayor:

En ese claro sol, que resplandece
En esa perfecci6n sobre natural,
En esa alma gentil, esa figure,
Que alegra nuestra edad y la enriquece,

Hay luT que ciega, rostro que enmudece,
Pequefia, piedad. gran hermosura,
Palabras blandas, condici6n muy dura,
Mirar que alegra y vista que entristece.

Por eso estoy, pastora, retirado,
Por eso temo ver lo que deseo,
Por eso paso el tiempo en contemplarte.

i Extraiio caso, efecto no pensado !
iQue vea el el mayor bien cuando te veo
Y tema el mayor mal yendo a mirarte! (2)

Transcribimos estos ejemplos por entero, porque realmente vale
la pena dejarlos archivados en las presents lines, por su belleza y
por su misma ejemplaridad.
Entre las que Graciiri llama dubitaciones, acude tambien a un
ejemplo del poeta portuguid para mostrar c6mo aquillas se ponderan



S-; .: 66 2 .









en el object y consistent en el mismo discurrir, lo cual dice arguye
mayor sutileza. Y afiade:
eDe esta suerte Jorge de Montemayor introduce uno, que no
acierta a determinarse:

Volved, sehora, los ojos,
Que en el mundo no hay su par,
Mas no los volvais airados,
Si no me quereis matar,
Aunque de una y otra suerte
Matais con sdlo mirar.J) (i).

Y tratando a continuaci6n de la figure llamada prevencidn, con-
traria a la reflexi6n, de nuevo acude a Montemayor con el siguiente
ejemplo de 6ste:

aNo quiero decir celosa,
Que desto la desengaila
Teneres por tan hermosa))J.).

Explica luego, en el DISCURSO L, que las ponderaciones de
imposibles son semejantes a las contradiciones, porque, aunque incluyen
repugnancia, expresan los afectos con gran sutileza:
aEra extremado en esto Jorge de Montemayor :

Regalara yo la vida,
Para dar fin al cuidado,
Si a mi me fuera otorgado
Perderla en siendo perdida.D (3).

Y, en fin, acaba por citar un ejemplo del mismo poeta al explicar
la amplificacidn de lo que va ponderando en el discurso, en el cual,
teniendo por comtin lo mediator, se pasa a lo sumo. E terminal asi:
a Conceptuosamente, como siempre, Jorge de Montemayor:

Y por no caer en mengua,
Si le estorba la pasi6n,
Acento o pronunciaci6n,
Lo que empeyaba la lengua
Lo acababa el coraTdn.)) (4).


(1) Cfr. op. cit., p. 224.
(2) Cfr. op. cit., p. 225.
(3) Cfr. op. cit., p. 241.
(4) Cfr. op. cit., p. 240.









Gregorio Silvestre


En el DISCURSO XXVHIIrecogemos la cita de Gregorio Silves-
tre, otro poeta portugues que versific6 en castellano. Y Io hace al hablar
de los concepts satiricos y sentenciosos. He aqui sus palabras textuales :
S... .la rara observacidn y calificacidn juiciosa es lo que preva-
lece en ellos. Todas campean en este epigrama del antiguo Silvestre,
ingenioso portugues, trasplantado a Granada:

iQue lejos estd un necio de entenderse!
i Qud cerca un majadero de enojarse!
iQud pesado es un torpe en atajarse
Y qu6 liviano un simple de correrse!

El uno, es impossible conocerse;
El otro no hay querer desengai~arse,
Y asi no puede el necio adelgagarse,
Que todo es para mds entorpecerse.

Al fin se han de tratar con presupuesto,
Que son en defender su desatino
Mas afios y mds tiesos que un villano.

Mas si el mnds sabio de ellos es un cesto,
Y no hay poder meterlos en camino,
Dejarlos por quien son es lo mds sano) (i).

Buen ejemplo, sin duda, de epigrama satirico, perfumado por la
fina y sutil ironia de la lusa psicologia. Como dice nuestro author, de
un relevant juicio nace una aguda y extraordinaria censura.

Cam6es

Para terminar este apartado, merece pirrafo especial la figure
genial del vate lusitano por antonomasia y excelencia. Tanto por su
caiidad supreme como por el lugar destacadisimo que tiene en la obra
de Graciin, si bien lo uno es causa direct e imediata de 1o otro.
Graciin hace alusi6n repetidisima del poeta inmortal. Lo admira
con tal intensidad, esti tan penetrado de su poesia, demuestra haberla
leido con tanto cuidado, atenci6n e interns, que son abundantes las
explicaciones de figures ret6ricas por medio de ejemplos contundentes
v bellos del portuguds asombroso.
Se comprenderA fAcilmente semejante admiraci6n si decimos que lo

(i) Cfr. op. cit., p. 173.









cita como modelo a lo largo de su obra, nada menos de dieciseis veces.
Vamos a ver en seguida estas citas, con sus elogios correspondientes.
Ya en el Pr6logo del conocido eAGUDEZA Y ARTE DE INGE-
NIO advierte al lector lo siguiente: a Tomd los ejemplos de la lengua
en que los hall, que si la latina blasona al relevant Floro, tambidn
la italiana, al valiente Tasso: la espaiola, al culto Gdngora, y la
portuguesa, al afectuoso Camoens (sic) ().
De donde ya deducimos que Cam6es es para 1-y todos esta-
mos de acuerdo, naturalmente -- el representante eximio de lengua po&-
tica lusitana, que, en efecto, tanto debe al autor de aOS LUSIADASD.
Por otro lado, podemos anotar ya que el poeta es afectuoso, atributo
que si, en general, se puede aplicar a la mayoria de los liricos portu-
gueses, porque lo da la misma lengua en si, a Cam6es le conviene muy
especialmente.

En el DISCURSO I y notemos c6mo es Cam6es quien abre
la obra trata de aclarar el autor la calidad de toda agudeza concep-
tual y dice:
< Tiene cada potencia un rey entire sus actos: y un otro entire sus
objetos: entire los de la mente, reina el concept, triunfa la agude{a.
Gran pensamiento este, que, por serlo tanto, se crey6 del Camoens:

Horas breves de mi contentamiento,
Nunca pensd jamds, cuando os tenia,
Que, por mi mal, trocadas os veria,
En tan cumplidas horas de tormento

Las torres que fund se llev6 el viento,
Como el viento velo\ las sostenia:
Mas de todo este mal la culpa es mia,
Pues hice sobre falso el fundamento.

Amor, con vanas nuestras aparece,
Todo lo hace llano y lo asegura,
Y luego, a lo mejor, desaparece.

; Oh grande mali/ Oh, grande desventura!
Per un pequefio bien que desfallece,
Aventurar un bien que siempre dura.D (2).

El soneto es, desde luego, estupendo, de concept y de forma.
Y por ser tan bueno y de gran pensamiento, dice el autor, se creyd de


(i) Cfr. op. cit., pp. 59-60.
(2) Cfr. op. cit., pp. 61-62.









Camaes. Apareci6 publicado en la edici6n de 1896 de *FLORES DE
POETAS ILUSTRES, de Pedro Espinosa, hecha en Sevilla por
Rodriguez Maria.
Luego se confirm, por algun tiempo, que el soneto era en ver-
dad de Cam6es. Aun hoy mismo el editor de las OBRAS COMPLE-
TAS de Gracian, Prf. Correa Calder6n, lo da como camoniano (6).
Sin embargo, la critical portuguesa actual no lo admite asi. Al menos,
no figure en la ultima edici6n de las OBRAS COMPLETAS DE
Cam6es, realizada por el Prof. Hernani Cidade (7), como esti deshe-
chado por el ponderado critic e historiador de la Literatura Portu-
guesa, Prof. Costa Pimpdo en su edici6n de las obras el vate lusi-
tano (8). De todas formas, en este caso y en relaci6n con Graciin,
tendriamos que aplicar aquello de use non e vero, 6 bene trovato).
En el DISCURSO IV trata nuestro autor de correlaciones, y en
un moment de su explicaci6n dice:
Los efectos del vano y ciego amor proporcion6 correlativamente
al inmortal Camoens:

Venceu-me amor, ndo o nego,
Tern mais fora, que eu assa ;
Que como i cego e rapa,
Da-me porrada de cego.

Corresponde el efecto a la causa; el golpe al amor ciego. (9).
Un poco mis adelante, y dentro ain del tema de las correlacio-
ties, se ocupa el autor de las proporciones agradables conceptuosas, que
son -dice hermosura del ingenio. Y en seguida afiade :
Con este genero de concept concluye el cdlebre Luis de Camoens
aquel soneto, apreciado por rey de los demds:

Alma mninha gentil, que te partiste,
Tdo cedo desta vida descontente:
Reposa Id no ceo eternamente,
E viva eu cd na terra sempre triste:

Se Id no asento Etireo, onde subiste,
Memoria desta vida se consent;
Ndo te esquecas de aquelle amor ardente,
Que jd nos olhos meus tdo puro viste.


(6) Cfr. op. cit., p. 62, nota i.
(7) Cfr. Obras Completas de Camnes Colec. Clasicos Sa da Costa, vol. i,
Redondilhas e Sonetos -Lisboa, 1946.
(8) Cfr. Cam6es Rimas, Autos e Cartas, Edig. Artistic Barcelos, 1944.
(9) Cfr. op. cit., p. 71.









E se vires que pode merecer-te,
Alguma cousa a dor que me ficou,
Da mdgoa sem remedio de perder-te:

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tdo cedo de cd me leve a ver-te,
Quam cedo de meus olhos te levouD (i).

Ya sabemos todos cuinta tinta corri6 en alabanzas de este mara-
villoso soneto. Ni es nuestro objeto, ni nos toca hablar ahora de ello.
Nos contentamos con sefialar el acierto de Gracian en la selecci6n de
versos que va utilizando como ejemplos estupendcs de su exposici6n.
En los que anteceden se v6 bien lo que hemos dicho antes acerca de la
atinada pluma de Gracian en relaci6n con Cam6es.

Pero sigamos, que hay much mas. Y le Ilega el turno ahora a
la desproporcidn. No puede faltar en ello la intervenci6n de Cam6es,
como model. Dice Gracian, en el mismo DISCURSO:
((La mis agradable y artificiosa es quando dicen entire si con-
trariedad los extremes de la desproporcidn. Ponderd de esta suerte
la ha~afiosa muerte de Lucrecia el Camoens:

Aquella, que de pura castidade,
De si mesma tomou cruel vinganca:
Por uma breve e stibita mudanca
Contrdria d sua honra e cualidade.

Venceu d fermosura, a honestidade,
Venceu no fim da vida a esperanca,
Porque ficasse viva tal lembranca,
Tal amor, tal fee, tanta verdade.

De si, da gente e do mundo esquecida
Feriu cum duro ferro o brando peito,
Banhando em sangue o forcado tirano.

jEstranha ousadia, estranho feito!
Que dando morte breve ao corpo human,
Tenha su mem6ria larga vida.D (2)


(i) 'Cfr. op. cit., p. 73.
(2) Cfr. Op. cit., p. 77.









La version de este soneto no es correct, o Cam6es habria escrito
un verso mal medido lo cual nos parece inconcebible. Asi este verso:
Tal amor, tal fee, tanta verdadeD. Segin la citada edici6n del Prof. Her-
nani Cidade hay que corregirlo asi:

Tal amor, tanta f6, tanta verdade.

Pero, en fin, no hemos hecho mis que transcribir a Gracian.
Cuando en el DISCURSO VI trata de las ponderaciones misteriosas
en la poesia, encontramos la referencia del poeta portugues, de esta
forma:
aPuddese ir adelantando el misterio y ponderando las circuns-
tancias de dl ddndole una y otro salida con aumento de sutile[a,
como se ve en este bien digno soneto del conceptuoso Camoens:

Como fiestes Porcia tal ferida ?
Foi voluntdria ou foi por innocdncia ?
Mas foi por faler uma experidncia
Se podia sofrer, tirar-me vida.

E corn teu proprio sangue te convida,
A ndo pores d vida resistdncia ?
Ando-me acostumando d pacidncia,
Porque o temor a morte ndo impida.

Pois porque comes logo fogo ardente
Se a ferro te acostumas? Porque ordena
Amor, que morra e pene juntamente.

E tens o dor do ferro por pequena ?
Si, que a d6r costumada ndo se senate,
E eu ndo quero a morte sem a penaD (3).

Lindo soneto tambidn, pero que require una lectura detenida
para un lector espafiol, si ha de querer sacarle todo su interesante jugo.
El DISCURSO XXII de la citada obra se ocupa de las pondera-
ciones juiciosas, critics y sentenciosas por exageraci6n. Y en l arranca
Gracian de los ejemplos camonianos diciendo que:
aAsi como el ingenio en los grandes objetos no satisface, sino
con un relevant encarecimiento, asi en la voluntad suele ser tanta la
intenci6n del afecto, que no se satisface con menos que con una exage-


Cfr. op. cit., p. 83.









rada ponderacidn. Tuvo eminencia en ellas el inmortal Camoens,
pero dste ha sido el blanco de sus aplausos. Este soneto a Jacob, mds
enamorado cuanto mds egaiado:

Sete anos de pastor Jacob servia
Labaon, pai de Rachel, serrana bela;
Mas ndo servia ao pai, servia a ela,
Que ela sd por prdmio pretendia.

Os dias na esperanca dum sd dia
Pasava contentando-se com vela;
Pordm, o pai usando de cautela,
Em lugar de Rachel, Ihe dava Lia.

Vendo o triste pastor que corn enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como si ndo tivera merecida,

Comenca de servir outros sete anos,
Digendo: Mais servira, se ndo fora
Pera tdo lon go amor, tdo curta a vida!

Fue extremado en estos encarecimientos este gran poeta. En la
primera estencia de su primera cancidn, dijo:

De meu ndo quero mais que meu desejo,
Nem mais de vos, que ver tdo lindo gesto,
Ali me manifesto
Por vosso ao ceo, ao mundo, ali me inflamo:
Nas Idgrimas que choro
E de mim que vos amo,
Em ver que soube amarvos me namoro,
E fico por mim sd perdido de arte,
Que hei ciumes de mirm por vossa parte, (r).

Larga cita, tan bien escogida por Gracian, que transcribimos inte-
gra, como siempre, para que el lector pueda hacerse idea clara de can-
tidad y calidad de obra portuguesa que estA contenida en los escritos
de nuestro autor.
Sigue nueva alusi6n camoniana en el DISCURSO XXIV, que
trata de propuestas extravagantes y paradojas que de ellas nacen. En


(i) Cfr. op. cit., p. 141.









una de sus explicaciones dice Graciin: a Con este modo de sutileja
suele concluir y pefeccionar el grave y sutil Camoens sus sonetos,
como este:
Assim que a vida, e alma, e esperanca,

E tudo quanto tenho, tudo, d vosso,
E o proveito disto eu s6 o levo;

Porque d tamanha befiaventuranca,
0 dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que quanto mais os pago mais os devo (,).

Estos verses que encierran, en verdad, tanta paradoja, son los
dos tercetos de un soneto de Cam6es, que Graciin no transcribe por
entero, pero de los cuales voy a hacer gracia al lector, que no perdera
nada, sino al contrario, en conocerlos. He aqui los dos cuartetos, segun
la edici6n citada del Prof. Hernani Cidade:

Quern ve, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se naio perder a vista s6 corn ve-los,
JA nio paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preqo honest:
Mas eu, por de vantage merece-los,
Dei mais a vida e alma por quere-los,
Donde ji me nao fica mais de resto.

En el DISCURSO XXVI, al explicar el concept de agudeza
critical y maliciosa vuelve a actdir al 6pico portugues en el siguiente
pirrafo:
nPuddese maliciar a dos vertientes, equivocando la intencidn, y
ddblase entonces la sutilela, porque se fingen dos motives, ingenioso
cada uno. A una dama, que estaba reiando, dijo asi el Camoens:

Rudgoos que me digais
Las oraciones que regasteis,
Si son por los que matasteis,
Si por vos, que asi matais;
Que j cuil serd la oraci6n,
Que sea satisfaccidn,


(i) Cfr. op. cit., p. i5o.









Sefiora, de tantas vidas ?
Si decis que encomendando
Los que matasteis estais,
Si rejais, l por qud matais?,
g Para qud matais regando ?, (i)

Curioso juego de palabras que revela much sutileza de entendi-
miento, en efecto. Lo que ocurre es que ignoramos si pertenece o no
a Cam6es. La citada modern edici6n de sus obras completes en
la Colecci6n de Clasicos Sa da Costa no incluye esta poesia, y como
Graciin en su obra no indica la procedencia, no nos es possible hacer
una compulsa de textos. Seguramente se tratari de una de tantas como
le fueron atribuidas, con mayor o menor fundamento.
En el DISCURSO XXXV, se ocupa Graciin de la ponderaci6n
satirica, y una vez mas acude, entire otros, a Cam6es diciendo:
a Con este gdnero de concepts, pueden alternarse artificiosa-
mente las ingeniosas cuestiones, que con la invencidn y con la suspen-
si6n entretienen much el ingenio. Vese en este soneto del Camoens:

Num jardim adornado de verdura,
Ao que esmaltdo por cima vdrias flores,
Entrou urn dia a Deusa dos amores,
Corn a Deusa da caca e da espesura.

Diana tomou logo uma rosa pura,
Vdnus, um roxo lirio dos melhores,
Mas excediam muyto as outras flores
As violas da graca e fermosura.

Perguntdo a Cupido que ali estava,
Qual de aquelas trds flores tomaria,
Por mais suave, pura e mais ferniosa?

Sorrindo-se o menino que tomava:
a Todas fermosas sdo, mas eu queria,
Viola antes que lirio nem que rosaD (2).

Hay que hacer una observaci6n acerca de la transcripci6n que
precede, para evitar confusiones al lector espafiol. En el segundo
verso del segundo cuarteto copia Gracian- o sus editores- la palabra


(i) Cfr. op. cit. pp. 157-8.
(2) Cir. op. cit., p. 2or.









rojo, del portuguds original roxo. Pues bien, no se puede copiar asi,
porque ello daria lugar a una traducci6n incorreta: cualquier espafiol
al leer rojo, traduciri eso mismo, equivalent a encarnado; pero roxo
en portugues equivale a morado, violeta o violado.
En el DISCURSO siguiente se habla de las paridades en los con-
ceptos. Y Graciin expone en determinado moment que:

%De la paridad de un efecto se arguye con correspondencia otro,
y de cualquier circunstancia otra igual. De esta suerte conclude el
el sutilisimo Camoens un soneto:

Que de tanta estranhela sois ao mundo,
Que ndo d de estranhar, Dama excelente,
Que quem vos fid fiesse cdu e estrelas. (i)

Versos que forman el ultimo terceto del seguiente soneto, que
tambidn vamos a copiar a continuaci6n. Es 6ste:

Quando da bela vista e doce riso
Tomando estao meus olhos mantimento,
Tdo enlevado sinto o pensamento,
Que me faz ver na terra o Paraiso.
Tanto de bern human estou diviso,
Que qualquer outro bem julgo por vento;
Assi, que em tal caso, segundo sento,
Assaz de pouco faz quem perde o siso.
Em louvar-vos, Senhora, nao me fundo,
Porque quem vossas cousas claro senate,
Sentiria que nao pode merecd-las ;
Que de tanta estranheza sois ao mundo,
Que nao e de estranhar, Dama, excelente,
Que quern vos fez fizesse ceu e estrelas.

Mis tarde en el DISCURSO XXXVII tratando de otros
arguments de concepts o conceptuosos dice:
a... entire dos opuestos efectos e circunstancias de un mismo
sujeto, se forma el argument conceptuoso. De esta suerte, el Camoens:

Porque poco aprovecha, linda dama,
Que sembrase el amor en vos amores,
Si vuestra condicidn produce abrojos.b (2).


(1) Cfr. op. cit., p. 205.
(2) Cfr. op. cit., pp. 206-7.









Es un terceto de un soneto castellano, que tampoco esti admitido
como de Cam6es por la critical contemporinea portuguesa.
Sin salir del mismo DISCURSO encontramos acn nueva cita del
poeta luso, de esta forma:
De las causes a los efectos, y al contrarto, se toma ingeniosa-
mente el argument y se forma la primorosa correspondencia. El
siempre agudo Camoens:

Apartara-se Nise de Montano,
Em cuja alma, partindo-se, ficava;
Que o pastor na memoria a debuxava,
Por poder sustentar-se diste engano.
Pelas praias do Indico Oceano
Sobre o curvo cajado se encostava,
E os olhos pelas dguas alongava,
Que pouco se doiam de seu dano.
aPois corn tamanha mdgoa e saildade
(D3Eia) quis deixarme a que eu.adoro,
Por testemunhas tomo edu e estrelas.
Mas se em v6s, ondas, mora piedade,
Levai tambdm as Idgrimas que choro,
Pois assi me levais a causa delas.s (i).

Y en otro pirrafo dice :
aEsto de las circunstancias es un modo de argumentar muy
justo. Sea ejemplo este gran concept de Camoens, en que de los
adyacentes saca la ingeniosa consecuencia:

Mi coraidn me han robado,
Y Amor, vivendo mis enojos,
Me dijo: Fuete llevado
Por los mas hermosos ojos,
Que desque vivo he mirado.
Gracias soberanas tales
Te los tienen en prisidnD;
Y si Amor tiene ra\dn,
Sehtora, por las sefiales,
Vos teneis mi coraT6n.P (2)

Encantadores versos, realmente; pero, que si hemos de admittir la
critical, tampoco, al parecer, pertenecen a Cam6es. Es lIstima, si asi es.


(i) Vid. op. cit., p. 208.
(a) Vid. op cit., p. 207.









Siguen las citas en el DISCURSO XLIV, donde se habla de
excepciones y contradicciones como figures ret6ricas, y se dice:
aAfiadi6 a la excepcidn una extremada contradiccidn y encare-
cimiento el Camoens:

Saetas trae en los ojos, con que tira;
iOh, pastores!, huid, que a todos mata,
Si no es a mi, que de matarme vivo.p (i)

Terceto de uno de esos sonetos que durante much tiempo fue
tenido por camoniano, y que hoy no se admite como tal. Naturalmente,
ello nada quita a la admiraci6n camonista de Gracian.
En el DISCURSO LXVIII se refiere nuestro author aragonds a la
imitaci6n entire los escritores, y en cierto moment dice:
uSuele faltarle de eminencia a la imitacid,, lo que alcanpa de
facilidad: no ha de pasar los limits del seguir, que seria latrocinio.
Asi el celebrado Camoens imita, que no roba, al gran Virgilio en su
SLusiadaD, describiendo la muerte de donia Inds de Castro.> (2)
Con esto se acaban las citas y ejemplos que Gracian toma de
Cam6es en su curiosa ret6rica. Pero no queda ahi la cosa, sino que
en su aCRITICON), segunda parte, CRISIS IV, habla del nicho de la
poesia, con alusiones a los mis grandes poetas universales. Y es gra-
cioso ver c6mo se refiere a Cam6es con un juego de palabras de
gran abolengo en la tradici6n latina medieval pero que hoy nos hace
sonreir por su dejo de puerilidad, en esta forma:
Tafid con indecible melodia unas folias a una lira conceptuosa,
que todos celebraron much y con raidn:
Bdstele, dijo, ser plectro portuguds, tiernamente regalado, que
il mismo se estd diciendo: No es curioso, sobre todo en una pluma de tanta gravedad ?
He aqui, en cuanto antecede, la suma y compendio de lo que de
Cam6es esti como incrustado en Gracian. Aunque esto no sea mas que
una nota informative, tiene interns bastante para haberla hecho objeto
del present trabajo. No deja de ser, de algtin modo, un caluroso
homenaje de Gracian rendido a la categoria y valor artisticos de Cam6es.
Lo menos que podemos admitir es que lo conoce perfectamente en su
calidad estitica, lo difunde en sus escritos, y lo admira sincera e inten-
samente en sus juicios.
Si quisieramos cerciorarnos ain mis de tan proclamada admira-


(1) Vid. op. cit., p. 225.
(2) Vid. op. cit., p. 290.
(3) Vid. op. cit., p. 589.




ci6n, podriamos reunir, como uma curiosidad estadistica, los calificati-
vos que le dedica a lo largo de las citas que atris quedan escritas.
Y helos aqui, por orden de las mismas citas:
Afectuoso inmortal (tres veces) cdlebre conceptuoso (en el
sentido de inteligente) extremado gran poeta grave y sutil -
ingenioso sutilisimo siempre agudo, celebrado plectro portu-
gues tiernamente regalado... Z Quidn le dedic6 a Cam6es tanto
piropos en tan corto espacio ?


C. Otros aspects portugueses

Podemos sefialar por iltimo, algunas notas mis, ligeras referen-
cias o sentidos elogios, a otros diferentes aspects, que complete la
obra de Gracidn.
Por ejemplo, la inevitable cuesti6n del amor, en la cual casi
nunca deja de aparecer algtn hombre portugues, cuando menos. En
este caso habla Graciin en su tan repetidamente citado ARTE DE
INGENIO DISCURSO LVI- del encarecimiento que puede llegar
a ser sutileza en determinadas circunstancias, y en seguida ejemplifica:
seguia una carroga una tarde de diciembre, y asegurando que 6l se
ardia, dijole una menina se arrojase luego en el estanque grande del
Retiro, que estava alli cerca; respondi6 el ingenioso: aSefora, aun
es pequeiion, adelantado la exageracidn>. (i).
Palabras que encierra un double contenido para lo portugues : de
un lado, la repetici6n del eterno t6pico del luso enamorado, que se
derrite de amor, que arde, porque su amor es ardiente. Y de otro, la
caridad de ingenioso que una vez mas atribuye al hombre portugues.
Y no diremos que Gracian se hurta de insistir en el elogio.
En otro moment de xEL CRITICOND, cuando nuestro author se
ocupa de narrar y describir lo que atafie al tipo del confiado, ecf6rico
y amoroso, dice:
sEstaba uno muy content, porque en todo hallaba hermosura,
parecidndole que veia dngeles: dste dijeron que era o portuguds o nieto
de Macias.) (2).
Es decir, hombre de amor y de gran coraz6n, como lo fue el cele-
bre Macias el Enamorado, trovador gallego del siglo xiv, cuyos desgra-
ciados amgres por los cuales muri6 violentamente hicieron de 1l el
arquetipo del hombre enahiorado,- al men6s' en el mundo de laLitera-


(i) Vid. op; cit,. p. a29.
(a) 'Vid. op. cit,, p. 475.









tura. Ya es bastante decir, por tanto, eso de unir en un mismo con-
cepto al hombre portugu6s con el tronco del liorado Macias.
Gracidn estaba, sin duda, absolutamente convencido de que los
portugueses son ingemosos en grado sumo, y todos ellos, ademis. Ya
hemos visto antes que, para 61, bastaba ser portuguds para ser inge-
nioso e inteligente. Insiste en ello varias veces, tambidn lo hemos
visto. Pero no deja todavia de hacerlo.
Asi en la segunda parte del dicho (CRITICOND-CRISIS XXX,
encontramos un sabroso diAlogo en el que comenta, ir6nicamente, c6mo
la sociedad ataca de una u otro forma a los que valen algo, difamAn-
dolos y achacAndoies atributos calumniosos. En vista do lo cual, se
dispersan... y entonces, aqui, pregunta Andrenio-uno de los inter-
locutores -:
S- Y ddnde van a parar tantos buenos?
-Ddnde? Los valientes a Extremadura y la Mancha, los bue-
nos ingenios a Portugal, los cuerdos a Arag6n, los hombres de bien a
Castilla... > etc. (i)
Corroboraci6n de la insistencia gracianesca acerca del ingenio
lusitano.
Sin embargo, reconocienso el valor .autdntico de lo portuguds en
muy variados 6rdenes de la vida, les tiene por presuntuosos y exagera-
dos de sus propios y autdnticos mdritos. Veamos con detalle, aunque
la cita se algo larga de mis, pero curiosa en extreme, lo que dice a tal
respect en la citada obra, CRISIS VIII. Sigue el coloquio simb61lico-
-filos6fico entire los personajes de la misma, y en un determinado
moment el protagonista Andrenio pregunta acerca ce un desvin ideal
que alli figure, a lo que le responded :
( Aqudl, respondi6 el Fantdstico, es el de los primeros hombres
del mundo, de los que ocupan la coronilla de Europa [Portugal] y aun
la coronan, y por esto tan altivos, que realmente tiene valor, pero se
lo presumen; saben, pero se escuchan; obran, pero blasonan.
-i Oh, qud capal me parecid!, decia Critilo.
Si, el mis hueco, porque es un agregado de todos los otros.
Haced cuenta que estuvisteis a las mismas puerlas de la plausible
Lisboa.
Si, si, exclamaron: el desvdn de los fidalgos portugueses.
Cierto que serian famosos, si no fuesen fumosos. Pero responded
ellos que no puede dejar de haber much humor donde hay mucho
fuego. Lldmanles sebosos vulgarmente, pero ellos dchanlo a crueles
en sus memorables batallas. Tomaron much de su fundador Ulises,
con que no se topa jamds portugues ni bobo ni cobarde.


(1) Vid. op. cit., p. 673.


8o









P'same que no entraseis alld, dijo el Holgdn; porque hubie-
radeis visto extremados pasajes de fantasia, que, como en otras parties
se fijd el anon plus ultraD del valor, aqui el de la presunci6n. Alli
hubidrais topado hidalguias de ea par de DeusD, solares de antes de
Addn, enamorados perennales, poetas atronados, aunque ninguno atur-
dido, mzisicos de i quitad alli, dngeles !., ingenios prodigiosos sin
rastro de juicio. Y en una palabra, cuando las demds naciones de
Espania, aun los mismos castellanos, alaban sus cosas con algzn recelo,
por excelentes que sean, yendo con tiento en celebrarlas: aEsto vale
algo; es asi, asi; parece buenon, los portugueses alaban sus cosas a
toda hipdrbole, a superlativa satisfaccidn: a Cosa famosa, cosa grande,
la primera del mundo! i No se hallard otra como ella en todo el orbe,
que eso de Castela es poca cosa !i (i).
Como se ve, aunque con las tipicas severidad y franqueza arago-
nesas ponga los puntos sobre las ies en lo que 61 estima debe hacerlo
- y es una opinion personalisima, claro esti nunca deja de consig-
nar palabras que manifiesten su tambidn sincera admiraci6n y recono-
cimiento de cuinto valioso ve 61 en Portugal y en los portugueses.
Estos podrin aceptar aqullos que sean capaz de una serena intros-
pecci6n -cuinto puede haber de verdad en las afirmaciones de Gra-
cian. Por nuestra parte, si bien admitamos que algo hay, en efecto,
tambidn queremos consignar que la exageraci6n, la presunci6n y la
hipdibole es asimismo bien tipica de otros paeblos peninsulares, que
no son precisamente los de la faja occidental de esta vieja Iberia.
Aun en los moments mis desagradables, o que tal pudieran
serlo, para un espafiol de la segunda mitad del siglo xvi, poco des-
pues de 1640, estu es, tras la restauraci6n de la independencia de Por-
tugal, reconoce Gracian con toda justicia el valor, el apego a la tierra
y el amor a la libertad de los portugueses. Podemos comprobarlo en
la carta que, desde Madrid, describe a un tal Don Francisco Andres de
Uztarroz, ei dia 27 de Julio de 1641, ocho meses y pico despues del
grito de restauraci6n lusitano ya conseguido. Dice asi en el pirrafo
que nos interessa:
a... Partieron los nuestros a Elvas, pensando que estaria des-
cuidada, y porque vino de alld socorro. Aqui fue tal la resistencia
y tal el echarse en tierra los nuestros, que no se hijo cosa. Este es el
principio de la guerra de Portugal (2).
Su calidad de espafiol no le empafia la vista, ni much menos su
inteligencia y coraz6n para ver, sentir y contar las cosas tal como son,
por much que le hubiera agradado que todo aconteciese muy de otra


(i) Vid. op. cit., p. 778.
(2) Cfr, op. cit., p. 922.









manera. Pero el hombre de alma grande y de recto juicio es siem-
pre asi.

Y demos fin a este ya demorado trabajo demasiado, acaso,
para puramente informative con el simpitico colof6a de uno de los
mas delicioso elogios que jams se pueden leer en clisico alguno de
lengua castellana.
Esta en el cCRITICOND, CRISIS X. La maga y sabia Artemia
-una de las mas curiosas figures simb61licas que desfilan por las pigi-
nas de esta obra consult con su corte de sabios acerca de ad6nde
podria ir a parar, despues de un terrible accident de fuego que con-
suma su casa. Se le propusieron various destinos, pero...
rInclindbase much ella a la dos veces buena Lisboa, no tanto
por ser la mayor poblaci6n de Espafia (i), uno de los tres emporios
de Europa, que si a otras ciudades se le reparten los renombres, ella
los tiene juntos, fidalga, rica, sana y abundante, cuanto porque jamds
se hall portuguds necio, en prueba de que fue su fundador el sagaT
Ulises.n (2).
He aqui c6mo, en cuatro palabras, enlaza y sintetiza Gracian las
mejores cualidades que se pueden atribuir a una ciudad, con el valor
moral e intellectual de los hombres todos de la tierra lusitana. Dificil,
verdaderamente, es superar estas expresiones de admiraci6n y simpa-
tia hacia lo portugues, concentradas en formulas tan sobrias y precisas
como estas de Graciin. Y no olvidemos que nuestro autor no era hom-
bre para la adulaci6n ni la falsedad.

Cuanto antecede tiene, a lo sumo, un mero valor recordatorio e infor-
mativo. Lo adverti al principio, y mas no aspiraba cuando puse manos
a la tarea. Rectifico: aspiraba a algo mis, porque el valor que alcancen
estas lines nada tiene que ver con la intenci6n que puse al escribirlas.
Caben, por lo pronto, en el amplisimo cauce de un lusitanismo
latente y patente en la mayor parte de nuestros grandes clisicos de los
siglos xvi y xvii. El studio de este lusitanismo constitute siempre una
parcela gratisima de la investigaci6n literaria: los que ya algo hemos
bogado por las atrayentes y suaves aguas de este rio de cultural y de
sentimiento, sabemos bien hasta qud punto pueden merger de 61 mag-
nificas atalayas de mutuo amor y entendimiento luso-espafiol: planicies
cimeras donde los dos pueblos pueden tutearse y abrazarse sin reserves
de ningztn genero.


(t) Es bien sabido que por aquellas d6cadas toda la Peninsula se conside-
raba como Espafia. Ast lo conceptuaron, entire otros ilustres persbnajes portugue-
ses, Carn6es y luego Almeida Garrett.
(2) Vid. op. cit., p. 5oa.











Hoy le toc6 la vez de hacerlo a Gracian. No es que este autor
se haya ensimismado con Portugal ya lo adverti tambidn poktica e
hist6ricamente, como lo hicieron otros espafioles de pro. Pero tampoco
lo deja de lado ni aparta de 61 su mirada hist6rica y est&tica: las pjgi-
nas preedentes no me dejan mentir. Y a fe que se encuentra en ellas
un limpio entusiasmo hacia lo portugues, que surge siempre con agrado
en los escritos gracianescos. Mis atreveria a decir: hay verdadero sen-
timiento familiar.
Recordemos, pues, y notemos para siempre como se prueba por
la breves pero abundantes citas anteriores- que Portugal esti present
en la obra de Lorenzo Graciin, y lo esta con todos los honors, pues
la brevedad no resta categoria a lo meritorio: alo bueno, si breve, dos
veces buenoa, segin sentenci6 41 mismo.
Por otro lado, tampoco Portugal se olvid6 de 6l, al menos en los dias
contemporineos de nuestro autor. Podriamos traer a colaci6n algunas
nuestras de tal recuerdo y homenaje, incluso, de autores portugueses al
escritor aragonds. No dispongo de tiempo, ni de espacio para ello: acaso
el tema vuelva a darme future oportunidad de hacerlo en sentido inverso
al que dejamos en estas lines: si ahora es Portugal en Graciin, algun
dia podri ser Graciin en Portugal.
JosE MARIA VIQUEIRA







INDICE


Notas portuguesas en la obra de Gracian . . . . . . . 50
A. Personajes Hist6ricos : a) REYES: Don Afonso Henriquez . . . 53


Santa Isabel de Portugal . . . . .
Don Alfonso V . . . . . . .
Don Juan II . . . . . . .
Don Sebastian . . . . . . .
b) Caballeros Portugueses Don Pablo de Parada
Alburquerque . . . . . .
Conde de Portalegre . . . . . .
Don Diogo Lopes de Andrade . . . .
Fray Felipe Diez . . . . . . .
Condestable Nuno Alvares Pereira. . . .
B. Hombres de letras ........... .
Don Diogo Brandan ............ .
Sa de Miranda . . . . . . . .
Jorge de Montemayor o Montemor . . .
Gregorio Silvestre. . . . . . .
Cam6es . . . . . . . .
C. Otros aspects portugueses. . . . .


. . . 56
. . . 58
. . . . 658
. . . 61
. . . . 62
. . . 62
. . . 63
. . . 63
. . . 64
. . . 64
. . . 65
. . . 68
. . . . 68
. . . . 79


. . . . . .













As Misses de D. Ant6nio Maldonado
ao service de Carlos V

Desde a morte de Carlos V at6 aos nossos dias, decorreram mais
de 400 anos e durante este period muito se escreveu sobre a complex
administracgo do seu Imp6rio. No entanto, podemos ainda hoje, gracas
aos vetustos e in6ditos documents que se vio encontrando disseminados
pelo continent europeu, esclarecer um pouco mais da sua hist6ria.
Assim, num Arquivo particular em Vila Vicosa, deparAmos corn
um traslado de 1635 de aproviz6is, Alvaras originals e mais papeis corn
as firmas reaisi que constitui element precioso para o conhecimento
do ambiente politico e social da corte de Carlos V.
Esse conjunto documental trata das diferentes misses de alta res-
ponsabilidade que D. Ant6nio Maldonado (i) houve de realizar por
ordem de sua majestade o rei Cat61lico.
Este fidalgo, Senhor de Espinho, era natural de Salamanca, sendo
filho de D. Pedro Maldonado, o Velho, e de D. Brites Dias. Do seu
casamento corn D. Isabel da Silva, senhora da maior nobreza, viria a
necessaria descendencia para que houvesse nao s6 um neto, D. Fran-
cisco Maldonado de Azevedo, que perpetuasse, atrav6s do present tras-
lado, certas passagens da sua vida, como uma familiar que o defendesse
do desgaste do tempo at6 aos nossos dias.
Desta forma, 6 possivel que este manuscrito tivesse jai entrado na
posse de Pedro de Souza de Brito, por ser ele trisneto de D. Ant6nio
Maldonado e ter ainda vivido 52 anos sobre a data do referido traslado.
Seja como for, o facto 6 que D. Ant6nio Maldonado chegou a
Lisboa no reinado de D. Manuel, como gentil-homem da rainha D. Leo-
nor, a irmr mais velha de Carlos V, e depois, sendo seu embaixador,
ficou corn a familiar no nosso pais.
Entretanto, sua filha D. Brites, na corte de Vila Vigosa, viria a conhe-


(i) Moraes Sardinha no seu aParnaso de Villa Vigosa cai frequentemente
no paneglrico exagerado. Deste modo, dando a D. Ant6nio Maldonado-L 2,
cap. 56 o titulo do maior matematico que no seu tempo houve em todo o mundo,
Moraes Sardinha nao fez mais do que esquecer o grande sdbio portugues, Pedro
Nunes, seu contemporAneo.









cer e depois a casar corn um fidalgo portugues,Vicente de Souza de TAvora.
Era ele filho do Senhor de Ferreiros e Tendaens, membro do conselho
de el-rei D. Manuel e camareiro-mor do 4.0 Duque de Braganqa (i).
Mas, segundo filho, iria cumprir as suas responsabilidades primeiro na
India e depois em Ormuz, onde estaria no ano de i553. No regresso A
Metr6pole, estabeleceria residencia em Vila Vigosa, nessa flamejante
corte, onde seria trinchante do Duque D. Jodo.
Em breve, porem, a morte arrebatava-lhe a mulher, D. Brites
Maldonado, ficando-lhe do casamento apenas um filho, Ant6nio de
Ataide Pinto. Como o seu nome pr6prio indica, chamava-se assim
em homenagem a seu av6 materno.
Muito cedo, este neto de D. Ant6nio Maldonado seria inspirado
pelas acq6es do pai e pela grandeza da hora, partindo para a India corn
o seu parent, o Vice-Rei D. Luis de Ataide (2). Instalado nas novas
terras portuguesas, foi em primeiro lugar capitao geral do Estreito
de Ormuz e em seguida, no ano de 1575, partiu corn D. Francisco de
Menezes em socorro de Malaca, como capitao de um navio. Houve-se
entio nessa empresa corn tanto exito, que Ihe confiaram a capitania
geral do Mar de Malaca, posigio que se reputava do maior valor estra-
tegico.
Por essa altura, dava-se em terras de Africa o desastre de Alci-
cer-Quibir e a consequente perda da nossa independencia. Voltando ao
reino, Ant6nio de Ataide Pinto entrava ao servico da Casa de Braganca,
assistindo corn o seu pristimo A Duqueza D. Catarina, a cdlebre filha do
Infante D. Duarte, agora vitiva e tutora do jovem Duque D. Teod6sio.
Assim, em Vila Vigosa, ocuparia por heranca de seu pai um
lugar destacado, sendo-lhe entao concedida a alcaidaria-mor de Arraio-
los. Ao mesmo tempo, Filipe II de Espanha, como rei de Portugal,
recompensava-o pela sua actividade na India corn a capitania de Bagaim,
que por essa altura rendia mais de 50o mil cruzados.
Ora o herdeiro desses cargos e dessa familiar seria seu neto Pedro
de Souza de Brito (3), filho de D. Brites de Ataide (4) e de Manuel de
Souza de Brito (5) e pai de Francisco de Souza da Cimara (6).



(1) 0 4. Duque de Braganqa, D. Jaime, e o Senhor de Ferreiros e Ten-
daens eram 3. netos de D. Pedro de Castro, Senhor do Cadaval.
(2) 0 i.0 Conde de Atouguia era 3.0 av6 de D. Luis de Ataide e 4. av8 de
Ant6nio de Ataide Pinto.
(3) Alcaide-mor de Arraiolos e de Braganqa.
(4) Dama da Duquesa D. Catarina.
(5) Alcaide-mor de Ivora-Monte, Viador do Duque D. Teod6sio e Oltima-
mente nomeado Viador da Duqueza D. Luisa de Gusmao.
(6) E- no Arquivo da Casa Souza da CAmara que se encontra presentemente
o referido traslado.









Nascido em Gand, o neto dos reis Cat61licos, o future imperador
Carlos V (i), ndo era para os stlbditos espanh6is mais do que um
estrangeiro corn direitos, que obtinha o ceptro de um reino, ignorando
a pr6pria lingua que ai se falava.
Como aceitar esse desconhecido, educado numa Flandres distant
e long dos destinos grandiosos da Espanha, era o problema que a
todos se punha. De facto, nao havia outro herdeiro, mas a heranqa
vinha duns av6s remotos, sem lembranca, sern recordacgo, quase sem
amizade, sem sequer sentir o esforqo herculeo que fora necessario rea-
lizar para que fosse possivel a unificaqio quase total da Peninsula Ib6-
rica sob a mesma autoridade. Era a hist6ria da vida dos reis Cat61licos
em prol da dignifica9go do trono. Semelhante exemplo nio viria con-
tudo a ser seguido pela filha, incapaz de governor. Joana a Louca,
assim conhecida por haver arrastado pela Europa, numa attitude de
desespero, os despojos mortals do marido, ia final encontrar no seu
primognito o monarca capaz de a substituir.
Assim, muito cedo, esse filho, natural da Flandres, desembar-
cava na costa norte de Espanha, sob a tutela de um flamengo, o
Senhor de Xevres, a fim de receber uma coroa apetecida. Na sua
comitiva chegava ainda a irmi mais velha, D. Leonor, a future rainha
de Portugal e da Franca.
Estava-se no Outono desse ano de 6157 e em Tordesilhas a mre
recebia-os um tanto indiferente, sem press, como se toda estivesse
absorvida pela filha mais nova, D. Catarina, nascida depois da morte
do pai, o Arquiduque Filipe, imagem viva do seu finico interesse.
A recepqAo dispensada pela filha dos reis Cat6licos, como que reflec-
tia a da populaqdo. Desconfiava-se dos prop6sitos desses comerciantes
do Norte e o soberano, sem aceitar certas reivindicaq6es, nio era bem
aceite pelas cortes. Desta forma, Carlos V teve de as aprovar para
ser reconhecido pelos castelhanos nas cortes de Valladolid, pelos ara-
goneses nas de Zaragosa, e pelos cataltes nas de Barcelona.
Entretanto falecia na Alemanha o Imperador Maximiliano, o av6
paterno do rei de Espanha, e os principles eleitores imediatamente pro-
curaram encontrar o substitute, o future dirigente do Impirio dos
Romanos. Corn habilidade e contra o parecer da maioria, Carlos V
manobrou entdo a sua diplomacia que, subsidiada por um banqueiro
alemio, Fugger, viria a ter complete 8xito(2). Com essa elei9go, o


(t) Carlos I rei de Espanha.
(2) Este auxilio foi de tal forma decisive, atendendo a situacio criada por
Francisco I corn as disponibilidades dos banqueiros de Lyon, que Jacob Fugger
p6de escrever em 1523 a Carlos V: all est connu et evident que Votre Majeste
n'aurait pas obtenu la couronne romaine sans moi.D In ,Histoire de la BanqueD
par A. Dauphin Meunier, Presses Universitaires de France, 1959, pag. 7o.









jovem soberano alargava o seu dominion na Europa, deixando nos sihb-
ditos espanh6is, um tanto individualistas, uma sensagdo obscura, misto
de assombro e de desagrado.
Contudo, esse estado de espirito agravava-se, quando a 6 de
Junho de 1519 Carlos V adoptou o titulo de Magestade, rodeando-se
de uma pompa e dignidade completamente desconhecidas em Espanha.
0 mal-estar ia recrudescendo e, quando o Imperador procurou o
indispensivel apoio financeiro para a sua deslocacao A Alemanha, a
fim de ser coroado, recebeu uma recusa formal nas cortes de Santiago.
Perante essa perspective, procurou reuni-las de novo na Corunha, onde,
mercer de certos expedientes, obteve o seu objective.
Finalmente, no dia 20 de Maio de 1520, ji na posse dos funds
necessarios, Carlos V saiu de Espanha acompanhado pelos cortesaos
flamengos e por alguns nobres espanh6is. A viagem fazia-se contra a
vontade popular-era o rastilho da revoluqAo. Assim, a ii de Junho
desse mesmo ano, revoltava-se a pr6pria cidade conservadora de Bur-
gos, depois de ji outras se haverem sublevado.
Por essa altura, a autoridade dos regents que o soberano dei-
xara, entire os quais o seu antigo preceptor Adriano de Ultrech, o deao
de Lovaina, procurava prestigiar-se, fazendo de Seg6via o exemplo do
castigo, por haver sido das mais responsiveis na rebeliao.
Semelhante iniciativa, long de estancar o mal, levava os suble-
vados das tComunasa a apoiar Seg6via corn um contingent de Sala-
manca, possivelmente chefiado por um desses cabecilhas da agitacqo
national, um parent de 1). Ant6nio Maldonado e, por curiosa coinci-
dUncia, corn o mesmo nome que, anos mais tarde, viria a ter o respon-
savel pelo traslado de 1635, object do nosso estudo.
Porem, o reforgo de Salamanca dava-lhe capacidades para
resistir. Mesmo assim, o regente Adriano de Ultrech nao desistiu
do seu intent, mandando reunir todas as tropas sob o comando de
D. Ant6nio da Fonseca, capito-general, para se juntarem em Arivolo
as restantes forgas realistas, sob a chefia de Ronquillo. Reconhe-
cendo-se, nessa altura, que a povoaqio n'o podia cair sem o auxilio da
artilharia, D. Ant6nio da Fonseca pensou encontri-la i sua disposiqao
em Medina del Campo. Era entao essa cidade o emp6rio financeiro e
commercial de Castela. E, como observa Trevor Davies alt was the
city of London of Sixteenth-Century SpainD (i); representava um con-
junto econ6mico de tal forma important que, no dia 21 de Agosto,
quando o exdrcito realista lhe lanqou fogo destruindo-a completamente
por esta recusar a artilharia, a rebeliao redobrou de intensidade, che-


(i) In "The Golden Century of Spain.- 15oi-i62i, by R. Trevor Davies
London, 1954, pag. 49.









gando a todos os pontos de Castela. Assim, muitas das cidades afas-
tadas dos prop6sitos tcomunerosD tais como Palencia, Ciceres, Bada-
joz, etc., juntaram-se A hostilidade depois deste desastre.
A revolu9&o obtinha desta forma mais adeptos e, no dia seguinte A
catistrofe de Medina del Campo, a pr6pria cidade de Valladolid, centro do
governor, via-se envolvida numa manifestacgo popular que provocava a fuga
da maioria do conselho real. Af, depois deste sucesso, a OJunta Santa,
formada pelos representantes das cidades ecomuneras, enviava uma
exposicqo ao soberano em que requeria, entire outras liberdades, que
nao se tirasse mais moeda do reino, que se autorizasse o uso das
armas, que cada lugar realengo nomeasse dois procuradores As cortes
- um fidalgo e outro lavrador -, que nao se elegesse nenhum corre-
gedor sem o consenso da populagdo e que nao pudesse declarar-se
guerra semr se ouvir as cortes.
Estas reivindicag6es demonstravam que urgia estabelecer o equi-
librio e aplacar quanto antes os animos mais exaltados. Assim, Car-
los V ia provar que, apesar de toda a sua inexperiencia, tinha as qua-
lidades requeridas para fazer face A insubordinaqdo crescente.
A chave do problema estava agora em chamar ao poder as figures
mais representatives e de maior prestigio na aristocracia de Espanha.
Apoiando-as, era ainda possivel ganhar grande parte da nobreza des-
contente e o triunfo jA n.o Ihe podia escapar.
Desta forma, a 5 de Setembro de 1520, eram colocados no
comando do exdrcito realista, cooperando na regdncia corn Adriano de
Ultrech, o Condestivel don Inigo de Velasco e o Almirante don Fradi-
que Enriquez.
Entretanto dava-se o fen6meno previsto alguns dos nobres sim-
patizantes corn as aComunass deixavam-nas, acabando por influenciar
certas cidades, como Burgos e Valladolid, a abandonar a causa da
rebeliao.
No mes seguinte, no dia 22, chegava finalmente o Rei de Espa-
nha e Imperador dos Romanos a Aix-la-Chapelle. Era a sua primeira
visit ao Imp6rio; dai a pouco seguiria para Worms, onde se iam ini-
ciar os trabalhos da Dieta. No entanto, Carlos V, ainda nao esquecido
dos ultimos acontecimentos em Espanha, procurava nessa cidade alema
dar mais um golpe na rebeliao. Assim, sabemos hoje pelo traslado
de i635, que a ii de Janeiro de 1521 enviava a Espanha, em missao
de grande responsabilidade, D Ant6nio Maldonado. Na proviso que
o acompanhava esclarecia: avos mando que vais amTs Reinos de Cas-
tilla y deis mis Cartas a los gubernadores y que comfiiqueis con ellos
lo que aca platicamos. Logo adiante marcava o seu principal objec-
tivo: Esto hecho luego mui avizadamente y por la manera que vos
apareqiere partireis para a Ciudade de Calamanca vuestra naturaleza
*y hablando con los Cavalleros della vuestros parlentes y con otras









equales quera personas segundo que para lo necessario cunplen, tra-i
abajareis de convertir la Ciudad a nuestro serbo, prometiendo atodoss
gperdon en general por la desobedienqia que me ban tenido, el quals
aporesta micarta otorgo y avos doj por cunplido para por my lo con-i
ageder y otorgar atodos los que fizeren lo que por vos de ml parte los
efuere mandadon. Depois, corn a generosidade inerente aos poderosos,
acrescentava: aY siendo cazo alien del perdon pedieren algunas liber-s
atades para la dicha Ciudad, por esta my Carta vos doi entero poder
apara que faziendo ellos lo que de nuestra parte les pedieredes lo podais
ahazer, conceder y otorgar. E logo continuava corn grande sentido
politico: aY si por ventura de lo sobredicho no fueren seguros des-t
pues de vos estar concertado con la Ciudad, enbiarme es por escritos
ise confien, para que siendo por vos de todo informado yea lo quest
acunple am. serbo, y ansi deesto como de qualquera otra coza quest
asuqeda sienpre me enbiay correos con que me fagais saber lo quest
apassa para quevos enbie a dizir loque aveis de hazers.
No entanto, prevendo ainda a continuaao das hostilidades, inves-
tia D. Ant6nio Maldonado da autoridade necessiria. aY si para cun-
aplimiento de algunas cozas cunplideras a nuestro serbo fuere neces-s
: sario que trayais varas de mi Justiqia, o tuberiedes necessidad de>
agente, o de qualquera otra coza, por esta mj carta vos doj facultads
apara que lo podais hazer, y mando a los Conqejos, Iustigias, Regi-i
adores, Cavalleros, Escuderos, Ofigiales y honbres buenos de todasD
alas Ciudades Villas y lugares de todos los mis Reinos y Sefiorios, y
ea cada uno de ellos en sus lugares y jurisdiqiones, y otras quales-
quera personas de qualquera condition, estado o calidad que sean, ai
(quien esta dicha mj Carta toca y atane y ataner puede en qualquera
amanera que vos den y fagan dar todo el favor y ayuda que les pidiere-
:des o mandaredes pedir y vos fuere necessario anssi de gente, como dei
aotras qualesquera cozas segundo y como se lo deinandaredes, y sob las
:penas, que de nuestra parte les puzieredes, o mandaredes poner, las qua-i
ales yo por la prezente les pongo, y he por puestas, y los he por conde-i
anados en ellas lo contrario faziendo y para las executar en los que
aremissos o inobedientes fueren, por esta mj Carta vos doj poder cun-
aplido contodas sus incidencias y dependenciass.
Mas, nem o poder de Carlos V, nem a boa vontade de D. Ant6-
nio Maldonado seriam suficientes para resolver questao t1o intrincada.
Assim, um pr6prio parent deste tltimo, como adiante se verificari,
ndo aceitaria as propostas conciliadoras do rei Cat61lico.
Entretanto desertavam das formaq6es (comuneras, cada vez em
maior numero, os antigos simpatizantes da nobreza, enfileirando no
exdrcito realista, agora dirigido pelas mais destacadas autoridades na
arte da guerra.









0 movimento da rebeliao estava inevitAvelmente condenado e
acabava final por se transformar numa guerra de classes. Assim, ji
nos principios de Abril, na resoluqao da Junta das Quadrilhas de Val-
ladolid se declarava terminantemente que, de future, a hostilidade era
contra os grandes senhores e outros inimigos, e tinha como objective o
saque das suas propriedades. Adulteravam-se assim completamente os
principios da sublevacao inicial.
Perante essa attitude inconciliavel, a necessidade e a indignacao
levariam os restantes nobres a procurarem as hostes do rei.
Sem embargo, urnm dos chefes da rebeliao, Juan de Padilla,
que havia cercado e tornado a fortaleza de Torrelobaton, procurava
ainda apoderar-se de Tordesilhas. Mas ji era tarde, pois em Abril
as tropas realistas, reorganizadas e concentradas em grande forga
em Penaflor, esperavam abater definitivamente a rebeliao. Assim
sucederia de facto no dia 22 desse mes quando Padilla, reconhe-
cendo a sua manifesta inferioridade, ji sem a cavalaria da nobreza,
ji sem o moral do adversirio, retirava precipitadamente de Torrelo-
baton, dirigindo-se para o Ocidente na linha de Zamora e Salamanca.
Esperava ainda nesse movimento ganhar um pouco de tempo e talvez
reforcos; mas em vao. 0 assalto dos franceses a Navarra nio se
vinha a verificar e as tropas realistas ali estavam prontas para decidir
o conflito.
Deste modo, perseguindo sem desfalecimentos os acomuneros),
obrigavam-nos a parar em Villalar, na aPuente del Ferroi, onde, corn
o bombardeamento da sua artilharia, os dispersavam por complete.
Finalmente, os realistas, lancando uma intrdpida carga de cavalaria,
punham termo ao combat.
Esta pequena batalha, como esclarece no seu estudo Trevor Davies,
decided the fate of the rebellion and determined the historical evolu-
tion of Castille for centuries to comeD (i). De facto, no dia seguinte,
a 24 de Abril de 1521, corn a execuqdo em Villalar dos tres cabe-
cilhas da sublevacao, Juan de Padilla, Juan Bravo e Francisco Maldo-
nado (2), marcava-se o principio da consolidagio da autoridade abso-
luta (3).



(i) In The Golden Century of Spain 15o01-1621, by R. Trevor Davies, Lon-
don, 1954, pa. 49.
(2) In ,Sintesis de Historia de Espafian por D. Antonio Ballesteros Beretta,
Sexta Edici6n, Salvat Editores, S. A., Barcelona, 1945, pig. 248.
(3) aDada a batalha, corn que os rebeldes foram vencidos pelo exdrcito dos
grandes, e press os autores dos motins, foi Jodo de Padilha e D. Ant6nio, Bispo
de Samora, D. Pedro Pimentel, D. Francisco Maldonado e outros homes nobres,
como tambem alguns da infima plebe que o furor popular levantara em dignidade,
por cabegas da conjuragdo castigados com pena capital; e deu-se perdio geral









Corn a morte deste tltimo rcomunero podemos considerar ter-
minada a primeira missao do seu parent D. Ant6nio Maldonado que,
apesar da proviso conciliat6ria de ii de Janeiro de 1521, mandada
por Carlos V e escrita por Cristovao Barroso, nao almejaria a neces-
siria plataforma de entendimento. Por uma estranha coincidencia, o
nome de Cristovao Barroso iria ficar ligado A missao que levaria D. Ant6-
nio Maldonado a Lisboa.
Entao, na capital do Impirio portugues, a irma de Carlos V, a
rainha D. Leonor, ia conquistando, desde o pago real A rua, o respeito
e a amizade dos sitbditos. 0 seu casamento corn o soberano D. Manuel,
depois de inicialmente estar prometida para o filho, o future D. Joao Ill,
havia de facto causado certo mal-estar, mas tudo isso tinha sido supe-
rado pela graciosidade da sua presence. Agora que lhe nascia uma
filha, a Infanta D. Maria, recrudesciam as atenq6es. Por toda a parte
a rainha recebia o aplauso e, quando finalmente enviuvava, no findar
do ano de 1521, a naqao pedia-lhe que ficasse, casando corn o seu
antigo noivo, o pr6prio enteado.
Todavia Carlos V, contrariando semelhante enlace, tinha em
Lisboa a travar esse desejo o embaixador Cristovao Barroso, que ja
em Worms ocupara junto do Imperador uma posicao de grande relevo,
como se verifica na primeira proviso para D. Ant6nio Maldonado.
Desta forma, e possivel que depois do exito da coroaq&o de Car-
los V tivesse requerido e obtido o lugar de embaixador na corte de
Lisboa, talvez ainda obcecado por uma aspiragAo antiga e impossivel
- a afeiqao de D. Leonor.
Porem, passado tempo, sem lograr seduzir a rainha, (achava-se
o Barroso, que ji desiludido, e agora liberto da sua phantasia amo-
rosa, s6 attendia A voz do despeito, e ao desejo de enviar corn as
outras noticias destinadas ao seu Soberano, perfidias insinuaq6es a res-
peito da Rainha, deixando jai adivinhar que entire madrasta e enteado
havia entendimentos... D (i)
Os seus despachos convertiam-se em crudis e mesquinhas refe-
rancias ao procedimento de D. Leonor e ao seu escandalo. Insinua-
c6es que, chegando ao conhecimento da rainha, a fariam talvez sorrir
da c6mica baixeza do intrigante.
Por essa altura, deslocando-se corn o Duque de Braganca em larga
comitiva para Almeirim ao encontro do soberano, foram interceptados
em Muge pelo embaixador do Rei Cat61lico, sendo entao D. Leonor
grosseiramente constrangida a regressar a capital. Essa impertindncia


& multidaou.-aDa Vida e Feitos de El-Rei D. Manuelv de D. Jer6nimo Os6rio,
Livraria Civilizaqao-Editora, Porto, 1944, vol. n, pag. 261.
(i) In ,Donas de Tempos Idose do Conde de Sabugosa, 3.* edifgo, Portu-
gal-Brasil Limitada. Sociedade Editora, Lisboa, pag. 91.










de Cristovao Barroso, justificada em nome do Imperador, levava a
indignaqco da rainha a uma crise de desespero. Perante isto, o Duqu
de Braganqa perguntava se nao devia esmagar semelhante tropeco!
Mas nao, seria pior, e assim D. Leonor regressava efectivamente a
Lisboa, enviando imediatamente dois emissirios ao irmao, a explicar o
desaforo sem precedentes do seu valido.
Ora, sabemos hoje pelo traslado de 1635 que, a 12 de Dezembro
de 1522, Carlos V mandou D. Ant6nio Maldonado, gentil-homem da
rainha D. Leonor, a Portugal. E possivel que a sua presenga, nessa
altura, no nosso pais estivesse implicada corn o regresso da viiva del-
-Rei D. Manuel a Espanha, que se verificaria em Maio de 1523.
Por sua vez o rei Cat61lico o Conde de Sabugosa-atirou-o para as gales, onde foi expiar o seu
excessive zelo, e perfidio procedimentoi (i)(2).
Ainda poucos dias haviam decorrido sobre esta jornada de D. Ant6-
nio Maldonado a Lisboa, quando de novo era chamado a desempenhar
mais uma missdo. Estava-se assim nos fins de Fevereiro de 1523 e a
presenqa desse confidence era necessiria a Carlos V. nado ml gentil honbre yo tengo necessidad de vos enbiar a algunas
parties a cozas cunplideras a nuestro serb0 y porque las tales cozas y
cargos que a mi relevan guard yo para vos porque se el deseo que
teneis alo que cunple a mi serb.0, es menester que luego que esta mi
carta vieredes, vos despacheis lo mas presto que podais y vengais hablar
comigo donde vos mandare lo que aveis de hazer.
Logo em Marco, aos vinte dias, passava-lhe uma proviso para
que tivesse facilidades em percorrer a Espanha. ayo envio don Anto-
nio maldonado mj cavallero, a cozas que cunplen a ml serbo a algunos
parties desses nuestros Reinos, y ha de ir por postas, por ende yo vos
mando que donde quiere que fuere le deis y hagais los cavallos de



(1) Ob. cit., pag. 94.
(2) No entanto, em 0532, voltamos a encontrar Cristov.o Barroso, mas agora
em Roma e noutras circunstfncias. I9 curioso observer na carta de D. Joao III para
o embaixador Braz Neto o seu profundo ressentimento, dez anos depois da inso-
lIncia de Cristovio Barroso. Diz assim: aEu sou certificado que a Crist6vam de
Barroso fazeis acolhimento em vossa casa e o aproveitais e Ihe favoreceis em suas
coisas e, se o tendes feito e fazeis, creio que sera por nio terdes sabido que Eu
tenho dale muito desconrentamento e por coisas de qualidade, porque ale tem
merecido rigoroso castigo; por6m vos mando que daqui por deante Ihe alfo deis
acolhimento em vossa casa nem por estaqa de amizade nem favoreqais nem Ihe
aproveiteis em nenhuma coisa, porque assim o hei por muito meu servico. Escre-
vei-me o que nisso passou ate agora e que causa tivestes de Ihe fazer alguma boa
obra, para Eu saber o que vos moveu, e muito inteiramente guardai daqui em
deante o que por esta vos mando.n In aRelaq6es de Pedro de Aledqova Carneirom,
Imprensa Nacional de Lisboa, 1937, pdgs. 124, 125.









posta que hubiere menester, pagando por ellos lo que se acostunbra
pagar y le hagais y mandeis hazer buen tratamento, como a cavallero y
serbidor mio y los unos como los otros no fagades ni fagan ende al por
alguna mantra sob pena de la ml merged, de cada diez mil marave-
dis. Tratava-se de urn instrument da maior utilidade para quem
tivesse de deslocar-se pela Espanha.
Mas, trds dias depois, explicava-se a necessidade da proviso ante-
rior, na seguinte ordem do rei Cat6lico: aDon Antonio Maldonado my
cavallero yo vos mando que vais a qualesquera ciudades, y villas, y
lugares destos mis Reinos y Sen6rios donde hallaredes y pudiere ser
avido fray bernardo de la Rocha de la orden de S. francisco le pren-
dais al cuerpo, y prezo y a buen recaudo letraed a esta ml Corte,
donde vos mandare to que del hagais y si vieredes que para lo assi
cunplir ay necessidad varas de my Justicia como la traen los Aguazi-
les de my Caza y Corte por la prezente vos doy facultat para que lo
podais hazer por el tienpo que vos paregiere que conviene asta que
ayais cunplido lo suzo dichon. E, imediatamente apoiando-o, decla-
rava na Carta ty si para la execution y cunplimento dello o de qual-
quera coza o parte dello hubieredes menester fabor y ayuda, my carta
mando a los Concejos, Justiqias, Regidores Cavalleros, Escuderos, Ofi-
9iales y honbres buenos de todas las Ciudades y Villas y lugares des-
tos mis Reinos e Sefiorios, y a cada uno de ellos en sus lugares y
Jurisdiqiones y a otras qualesquera personas de qualquera condition
estado, o calidad, que sean a quien en lo en esta dicha m] Carta toca
y ataife, y atai'er puede en qualquera maniera, que vos den, y fagan
dar todo el fabor y ayuda que les pidieredes y fuere necessarioD.
Assim, procurava prender-se Frei Bernardo de la Rocha numa
altura em que as ideias de Erasmo se estavam difundindo pela Espa-
nha, encontrando ate no seio das ordens religiosas certos elements
simpatizantes.
Contudo sucedia-e podemos aventar ser essa a causa da prislo
-que a Ordem de S. Francisco, a que pertencia esse frade, era das
mais decididas contra a doutrina de Erasmo, provocando certos disttir-
bios. Assim, sen Salamanca los Franciscanos observantes peroraban
en sus sermones contra el autor del Enchiridion, y fijaran a la puerta
de la Iglesia unas conclusions Ilamando a ptiblica dispute. cEl deseo
de evitar escandalos, o mis bien, la intolerancia erasmiana y el favor
que a velas desplegadas se otorgaba at Maestro, sosegaran casi por
fuersa estas primeras alteracionesD (i).



(i) In aHistoria de los Heterodoxos Espafiolesn -Edicion Nacional de las
Obras Completas de Menendez Pelayo Edici6n preparada por Henrique Sanchez
Reyes, Santander, Aldus, S. A. de Artes Graficas -MCMXLVII, Vol. in, pags. 93, 94.









Mas fosse qual fosse o motivo (i) que levou Carlos V a mandar
prender o frade Bernardo de la Rocha da Ordem de Sao Francisco, o
certo e que D. Ant6nio Maldonado, pelo que sugerem as diversas pro-
vis6es, cartas e alvaras, foi incumbido mais uma vez de realizar uma
missdo penosa, que demandava subtileza e requeria um element da
maior confianga e lealdade.





A hist6ria de D. Ant6nio Maldonado ficava simplesmente por
aqui, se acaso nos limitissemos aos documents que em 1635, ainda
sob o dominion dos Filipes, D. Francisco Maldonado de Azevedo man-
dou trasladar para certo requerimento que quer ter corn Sua Mages-
tadeD. Ora, como a actividade de D. Ant6nio Maldonado continue
tanto em Espanha como em Portugal, por largos anos, parece estranho
que seu neto nio tivesse mais documents para dar a transcrever.
Ocorre entao perguntar se nao possuia outros ou se, pelo contrario,
nao convinha apresenti-los ?
Eis uma das muitas interrogaq6es que a hist6ria dificilmente pode
explicar. Por agora inclinar-nos-emos para a segunda hip6tese, aten-
dendo ao infeliz sucesso que p6s termo ao valimento de D. Ant6nio
Maldonado.
Cristovao AlAo de Moraes (2), entire outros nobiliarquistas, lem-
bra o acontecimento, o celebre contrato de Moluco, em que o embaixa-
dor D. Ant6nio Maldonado perdeu a confianca do seu Imperador por
nao ter conseguido impor as condiq6es que a Espanha exigia.
E de mais pensar-se que D. Ant6nio Maldonado se aventurou
nestas negociaq6es a descurar os interesses da sua terra e do seu sobe-
rano. Porventura nio tinha ja dado suficientes provas de lealdade em
tantas e tao espinhosas misses? No entanto, se o fez intencional-
mente s6 se prejudicou, pois enquanto em Espanha era grande, em
Portugal aficou mal pagos (3). Se, pelo contrario, foi vitima de uma


(1) E curioso referir que na margem esquerda da ante-penhliima folha do
traslado se encontra uma nota que possivelmente explica a prisao de Frey Bernardo
de la Rocha: ao que (le)vantou (as) comu(ni)dades (em Es)panha).
A ser verdadeira semelhante hip6tese, ficam sem efeito as afirmag6es acima
produzidas.
Desta forma, prendia-se o Frade da Ordem de Sao Francisco por uma outra
razio a mesma, final, que tempos antes arrastara ao patibulo D. Francisco Mal-
donado, o infeliz parent do prestimoso valido de Carlos V.
(2) In nPedatura Lusitana*, Nobiliario de Familias de Portugal, Empresa
Didrio do Porto, Limitada, tomo v, vol. n, pag. 246.
(3) Ob. cit., pag. 246.










cabala, intriga torpe que o Habsbourg aceitou na sua endemica des-
confianca, sofreu uma injustiqa clamorosa que seria muito inc6moda, se
nio houvesse em Vila Vicusa para o receber um principle generoso e
urn grande Senhor-o Duque de Braganca. (1) (2)



Transcricdo

Dis dom Francisco Maldonado de Azevedo Cavaleiro professor da
Ordem de Nosso Seifor Jesus Christo morador ora nesta villa de Terena,
que para certo requerimento que quer ter corn Sua Magestade Ihe he
neccessario o treslado das provizoTs, Alvaras originals E mais papeis
corn as firmas reais que offeresse, porque consta Sua qualidade E os
foros, E Cargos em que seu avo dom Antonio Maldonado servio ao
Emperador dom Carlos quinto E services que lhe fez que const.o dos
mesmos papeis.

Pede a Vossa Merce lhos made dar em public concerta-
tados em modo que fa9&o f6 tornando lhe os proprios





(1) ac6 q se valeo do Duque de Brag.ca q por elle intercedeo c6 ElRei
D. Joao o 3* q lhe prometeo 50o Urs. de tenga E o habito de Christo., Ob. cit.,
pag. 246.
(2) Innocencio Francisco da Silva, no seu Diccionario Bibliographico Por-
tuguez, apresenta-nos o antigo valido de Carlos V do seguinte modo: tor, que Barbosa da incompetentemente por portuguez, incluindo-o como tal no
tomo i da Bibl., de certo nao o foi, mas sim castelhano; o que se deduz de varias
consideraq6es, e mais que tudo da seguinte noticia que para aqui transcrevo,
copiada de uns apontamentos originals e manuscripts do beneficiado Jose Cae-
tano d'Almeida, bibliothecario que foi d'el-rei D. Joao V: aHa uma carta de Mal-
donado, escripta de Villa Viqosa em 29 de Maio de 1542, a qual se conserve (ou
conservava) na Torre do Tombo, na Casa da Cor6a, gaveta 18, masso 8, escripta
segundo parece a el-rei D. Joio III, da qual se mostra como nascera vassalo dos
reis de Hespanha, e tendo servido ao imperador Carlos V vewu depois para Portu-
gal. Aqui foi muito respeitado por seus conhecimentos medicos, e astrologicos. e
consultado pelo pr6prio rei, e pela familiar real em suas molestias.,
D. Thomas Caetano de Bern, nas Mem. Hist. e Chron. dos Clerigos Reg.,
tomo in p6g. 202, tracta largamente de Maldonado, e censura o erro cometido por
Barbosa. que de um s6 escriptor fez dous do mesmo nome.
A obra, que Barbosa menciona em nome d'este auctor, 6 muito rara; e post
que escripta em castelhano, todavia por sel-o em Portugal. e ter mais de uma rela-
tio corn as cousas portuguezas, transcrevel-a-hei para este Diccionario. Intitula-se:
D6s breves tratados sobre d6s perguntas que se hi'ieron en la mefa del senior
D. Theodosio, Duque de Braganfa, por German Galharde 1548. 4. In ob. cit.
2.* edicao, 1924, pag. 194.









ERH m


O es(cri)vAo pase e tre(s)lade os papeis o provizois que o
suplicante apresentar em publiqua forma E Ihe tome os
proprios Terena oje 12 de Janeiro 635.

JOAM LOUREMSO

Aos que aprezente certiddo virem, dada por mandado E autori-
dade de Justica corn o treslado que huns papeis e provizoTs reais, Cer-
tefico eu Antonio Pereira public Tabaliao do Judicial e notas nesta villa
de Terena E seu termo por provimento do Corregedor desta Comar-
qua da Cidade de Elvas, que em comprimento do despacho atras do
Juis Jo.o lourenqo tresladei os papeis e provizois reais deque na Peti-
cao se faz mengqo E o treslado delles he o seguinte
Papel e Provizdo para Antonio Maldonado Cavallero y Ser-
bidor mio yo vos mando que vais amTs Reinos de Castilla y deis mis
Cartas a los gubernadores y que comiiqueis con ellos lo que aca pla-
ticamos. -
Esto hecho luego mui avizadamente y por la manera que vos
pareqiere partireis para a Ciudade de Calamanca vuestra naturaleza y
fablando con los Cavalleros della vuestros parientes y con otras quales
quera personas segundo que paralo necessario cunplen, trabajareis de
convertir la Ciudad a nuestro serbo, prometiendo atodos perdon en
general por la desobedienqia que me han tenido, el qual poresta
micarta otorgo y avos doj por cunplido para por m) lo conceder y
otorgar atodos los que fizeren lo que por vos de ml parte los fuere
mandado.
Y siendo cazo que alien del perdon pedieren algunas libertades
para la dicha Ciudad, por esta m] Carta vos doj entero poder para
que faziendo ellos lo que de nuestra parte les pedieredes lo podais
hazer, conceder y otorgar.
Y si por ventura de lo sobredicho no fueren seguros despues de-
vos estar concertado con la Ciudad, enbiarme es por escrito a dizir
todo lo que la dicha Ciudad pide con (per)sona de quien ellos se con-
fien, para que siendo por vos detodoinfor mado yea lo que cunple amj
serbo, y ansi deesto como de qualquera otra coza que suceda sienpre me
enbiaj correos con que me fagais saber lo que passa para quevos enbie
a dizir loque aveis de hazer.
Y si para cunplimiento de algunas cozas cunplideras a nuestro
serbo fuere necessario que trayais varas de ml Justiqia, o tubieredes
necessidad de gente, o de qualquera otra coza, por esta mj carta vos
doj facultad para que lo podais hazer, y mando a los Congejos, Justi-
9ias, Regidores, Cavalleros, Escuderos, Oficiales y honbres buenos de









todas las Ciudades Villas y lugares de todos los mis Reinos y Sefio-
rios, y a cada uno de ellos en sus lugares y jurisdigiones, y otras qua-
lesquera personas de qualquera condition, estado o calidade que sean,
a quien esta dicha mj Carta toca y atahe, y atafier puede en qualquera
mantra que vos den y fagan dar todo el favor y ayuda que les pedie-
redes o mandaredes pedir y vos fuere necessario anssi de gente, como
de otras qualesquera cozas segundo y como se lo demandaredes, y sob
las penas, que de nuestra parte les puzieredes, o mandaredes poner, las
quales yo por la prezente les pongo, y he por puestas, y los he por
condenados en ellas lo contrario faziendo y para las executar en los
que remissos o inobedientes fueren, por esta mj Carta vos doj poder
cunplido contodas sus incidencias y dependencias. Fecha en Worms (i).
a doze de Enero de quifilentos y veinte uno, yo ElRey, Por mandado
de Su Magestad. Christoval de Barrozo, Envia Vuestra Magestad Anto-
nio Maldonado a Espafia, y a la Ciudad de Calamanca.

El Rej

Alcaldes de Saquas y cozas vedadas desmeros, aduaneros, porta-
gueros, guards, y otras qualesquera personas que estais en la guard
de los puertos y passes que ay entire estos nuestros Reinos y Sefiorios
de Castilla, y el Reino de Portugal, Sabed, que Antonio Maldonado
gentil honbre de la Serenissima Reina de Portugal mia mui cara y
mui amada hermana va por las postas por nuestro mandado, al dicho
Reino por ende yo vos mando que le permitais y consintais passar
libremente con todo lo que lleva sin le encontrar ni condenar en pecho,
ni llevar derechos algunos prezentando se en la caza del aduana del
puerto por donde passare, y Jurando que todo lo que Ileva es suyo y
que no Ileva coza para vender, ni mercadear, ni para otra coza de las
por nos vedadas y defendidas, y mando que dure la licencia en que
passe por termino de treinta dias primeros seguientes que corren y se
contienen des de el dia de la fecha desta mj cartula en adelante, y que
vaya sefialada de uno de mis contadores majors, lo qual vos mando
que hagais y cunplais no enbargante qualquera primatica y mandam
nuestro que en contrario ya fecha en Valladolid a doze dias de dezien-
bre de quiinientos y veinte dos anhos. yo El Rei, Por mandado de Su
Magestad Francisco de los Cobos, de passo para Antonio Maldonado
que va a Portugal,





(i) No texto encontra-se Mormaco.

97









El Rei


Antonio Maldonado mj gentil honbre yo tengo necessidad de vos
para vos enbiar a algunas parties a cozas cunplideras a nuestro serb0 y por-
que las tales cozas y cargos que a mj relevan guard yo para vos porque
se el deseo que teneis alo que cunple a mj serbo, es menester que luego
vengais hablar comigo donde vos mandare lo que aveis de hazer de
Vallid(i) postrero de hebrero de quifiientos y veinte tres anfios, yo El
Rey, por mandado de Su Magestad, francisco de Los Cobos, Por el
Rei, A Antonio Maldonado mj gentil honbre, cito, cito, cito,

El Rei

Don Antonio Maldonado m) cavallero yo vos mando que vais a
'qualesquera ciudades, y villas, y lugares destos mis Reinos y Sefiorios
*donde hallaredes y pudiere ser avido fray bernardo de la Rocha (2) de
la orden de S. francisco le prendais al cuerpo, y prezo y a buen recaudo
letraed a esta m1 Corte, donde vos mandare lo que del hagais y si vie-
redes que para lo assi cunplir ay necessidad varas de mj Justicia como
la traen los Aguaziles de mj Caza y Corte por la prezente vos doy
facultat para que lo podais hazer por el tienpo que vos paregiere que
conviene asta que ayais cunplido lo suzo dicho, y si para la execution
y cunplimento dello o de qualquera coza o part dello hubieredes menes-
ter fabor y ayuda, por esta mj carta mando a los Concejos, Justigias,
Regidores Cavalleros, Escuderos, Ofigiales y honbres buenos de todas
las Ciudades y Villas y lugares destos mis Reinos y Sefiorios, y a cada
uno de ellos en sus lugares y Jurisdiciones y a otras qualesquera perso-
nas de qualquera condition estado, o calidad, que sean a quien en lo en
esta dicha m] Carta toca v atafie, y atafier puede en qualquera maniera,
que vos den, y fagan dar todo el fabor y ayuda que les pidieredes y
fuere necessario, assi de gente como de otras qualesquera cozas, segundo
y como se lo demandaredes, y sob las penas que de nuestra parte les
puzieredes o mandaredes poner, las quales yo por la prezente les pongo,
y he por puestas, y los he por condenados en ellas lo contrario faziendo,
y para las executar en los que fueren remissos y inobedientes y para
todo lo que dicho es, por esta m) carta vos doi poder cunplido con todas
sus ingidencias y dependencias fecha en Vallid a veinte tres del mes de
marqo de mil y quinientos y veinte y tres an61os. yo El Rei, Por man-
dado de Su Magestad. francisco de los Cobos, Poder a don Antonio
Maldonado para prender a fraj bernardo de la Rocha.

(i) Valladolid.
(2) No document estA Fray Bernando.




University of Florida Home Page
© 2004 - 2010 University of Florida George A. Smathers Libraries.
All rights reserved.

Acceptable Use, Copyright, and Disclaimer Statement
Last updated October 10, 2010 - - mvs