4:'V.
I~HKiIIES I
S4^SINTESE DA AFRICA
AGENCIA GERAL
DAS COLONIAL, 1949 *9
S. ]
'EXY LIBRtIS
'UNIVEB,ITY of 'FLORiIDA
IN
ULTRAMAR PORTUGUES
I
Sintese da Africa
REPOBLICA PORTUGUESA
MINISTiRIO DAS COLONIAS
ULTRAMAR
PORTUGUES
I
Sintese
da Africa
POR
ANTONIO MENDES CORREA
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO,
DIRECTOR DA ESCOLA SUPERIOR COLONIAL,
PRESIDENT DA JUNTA DAS MISSOES GEOGRAFICAS E DE INVESTIGACOES COLONIAIS.
AGENCIA GERAL DAS COLONIAS
DIVISAO DE PUBLICAgOES E BIBLIOTECA
LISBOA MCMXLIX
Esta publicagdo joi autorizada
por despacho de S. Ex.a o Ministro,
de 22 de Outubro de 1946.
Mal imaginava, ao receber do Sr. Prof. Marcelo Cae-
tano, entao Ministro das Col6nias, a penhorante incum-
bUncia de elaborar a obra cientifica de que sai agora
o primeiro volume, a soma enorme de trabalho e a con-
siderdvel s6rie de dificuldades que teria de defrontar.
Passei jd quase quarenta anos num labor de investigacdo
e numa actividade de publicista que me habituaram
a encarar como estando dentro das minhas possibili-
dades uma tarefa desse g6nero.
Mas tudo decorria at6 entdo no dominio exclusive
de especialidades que cultivo corn uma assiduidade e
mesmo corn um carinho que nao resultam apenas dos
meus deveres profissionais mas tambem do prazer que
into nesses estudos. Embora a minha curiosidade cien-
tifica ndo tenha outros limits al6m dos da minha
preparagdo e dos do tempo de que disponho, forgoso
se tornava, neste livro, ultrapassar as fronteiras dessas
especialidades, ser quase enciclopedico e procurar o
apoio do apetrechamento alheio ou, sobretudo, duma
vasta informagao documental e bibliogrdfica em mat6-
rias das quais me ndo ocupo correntemente. Toda a mi-
nha discipline de estudo e de trabalho e toda a minha
preparagio anterior nos dominios geogrifico, biol6gico
e etnol6gico, ndo puderam dispensar um esforgo pr6-
prio que, apesar do concurso dedicado de alguns auxi-
liares, ndo hesito, mesmo sob o risco de ser julgado
imodesto-sobretudo por quem nunca realizou nada de
semelhante-, em classificar de colossal.
A minha primitive intenado era fazer, con uma certa
amplitude informative e con ilustraSges, um livro que
constituisse como que uma actualiza~ido, oportuna, do
manual tdo litil de Ernesto de Vasconcelos sobre As Col6-
nias Portuguesas. Cheguei a apresentar a idea a uma
grande empresa de publicidade, sob a forma duma edi-
gao no genero do meu livro anterior, Ragas do Imp6rio.
Mas ndo passei duma troca preliminary de impresses,
porque, pouco tempo depois, o Sr. Prof. Marcelo Cae-
tano tomava a resoluCgo a que aludi, e surgia-me, assim,
oficialmente, a possibilidade de dar realidade a um pro-
jecto em que o aspect de dependencia perante legitimos
prop6sitos de exito commercial recuava diante do desejo
de manter o cardcter estritamente cientifico do livro,
alids sem ihe tirar o de propaganda e estimulo do de-
senvolvimento da acgdo portuguesa no Ultramar.
Elaborei um piano em que o tema se circunscrevia
aos territ6rios portugueses. Mas o Sr. Prof. Marcelo Cae-
tano entendeu-e, sem dTivida, corn muita razdo-que
a Africa em conjunto devia ser uma primeira parte da
obra. De facto, faltava entire n6s um trabalho desse g6-
nero, quando Id fora eles vdo aparecendo hd muito,
mesmo em paises que ndo possuem naquela parte do
mundo dominios tdo antigos e extensos como os nossos.
Ndo pretend, por6m, seguir a orientagdo de Lord
'Hailey no seu enorme volume de exposicdo das activi-
dades em curso para o estudo da Africa, exposigdo em
que o papel de Portugal aparece tdo lamentavelmente
reduzido, ou a feigdo exaustivamente diddctica mas cir-
cunscrita de Baumann e Westermann no seu magnifico
tratado de etnologia, linguistica e pedagogia africanas.
Procurei, sim, abranger todos ou quase todos os cam-
pos de estudo fisico e human, sem abuso das dis-
sertag6es hist6ricas tdo predilectas da nossa gente e sem
grande pormenorizagdo de bibliografia e investigacges
em march, mas sobretudo com a exposigdo s6bria dos
principals resultados obtidos e dos problems postos na
actualidade ou a por no future.
Neste volume a ilustraqdo ndo 6 predominantemente
referida aos territ6rios sob a soberania portuguesa. N&o
faltard na sequencia do trabalho melhor oportunidade
de apresentar desenvolvida documentagdo propriamente
do nosso Ultramar. Como nos volumes subsequentes, sdo
dados os resumes, em francs e ingl6s, dos vdrios capi-
tulos. E que este livro nao 6 escrito apenas para Por-
tugueses.
Excedeu o present volume as proporg5es materials
que permitiriam mais rdpida elabora&do do resto da
obra? Talvez, mas procurei que nele se contivesse, entire
o muito que podia conter-se, o que me pareceu essencial
numa visdo sint6tica dos problems africanos.
Por feliz me darei se a Sintese da Africa, que escrevi
tao laboriosamente, for fitil aos seus leitores portugueses,
tanto da metr6pole como dos meios ultramarinos, e cor-
responder, ao menos aproximadamente, c intengdo de
patriotism e cultural que levou o Minist6rio das Col6-
nias a promover a sua elaboragdo.
A. MENDES CORRRA
UM RELIANCE GERAL SOBRE A AFRICA
A Europa civilizada da Antiguidade e da Idade M6dia
apenas teve conhecimento de uma parte diminuta do
continent africano. Foram os Portugueses que no s6-
culo xv, renovando a faqanha quase legendaria de Ha-
nao, envolverarh aquele num p6riplo magnifico que uniu
os filtimos estabelecimentos meridionais da costa mar-
roquina, por uma longa linha de percurso litoral, com
as posicges extremes da influencia mugulmana nas
praias africanas do fndico. A porgao da periferia do
continent aberta pelos navegadores lusos ao conheci-
mento da Europa no dealbar da Idade Moderna, excede
notAvelmente a parte conhecida at6 entao, devendo regis-
tar-se que, desta fltima, as refer8ncias A parcel cor-
respondente ao Mar Vermelho e ao fndico, indirectas,
coadas atrav6s do mundo islamico, eram, naquela data,
fragmentirias ou obscuras.
Decerto a penetragao portuguesa para o interior nao
se fez, em todos os pontos, por modo igual e maciqo.
Na verdade, mesmo relativamente A faixa setentrional,
ji, desde muito, abrangida no horizonte da geografia
antiga, o acesso a paragens distantes da costa nao era
igualmente ficil e igualmente profundo. 0 Siara, como
os socalcos litorais e outras condigSes geogr~ficas, foi
sempre mais um obstAculo do que uma zona propicia
ao transito, mas, at6 limitado este as sendas das cara-
vanas, nem o pr6prio desert impedira as difus6es do
mundo antigo circum-mediterraneo para o Sul. E nao
deixaram de surgir e de se desenvolver, em certos pon-
tos da Africa, ao sul do Siara e no coragAo do conti-
nente, organizag5es political de vulto e focos impor-
tantes de civilizagao.
Mas os nossos pioneiros nao ficaram pelo litoral,
((arranhando as praias como caranguejos), na expressao
pitoresca de Fr. Vicente do Salvador para os nicleos
litorineos dos Portugueses no Brasil do seculo xvii.
Havia os langados, que, desde os primeiros tempos do
descobrimento, comeram a penetrar no interior, e uns
sucumbem, outros voltam cor noticias, outros, os tango-
maos, ainda por lh se estabelecem, chegando a unir-se
com filhas de r6gulos indigenas, como sucedeu tamb6m
com alguns dos primeiros colonizadores do Brasil. Os
vales dos rios, sobretudo, serviam de vias de penetrago e
proporcionavam nas respectivas margens paradeiros para
estabelecimento ou trifico. 0 Casamanga, o Zaire, o
Zambeze, sio das mais importantes dessas vias de pene-
trago, embora a navegagao fluvial estivesse vedada em
regi6es de ripidos e cataratas e muitas vezes aquelas
margens, mais ou menos alagadigas, viveiros de palu-
dismo e de outros males, surgissem pouco hospitaleiras
para a permanencia de europeus.
Entretanto, como os bandeirantes do Brasil, como os
pombeiros e funantes da nossa Africa, como os serta-
nejos da estirpe gloriosa de Silva Porto, os langados
e tangomdos foram, a despeito da parte maior ou menor
de aventura que havia nas suas empresas, e da cafreali.
zaao de muitos, grandes obreiros da explorago e da
ocupagao portuguesas no continent africano.
Ainda que as col6nias actuais de Portugal neste con-
tinente nao constituissem, em area, populagao e valor
econ6mico, a parte importantissima que representam em
relagao A totalidade do ImpBrio, evidentes raz6es hist6-
ricas e a necessidade cientifica de integrar a descrigao
e a explicago de muitos factos que dizem respeito Aque-
las col6nias no conhecimento da Africa em geral, acon-
selhariam uma pequena explanacao preliminary sobre
este iltimo tema.
Mas, na verdade, a porgao mais vasta, mais rica e
mais important do nosso Imp6rio esti na Africa. Sendo
de 2.081.936 quil6metros quadrados a drea total das
col6nias portuguesas, nada menos de 2.058.947 quil6-
metros quadrados dessa Area cabem a col6nias africanas.
Computando-se em cerca de 13 milh6es a populagao
de todas as nossas col6nias, apenas cerca de 1.500.000
habitantes pertencem a continents diversos da Africa.
Sem pretender diminuir a importancia das nossas col6-
nias da Asia e da Oceania, que, por nao serem tao
amplas ou tao importantes, nem por isso deixam de
ocupar um lugar de primeiro plano nos pensamentos,
no coragao, nos desvelos e no pr6prio interesse dos Por-
tugueses metropolitanos, temos de reconhecer que esta
na Africa a parte mais considerAvel do nosso patrim6nio
ultramarino. As nossas col6nias africanas representam,
em area, cerca de 1/15 da area total e, em populag~o,
porventura ima fracgao um pouco menor da populacao
total da Africa. Mas este filtimo cAlculo, como fAcil-
mente se presume, e menos rigoroso, ainda que pro-
vivel.
Em qualquer circunstincia, porem, apesar da redu-
cgo injusta que, no fltimo quartel do s6culo xix, foi
violentamente feita A area africana em que se reconhe-
ciam e eram evidentes os nossos direitos de soberania,
ainda hoje a Africa Portuguesa 6 uma important par-
cela da Africa em geral. Tanto basta para que estas con-
siderac6es sobre o continent em conjunto devam ante-
ceder a descricao monogrifica de cada uma das nossas
col6nias.
UN COUP-D'OEIL GINIRAL SUR L'AFRIQUE
L'Europe civilis6e de 1'Antiquit6 et du Moyen-Age n'a connu qu'une
parties tres r6duite du continent africain. Ce sont les Portugais du
xv-me si&cle qui ont trac6 autour de celui-ci un periple magnifique
reliant les derniers etablissements mnridionaux de la c8te marocaine
par le littoral aux positions extremes de 1'influence musulmane des
c8tes africaines de l'Indien. Si l'on pense aussi au caractere fragmen-
taire et souvent vague de plusieurs renseignements concernant la parties
de la Mer Rouge et de l'Indien connue A cette 6poque-la, renseigne-
ments filtres A travers le monde islamique, on ne peut pas manquer
de reconnaitre 1'Blargissement considerable de l'horizon geographique df
au periple portugais.
Certes les Lusitaniens ne p6netraient pas dans le coeur de l'Afrique
d'une fagon massive et homognne. L'acces de l'interieur n'6tait pas,
et il n'est pas encore, 6galement possible A tous les endroits. Le Sahara,
les escarpements des plateaux int6rieurs et d'autres conditions geogra-
phiques ont te6 toujours des difficultis A vaincre dans cet acces, mais
mrme le desert n'a pas 6t6 un obstacle insurmountable pour le transit.
Des diffusions de I'ancien monde circum-m6diterraneen ont 6t6 faites
vers le sud, des organizations politiques importantes et des foyers remar-
quables de civilisation 6tant n6s et s'6tant dv6lopp6s en plusieurs en-
droits de l'Afrique au sud du Sahara et meme au coeur du continent
noir.
Mais les pionniers portugais ne se sont pas arr8t6s dans le littoral,
Fr. Vicente do Salvador par rapport A quelques 6tablissements littoraux
bresiliens du xviime siecle. I1 y avait les (lancadosa, les ((tangomaoss,
comme plus tard les <(pombeiross et les (funantes>, qui, comme les
<(bandeirantes> du Bresil, montaient les course des fleuves ou escaladaient
les pentes, cherchant des voices de penetration, de l'or, des nouveautes,
des marches. Devant les embarras, les maladies, l'hostilit6 indigene,
beaucoup d'entre eux succombaient, malgr6 leurs efforts d'un h&roisme
inoui'. Mais d'autres reussissaient et, malgr6 la parties d'aventure et d'in-
teret, qui pouvaient inspire quelques-uns, ou la cafrealisation de plu-
sieurs, ils ont b6t de grands agents de l'exploration et de l'occupation
portugaises dans le continent africain.
Les colonies actuelles du Portugal dans ce continent constituent,
en surface, population et valeur 6conomique, une parties tres important
par rapport A la totality de 1'Empire. Quand meme ceci n'6tait pas tout
a fait exact, des raisons historiques 6videntes et l'utilit6 scientifique de
l'integration de plusieurs donnees concernant ces colonies dans la con-
naissance de 1'Afrique en general nous conseilleraient de faire un petit
expos preliminaire sur ce continent.
Mais, en effet, la parties la plus vaste, la plus riche et la plus impor-
tante de 1'Empire portugais y est situee. L'aire total des colonies portu-
gaises est de 2.081.936 kilomAtres carries, don't rien moins de 2.058.947
appartiennent a 1'Afrique. En evaluant a 13 millions environ la popu-
lation total des colonies portugaises A peine 1.500.000 habitants envi-
ron correspondent A des colonies non africaines. Sans amoindrir la
valeur de celles-ci et leur place dans les pensees, le coeur et mime l'in-
ter8t des Portugais metropolitains, il est evident que la parties plus con-
siderable du patrimoine lusitanien d'Outre-mer est situ6 en Afrique.
Les colonies africaines du Portugal repr6sentent, en surface, 1/15 en-
viron de l'aire total du continent, et, en population, peut-6tre un peu
moins.
On a injustement d6possWd le Portugal de vastes territoires oA ses
droits de souverainet6 6taient reconnus et 6vidents. Malgr6 celA l'Afrique
Portugaise est encore aujourd'hui une parcelle important de l'ensemble
africain. Cela suffit pour que des considerations sur le continent en
general soient un preliminaire utile de la description monographique
de chacune des colonies portugaises.
A GENERAL GLANCE OVER AFRICA
Only a very small portion of the African Continent was known to
civilised Europe of Antiquity and of Middle Age. The Portuguese of the
15th century completed the circumnavigation of this part of the
world joining along the shores from the southern settlements of the
Morocan coast until the extreme positions of 'Moslem influence on the
beaches of the Indian Ocean. If one thinks also of the fragmentary
and often vague aspect of the knowledge that Europe of this time had
about that part of the Red Sea and the Indian Ocean of which infor-
mation came through the Islamic world, one cannot but recognize the
considerable widening of the geographical horizon due to the Portu-
guese effort.
As a matter of fact, the Portuguese did not penetrate into the heart
of Africa in a compact and uniform manner. The approach to the
interior of Africa was not possible in the same way at all places. The
Sahara, the steepness of the interior plateaux and other geographical
conditions were always difficulties that had to be surmounted in this
approach but even the desert was overcome for the transit.
The spreading of the old circummediterranean world was made
towards the south where important political organization and remarkable
centers of civilization raised.
The Portuguese pioneers however did not stop at the shores, (scratch-
ing the beaches like crabs) according to the picturesque description
of Fr. Vicente do Salvador concerning some Brazilian coastal settlements
in the 17th century. There were 'the clangadoss, the stangomaoss, and
later the pombeiross and the
of Brazil, went up the river valleys or climbed the slopes looking for
ways of penetration, for gold, for novelty, for markets.
Faced with obstacles, sickness and native hostility, many amongst
them succumbed in spite of their efforts of unheard heroism.
Although for some of them the stimulus might only have been adven-
ture and self interest and although many intermarried with natives,
others succeeded and were great agents of Portuguese exploration and
occupation of the African continent.
The surface, the population and the economic value of the present
Portuguese territories in Africa make of them an important part of the
whole of the Empire. Even if this were not so, a preliminary report on
the African continent would be advisable for historical reasons and scien.
tific utility, for the integration of the Portuguese colonies in the know-
ledge of the whole continent.
Actually, however, the largest, the richest and the most important
portion of the Portuguese Empire is to be found in Africa.
The total area of the Portuguese colonies is 2.081.936 sq. kilometers,
of which 2.058.947 belong to Africa. In estimating the total population
of the Portuguese colonies at around 13 millions, only about 1.500.000
inhabitants belong to non-African colonies. Without underestimating the
value and the place of the latter in the thoughts, in the heart and even
in the interest of the Portuguese mother country, it is obvious that the
greater part of Portuguese patrimony overseas is in Africa.
The Portuguese African colonies constitute about one fifteenth of the
total area of the continent and their population perhaps a little less.
Portugal has been wrongfully deprived of large territories where
her sovereign rights were recognized and obvious. Notwithstanding this
fact Portuguese Africa is still, at the present time, an important part
of the whole Africa. This is sufficient to make out from this sketch
on Africa in general a useful preliminary of the monographical des-
cription of each of the Portuguese colonies.
A AFRICA NO GLOBO
Seja qual for a hip6tese adoptada para a explicaao
da repartigio dos continents e dos oceanos, e indubi-
tivel que a Africa forma um bloco de relative unidade
e independencia no ponto de vista da sua fisiografia
geral. Decerto a an6lise geomorfol6gica e um determi-
nado nidmero de condik6es geogrificas inevitdveis impri-
mem ao continent africano diversidades regionais,
alguma variedade na grande unidade aparente do con-
junto. 1 certo que tal analise conduz a conclusao de que
grande parte da faixa septentrional da Africa, da borda-
dura mediterranea desta, pertence mais ao dominion
europeu dos dobramentos alpinos do que a areas pe-
culiarmente africanas, e, pelo contrario, leva a incluir,
como faz Krenkel (1), no continent negro zonas que,
como a Sirdbia (Arabia e Siria) entire o Mar Vermelho
e a Mesopotamia, sao habitualmente englobadas noutros
dominios continentais.
(1) Erich Krenkel--L'Afrique -Traits fondamentaux de la struc-
ture de ses regions g6ologiques principales- ((Scientia>, vol. XLVI, Mi-
lano, 1939, pag. 88.
Lapparent desligava do conjunto africano a bordadura me-
diterrinea, falava numa grande area estavel, a Indo-Africa, em
que se nao limitava a incluir, como Krenkel, a peninsula ari-
bica, mas tamb6m englobava a pr6pria India, e at6, de certo
modo, a Australia. Eram as cplataformas indo-africanasD, hoje
apenas fragments, os quais, por6m, ana sua conformaggo
idWntica em largos plat6s regulares possuem tragos geol6gicos
que denunciam t(uma continuidade original (2).
Pelo seu aspect macigo, pelo seu escasso recorte lito-
ral, pela indecisao (segundo Lapparent e outros) da sua
orografia e hidrografia, pela proporgto de terras baixas
inferior A dos outros continents, a Africa aparece glo-
balmente como uma vasta plataforma que, em relaao
as outras parties da terra, se apresenta como das mais
s~t0 CONTINENTS
8000-
6000 A'FRICA
4000
2000
1-
2 ........ ..
FIc. 1- Curvas hipsogrdficas dos continents em geral (linha cheia 1)
e da Africa (linha ponteada ... 2)
(Seg. Penck e Lapparent)
(2) A. de Lapparent--Legons de Geographie Physique, 3.a ed., Pa-
ris, 1927, pp. 23 e 567 e segs.
marcadas e definidas nos seus contornos e das mais indi-
vidualizadas e uniforms na sua arquitectura geral.
A curva hipsogrifica do continent africano da, pela sua
convexidade na parte vizinha ao nivel do mar, a idea duma
plataforma que se levantou em bloco e em que o trabalho da
erosgo se renovou ou, de qualquer modo, 6 intense e esti long
do seu termo. R um facto aproximado que ocorre cor a curva
hipsografica da Australia. Na Africa a zona hipsom6trica de
O m. a 200 m. 6 apenas de 15,3 %, inferior A m6dia geral que
6 de 29,2 %, e As de todos os outros continents. Lapparent
acentua que 6 tamb6m em relacgo a Africa que a bordadura
imersa de 0 m. a 200 m. de profundidade tem menor largura,
sendo dificil, quase impossivel, representa-la nos planisf6rios
na escala ordiniria dos atlas (3).
Quanto as (articulag6es litorais)), ao desenvolvimento maior
ou menor das costas em relagEo A Area da terra firm, ainda
6 a Africa que aparece menos articulada (salvo em confront
cor a Am6rica do Sul) e cor menor desenvolvimento das
costas (em confront com todos os outros continentss. Conhe-
cidas a irea total e as Areas das ilhas e peninsulas para cada
parte da terra, as articula5qes representam 2,1 % da irea total
CO90 BELCA
5 LIMu SAARi
Fic. 2-Corte do continent africano segundo o meridiano de 200 E. Gr.
Escala das alturas muito superior a dos comprimentos.
para a Africa, quando para todos os outros continents (salvo
a Am6rica do Sul em que constituem 1,1 %) estao em pro-
porg5o de 19 a 35 %. Quanto ao desenvolvimento das costas,
6 na Africa apenas 1,8 vezes o perimetro minimo da Area res-
pectiva, indo nas outras parties do globo de 2 a 4,9 vezes.
(3) A. de Lapparent--Op. cit., p. 38.
17,
A distancia m6dia das costas em Africa 6 de 670 km, apenas
excedida pelo valor obtido para a Asia, mas mais expressivos
sao os nimeros que dio a proporcgo relative das zonas (cvizi-
nhas da costa) (isto 6, sem distancia alguma superior A m6dia)
e das zonas ((afastadas da costa) (as outras). Ora as zonas
afastadas da costa sao em Africa 47 % e nas outras parties
to tni-ATLAS
IMO
,5.. .,
5---Lf
to w _^ ^ ,^ .. .. .. .1^ ii~i~ii 1. .. ., ~ i- ^ ^ -
CONSO SELCA
Mn.OAKENSSERG
Fics. 3 A 5--Crtes do continent africano no sentido O.-E. De cima
para baixo, aproximadamente segundo o paralelo de 300 N., o equador
e o paralelo de 300 S.
Escala das alturas muito superior a dos comprimentos.
da Terra escalonam-se entire 45 e 38 % (4). ti, digamos, a parte
do globo de maior ((continentalidade). Nio deve surpreender
ningu6m o atrazo que houve na sua penetragao europeia. No
entanto, uma ilha, a Nova Guin&, tardou mais em abrir-se
ao conhecimento dos civilizados.
Antes de algumas palavras sobre a hist6ria geomor-
fol6gica do continent africano e a sua divisgo em gran-
des regi6es naturais, nao esquegamos o significado que
A sua posigao no globo 6 dado por algumas teorias.
Assim, a hip6tese tetra6drica, segundo a qual a Terra
6 um esfer6ide em que a contraccao internal operou a
deformagco tetra6drica da crusta, permitiria localizar
o eixo N. S. da Africa na aresta que dum v6rtice euro-
-africano do hemisf6rio setentrional desce para a ponta
meridional do tetraedro, a qual corresponderia A Antirc-
tida.
Mas nao nos seduz esta caprichosa simplicidade geo-
m6trica da hip6tese, corrigida mesmo com a ideia da
torso do globo e consequente desvio das pontas me-
ridionais dos continents para Leste (suposta cor origem
numa maior velocidade angular da rotacao desse hemis-
f6rio). Mais verosimil se afigura a teoria das transla-
cSes continentais de Wegener, em que a Africa seria
um enorme fragmento do bloco superficial (predomi-
nantemente de silicio e aluminio, donde o nome de sial),
que sobrenadaria na massa subjacente, fluida, de
sima (silicio e magn6sio), a seu turno inv6lucro do
nicleo interior s6lido, rigido e denso de nife
(niquel e ferro).
Mas esta mat6ria relaciona-se estreitamente cor o
breve esbogo geo-hist6rico que vamos trasar.
(4) Estes ndmeros como os anteriores, sao extrafdos de Penck,
Rohrbach e Wagner (v. deste iltimo Trattato di Geografia Generale
--Vol. II, Torino, 1911, p. 30 a 33).
L'AFRIQUE DANS LE GLOBE
(RESUME)
Quelle que soit l'explication presentee pour l'origine et la repartition
des continents et des oceans, l'Afrique constitute un bloc relativement
uniform et ind6pendant sous le point de vue de la physiographie gen6-
rale. Mais une analyse gdomorphologique et des conditions gdographi-
ques inevitables y 6tablissent des diversites r6gionales, une vari6et, dans
la grande unit apparent. L'analyse sus-dite spare nettement la bande
septentrionale, la bordure mediterranEenne, appartenant en r6alit6 a 1'Eu-
rope alpine, de la parties central et m6ridionale, proprement africaine.
Par centre, la meme analyse nous amine a inclure dans celle-ci des zones,
comme la Syrabie (Arabie et Syrie) de Krenkel, que l'on est habitu6
a inclure dans d'autres domaines continentaux. Lapparent allait plus
loin, formant le bloc de l'ndo-Afrique, qui n'englobait pas seulement
la P6ninsule Arabique, mais aussi 1'Inde et meme, jusqu'A un certain
point, l'Australie. Les (plate-formes indo-africaines, actuelles don't il par-
lait, seraient des morceaux d'une (continuitE originale.
L'aspect massif, le decoupage r6duit des cotes, l'ind6cision de l'oro-
graphie et de I'hydrographie, la proportion relativement petite des terres
basses, revelent que 1'Afrique proprement dite constitute une grande
plate-forme soulevie ayant de contours marques et oi l'action erosive
s'est renouvellbe et est encore loin de son terme. Ce fait est montr6
par l'examen de la courbe hypsographique. En ce qui concern les cou-
pures marginales, 1'Afrique est, apres 1'Amdrique du Sud, la parties de
la Terre moins oarticule)), et, en y determinant la distance moyenne
de son interieur par rapport aux cotes, elle n'est outrepassee que par
1'Asie, sous le point de vue de la continentalit6. Celle-ci explique, en
grande parties, les difficulties de la penetration humaine vers son interieur.
La signification attribute a la position de 1'Afrique dans le globe est
variable selon les differents theories sur l'origine et l'histoire des con-
tinents et des oceans. Selon 1'hypothese tetraedrique, I'axe africain N.-S.
correspondrait a l'arete qui d'un sommet eurafricain descendrait vers
la pointe antarctique, avec un detour vers I'Est determine par la torsion
du globe. Mais l'hypothese des translations continentales me semble
plus vraisemblable. Arrftons-nous cependant dans une court esquisse
geo-historique de l'Afrique.
AFRICA IN THE EARTH
(ABSTRACT)
Whatever may be the explanation for the origin and distribution
of the continents and the oceans, Africa. represents a more or less uni-
form and independent block from the point of view of general physio-
graphy. However a geomorphological analysis and the inevitable geo-
graphical conditions give it a regional diversity in an apparent unity
as a whole. This analysis does clearly isolate the northern strip of Africa
or its Mediterranean border, which really belongs to Alpine Europe,
from the central and southern parts namely Africa. On the contrary,
the same analysis would include in the African continent zones like
Krenkel's Syrabie (Arabia and Syria) usually included in other conti-
nental domains.
Lapparent went further forming the Indo-African block not only
with the Arabian Peninsula but also with India and in certain aspects
even Australia. The actual Indo-African platforms of which he spoke
would be pieces of an original continuity.
The massive aspect, the little indentation of shoreline, the indecision
of orography and hydrography, the more or less small proportion of low-
lands show how Africa itself is a vaste raised platform, having a marked
outline where erosion cycles are renewed and are far from ending. This
fact is shown by the hypsometrical curve. Regarding marginal inden-
tations, Africa is, after South America, the least articulated part of the
world and, in determining the average distance from the interior to the
coast, it is surpassed only by Asia from the point of view of continen-
tality. This explains a great deal the difficulties of human penetration
in its interior.
The position of Africa in the earth is explained in different ways
according to the theories on the origin and the history of the conti-
nents and the oceans. Adopting the tetrahedral hypothesis, the African
N.-S. axis would correspond to the edge that from a Euro-African summit
would descend to the Antarctic extremity presenting a deviation towards
the East on account of the torsion of the globe. But the hypothesis
of continental drift seems more probable.
In the meanwhile let us pause a little in a brief geohistorical sketch
of Africa.
A PALEOGEOGRAFIA DA AFRICA
Pomos de parte, na nossa ripida sintese do passado
geomorfol6gico da Africa, a orla setentrional berberisca
emersa, pelo impeto orog6nico que produziu as cadeias
alpinas, do fundo do velho e vasto Mediterraneo que
Suess baptizou com a designagao de Thetys. Assinalamos
apenas que, no alg8nquico, a plataforma arcaica do con-
tinente foi violentamente convulsionada pelos dobramen-
tos chamados huronianos, gerando-se montanhas orien-
tadas no sentido N.-S. Sao ao norte as Sadrides, a S.
as Transvdlides (s). Ap6s um trabalho mais ou menos
long de erosgo, iniciam-se no cambrico extensas inva-
soes marinhas, que apenas poupam o bloco formado pela
Africa de Nordeste e pela ArAbia, areas unidas at6 ao
plioceno. Terminado o silirico, os dobramentos chama-
dos caledonianos operam-se por todo o continent afri-
cano, sobretudo na sua parte meridional, gerando ali-
(5) V. Raymond Furon-La Paleogeographie, Paris, 1941, p. 349
e segs.; P. Fourmarier-Principes de Geologie, t. II, Paris, 1944, p. 688
e segs.
nhamentos montanhosos na mesma direcgao N.-S. ou na
NE.-SO. 1t, como faz notar Furon, a orientaqao predo-
minante das linhas tect6nicas africanas, desde os velhos
movimentos huronianos at6 as extensas fractures de data
recent. Esses movimentos caled6nicos concluem a ele-
vagao das Transvilides e de toda a Africa a S. do equa-
dor. A porgao a N. do equador e a Africa de Oeste s6
Fic. 6 Esquema geol6gico da Africa, seg. virios autores.
I-- uaternario; 2--Terciario; 3--Secundario; 4-Primario;
5- Fonrmages de Karroo (Pnrmico-Secundario); 6- Primitivo-Precam-
brico e rochas cristalofilianas indeterminadas; 7-Rochas eruptivas
antigas; 8 Rochas eruptivas recentes; 9 Regibes nio reconhecidas;
1o Jazigos de carvao.
emergem cor os movimentos hercinicos, que se desen-
rolam desde o carbonifero m6dio at6 ao principio do
triAdico, ou seja at6 ao comego da era secundiria.
Na imensa massa terrestre assim emergida, desenham-
-se, por6m, cuvetas ou bacias que se enchem de sedi-
mentos continentais. Sao os dep6sitos de grande parte
da Africa Central e Austral, conhecidos pelo nome de
t(formaao do Karroo), equivalent do sistema de Gon-
dwana na peninsula industanica. O Karroo, nome dado
na Africa do Sul, esta representado nao apenas nesta
part da Africa, mas tamb6m, largamente, no norte de
Angola e no Congo Belga, onde os dois andares corres-
pondentes sao designados, respectivamente, por andares
de Cassanje e da Lunda, e de Lualaba e Lubilache.
Notemos, de passage, que as grandes cuvetas refe-
ridas nao tam, na realidade, o fundo c6ncavo, mas como
a maior parte das grandes depresses terrestres, apre-
sentam no fundo um dominio da convexidade geral da
superficie terrestre. Afinal s6 as depresses estreitas sao
verdadeiramente concavas. Mas prossigamos.
Antes do carbonifero m6dio, hi grandes glaciag6es.
Depois o clima aquece.
No fim da era primiria a Africa (com excepgao da
orla mediterranea) esta toda incluida no famoso (con-
tinente de Gondwana) dos ge6logos, o qual abrangeria,
tamb6m, grande parte da Am6rica do Sul, Madagascar,
a Arabia, a fndia e a Australia. A ampla distribuicgo
do feto fossil Glossopteris caracteriza a area do imenso
continent existente a S. da Thetys. Mas, em tamanho
bloco terrestre, o geosinclinal que, no comego do secun-
dirio separa Madagascar (e o continent australo-indio-
-malgache) da parcela continental sita a Oeste (conti-
nente afro-brasileiro) 6 a primeira solugao de continui-
dade de vulto, que inicia a sua fragmentaggo. O canal
de Mogambique precede assim, na geo-hist6ria, o Atlan-
tico Sul que s6 mais tarde separaria a Africa do Brasil.
i aquele canal, pois, uma velha e significativa dispo-
sig5o terrestre. Nao seria de admirar que Madagascar
tivesse geomorfol6gicamente uma fisionomia pr6pria,
distinta da da Africa fronteira. Nao 6, tamb6m, de admi-
rar a individualiza~ao bio-geogr6fica daquela ilha com
referencia a esta iltima. A pr6pria etnologia Ihe deu
mais afinidades cor as paragens da Insulindia ou da
Austral6sia do que com o continent do qual a separa
apenas um canal.
No p6rmico superior e no triidico, comeqa a sua mag-
nifica floragao evolutiva o grupo dos r6pteis de que,
sobretudo no juraico, sao dominantes os dinosiurios,
alguns dos quais monstros mais ou menos cosmopolitas.
Mas certos movimentos orog6nicos e de conjunto (ou
epirogenicos), corn maior ou menor importancia, se de-
senrolam no comego do secund6rio, no triidico, acom-
panhados de fractures e erupg6es. Sao as (grandes fen-
das africanas>> que se comeqam entao a desenhar, essas
fendas bem conhecidas em que se localizam, por exem-
plo, os alinhamentos dos Grandes Lagos.
Algumas oscilag6es de linhas de costas se ddo no
resto do secundirio, mas o fen6meno mais important
6 a formago do Atlantico Sul no fim dessa era no
cretaico. Limitada jA, a leste, pelo canal de Mogambique
e, a oeste, pela nova area oceanica, a Africa isola-se
enfim, como pega independent, no velho continent de
Gondwana. Nalguns moments, as aguas do mar inva-
dem mais ou menos largamente o dominio continental,
chegando mesmo profundamente ao interior da Africa.
O facto di-se sobretudo numa fase do cretaico, o ceno-
manense, mas o mar de entao 6 pouco profundo. A ins-
tabilidade e as fractures, a cujo inicio ja nos referimos,
intensificam-se no cretaico superior, por vezes com erup-
96es de basaltos.
No terciirio hi invas6es e recuos do mar (transgres-
s6es e regressoes) em varios pontos do territ6rio afri-
cano, e, logo no comeco daquela era, alguns canais ma-
rinhos, como j~ no secundirio, sulcam o Siara, chegando
a estabelecer ligagdo entire o Mediterraneo e o golfo da
GuinB. Na primeira fase do terciario, um grande golfo
penetra cerca de 500 km. no interior do Senegal. Um
pouco mais tardios mas ainda duma 6poca pouco adian-
tada do terci6rio (oligoceno), os jazigos fossiliferos de
Faium (Egipto) fornecem esp6cimes de primatas antro-
pomorfos de grande interesse no estudo da filogenia
do grupo. Os movimentos tect6nicos, a
no dizer de Furon, nao poupam a Africa, dando-se cor
certa flexao uma elevagAo global do continent, o que
restringe a amplitude dos dep6sitos marinhos desse pe-
riodo na orla do territ6rio africano. Numerosas e im-
portantes linhas de fracture surgem, nao numa grande
falha, mas em grupos de falhas entrecruzadas NE.-SO.
e NO.-SE., que geram o afundimento de grandes cubos.
O sistema de fendas vem da Siria ate A Rod6sia (6).
O bordo ocidental das fossas fica mais alto do que o
oriental. No Tanganica, por exemplo, a margem ociden-
tal est6 a 3.300 m, a oriental a 2.500. Das fractures
irrompem emiss6es vulcanicas. Lagos e trocos de cursos
fluviais se adaptam A rede tect6nica desenhada. Mas no
filtimo period do terciario (plioceno), como no qua-
ternirio, prosseguem as fractures, os afundimentos, a
instabilidade, fen6menos que se nao pode dizer, entre-
tanto, terem ji terminado. A actual instabilidade sis-
mica (fig. 7) o atesta.
(6) R. Furon-Op. cit., p. 375.
Fic. 7-A actividade sismica na Africa Oriental, segundo Bailey Willis.
S- Tremores de terra raros on ignorados; 2 Pouco frequentes e pouco
violentos; 3- Frequentes e por vezes destruidores; 4- Muito intensos.
28
Do mesmo modo que o Mar Vermelho, por entire vicis-
situdes virias, se forma em virtude dessas fragmenta-
c6es e afundimentos, tamb6m o istmo do Suez prov6m
duma ascensao simultinea. As rela~5es biogeogrificas
entire a Asia e a Africa sao condicionadas por esses
factos geol6gicos. Mesmo entire Madagiscar e o conti-
nente africano surgem, at6 ao quaternArio, algumas liga-
c6es ou contacts, embora reduzidos.
0 clima, como na Eurasia, varia, em Africa, nos tem-
pos geol6gicos. Aos periods glacidrios e interglaciarios
do quaternirio europeu correspondem, no continent
africano, fases de pluviosidade intense e fases secas.
Wayland e Leakey deram-nos uma classificacgo dos
periods pluviais e secos, baseada nas suas observagoes
na Africa Oriental: a partir do mais antigo para o mais
modern, os periods pluviais africanos seriam o ca-
fuense, o camasense, o gamblense, o macalense e o na-
curense, este tiltimo ji, geolbgicamente, modern ou
holoceno e, arqueol6gicamente, correspondent a idade
da pedra polida ou period neolitico (7).
Possiveis ascendentes do Homem, formas extintas de
antrop6ides ou series intermedidrios entire os tipos actuais
de primatas superiores teriam existido nas terras afri-
canas. Uma extensa e variada induistria litica pr6-his-
t6rica atesta por quase todo o continent a antiguidade
e amplitude do povoamento human na sua vasta super-
ficie. Com alternatives virias o Siara, que no paleo-
litico inferior, na mais remota idade da pedra lascada,
tinha um clima himido, comega desde o paleolitico m6-
(7) Sobre a alternincia de climas no quaternario africano v., por
exemplo: Maurice Robert--Le Congo Physique -3. ed.--Liege, 1946,
pp. 294-297. Em relagao is bacias do Niger, veja-se: J. Urvoy-Les
bassins du Niger--Paris, 1942, p. 53 e segs.
dio, a tornar-se cada vez mais seco, dessica5go que se
opera mais ou menos noutros pontos do continent. Du-
rante a idade da pedra polida (ou neolitico) 6 que se
da mais intense e progressivamente a conversgo do Sda-
ra no actual desert. Poucos mil6nios ou mesmo poucos
s6culos antes de Cristo ainda ele tinha humidade bas-
tante para ser atravessado por carros de cavalos. Alids
o cavalo e o camelo domesticados foram introduzidos
tardiamente na Africa (8).
Algumas pequenas modificaS5es geol6gicas e climi-
ticas se operariam ainda, nesta, nos tempos hist6ricos.
O Homem, como faz notar Furon (9), contribui para o
agravamento da condigao des6rtica no Siara. H. Hum-
bert e outros botanicos afirmam que uma degradagio
da vegetagio 6 produzida pela transumancia dos came-
los e das cabras. O mal continue. Modificag6es bio-
geogrAficas se deram tamb6m na 6poca hist6rica em
vdrios pontos do continent africano. Quantas se nao
estdo dando A nossa vista?
((A hist6ria geol6gica, escreve um ge6grafo frances (A. Ber-
nard) explica os caracteres que o relevo do continent afri-
cano apresenta. 1 um plat6 pouco chanfrado, pouco aciden-
tado, no qual as parties salientes, abstraindo da regigo do Atlas,
se apresentam sob a forma de terragos e de bordaduras de
plat6s, ou de aparelhos vulcanicos, ou ainda de relevos insu-
lares de rochas duras tornadas salientes pela desnudag~o. Nada
de mistura harmoniosa de todas as formas de relevo como na
Asia. Se fosse precise caracterizar cor uma palavra esse relevo,
poder-se-ia dizer que o seu traco mais essencial 6 a sua extrema
indecisao). Comparou-se a Africa a um prato invertido. Rios
que seguem uma rota caprichosa, voltando por vezes as costas
ao mar em que desaguam. As regi5es arreicas (isto 6, sem
(8) E. F. Gautier-Le Sahara, Paris, 1946, p. 129 e segs.
(9) Op. cit., p. 385 e 386.
qualquer escoamento fluvial) e as endorreicas (bacias fechadas)
constituem mais de metade da Africa (fig. 8) (10).
o'er. 20 400
200 200
00 20* 40"
FIG. 8- RegiSes arreicas (1) e endorreicas (2) em Africa, seg. A. Bernard.
As maiores altitudes africanas sao as do Qu6nia
(5.188 m.) e do Quilimandjaro (6.010 m.). Pois sao vul-
c5es. Vulc6es que irromperam, em jorros de magmas,
pelos bordos das grandes fractures hiantes. Se alguns
lagos sao mares interiores, num pais de relevo indeciso,
(10) P. Vidal de la Blache & L. Gallois Gographie Universelle
- T. XI, le. parties Paris, 1937, pp. 4 e 5.
outros, sobretudo os da Africa Oriental, ocupam fossas
tect6nicas nessas zonas de fractures. Sempre dominant
a fisionomia do bloco antigo que se enruga, por vezes,
aqui e ali, que se deixa invadir nalguns pontos pelos
mares, mas que se fragmenta, de preferencia a flectir,
e guard, pelos mil6nios incontiveis dos tempos geol6-
gicos, aquela fisionomia do gigante que envelhece, que
sangra pelas feridas abertas do seu corpo mas que, de
vez em quando, se ergue, se levanta, altivo, num esforgo
her6ico de resistencia A morte.
LA PALi2OGM OGRAPHIE AFRICAINE
(RsISUM~)
Nous ne nous occuperons pas, dans cette synthese du pass g6omor-
phologique de 1'Afrique, de la bordure septentrionale berbere emerg6e
du fond de la Thetys de Suess sous l'impulsion orog6nique qui a donn6
I'origine aux chaines alpines. Dans 1'Algonkien, la plate-forme archa'-
que du continent future a t&6 convulsionn6e par les plissements huroniens,
qui ont form les Saharides au N. et les Transvaalides au S., les unes
et les autres ayant l'orientation N.-S. AprBs un travail 6rosif et des inva-
sions marines qui n'ont 6pargn6 que le bloc du nord-est africain et de
1'Arabie, don't 1'union subsiste jusqu'au Pliocine, les movements cald-
doniens surviennent en presque tout le continent, surtout au sud, et ils
batissent des alignements montagneux, aussi dans le sens N.-S. ou
NE.-SO., orientations qui prfdominent en Afrique jusqu'aux longues
fractures r6centes. Tandis que dans la parties au sud de l'Rquateur ces
movements achivent la sur-l66vation, la parties du nord et de l'ouest
n'est 6merg6e qu'avec les movements hercyniens entire le Carbonifere
moyen et le d6but du Trias. Des glaciations pr6ecdent ces movements.
A la fin du Paleozoique, I'Afrique est unie, en excluant la bordure
mediterraneenne, A l'Inde, A Madagascar, l'Australie et a l'Amerique
du Sud, 1'ensemble de ces terres constituent le c6lbre ((continent de
Gondwana)) mais dans une grande parties du continent africain des
cuvettes ou des bassins se sont forms et remplis par des d6pots conti-
nentaux. Ce sont les (formations du Karroo), de 1'Afrique du Sud, rDpr6-
sent6es en Angola par les stages de Cassanje et de Lunda et dans le
Congo Belge, respectivement, par ceux de .Lualaba et Lubilache.
Un goosynclinal du debut du S6condaire d6tache Madagascar de la
parties occidentale du continent de Gondwana. A part des rapports r6duits
dans l'avenir, Madagascar n'est plus, sous le point de vue geomorpho-
logique, une ile africaine et elle ne l'est pas non plus A present sous
le point de vue 6thnologique.
Le Trias est contemporain de movements orog6niques et 6peirog6-
niques, accompagnes de fractures et d'6ruptions. Les grandes fractures
africaines, comme celles des Grands Lacs, commencent A apparaitre
A cette p6riode.
Pendant le Secondaire, il y a des oscillations des rivages maritimes,
et, dans le Cr6tac6, 1'Atlantique meridional s'est form. L'Afrique est
alors une piece dejA ind6pendante dans l'ensemble du continent de
Gondwana, ce qui ne signifie pas, par example, que les eaux maritimes,
peu profondes d'ailleurs, n'arrivent pas parfois au coeur mnme du terri-
toire, surtout pendant le CUnomanien. Les fractures et les eruptions
s'intensifient A l'6poque du Cretac6 superieur.
Des transgressions et des regressions se succAdent aussi pendant le
Tertiaire au d6but de cette Are, comme au Secondaire, le Sahara est
sillonn6 par des canaux, qui aboutissent m8me A 6tablir une liaison entire
la M6diterranee et le golfe de Guin6e. Un grand golfe se dessine aussi
dans le S6n6gal.
Des depots important se constituent pendant l'Oligocene A Fayoum
(Egypte), contenant des fossiles de singes anthropomorphes int6ressant
a la phylog6nie du group des Primates et de l'Homme. La ((crise
alpine) (Furon) n'4pargne pas l'Afrique et r6duit I'Ntendue des trans-
gressions marines de leur p6riph6rie. Des failles nombreuses entrecroi-
sees dans le sens NE.-SO. et NO.-SE., engendrent de grands cubes.
Ce r6seau de fentes s'6tend de la Syrie a la Rhoddsie, le bord occidental
des fosses restant plus haut que I'oriental. Des missions volcaniques
font irruption par les fractures lesquelles, comme les effondrements,
1'instabilit6, se poursuivent pendant le Quaternaire. Des lacs et le reseau
fluvial s'adaptent au dessin tectonique. Ces ph6nomenes ne peuvent pas
encore etre consid6res comme terminus.
Les movements du sol dans les regions du Suez et de la Mer Rouge
ont regl6 A travers les Ages les rapports biogeographiques entire 1'Asie
et l'Afrique. Le climate, lui aussi, varie pendant les Ares g6ologiques
dans le continent africain. Wailand et Leakey ont propose une chrono-
logie de p6riodes pluviales s'alternant en Afrique Orientale pendant
le Quaternaire avec des p6riodes de s6cheresse, plus ou moins en cor-
respondance avec les periodes glaciaires et interglaciaires de l'hemis-
phere septentrional. Le Sahara, avec des alternatives, subit, petit A petit,
pendant le Quaternaire et surtout dans le NMolithique, un dessechement
progressif qui aboutit au desert actuel. L'occupation humaine y est r6glee
par ces conditions physiques. Quelques millionaires ou mame quelques
siecles avant Jesus Christ le Sahara avait encore l'humidit6 n6cessaire
pour pouvoir etre parcouru par des chars a chevaux. Remarquons que
le cheval et le chameau domestiques ont et6 introduits tardivement
en Afrique.
A. Bernard decrit les rapports entire I'histoire gEologique et les carac-
teres du relief du continent africain. Celui-ci est, selon le g6ographe
frangais, un plateau peu decoup6 et peu accident, oi les parties sail-
lantes, en excluant l'Atlas, se pr6sentent sous la forme de terrasses,
de bordures d'appareils volcaniques ou de reliefs insulaires de roches
dures rendues saillantes par la d6nudation. L'indecision serait le trait
essential de l'Afrique. Les plus grandes altitudes africaines sont des
volcans: le K6nia et le Kilimandjaro.
L'Afrique a la physionomie d'un vieux g6ant qui saigne par leurs
blessures, mais qui, parfois, pr6f6rant etre bris6 a flichir, se dresse,
hautain, dans des efforts hero'iques de resistance a la mort, m6me de
rajeunissement, et tombe, ensuite, dans un accablement plus ou moins
provisoire, qui peut etre de la faiblesse mais que peut aussi traduire
une indecision entire 1'anndantissement et la vie.
TIE AFRICAN PALEOGEOGRAPHY
(ABSTRACT)
In this short synthesis of the geomorphological past of Africa we
shall put aside the northern Berber border which emerged from the
Suess' aThetys, under the orogenical impulsion which produced Alpine
ranges.
In the Algonkian the archaic platform of the future continent was
convulsed by Huronian folds which formed the ((Saharidess in the north
and the t(Transwaalides, in the south, both in the N.-S. direction.
Caledonian movements have taken place in almost the whole conti-
nent, especially in the south, after erosive action and marine invasions
that only spared the northeast African and Arabian block which remai-
ned united until the Pliocene. Those orogenetic movements produced
mountain ranges also in the N.-S. and NE.-SW. directions. These direc-
tions predominated in Africa until the recent extended fractures. Whilst
towards the south of the equator these movements concluded the land
uplift, the northern and western parts only emerged between the middle
Carboniferous and the beginning of the Triassic, with the Hercynian
movements. The later were preceded by glaciations.
At the end of the Paleozoic Africa is joined, excluding the Mediter-
ranean border, to India, Madagascar, Australia and South America. The
whole of these lands constitutes the famous Gondwanian continent.
In great part of African territory basins are formed and filled by
continental deposits which in Southern Africa are the Karroo formations,
represented respectively in Angola by the layers of Cassange and Lunda
and in the Belgian Congo by those of Lualaba and Lubilache.
A geosyncline of the beginning of the Secondary era separates Mada-
gascar from the western part of the Gondwanian continent. Except for
some light contacts Madagascar is no longer an African island from
a geomorphological aspect. Neither is it one at present from the ethno-
logical point of view.
During the Triassic there are orogenetic and epeirogenetic move-
ments accompanied by fractures and eruptions. The African fractures,
like those of the Great Lakes, begin to appear at this period.
At the secondary era, there are oscillations of the seashores and
in the Cretaceous the southern Atlantic is formed. Africa becomes now
a piece already independent in the Gondwanian whole, but there are still
invasions by marine waters of little depth that reach at times the heart
of the territory especially in the Cenomanian. During the upper Creta-
ceous the fractures and eruptions become more intense and transgres-
sions and regressions follow each other in the Tertiary. At the beginning
of this era as well as in the Secondary, the Sahara is furrowed by canals
that even end in forming a link between the Mediterranean Sea and the
Gulf of Guinea. A great gulf opens also in Senegal.
During the Oligocene important deposits are formed at Fayoum
(Egypt) containing fossils of anthropomorphic monkeys much interesting
to phylogeny of the Primates and of Man. The ((Alpine crisis) (Furon)
does not spare Africa and reduces the extent of marine transgressions
in its periphery. Numerous faults crossing each other in NE.-SW. and
NW.-SE. directions form great cubes. This network of rifts extends
from Syria to Rhodesia leaving their western borders higher than the
eastern ones. Vulcanicity manifests itself through the fractures which
like the sinks and instability continue in the Quaternary. Lakes and
rivers settle themselves to the tectonic design. These phenomena cannot
at present be considered as ended.
Through the ages the land movements in the countries of Suez and
of the Red Sea ruled the biogeographical relations between Asia and
Africa. Climate also varied through the geological eras in the African
continent. Wayland and Leakey gave a chronology of the pluvial periods
alternating in Africa during the Quaternary with dry periods, both perhaps
corresponding to the glacial and interglacial periods in the northern
hemisphere. The Sahara suffered little by little with alternations an in-
creasing dryness during the Quaternary and especially during the Neo-
lithic and so appeared the present desert. Human occupation is ruled
there by these physical conditions. Some millenaries or even centuries
before Christ, the Sahara must have had the necessary humidity for the
transit of horse carts. It is to be noted that the domestic horse and camel
were late brought into Africa.
A. Bernard describes the relation between the geological history
and the relief characteristics of the African continent. According to the
French geographer Africa is a plateau with few indentations and without
many variations of form. Excluding the Atlas the striking parts are repre-
sented in Africa by terraces, borders, volcanic features, insular reliefs
of hard rocks made striking by denudation. Indecision is the essential
trait of Africa. The highest altitudes are volcanoes: the Kenya and the
Kilimandjaro.
Africa has the appearance of an old giant bleeding from wounds
but who prefers to be torn to pieces rather than to bend. Sometimes
he raises himself proudly in a heroic effort to resist death and even
to grow younger, and then is overcome more or less temporarily giving
an impression of weakness or, better still, of an indecision between anni-
hilation or life.
REGIOES NATURAIS
A configuragao aparente das virias parties do globo
esti long, em regra, de corresponder A configuragao pri-
mitiva dos grandes blocos de que essas parties resultaram
por uma longa evolugao tect6nica e geomorfol6gica. Pe-
las circunstancias especiais dessa evolugao, pelas limi-
tag6es dos avangos ou retrocessos das costas maritimas
na sua area, pela estreiteza relative da faixa submarine
da plataforma em que assenta, 6 a Africa o continent
cuja configuragao geografica actual mais se aproxima
da do fragmento terrestre que a gerou na sua maior
parte. Apesar disso, apesar da relative c(personalidade)
estrutural que, de certo modo, como ja foi dito, a Africa
apresenta, as condig5es naturais, as diferengas de lati-
tude e de longitude, as diversidades de actuago, nos vi-
rios pontos do seu territ6rio, das causes end6genas e ex6-
genas da fisionomia geografica, tornaram possivel o es-
tabelecimento dum certo nimero de regi6es naturals na
relative unidade do continent. Aludiremos adiante
As zonas climiticas, biogeogrAficas e de povoamento
human que podemos reconhecer neste iltimo. Por
agora, mencionaremos apenas algumas grandes areas
estruturais, susceptiveis de, mais ou menos, se rela-
cionarem cor aquelas zonas, mas sobretudo caracteri-
zadas por feig6es geol6gicas mais ou menos distintas.
Deixando para algumas piginas adiante indispensaveis con-
sideraq6es sobre o estado de desenvolvimento da cartografia
da Africa, registemos desde ja que o conhecimento geol6gico
desta, relacionando-se aliAs corn o conhecimento topogrifico,
6 ainda insuficiente, apesar dos esforgos empregados nalgumas
regi6es por misses enviadas das metr6poles ou por services
locais especialmente organizados pelos governor ou por em-
presas. A elaboraC5o duma carta geol6gica da Africa em con-
junto tern sido objective preconizado intensamente pelos Con-
gressos Internacionais de Geologia, mas a tarefa estA incomplete.
Ha, entretanto, ji algumas folhas na escala 1/2.000.000. No
livro de Worthington Science in Africa pode ver-se uma resenha
dos servigos em actividade a data da publicagco (1938) e dos
trabalhos realizados, nao faltando a mengo do que se tern
feito no campo da geologia em correlaggo com os problems
de hidrologia e abastecimento de aguas, da prospecqco geofi-
sica, da sismologia, das variag~es da gravidade, da paleonto-
logia, da ciencia dos solos, etc. Lord Hailey, no seu volume
virias vezes citado, ocupa-se tamb6m das relac6es da geologia
africana com a prospecFgo e a exploracgo mineiras. Voltaremos
ao assunto. Por agora prossigamos no estudo da possibilidade
de definir, desde ja, na Africa virias regi6es naturais.
Num primeiro reliance, diz Fourmarier, a Africa apresenta-se
constituida por duas vastas areas, ligadas uma a outra na
altura do paralelo 5 norte. A porgao setentrional ter o seu
eixo maior na direccqo leste-oeste, a outra na direccqo do meri-
diano. As duas Areas apresentam entire si dissemelhanqas pro-
fundas (11). Para um reliance muito sumirio, dizemos n6s, esta
subdivisgo pode ter interesse. Na verdade, por6m, cada uma
dessas zonas 6 ji de si heterog6nea e sera mais justificado,
mesmo, relacionar algumas parcelas duma delas com parcelas
da outra do que manter, por exemplo, na mesma unidade as
(11) P. Fourmarier-Op. cit., p. 679.
cadeias alpinas do norte e o macigo eti6pico e separar este
totalmente do grande eixo anticlinal que vai do Mar Vermelho
ao Transvaal.
Fourmarier assim o entende, sem dhvida, porque logo dA
uma reparticgo do continent em 8 unidades ou mais, embora
as do bloco norte estejam orientadas no sentido dos paralelos
e as do bloco sul no dos meridianos. HA entire essas unidades e as
que vamos indicar uma certa correspondencia, ainda que nao
complete.
Segundo Gautier (12), as duas grandes Areas africanas sao
separadas por uma linha correspondent ao vale de Benu6,
afluente do Niger, que constituiria como que a ((charneira))
dos dois blocos.
E. Krenkel (") admite no continent africano nove
grandes regi6es geol6gicas, alum das ilhas dos Oceanos
fndico e Atlantico. Sao elas:
a) Sirdbia Constituida pela ArAbia e pela Siria,
entire a Mesopotamia e o Mar Vermelho. Destaca-se do
resto da Africa no terciario em virtude da abertura dos
grandes fossos do Mar Vermelho e do golfo de Aden.
Esta abertura 6 mais on menos concomitante corn erup-
Soes vulcAnicas no sul da Arabia e noutros pontos (14).
b) Egindbia Formada pelo Egipto, N6bia e Sudao.
c) Abessomdlia Constituida pelo plat6 abissinico,
pela Somalia, pela fossa abissinia e pelo Afar, pelas
ilhas do grupo de Socotra. 1 o macico etiope cor o chi-
fre oriental somalico da Africa. Como na regigo ante-
rior, o basamento antigo, de montanhas mais ou menos
(12) E. F. Gautier-L'Afrique Noire Occidentale. (Communications
du Comit6 d'ltudes Historiques et Scientifiques de l'Afrique Occid.
Fran.s--Serie A-n.o 4-Paris, 1943.
(13) Op. cit., p. 88 e segs.
(14) Nlo entramos naturalmente em pormenorizagSes geol6gicas sobre
todas as regiSes. Podem procurar-se nos trabalhos citados. Deter-nos-
-emos apenas um pouco nas que interessam mais directamente aos
nossos territ6rios africanos.
niveladas, deixa-se, nalguns pontos, revestir, no meso-
z6ico e no terciario, de camadas marinhas. Em dado
moment do quaterndrio, a fossa eritreia estabelece
comunicagso entire o fndico e o Mediterraneo, ligando
FIc. 9-Regi5es naturals e esboso tect6nico do continent africano.
I -Fracturas; 2 Anticlinais e eixos cristalinos; 3- Brasflides;
4 Gondw.nides; 5 -Cadeias alpinas; 6 Dobramentos antigos;
7- Geosinclinais; 8- Limites de regies naturais.
o primeiro corn o canal de Suez, mas esta e outras exten-
s6es marinhas desaparecem cor a elevago do Mediter-
raneo e do plat6 abessomalico. Na Eginfibia, determi-
nados dep6sitos sedimentares denunciam o percurso do
antigo Nilo. Derramamentos vulcinicos extensos se en-
contram no plat6 abissinico.
d) A Africa Oriental-Principia na fossa do lago
Rodolfo e abrange o Qu6nia, a Uganda, a antiga Africa
Oriental Alemd, a regiao dos Lagos, o N. de Mogam-
bique ate ao Zambeze. A ocidente esta Area ter por
limited a bacia do Congo. Zona tipica de fractures, de
tremores de terra, de vulc6es (o Quenia, o Quilimandjaro,
os vulc5es da margem do Quivu). O plat6 dos Grandes
Lagos esti na sequencia dum eixo meridiano de rochas
cristalinas ou cristalofilianas que vai, como ji disse-
mos, do Mar Vermelho ao Transvaal, e o qual separa
duas regi6es de terrenos sedimentares mais ou menos
recentes. Revestimentos pelo sistema Karroo (carboni-
fero). Rdpidas invas6es pelo fndico. Camadas de Ten-
daguru cor restos de dinosiurios (5). O eixo anti-
nal N.-S., a que aludimos, seria, segundo Fourmarier,
perpendicular a um outro eixo que ligaria a Guin6 A
Abissinia.
e) A Africa do Sul- Constituida por Mogambique
(a S. do Zambeze), pela Unido Sul-Africana, pela Rode-
sia, pela Africa Ocidental ex-alema e pela maior part
de Angola. Sobre um substrato antecambrico e paleo-
z6ico dep8s-se, do carbonifero superior at6 ao lias, o ja
citado sistema de Karroo, que revestiu parties impor-
tantes da Col6nia do Cabo, do Orange, do Natal, do
Transvaal meridional, do Congo Belga e do norte de
Angola. Glaciag6es subp6rmicas. Grandes dep6sitos hu-
lheiros na parte Ecca do sistema do Karroo. Vulcanismo
intense na s6rie Stormberg do mesmo sistema. Esta s6rie
(15) A maioria destes informes 6 fornecida pelo artigo citado, de
Krenkel.
tamb6m forneceu camadas de carvao na col6nia do Cabo.
Sdo as chamadas camadas de Molteno. No cretaico algu-
mas formacoes marinhas se constituiram na costa orien-
tal africana e nalguns pontos da costa ocidental, como
Angola, Baixo-Congo, etc. O terciirio marinho aparece
tamb6m nas duas costas em faixas de diferentes lar-
guras, sendo muito extensa a superficie correspondent
a norte de Lourengo Marques. Cor o nome de sistema
de Caladri abrangem-se dep6sitos do interior da Africa
do Sul, sobretudo na drea do desert que ter o mesmo
inome, dep6sitos que, constituidos principalmente por
gr6s, margas e areas, revestiram o velho substrato,
num long period, desde o cretaico superior ao pleis-
toceno. O estudo dos respectivos f6sseis leva a supor
que seriam dep6sitos flivio-lacustres assentes sobre um
terreno que a erosao teria desgastado intensamente (16).
FormaSges andlogas surgiriam no Sul de Angola e do
Congo e no Tanganica.
f) Bacia do Congo Abrangeria o Congo Belga,
grande parte de Angola e da Africa Equatorial Fran-
i cesa, os Camaries. Krenkel decomp6e esta (unidade) em
2 parties : a bacia interior do Zaire e um circo de terras
altas que a margin. No bordo atlantico, camadas do
secunddrio superior e do terciario. Ndo entraremos nas
explicag6es tect6nicas gerais dadas por Krenkel sobre
a orogenia do sistema Catanga : aquele autor para al6m
dos trogos de dobras niveladas das Arcafricides diz
transbordar o sistema Catanga do fim do precambrico
e do paleoz6ico antigo, e admite que, primeiro no bordo
(16) Sobre as paisagens aridas sul-africanas e as ideas de Pasarge,
Maufe e outros como VeatAh no Congo Belga) v. o resume dado por
S. W. Wooldridge & R. S. Morgan em The Physical Basis of Geography
-An outline of Geomorphology- London, New York, Toronto, 1946,
pp. 318-320.
ocidental da bacia interior de Angola ao Gabdo e, de-
pois, no Catanga e a partir dos geosinclinais deste, te-
riam surgido as Catangides recurvadas, assinalando-se
no sistema a presenga do cobre. Registemos que, para
leste duma faixa N.-S. de terrenos cristalinos precam-
t'f Z. C l ri.
I.' ; ... -.-._. ..
I
'" 'r ''"--'" -. i "
L 1 ,
u :. :--:.
FIG. -Esboo geol6gico da bacia do Congo, seg. M. Robert.
x -Camadas da Busira e dep6sitos recentes; 2- Formac5cs da zona
itoral; 3-Sistema de Lualaba-Lubilache; 4-Sistema do Cundelungo
e sistema xisto-dolomitico; 5-Complexo de Quibaras e formaes cris-
talofilicas. (Nao estgo representadas as formagoes tipo Calari).
bricos, se estendem, largamente, em Angola e no Congo
Belga as formag6es do Karroo e outras do paleoz6ico
ao fim do secundario, envolvendo, mais ou menos, uma
vasta drea aluvial e os vales actuais da bacia hidro-
grifica do Zaire. A regiao, de que nos estamos ocupando,
6, no interior, um geosinclinal sito entire os dois grandes
eixos meridianos de que falam alguns autores, o eixo
cristalino e cristalofilico anticlinal, da Abissinia aos
montes Drakenberg, no Transvaal, e o eixo an6logo,
paralelo, que, no lado ocidental do continent, vai dos
Camar6es as serras de Angola e A Namaqualandia.
A regido de Catanga estaria no rebordo avancado do
plat6 oriental. Os planaltos de Angola participam, assim,
neste grandiose conjunto, em. que as formag5es sul-afri-
canas e orientais se interpenetram cor as da region
do Congo (7).
Segundo Veatch (17), na bacia do Zaire entram os seguintes
elements morfol6gicos: a) o que aquele autor chama penepla-
nicie miocenica e 6 correspondent ao planalto interior de'An-
gola; b) a peneplanicie pliocinica (do plioceno final ou qua-
ternario antigo) na regiao do Cassai-Lunda; c) vales e ter-
ragos nao anteriores ao quatern6rio. Sobre as peneplanicies,
das quais a primeira 6 anterior aos lagos e montanhas da
Africa Oriental, assentaram alguns dep6sitos, primeiro de cas-
calhos, resultantes da alteracLo das rochas precambricas ou
dos andares do Karroo que constitui o terreno fundamental, e,
depois, de areas, de origem e6lica, formadas numa fase de
aridez, apenas cortada por uma de chuvas, alias suficiente
para a formacao de charcos de Agua doce, em que se depo-
sitam calcireos algumas vezes fossiliferos. Resumindo o tra-
balho de Veatch, Mariano Feio op5e reserves a algumas das
suas conclus6es. Na verdade, os f6sseis sao pouco numerosos
ou nulos para algumas destas que s6 poderao classificar-se
por confront cor as formag6es costeiras.
As inclinag5es ou as grandes ondulag5es das peneplanicies
a que se fez refer8ncia, condicionam naturalmente o sentido
(17) Mariano Feio-O relevo de Angola segundo as interpretag5es
de lessen e de Veatch--(Bol. da Soc. Geol. de Portugab, V, Porto, 1946.
do escoamento dos cursos fluviais daquela regigo. Alguns rios,
por6m, vao profundamente encaixados. Fen6menos de capture
de trogos fluviais se devem ter dado, como, por exemplo, entire
o Cassai e o Zambeze.
Antes de prosseguirmos na sumiria explanacFo da divisgo
regional, proposta por Krenkel, detenhamo-nos ligeiramente, em
face do tratado de Fourmarier (18), na questao da correspon-
dancia entire algumas formag5es geol6gicas em virios pontos
da Africa meridional e central. Comegando as nossas conside-
racges pelo substrato antigo, reproduzimos daquele tratado
o quadro da pigina seguinte (19).
Omitimos naturalmente pormenores ou certas variantes no-
menclaturais que levariam muito long e que s6 interessam
em trabalhos especializados.
Passando ao sistema de Karroo (20), predominantemente con-
tinental e apenas cor raras intercalaces marinhas nalguns pon-
tos, verificamos que ele apresenta na col6nia do Cabo, onde
6 mais desenvolvido, quatro series que de baixo para cima sao:
a de Dwycka, sobretudo xistosa e com restos de glaciag6es;
a de Ecca, de gr6s e xistos, com algum carvao (pertence ao
p6rmico, ao pass que a anterior 6 do carbonifero superior
e da base do p6rmico); a de Beaufort, de gr6s, xistos e argilas
vermelhas, cor um pouco de carvao (permo-triddico); a de
Stormberg, cor carvao na parte inferior (triidico superior).
No Congo Belga, as camadas de Lucuga, cor conglomerado
glaciario na base e carvao em seguida, relacionam-se cor as
series de Dwycka e de Ecca. Em Angola hi dep6sitos glaciarios
de base, referiveis a s6rie de Dwycka. Tanto ali como no Congo,
hA uma lacuna correspondent a s6rie de Beaufort, e, por vezes,
a de Ecca. Em Angola distinguem-se no Karroo dois andares:
o de Cassange, correspondent ao de Lualaba, no Congo Belga,
e o da Lunda correspondent ao de Lubilache, da col6nia vizi-
nha. A leste do continent as camadas inferiores do Karroo
desenvolvem-se, havendo dep6sitos de carvgo no vale do Zam-
beze, no Leste Africano e na depressao do Luano.
(18) Op. cit., p. 688 e segs.
(19) Ibid., p. 692.
(20) Sobre este sistema e suas correspondencias, al6m de Fourmarier,
6 de consultar: Maurice Robert Le Congo Physique Op. cit.,
pp. 77-99.
CONGOUGANDA REGIOES
AFRICA AUSTRAL CATANGA OCCIDENTAL ANGOLA E NORTE
OCCIDENTAL SAARIANAS
DO CONGO
Sistema do Cabo
e Sistema
de Waterberg
S6rie de Rooiberg
Serie de superior
Pret6ria tilite
Inferior
Serie das dolomias
S6rie de Black Reef
Serie de Witwatersrand
PrC-cambrico
Sistemas primitivos
Arcaico
Carb6nico inferior
Dev6nico
Gotlandiano
C&mbrico
ou Pri-
-cambrico
superior
As discordincias estao indicadas a pontuado.
S6rie xisto-
-gresosa
S6rie xisto-
-calcArea
Tilite
Camadas
de Nsekelolo
e Bembizi
Cristalofiliano
Sistema
de
Cundelungu
Tilite
Sistema
de
Mwashia-
-Roan
Complexo
de
Quibaras
Cristalofiliano
Sistema
do Bembe
Sistema
de
Oendolongo
Cristalofiliano
Grupo
de Lindi
Camadas
de Bilati
-?.
Sistema
de Urundi
Cristalofiliano
Carb6nico
Dev6nico
Gotlandiano
Ordoviciano
Acuapiniano
Tarcuaiano
Birrimiano
Cristalofiliano
Os filtimos dobramentos intensos na Africa do Sul, escreve
Fourmarier, produziram-se depois do dep6sito do Karroo,
estando apenas bem marcados numa zona estreita da orla da
cuveta do Cabo. A norte, haveria s6mente ondulac5es muito
largas, das quais resultaria a repartiqgo do Karroo em cuvetas.
Aqueles dobramentos datam do fim do Karroo. A Africa inteira
teria sido, nessa 6poca, afectada pela rede de falhas e fractures
a que ja atris aludimos.
Ap6s a era primAria, quase toda a Africa central e austral
deixa de ser, mesmo transitbriamente, dominio marinho, que,
em geral, apenas invade, aqui e al6m, as regimes da orla con-
tinental. Assim, a configuragao do territ6rio avizinha-se muito
da de hoje. Ji dissemos que o terciario marinho invade
sobretudo uma vasta irea do N. de Lourengo Marques. Tam-
b6m ja aludimos ao sistema do Calairi, cujos dep6sitos vao
do cretaico superior ao pleistoceno. Ber assim aludimos a deslo-
camentos no sentido da vertical e a ondulacges de grande raio.
Todo o centro da Africa, conclue Fourmarier, denuncia, de
modo evidence, um rejuvenescimento do relevo de muito recent
data.
g) Guine-Suddo Area compreendida entire a costa
do golfo da Guin6 e o desert do Saara. Cadeias de
rochas de profundidade, alg6nquico discordante. Sobre
este basamento nivelado assentaram gr6s horizontais pa-
leoz6icos. Invas6es marinhas no Sudio no cretaico supe-
rior e no terciario antigo; neste iltimo, tamb6m, no
Senegal. Vulcanismo mais ou menos recent em muitos
pontos. Dobramentos, linhas estruturais.
h) Saara.
i) Atldsia Tunisia, Arg6lia e Marrocos. l o domi-
nio do Atlas, forma5es alpinas, bem distintas do domi-
nio saariano.
NMo nos detemos sobre Madagascar, separada do continent
por um geosinclinal secundirio. Os dep6sitos da parte oci-
dental da ilha denunciam as vicissitudes do bordo correspon-
dente do geosinclinal. Das ilhas atlanticas falaremos adiante.
REGIONS NATURELLES
(RESUME)
Malgre la apersonnalite) structural de l'Afrique, 1'6tablissement de
regions naturelles dans I'unit6 relative du continent est rendu possible
par les conditions naturelles, par des differences lies aux coordonnees
g6ographiques et par les diversites de l'action, dans plusieurs endroits
du territoire, des facteurs endogenes et exogines de la configuration
geographique.
D'abord, on peut y distinguer deux vastes aires, siparees par le paral-
lile de 50 N., ou, comme Gautier le constate, par une ligne corres-
pondante A la vallee du Benou6, affluent du Niger, qui serait comme
la charniere de deux blocs. Le bloc septentrional aurait son axe dans
le sens E.-O. et le bloc m6ridional aurait son axe dans le sens N.-S.
Fourmarier y distingue ensuite 8 units. Krenkel, en plus des miles
de l'Indien et de l'Atlantique, admet dans le continent africain 9 grandes
regions g6ologiques: Syrabie (=Syrie+Arabie), Egynubie (=1Egypte+
+Nubie+Soudan), Abessomalie (=Plateau abyssinien+ Somalie+ Foss6
abyssinien+Afar+iles du Groupe de Sokotra), Afrique Orientale (=K6-
nia+Ouganda+ancienne Afrique Orientale allemande+region des Lacs+
+N. du Mocambique jusqu'au Zambbze), Afrique du Sud (=Mogam-
bique au sud du Zambeze+Union Sud-Africaine+Rhodesie+Afrique
Occidentale ex-allemande+une grande parties de l'Angola), Bassin do
Congo (=Congo Belge+le N. de l'Angola+partie de 1'Afrique tquato-
riale Frangaise+ Cameroun), Guin6e-Soudan, Sahara, Atlasie. Les iles
atlantiques sont 6tudi6es A part.
La Syrabie s'est dEtachbe de l'Afrique pendant le Tertiaire en con-
sequence de l'ouverture des grands fosses de la Mer Rouge et du Golfe
d'Aden.
L'Afrique Orientale est la zone typique des fractures, de tremble-
ments de terre, de volcans. Un axe anticlinal m6ridien de roches crystal-
lines ou crystallophylliennes s'6tend de la Mer Rouge au Transvaal
et spare deux regions de terrains s6dimentaires plus ou moins r6cents.
11 est perpendiculaire, selon Fourmarier, a un autre axe qui relierait
la Guinee A l'Abyssinie.
En ce qui concern 1'Afrique du Sud, on sait que sur une base
ante-cambrienne et pal6ozoique le systeme dit du Karroo s'est d6pos6
depuis le carbonifbre sup6rieur jusqu'au Lias, en recouvrant des aires
consid6rables de la Colonie du Cap, de l'Orange, du Natal, du Transvaal
mdridional et, plus au Nord, du Congo Belge et du nord de 1'Angola.
Plusieurs couches peuvent 6tre distingu6es dans le Karroo, qui est g6-
n6ralement continental. Elles prennent des designations sp6ciales au
Congo et en Angola. On doit enregistrer des glaciations sub-permiennes,
de grands dep8ts houlliers dans la section Ecca du Karroo, un volca-
nisme intense dans la series Stormberg de ce meme systeme, du carbon
dans les couches de Molteno de la sus-dite serie Stormberg au Cap.
Pendant le Cr6tac6 et le Tertiaire, il y a eu des invasions marines
dans quelques zones du pourtour de lAfrique meridionale. II faut aussi
Est. I
MENDES CORREA Sintese da Africa
Siara Ocidental Dunas na vertente norte da depressao
de La Seguia-el-Hamra
Foto F. Herandez Pacheco
Est. If
MENDES CORREA Sintese da Africa
Cabecos rochosos no Siara Ocidental
Cl. IFAN. Foto Monod
Est. III
MENDES CORREA Sintese da Africa
- .;. "' L. ""^ .
4&
r,-
I
-r
Siara--Formagio pura de (Ascal, (Nucularia perrina). 30km a NO. de Tichla.
Foto F. Hernandez Pacheco
..7
X .t
.iA
MENDES CORREA
1. Saara ,Orgaos, de basalto do Hoggar
Est. IV
Sintese da Africa
Foto J. Biihlcr
2. Siara Planicies do Tirir meridional. Blocos graniticos polidos pela erosao
pelas areas
Foto F. Hernandez Pacheco
Est. V
Sintese da Africa
1. Planura coberta de seixos de silex ou ,rag, no centro da
do Gaada a E. do Cabo Juby
2. Povoacio de Tilimezon, perto de Yalua. a S. e pr6ximo do Draa.
Passagem frequent de caravanas
Fotos F. Hernandez Pacheco
MENDES CORREA
i
:-
Est. VI
MENDES CORREA
Sintese da Africa
4-
Hank (Siara Ocidental) Camadas erguidas.
Cl. IFAN.- Foto Monod
Est. VII
MENDES CORREA Sintese da Africa
Africa do Sul -0 Grande Karroo visto, a distincia.
Foto P. Popper
Est. VIII
MENDES CORREA Sintese da Airica
7i
.1;;
0 cume do Ruvenzori (Parque Nacional Alberto)
CI. MissAo Cientifica Belga de 1932 ao Ruvenzori (Col. do Instituto
dos Parques Nacionais do Congo Belga)
Est. IX
MENDES CORREA Sintese da Africa
Pico do Kibo (Kilimandjaro), o ponto mais alto da Africa, a 6.000m.
Cratera e geleiras
Foto 803 Sq. R. N. A. S., Tanga (Seg. Spink- ,Geogr. Journ.,)
Est. X
Sintese da Africa
a pl
MENDES CORREA
......
A
Kibo (Kilimandjaro), visto de NE.
Foto 803 Sq. R. N. A. S., Tanga. (Seg. Spink- ,Geogr. Joum.)
Est. XI
MENDES CORREA Sintese da Africa
-- -
1. Cratera Longonot (vulcao extinto na regiio do Qu6nia), vista do S.
Lavas de erupoes pleistocenas.
Foto A. H. Q. E. A. (Seg. Spink-- Geogr. Journ.)
2. Vulcio da Ilha do Fogo (Cabo Verde)
Col. Agencia Geral das Col6nias
Est. XII
MENDES CORREA
Sintese da Africa
1. Penedias de grs cretaicos, cobertos de Quaternirio, na peninsula do Rio
de Ouro, imediacoes de Vila Cisneros.
2. Praia maritima nos arredores da feitoria espanhola de La Agiiera
Fotos F. Hernandez Pacheco
Est. XIII
MENDES CORREA
Sintese da Africa
1. O Cabo Bojador. visto do N. Fendas abertas pela erosao marina
Foto F. Hernandez Pacheco
2. Baia na ilha Brava (Cabo Verde)
Col. Agencia Geral das Col6nias
Est. XIV
MENDES CORREA
Sintese da Africa
Costa maritima no Porto Amboim (Angola). A Africa apresenta os mais varia-
dos tipos de costas, das rasas as levantadas, das rectilineas as sinuosas, etc.
Col. Agencia Geral das Col6nias
Est. XV
MENDES CORREA Sintese da Africa
Cabo da Boa Esperanaa, visto do alto da Montanha da Mesa
Foto P. Popper
Est. XVI
Sintese da Africa
MENDES CORREA
1. Ria na Guine Portuguesa.
Col. Agencia Geral das Col6nias
2. Subindo o
Foto F. Hernandez Pacheco
oaaT~~rr~rs~.~
.rr~*cP-
mentionner les d6pots appel6s du Kalahari, dans la region du desert
actuel et dans autres contr6es. Ils sont surtout constitu6s par des gras,
des marines et des sables et forms du Cretac6 superieur jusqu'au
Pleistocene. Ils seraient le r6sultat d'un regime fluvio-lacustre sur un
terrain ancien rong6 par 1'6rosion.
Le bassin du Congo est reparti en deux sections: le bassin int6rieur
du Zaire et un ceicle de terres hautes qui 1'entourent.
Des couches du Secondaire superieur et du Tertiaire y existent dans
le bord atlantique. Selon Krenkel, le systeme du Katanga (oui l'on trouve
le cuivre), aurait d6bord6, d6s la fin du Precambrien et du Paleozoique
ancien, les trongons des plis niveles des Archafricidis, et les Katan-
gides recourb6es seraient apparues, d'abord dans le bord occidental
du bassin interieur d'Angola jusqu'au Gabon, et plus tard dans le Ka-
tanga et a partir des geo-synclinaux de celui-ci.
En passant sur ces explications orogeniques, remarquons que les
formations du Karroo et d'autres du Paleozoique jusqu'a la fin du
S6condaire, s'etalent largement en Angola et dans le Congo Belge a 1'Est
d'une bande N.-S. de terrains crystallins pr6cambriens, et elles envelop-
pent plus ou moins uns vaste aire alluviale et les vallees actuelles du
bassin fluvial du Zaire.
Dans l'int6rieur, la region don't nous nous occupons, est un g6o-
-synclinal situ6 entire deux grands axes crystallins m6ridiens, celui qui
va, a l'est, de 1'Abyssinie aux months Drakenberg, du Transvaal, et un
autre qui, a l'ouest, s'adresse du Cameroun aux montagnes d'Angola
et a la Namaqualandie. Le Katanga formerait la bordure avancee du
plateau oriental. On est devant un ensemble grandiose, oa les forma-
tions sud-africaines et orientales s'interpfnetreraient avec celles de la
region du Congo.
Veatch admet dans le bassin du Zaire les 616ments morphologiques
suivants: a) la p6neplaine miocene correspondent au plateau interieur
d'Angola; b) la pen6plaine pliocene (Pliocene final ou Quaternaire an-
cien) de la region du CassaY-Lunda; c) vall6es et terrasses, non ant6-
rieures au Quaternaire. Sur les p6niplaines se sont d6pos6s d'abord des
graviers resultant de l'alt6ration des roches pr6cambriennes ou des 6ta-
ges du Karroo qui constituent le terrain fondemental, et, ensuite, des
sables d'origine 4olien, qui alternaient, en des phases humides, avec
des calcaires, parfois fossiliferes, de mares d'eau douce. Mariano Feio
oppose quelques reserves aux syntheses de Veatch.
Un tableau de Fourmarier, r6produit dans le texte portugais, nous
presente un essai de correspondence entire quelques formations goolo-
giques de diff6rentes regions africaines. Ensuite nous rappelons les
correspondances concernant le systame du Karroo. Celui-ci occupe surtout
des cuvettes dues aux plissements de la fin de cette 6poque, apras
laquelle l'Afrique Centrale et M6ridionale n'est plus, qu'en parties tres
reduites, un domaine marin. Fourmarier dit que tout le centre de 1'Afri-
que d6nonce d'une maniere evidente un rajeunissement tres recent du
relief.
49
NATURAL REGIONS
(ABSTRACT)
Notwithstanding the structural personality or relative unity of Africa,
it has been possible to establish in this continent several geographical
regions determined by natural conditions, by the difference of coordi-
nates and by the various modes of action of endogenetic and exogenetic
forces according to the situation.
First of all one distinguishes two vast areas bound by the parallel of
5 N. or, according to Gautier, by the Benue valley, tributary of the
Niger, and which would be the hinge of the two blocks. The northern
block would have its axis in the E. W. direction and the southern block
in the N.-S. direction.
Fourmarier then distinguishes 8 unities. Krenkel, besides the islands
of the Indian and Atlantic Oceans, establishes in the African continent
nine great geological regions: Syrabia (Syria+Arabia), Egynubia (Egypt+
+ Nubia + Sudan), Abessomalia (Abyssinia + Somaliland + Abyssinian
subsidence+Afar+Sokotran islands), East Africa (Kenya +Uganda+ ex-
German East Africa+the Lakes region+northern Mozambique till the
Zambezi), South Africa (Mozambique south of Zambezi + Union of South
Africa+Rhodesia+Southwest Africa+a great part of Angola), Basin
of the Congo (Belgian Congo+ Northern Angola+a part of French
Equatorial Africa+Cameroon), Guinea-Sudan, Sahara, Atlasia, the Atlan-
tic islands being studied apart.
Syrabia was separated from Africa during the Tertiary on account
of the opening of the great pits of the Red Sea and the Gulf of Aden.
East Africa is the typical zone of fractures, earthquakes and volca-
noes. An anticlinal meridian axis of crystalline or crystallophyllian rocks
extends from the Red Sea to the Transvaal and separates two more or
less recent sedimentary regions. According to Fourmarier this axis is
perpendicular to another joining Guinea to Abyssinia.
Regarding South Africa it is known that Karroo system formed depo-
sits since the Upper Carboniferous until the Lias on the Antecambrian
and Paleozoic basis and covered considerable areas of Cape Colony,
Orange Free State, Natal, Southern Transvaal and more to the North
Belgian Congo and Northern Angola. Several layers may be distin-
guished in the Karroo system, predominantly continental, and these
layers have special names in Congo and Angola. The following impor-
tant facts are to be noted: sub-permian glaciations took place; large
coal sediments were formed in the Ecca section of the Karroo; intensive
vulcanicity has occurred in the Stormberg series of the same system;
coal appeared in the Cape in the Molteno beds of the same series.
During the Cretaceous and the Tertiary marine invasions occurred
in some zones of the Southern African periphery.
It must also be stated concerning South Africa that the sediments
known as of Kalahari were formed in the area of the present desert
and in other regions since the Upper Cretaceous until the Pleistocene,
and consist of sandstone, clay and sand, deposited in fluvio-lacustrine
conditions on the ancient ground denudated by erosion.
The basin of the Congo is divided into two sections: the inner
basin of the Zaire and a circle of highlands that surround it. Layers
of the Upper Secondary and of the Tertiary exist in its Atlantic border.
According to Krenkel the Katanga system (where copper appears) over-
flowed since the end of the Precambrian and of the early Paleozoic
on to the stumps of levelled folds of the Archafricides and thus the
bent Katangides appeared, firstly in the Western border of the inner
basin of Angola until the Gabon and later from the geosyncline of
Katanga.
Leaving these orogenetic interpretations it is to be noted that the
Karroo formations and others from the Paleozoic until the end of the
Secondary extend largely in Angola and in Belgian Congo to the east
of a strip N.-S. of crystalline precambrian territory and this system
embraces more or less a vast alluvial area and the actual valleys of the
fluvial basin of the Zaire.
A geosyncline exists in the interior of the region under considera-
tion and is situated between two large cystalline axis N.-S., of which
the eastern extends from Abyssinia until the Drakenberg mountains in
Transvaal and the western from Cameroon until the mountains of Angola
and Namacualand. The Katanga would form the forward border of the
eastern plateau. Before us extends a magnificent whole where the
South African and eastern formations interpenetrate with those of the
Congo region.
Veatch admits in the Zaire basin the following morphological ele-
ments: (a) the miocene peneplain corresponding to the inner plateau
of Angola; (b) the pliocene peneplain (end Pliocene or early Quater-
nary) of the Kasai-Lunda region; (c) valleys and terraces not earlier
than the Quaternary. Over the peneplains there have been deposited
firstly gravels resulting from the alteration of the Precambrian rocks
or the Karroo beds which constitute the basic soil, and later sands
of eolic origin which in humid periods alternated with limestones some-
times fossiliferous, that resulted from pools of fresh water. Mariano
Feio makes some reservations to Veatch's syntheses.
A table by Fourmarier reproduced in the original Portuguese text
gives an attempt to establish a synchronism between some geological
formations of various African regions. Then we come to the corres-
pondences regarding the Karroo system. This system was formed espe-
cially in basins due to the foldings at the end of this period, after
which Central and Southern Africa is no longer a marine domain except
in small parts. Fourmarier states that the whole of Central Africa reveals
in an obvious way a very recent rejuvenation of continental relief.
AINDA SOBRE O RELEVO AFRICANO;
LAGOS E RIOS
Se, nas breves sfimulas anteriores sobre a geomor-
fologia africana, nao deixdmos de entrar em conta nao
apenas cor a estrutura e a natureza dos terrenos, mas
tamb6m corn o relevo, nao nos parecem ainda dispen-
siveis algumas consideragSes complementares sobre
este uiltimo.
Embora, como nota Lord Hailey (21), exista uma
grande desigualdade no grau de desenvolvimento dos
nossos conhecimentos topogrificos e do levantamento
cartografico nas virias regi6es africanas, nao deve o
atrazo respective nalgumas destas impedir os juizos sin-
t6ticos sobre os aspects geogrificos e a hipsometria do
continent em geral.
O levantamento cartografico da Africa esti long de ser
complete e uniform, apesar da soma considerivel de esforgos
ji desenvolvidos. Fundada na geodesia, em determinag6es astro-
(21) An African Survey-2d. ed.-London, New York, Toronto,
1945, p. 4.
n6micas e na topografia, a cartografia deparou all corn dificul-
dades de virias ordens, cor uma grande desigualdade de meios
e possibilidades de accgo de territ6rio para territ6rio, e mesmo
cor uma diferenca considerivel de estimulos para a intensifi-
cacgo de tal tarefa segundo as regi6es, pois, se vastas areas
-sio des6rticas ou quase, ou de fraco interesse econ6mico, ha
outras muito povoadas ou de grande valia econ6mica em que
a necessidade de cartas se torna mais evidence para o vulgo
e at6 para as administrag5es do que nas primeiras. Assim 6,
pois, que a cartografia africana se encontra em estados diversos
de desenvolvimento, desde simples cartas de explorago e as
resultantes ji de reconhecimento met6dico, is cartas regulars,
cujo levantamento 6 assegurado por servigos especiais cienti-
ficamente organizados. Numas regi6es como na Africa septen-
trional francesa, a tarefa foi levada a efeito pelos Servigos Geo-
grificos do Ex6rcito, que hi muitos anos ji concluiram, por
exemplo, a triangulagao na Arg6lia e na Tunisia, onde as
escalas de levantamentos regulars de m6dia e de pequena escala
foram de 1/40.000 e 1/80.000 respectivamente para cartas
a 1/50.000 e 1/100.000. Noutros pontos a tarefa coube a ser-
vigos geogrificos locais, como na Africa Ocidental Francesa,
em Madagascar, etc. Na A. O. F. ja em 1926 estavam feitos
55 % da carta de reconhecimento a 1/500.000. Hoje 1/20
daquele territ6rio esti coberto pela topografia regular, o resto
por topografia de reconhecimento ou por levantamentos ripidos.
Os levantamentos regulars abrangem grande parte do Senegal,
da Guin6 Francesa e duma pequena parte do Dahomey. A Costa
do Marfim e outras regi6es foram object de levantamentos
semi-regulares. A maior parte do territ6rio correspondem ape-
nas trabalhos topogrificos de reconhecimento ou de exploragao,
sobretudo no Sudio e Niger, onde hi ainda areas,para as quais
nenhum levantamento se fez. A Africa Equatorial Francesa,
por dificuldades compreensiveis, esti mais desfavorecida. Nesta
regigo a altimetria 6 muito imperfeita, sucedendo o contrArio
cor a Arg6lia, Tunisia e Marrocos.
Nos territ6rios da Africa Inglesa tamb6m 6 muito desigual
o desenvolvimento dos trabalhos cartogrificos. Num relat6rio
official de 1946 publicado pelo Colonial Office para o estabe-
lecimento duma organizagao central dos serviqos geod6sicos
e topogrificos do Imp6rio Colonial Britinico, davam-se os se-
guintes niimeros: area total das col6nias inglesas da Africa
Oriental, 1.065.936 milhas quadradas," das quais s6 256.520
tinham cartas topograficas, faltando pois levantar 809.416,
mas havendo sido feitos levantamentos a6reos sujeitos a revisao
em 128.020; para a Africa Ocidental, a Area total 6 de 496.480
milhas quadradas, das quais 130.830 cor cartas topogrificas
e 365.650 sem levantamentos; etc. Estes nimeros d5o a media
do desigual grau de desenvolvimento da tarefa. Mas nalguns
pontos, como na Africa do Sul, etc., ha levantamentos regulars
minuciosos, a grande escala, sobretudo para fins cadastrais,
nas explorag6es agricolas, industrials e mineiras.
Os services de Agrimensura e os de AviaC5o contribuem
valiosamente para o desenvolvimento da cartografia africana.
Os americanos durante a filtima guerra fizeram levantamentos
a6reos em vastas areas africanas. A Inglaterra tamb6m j6 levan-
tou, na Africa Oriental, como foi dito, 128 mil milhas qua-
dradas, mas 6 possivel que algumas dessas tarefas s6 devam
ser adoptadas ap6s revis6o, como consta do relat6rio citado.
A existEncia dum organismo central de cartografia colonial
do respective Imp6rio foi preconizada no referido relat6rio,
cor base na vantage da uniformizacgo de m6todos, da coor-
denagio de tarefas, da economic em material e da economic
e rapidez no desenho, impressao e publicagao. Para um pro-
grama de dez anos calculava-se fazer por ano a fotografia area
de cerca de 80.000 milhas quadradas em apoio do servigo topo-
grifico. Computava-se em, aproximadamente, 245.000 libras a
despesa annual, al6m das de instalagco.
A centralizag6o existe para o Congo Belga com um serving
no Minist6rio das Col6nias em Bruxelas. O Catanga tem, po-
r6m, organizaiao separada.
Portugal, al6m da tarefa de misses geogrificas, geod6sicas
c geo-hidrogrificas organizadas pela Junta das Miss6es Geo-
grificas e de Investiga ges Coloniais, existente no Minist6rio
das Col6nias em Lisboa e sucessora da antiga Comissgo de
Cartografia, ter levado a efeito, por servigos locais, um tra-
balho de cartografia das suas col6nias, que esta em curso e de
que nos ocuparemos adiante em pormenor.
Al6m de muitas cartas hidrogrAficas, de costas, portos e rios,
sao de mencionar as cartas de muitos territ6rios e de fronteiras,
mas cor desenvolvimento vArio. Algumas baseiam-se em sim-
pies exploragces e reconhecimentos, outras resultam de levan-
tamentos regulars.
Das cartas de conjunto mencionemos, por exemplo, a de
Cabo Verde (1932) a 1/500.000, a da Guin6 (1933) a 1/500.000
'(a de fronteiras 6 a 1/250.000), as de S. Tom6 a 1/50.000
(em 2 folhas, 1921) e a 1/100.000 (de 1922), a do Principe
a 1/30.000, a de Angola (1944) a 1/4.000.000 e, em 4 folhas,
a 1/500.000, a de Mogambique (1944) a 1/2.000.000, a de
Mocambique, em 8 folhas, dos Servigos de Agrimensura a
1/1.000.000. Mas hi muitas outras, mais pormenorizadas, como
de algumas ilhas de Cabo Verde a 1/50.000 e 1/100.000, de
Angola e ji muitas folhas de Mocambique a 1/250.000 e a
1/500.000.
Ao contrArio do que alguns sup6em, a fotografia area nao
dispensa a triangulacgo, mas facility e torna mais rApidos e pre-
cisos os trabalhos cartogrificos.
1f evidence o interesse de entendimento international nestas
mat6rias. Mas ele nao existe sequer nas unidades de media:
a Inglaterra continue a utilizar o seu sistema em vez de adoptar
o m6trico decimal. Tem-se tratado tamb6m de fazer triangu-
laces ao long de certos meridianos e paralelos. Ainda nio
esta complete a rede geod6sica ao long do meridiano de 30.
HA lacunas e fizeram-se alguns desvios (22). Trata-se tambem
da cadeia de triangulacgo ao long do paralelo de 100 N., como
doutros arcos.
A necessidade de levantamentos topograficos o mais rigo-
rosos possivel 6 evidence, mas vale a pena reproduzir de Wor-
thington (23) exemplos expressivos do prejuizo que a falta de
elements dessa natureza pode causar. Na Costa do Ouro, no
Qu6nia, na Uganda e nas Rod6sias, fizeram-se grandes despesas
cor as rectificacSes de traqados de linhas f6rreas que haviam
sido construidas cor conhecimento insuficiente da topografia.
S6 com o caminho de ferro de Secondi a Cumasi na Costa do
Ouro, gastaram-se em rectificag6es em 1922 e nos anos seguin-
tes cerca de dois milh5es de libras. E boas cartas geol6gicas,
mineiras, fitogeogrificas, political, etc., carecem naturalmente
de identica base.
(22) Lord Hailey-Op. cit., p. 7.
(23) Science in Africa, op. cit., p. 26.
Depois destas considerag6es longas mas iteis sobre a carto-
grafia africana em geral e sobre a sua insuficiencia parti-
cularmente no que respeita a altimetria regressemos, por6m,
a nossa explanagio sobre hipsometria e orografia africanas.
A idea, ja exposta, dos dois grandes alinhamentos anti-
clinais meridianos, sem falar nos dobramentos nas orlas
extremes, da Atlasia e do Cabo, respectivamente a norte
e a sul, corresponde, com relative exactidao, a um
esbogo geral e muito sumrrio dos tragos orogrificos
do continent. Claro estA que no subsolo dos actuais pla-
naltos, dalgumas formag6es actuais, hd os vestigios de
antigas montanhas que a erosgo ou outros factors apa-
garam A nossa vista.
Mas nuo 6 dessas antigas estruturas que se trata
agora, nem de ajuizar da g6nese das actuais elevaSoes.
Verificamos simplesmente a existencia destas, a pre-
sente distribuicgo dos relevos, das zonas hipsom6tricas.
O caracter planiltico do interior da Africa cor borda-
duras montanhosas na sua periferia, foi como a aridez
do SAara a norte ou a densidade da floresta na zona
equatorial, um factor da dificuldade do acesso ao cora-
cao africano pelas penetrag~es vindas do exterior. Meia
dizia de sendas de caravan, algumas clareiras ou ve-
redas da selva, os vales de certos rios, constituiram vias
de penetragao no amago do continent, mas, por muitos
trilhos, era necessirio escalar vertentes alterosas, escar-
pas abruptas, em marchas que a sede, o inh6spito clima,
as feras, os ataques dos indigenas, outros perigos, tor-
navam her6icas, inscreviam em tradigoes gloriosas. As
narrativas de muitos exploradores, como Capelo & Ivens,
acusam a realizagao desse esforgo inevitivel tantas vezes
logo ap6s a travessia de uma estreita tira costeira de
terra baixa.
Em geral, observa-se na Europa uma rarefacgao d6-
mica crescente com a altitude. Nesta parte do mundo,
acima de 1.000 m. sao raros os aglomerados humans :
na pr6pria Suiqa, o pais europeu de maior altitude m6-
dia, s6 5 % da populagao vivem acima daquela cota.
FIc. 11--Esboeo de carta hipsom6trica da Africa (seg. varios autores)
No entanto, em Africa, no M6xico, na Am6rica do Sul,
hi terras altas com importantes centros urbanos e grande
densidade. Na Abissinia, as cidades de Harrar, Adua,
Gondar, Addis-Abeba, Ancober, estao a mais de 1.800 m.,
as tres iltimas mesmo a mais de 2.200 m. As altitudes
menores sho menos povoadas. Registando o facto, Bru-
nhes (2") tenta explicA-lo pela insalubridade e clima des-
favorivel destas iltimas, mas pondera a existencia de
densos aglomerados humans em regi6es baixas and-
logas da Asia e da Insulindia. 1 sobretudo, segundo
aquele autor, uma questdo de recursos, de produces.
(A voina diga da Abissinia escreve o mesmo produz
as plants da regigo mediterr5nica: oliveira, limoeiros, vinha,
milho, etc., e, ao mesmo tempo plants tropicais at6 2.500m:
algodoeiro, cafezeiro, etc.; a d6ga, acima de 2.500 m, possui
pastagens que alimentam grandes rebanhos.
No entanto os montanhezes sao sujeitos a certas doengas
devidas ao ar rarefeito e A escassez do oxig6nio. Segundo
Reclus, na puna peruviana as families tem poucos filhos, a agua
6 mi. Mas a cidade de Potosi, que esti a 4.000 metros e conta
hoje 4.000 habitantes, tinha mais de 100.000 na 6poca das
grandes exploraq5es mineiras... Assinalando estes e outros
factos e mostrando quanto 6 penoso o esforgo da elevagio
de pessoas, animals e mercadorias a tais alturas, Brunhes es-
creve ainda: t(Nao 6 um pequeno trabalho langar vias f6rreas
ao assalto da montanha, fazer-lhes atingir altitudes de 3 a 4 mil
metros: 6 precise contar corn a escasses de igua, corn a difi-
culdade particular de qualquer trabalho a tamanhas altitudes:
aliAs, cabe reconhecer que os engenheiros opera maravilhasx.
Alem do efeito da altitude sobre a fisiologia indi-
vidual, hi, de facto, que pensar em que erguer um
object ou um home de 65 quilos a 3.000 m. exige,
sem contar com o deslocamento no sentido horizontal,
(24) Jean Brunhes-La Geographie Humaine, 3.a ed., Paris, 1925,
I, p. 227.
um esforgo de 195.000 quilogrametros. 1 natural que
Brunhes chamasse c(aglomeragoes-prodigios)) As aglome-
ragses humans das altitudes, e as considerasse conde-
nadas A paralisia no seu desenvolvimento.
Ja se chamou
que os series humans tam, de veneer as distancias. A
rania das altitudes), uma forma especial daquela, 6,
pelo esforco maior que exige relativamente aos deslo-
camentos no sentido horizontal, particularmente violent.
Em regi6es elevadas interiores que, em mat6ria de subsis-
t6ncias, sejam auto-suficientes, o problema nao assume,
por6m, tanta gravidade como naquelas que necessitem
de constantes contributes do exterior. O problema p5e-se
em Africa sob esses variados aspects.
Ainda sobre o estabelecimento de zonas hipsom6tricas
em Africa, notaremos (fig. 11) que, abstraindo do
Atlas, dos macigos do centro do SAara (que no Tibesti,
por exemplo, atingem mais de 3.000 m.), do macigo
guineense-liberiano (que no monte Numbe ascende a
1.850 m.), a quase totalidade das terras estao para sul
duma linha que vai das alturas dos CamarSes (alt. max.
4.070 m.) ao macico etiope. A S. dessa linha, quase
apenas nalgumas dreas costeiras e nas bacias do Congo
e do Alto Nilo se encontram territ6rios corn menos de
500 m. os quais abundam mais do lado oriental do que
do lado ocidental do continent.
Vimos que, na grande maioria, os lagos africanos
sao de origem tect6nica, instalados nas fossas conhecidas
pela designagio de grabens. Muitos resultam, por6m,
da acumulacao das aguas de cursos que convergem, em
regi6es de relevo mais ou menos indeciso, para depres-
s6es interiores, sem said para o mar. No entanto, mui-
tos dos grandes rios africanos percorrem essas regioes
deprimidas (fig. 12), encontrando, por6m, said para
o mar, como 6 o caso do Zaire e do Zambeze.
FIc. 12--Principais bacias interiores da Africa, seg. Robert.
S- Do Igharghar; 2- Do Fezzan; 3--Do Alto Niger e do Djuf;
4- Do Chade; 5 Do Nilo Branco; 6 Do Zaire; 7 Do Lago Ro-
dolfo; 8 Do Alto Zambeze e do Caladri setentrional; 9- Do Caladri
meridional e do Karroo.
Conhecem-se melhor, entire os lagos de Africa, alguns
como o Vit6ria-Nyanza, enorme (68.000 km2), de que
sai o ramo equatorial .do Nilo, e com a profundidade
de muitas centenas de metros na margem ocidental (25).
Os rios' que alimentam o Vict6ria-Nyanza drenam extensas
bacias. As diferencas do nivel das Aguas do lago sao, segundo
os grificos de Lyons, maiores de ano para ano do que duma
estagao para a outra. Veremos adiante o que se ter afirmado
sobre as relaqges entire variaq5es do nivel do lago durante
ciclos de alguns anos e os ciclos das manchas solares.
Metade da area do lago Chade 6 constituida por pin-
tanos, com areas intercalados, os quais estao ora a seco
ora inundadas em grandes porg6es, como foi mostrado
pelo general Tilho (26).
A bacia do Chade, escreve Robert (27), nao deve ser consi-
derada como uma vasta depressio da qual o lago ocuparia
a parte mais funda. Na realidade, trata-se de duas Areas de alti-
tudes diferentes, uma, mais baixa (alt. 160 m.), do Bodele,
outra, mais alta (cerca de 250m.), pr6priamente do Chade,
as duas separadas por um relevo mal esbocado. Outrora o
Chade, sob um regime mais hiunido, enviava as suas Aguas
para a depressao do Bodele por um important afluente, actual-
mente seco. O Chade, continue Robert, tem dois afluentes de
importincia, o Chari e o Logone, dos quais o primeiro 6 o
maior rio africano que alimenta uma bacia fechada, e o segundo
atravessa uma regiao pantanosa que, por ocasigo das cheias,
6 drenada pelo Tumburi, afluente do Benu6 e sub-afluente do
Niger. Esta feita a previsao duma capture que privara o Chade
das Aguas dum dos seus maiores tributarios. Precisamente em
1946 o general J. Tilho chamou a atengao, numa mem6ria do
AnuArio do Bureau des Longitudes e numa comunicacao A Aca-
(25) Em. de Martonne-TraitW de Geogr. Phys., op. cit., t. I, p. 437.
(26) Ibid., p. 438.
(27) Op. cit., p. 191.
demia das CiUncias Coloniais de Paris (28), para a gravidade
das consequ8ncias geogrificas, econ6micas e demogrificas, da
iminente capture do Logone pela Cabia, subafluente do Niger.
Por ocasiio da cheia annual de 1935, mais de umr quarto do
volume de aguas que o Logone teria langado no Chade se nao
existisse ji parcialmente essa capture, foi desviado para o Atlan-
tico. Segundo Tilho, as condicges da region permiteni conjec-
turar que o fen6meno se agravarf rapidamente. Desapareceriam
vastas e excelentes pastagens, gados, caga, boa pesca, e terrenos
ferteis (um das regi5es mais f6rteis, nao s6 do continent
africano, mas do mundo inteiro>. O perigo seria, por6m, sus-
ceptivel de ser evitado.
Devroey record que o acontecimento geogrifico em prepa-
ragio no Chade 6 anilogo ao que se deu no Congo Belga hi
uns setenta anos quando a bacia do Tanganica-Quivu enviou
o seu ((trop-plein)) para o Atlantico por interm6dio do Lucuga
e do Zaire.
O lago N'Gami, que figure ainda em quase todas as
cartas de Africa na zona do Calgari, reduz-se hoje a uma
vasta depressio sujeita a inundag6es temporArias por
Aguas do Cuando e outros rios.
Os chotts argelinos sAo lagos temporArios que surgem
por ocasigo de precipitances atmosf6ricas. I, em geral,
elevada a salinidade dos lagos africanos, mas o Chade,
por exemplo, ter igua doce.
Quanto aos rios de Africa, o seu estudo encontra-se
geralmente, atrazado. No entanto, hf estudos importan-
tes sobre o Nilo, o Zaire, o Niger, o Senegal e outros (29).
Os perfis longitudinais dos rios relacionam-se natural-
mente cor as condicoes estruturais dos territ6rios que
(28) Cit. em: E.. J. Devroey-A propos du lac Tchad-Inst. Royal
Colonial Beige--Bull. des Seances XVIII Bruxelas, 1948, p. 368.
(29) Ed. de Martonne-Cartographie coloniale-Paris, 1935, p. 252.
As 90 folhas a 1/15.000 do Senegal, as 145 a 1/10.000 e a 1/20.000 do
Niger, as cartas do Zaire, etc., sao, na expressio do autor citado,
dadeiros monumentos.
atravessam, como com os climas. Dum modo geral, ndo
sao perfis de equilibrio (S0), visto que a ascenslo da
plataforma africana rejuvenesceu o conjunto do conti-
nente, abrindo novas e largas perspectives A erosao, ao
modelado, A regularizagao dos perfis.
ioof
000
600
200
0 1000 2000 5000 o00 5000 Km
-1200
1000
4600
400
o ie000 2000 t.3000
pp. 1591700
600
800
0 d'OO 1000 1500 2000 2500Kmn
FIG. 13-Esboso dos perfis longitudinais dos tres maiores rios africanos:
de cima para baixo, o Nilo, o Zaire e o Zambeze.
Escalas diferentes, quer duns rios para outros, quer mas altitudes e
comprimentos.
(so) Sobre uma err6nea concepsao, simplista e uniform, dos perfis
longitudinais dos rios e a expresso matemitica do perfil de equilibrio,
v.: Wooldridge & Morgan-The physical basis of Geography, op. cit.,
pp. 159-170.
Em numerosos pontos, o tragado actual dos rios
denuncia evidentes fen6menos de capture de trogos flu-
viais por cursos pr6ximos. Entre o Niger, o Senegal
e o Gambia, entire o Zaire e o Zambeze, quantos tribu-
t6rios terao sido desviados duns para outros? O Niger
corn o seu actual anel deve ter sido formado com segmen-
tos ou mesmo a totalidade de outros cursos de agua. Pre-
sume-se que o seu segment superior fosse um antigo
rio que desaguaria num lago perto de Tombuctu como
o Chari desagua no Chade. S6 mais tarde se alongaria
e desviaria para sul, tendo nesses segments as gargantas
e os rapidos que o caracterizam, em seguida, at6 A sua
porcao terminal, que finda nas suas bocas no golfo da
Guin6.
Deltas nao faltam nos rios africanos, a comegar
no Nilo, e, no entanto, os mesmos rios apresentam, no
percurso, ripidos e cataratas, trechos de relative juven-
tude.
Pelo que respeita, por exemplo, ao Zaire nao tnm coin-
cidido como relativamente ao Nilo as opini6es dos
ge6grafos sobre o seu verdadeiro curso superior, tao
intrincada se torna a rede de lagos e cursos de agua
nas altas regi5es de origem.
O esbogo de perfil longitudinal do Zaire que damos na
fig. 13 nao se sobrep6e perfeitamente ao perfil, alias mais rigo-
roso nos pormenores e feito noutras proporg6es, que Robert (31)
fornece no seu livro sobre o Congo Fisico. Porqu8? Nao s6
por essa diversidade de pormenorizacao e proporg5es, mas
ainda porque, ao pass que Robert coloca as nascentes do
Zaire nas do Lualaba, n6s, seguindo outros autores, as toma-
mos na origem do Tshambesi, para al6m do lago Bangueolo,
(31) Op. cit., p .210 e fig. 33; a p. 237 e fig. 39 vem o perfil deta-
lhado entire Boma e Stanley Pool.
65
a maior altitude. Assim a nossa curva, na parte superior, adap-
ta-se melhor ao tracejado que em Robert desenha o perfil do
Tchambesi.
Sem divida, 6 interessante o confront entire os troops
terminals dos virios rios africanos, notando que, se o
Nilo terminal num delta, com imensas aluvi6es, em rela-
cao evidence cor a massa dos seus transportes aluviais,
corn o facto de ser tributirio dum mar interior, e corn
outras condig6es naturais, de estrutura e de regime,
o Zaire prolonga-se num profundo vale submarine, no
Atlantico, mar exterior, por mais de 250 km.
A primeira noticia deste vale submarine foi dada em 1886
por Ernesto de Vasconcelos (32), comissirio do Governo Por-
tugu8s junto da empresa inglesa incumbida das sondagens para
o langamento do cabo submarine entire Portugal e Angola.
O assunto ter sido estudado por outros como Buchanan, Veatch
& Smith, Devroey, etc. Uma publicacgo de 1939 do Servico
Geol6gico Americano apoiou-se na carta hidrografica portuguesa
do Zaire (1933), na carta do Almirantado, nos registos de
Veotch, etc. Devroey (1946), al6m desses elements, utilizou
a carta hidrografica da costa maritima do Congo Belga, levan-
tada pelos belgas Triquet e Vandam, com a colaboracgo do
navi6-escola ((Mercator>). Segundo Devroey (33), o interesse cien-
tifico da existencia do dito vale submarine nao escape a nin-
guam, mas nenhuma teoria teria at6 hoje explicado satisfat6-
riamente a formacg6 e a submersao de tais vales (o autor refe-
rido alude tamb6m aos do Hudson, do Mississipi, etc.). 1 evi-
dente, alias, que, al6m das condic5es de regime fluvial, da
natureza dos terrenos, da massa de aluvi6es transportadas, da
velocidade das Aguas, das correntes maritimas e outras condi-
c5es do Oceano, etc., devem traduzir-se naquele facto nao s6
movimentos de conjunto da plataforma africana, mas tamb6m
possiveis acidentes tect6nicos, como grandiosas fractures.
(32) No Boletim da Socied. de Geografia de Lisboaa, 1886, pp. 5-6.
(33) E. J. Devroey--La vallde sous-marine du fleuve Congo--Inst.
R. Colon. Belge), XVII, 1946, p. 105.
Segundo os niimeros reunidos por Wagner (4), o rio afri-
cano cor mais vasta bacia hidrogrAfica (mesmo o 2.0 do
mundo, ap6s o Amazonas) 6 o Zaire, que abrange 3.700.000 km2.
0 Nilo vem em seguida, entire os rios africanos, com
2.868.000 km2. 0 Zambeze tem 1.330.000 km2. Por6m o Nilo
6 mais comprido do que o Zaire: segundo o mesmo autor,
teria 5.750km e o segundo 4.200. Martonne atribui ao Nilo
5.589 km. de comprimento, Robert 6.400km. Para o filtimo
autor o Zaire ter mais de 4.700 km. e uma bacia de 3.684.000
km2 (35). Ja falimos das dfividas em tais cAlculos.
Quanto ao caudal e ao regime fluviais, os rios de
Africa traduzem naturalmente nesses factos a amplitude
e a localizagao das suas bacias hidrogrificas. O Zaire,
estendendo-se na zona equatorial, ter muita dgua du-
rante o ano inteiro, mas com duas grandes cheias que
correspondem As estag~es das chuvas, no vergo. No en-
tanto, a razao entire as cheias m6dias e as estiagens mn-
dias, no Zaire, ngo passa de 2, enquanto que no Ama-
zonas atinge 4 e no Nilo chega a 15 em Wadi-Halfa.
Os rios do regime des6rtico sao temporarios, intermi-
tentes. Os de regime mediterraneo sao torrenciais, irre-
gulares.
No entanto, alguns desses rios atravessam zonas de
caricter climitico e estrutural tAo divers que apresen-
tam uma certa complexidade no seu escoamento, no seu
regime.
0 Niger esta neste caso. Recebendo inicialmente
dguas da Serra Leoa e do Futa-Djalon e macigos vizi-
nhos, assume aspect torrencial para, ao passar perto
do Sdara, quase se perder nestas paragens. Mas o cau-
dal consegue ainda irromper, no seu novo trajecto para
SE. e S., e, passando no dominio das chuvas tropicais,
(34) Trattato di Geografia, etc., cit.., II, p. 235.
(35) Maurice Robert-Le Congo Physique, op. cit., pp. 208 e 209.
FIG. 14-Regimes fluviais em Africa, seg. Galloudec & Maurette.
S- Cursos de Agua de regime equatorial de dupla cheia; 2- De re-
gime tropical de cheia (inica; 3 D regime desertico, intermitentes;
4- De regime mediterraneo. torrenciais
o rio recebe novo reforgo de Aguas que se juntam hs
que ji vem do Futa-Djalon. As duas cheias, do mesmo
period do ano, somam-se, depois de, em certa altura
do percurso (Gaya), os diagramas de Lenfant e Millot
mostrarem, em Julho e sobretudo em Junho, uma extre-
ma redusgo do volume de Aguas.
0 Nilo, diz E. de Martonne, 6 um organismo fluvial
68
ainda mais complex. Percorre toda a escala dos climas
quentes, ainda mesmo o clima des6rtico. Alguns dos seus
afluentes meridionais v8m mesmo do hemisf6rio do sul,
fazendo reflectir no seu curso superior a acgao das chu-
vas daquele hemisf6rio. No seu long trajecto sofre per-
das importantes pela infiltragao e pela evaporacao. Sem
alguns afluentes, sobretudo sem o Nilo Branco e o Nilo
Azul, o Nilo superior nao prosseguiria at6 ao fim, mas
as condig6es do curso superior exercem influancia no
regime de todo o rio. O Nilo percorre, sucessivamente,
a zona equatorial dos Lagos, cor chuvas quase todo
o ano, a tropical, da Abissinia, corn chuvas de verio
e seca no inverno, e a zona des6rtica, em que nao chove
quase nunca e em que ele nao ter afluentes, os quais nas
zonas anteriores tamanho papel exercem nele. A grande
cheia de verao 6 produzida pelas chuvas dessa estagao
na zona tropical. 1 o Nilo Azul que traz as aguas do
planalto etiope caidas no verao, e s6 neste period.
O Nilo Branco 6 mais constant no seu contribute.
A cheia do Nilo dura 4 meses. u um lugar-comum ja
antigo dizer que o Egipto Ihe deve a sua fertilidade.
Enfim, como ji tem dito varios ge6grafos, o baixo
Nilo, rio do desert, 6 um rio de tipo abundante e regu-
lar, o que result do clima e da topografia das regi6es
que constituem a sua dupla origem.
S5o instrutivos os diagramas de Lyons (36) sobre o regime do
Nilo e dos seus grandes afluentes em virios pontos do
percurso. Em Roseires, em Fevereiro, Marco e Abril, o Nilo
Azul seca. Em Wadihalfa, na Nuibia, o regime do Nilo asseme-
(36) Tanto estes como os de Lenfant & Millot para o Niger, sao
reproduzidos em: Em. de Martonne-Op. cit., II, pp. 473 e 472, res-
pectivamente. O mnesmo autor di a pag. 474 um esquema do caudal
do Nilo em virias secq6es do curso, segundo Pietsch.
lha-se ao de Kartum, mais a montante, embora haja diferencas
no volume total de aguas. O rio, ji nesses dois pontos, reveste
a fisionomia que o caracteriza: afrouxamento de caudal at6
Junho, cheias depois. Mas 6 de notar que no Cairo o rio traz
menos agua do que em Assuam: 2.900 km3 no primeiro ponto
contra 3.700km3 no segundo.
ENCORE SUR LE RELIEF; LACS ET FLEUVES
(RESUME)
Sans entrer, maintenant, en consideration avec les vestiges d'ancien-
nes montagnes caches dans le sous-sol des plateaux actuels et de quel-
ques formations superficielles et en excluant de nos synthises les pro-
blemes de la genese des 61evations existantes a present, nous avons
constat6 simplement que la difficult de p6n6tration au coeur de 1'Afri-
que a eu, comme facteurs principaux, non seulement le climate, le desert,
la f6ret, plusieurs dangers, mais aussi sa configuration hypsom6trique
d'un grand plateau interieur, entour6 de bordures montagneuses, don't
il fallait escalader les pentes. Cette escalade apparait dans les descrip-
tions de voyage de nos explorateurs, comme Capelo et Ivens pour la
traverse d'Angola tout de suite apres un petit parcours dans 1'6troite
bordure bass littorale.
Pour le transit, ainsi que pour le peuplement human, la morphologic
sus-dite a eu une importance considerable. Tandis qu'en Europe on
observe une rarefaction dimique avec l'altitude, en Afrique, dans le
Mexique, dans l'Am6rique du Sud, il y a des terres hautes ayant d'im-
portants centres urbains et une grande density de population.
En Afrique, des villes tris populeuses sont situ6es A des altitudes
sup6rieures A 2.200 m., les altitudes plus faibles 6tant moins densement
peupl6es. Comme J. Brunhes l'a montr6, c'est une question de resources,
de productions, mais il faut computer non seulement sur 1'action de ces
hauteurs sur la physiologie individuelle, mais aussi sur l'effort physique
deploy pour vaincre les d6placements dans le sens de la vertical.
Pour les regions autarciques cela est moins important, mais pour
celles qui ne se suffisent pas, on peut parler d'une ((tyrannie des alti-
tudes,, forme esp6ciale de la ((tyrannie de l'espace),, c'est A dire de la
necessity vitale de vaincre les distances.
En ce qui concern la distribution des zones hypsom6triques en Afri-
que, on remarquera, que (en exceptiant l'Atlas, les massifs centro-saha-
riens et le massif guin6o-lib6rien) la presque totality des terres hautes
est au sud d'une ligne qui relief les el6vations du Cameroun au mas-
sif 6thiopien. Dans cette zone il n'y a des altitudes inf6rieures A 500 m.
que dans quelques bandes c6tiAres et dans les bassins du Zaire et du
Haut-Zamb6ze. Les altitudes superieures a 1.500m. sont plus fr6quentes
A l'E. qu'a 1'O. du continent.
Les lacs africains sont, dans une grande majority, d'origine tecto-
nique. La limnologie africaine est en grand retard. On connait mieux
le Victoria-Nyanza, d'oA la branch orientale du Nil prend origine, et
le Tchad, don't le dessechement, A cause du detour de fleuves tribu-
taires, preoccupe serieusement quelques chercheurs. Les chotts de 1'Al-
g6rie sont des lacs temporaires forms A l'occasion des pluies. La salinity
est g6n6ralement l16v6e dans les lacs africains, mais il y en a d'eau
douce.
Quant aux fleuves africains, leur 6tude est aussi, g6enralement, en
retard. Mais il y a des 6tudes important sur le Nil, le Zaire, le Niger,
etc. La plupart des fleuves d'Afrique est loin d'atteindre le profile d'tqui-
libre, en consequence de l'abaissement de leurs niveaux de base. Il y a
plusieurs temoignages de l'influence des conditions structurales, des ph&-
nomenes nombreux de capture, des chutes ou des signes de vieillesse
comme des deltas, des divagations seniles.
Le Zaire possMde le plus vaste bassin hydrographique parmi les
fleuves africains mais le Nil en est le plus long. Ce dernier termine par
un delta dans la Mediterranee, mer interieure, tandis que le Zaire
se prolonge dans l'Atlantique, vaste oc6an ouvert, par une vall6e submer-
gee. On ne connait pas encore l'origine de celle-ci, qui a &tB signaled
pour la premiere fois par Ernesto de Vasconcelos, mais il est possible
que l'on doive admettre pour l'explication de sa g6nese l'influence de
dispositions structurales, une faible dur6t6 des terrains par rapport
A l'6rosion, et la petitesse de la masse de sedimentation.
Le d6bit et le regime fluviaux traduisent naturellement l'6tendue
et la localisation des bassins hydrographiques. Le Zaire, se d6ployant
dans la zone 6quatoriale, porte beaucoup d'eau pendant toute l'annee,
mais avec deux grandes crues correspondent A la saison des pluies.
Le Zambeze et le Niger, qui coulent dans les regions tropicales, ont
assez d'eau pendant l'ann6e mais une seule crue correspondent a ila
saison des pluies en 6t6. Les fleuves du regime desertique sont tempo-
raires. Ceux du regime m6diterranden sont torrentiels, irriguliers.
Quelques-uns, come le Niger et surtout le Nil, qui traversent des
zones climatiques et structurales tres diff6rentes, ont un regime com-
pl6xe. Les diagrammes de Lyons sur le regime du Nil et de ses grands
affluents sont tris instructifs.
AGAIN THE RELIEF; LAKES AND RIVERS
(ABSTRACT)
Without considering now the traces of ancient mountains hidden
in the sub-soil of actual plateaux and of some superficial formations
and in excluding from our synthesis the problems of the genesis of exis-
ting elevations, we simply state that the principal factors for the diffi-
culties of penetration in the interior of Africa have been not only the
climate, the desert, the forests and many dangers, but also the hypso-
metrical configuration of the continent, which is a large interior plateau
surrounded by mountainous borders, that had to be scaled. This scaling,
following a short passage over a narrow coastal strip, is mentioned
in the descriptions of the voyages of our explorers like Capelo and Ivens
in the crossing of Angola.
This land morphology was of great importance in the transit as well
as in human occupation. Whilst we note in Europe a thinness of the
population in relation to altitude, important urban centers and a great
density of population are found in highlands of Africa, Mexico and
South America. In Africa very populous towns are situated in altitudes
over 2.200m, the inferior altitudes being less densely peopled. Jean
Brunhes has shown that it is a question of resources and productions,
and besides that it must be taken into account not only the effect of
height on individual physiology but also the physical effort employed
to overcome displacing in the vertical direction.
This is less important in self sufficient countries but for those that
are not self sufficient, one can use the expression ((tyranny of altitudes),
a special aspect of ((tyranny of space), that is to say of the vital neces-
sity to overcome distances.
Regarding the distribution of hypsometrical zones in Africa it is to
be noted that, with the exception of the Atlas and of the Central
Saharian and Guineo-Liberian massifs, almost the whole of the African
highlands is to be found south of a line joining the Cameroon heights
to the Abyssinian massif. In this part of Africa there are no altitudes
below 500 m. excepting some coastal strips and in the basins of the
Zaire and of high Zambezi. The altitudes above 1.500m. are more fre-
quent in the East than in the West of the continent.
The great majority of African lakes is the result of tectonic causes.
African limnology is still very backward. The better known African
lakes are the Victoria-Nyanza, from which the eastern branch of the
Nile takes its source, and the Tchad. The capture and deviation of some
tributaries is the cause of increasing desiccation of the latter, a pheno-
menon that disturbs some scientists.
The chotts of Algeria are temporary lakes formed when it rains.
The salinity is generally high in African lakes.
The study of African rivers is also generally backward. But there
are important works on the Nile, the Zaire, the Niger, etc. The majo-
rity of African rivers has not attained the equilibrium profile on account
of the lowering of their base levels. There are many proofs of the
influence of structural conditions, several phenomena of capture, falls
and signs of oldness like deltas, senile diversions, etc.
The Zaire has the largest hydrographical basin amongst African
rivers, but the Nile is the longest and ends by a delta in the Mediter-
ranean, an inner sea; whilst the former runs through a submerged valley
into the Atlantic, a vast open Ocean. The origin of this submerged
valley is not quite known. It was first noticed by Ernesto de Vasconcelos.
It is possible that for the explanation of its genesis one has to take
into consideration structural dispositions, the little hardness of the rocks
in regard to erosion, the small volume of sediments.
The types of rivers as far as the volume of their waters and its
variations is concerned depend on the extent and situation of hydro-
Est. XVII
MENDES CORREA Sintese da Africa
Uma caravana junto do rio Tana (Africa Oriental)
Foto P. Popper
Est. XVIII
MENDES CORREA
- "- ,a Ae-M.-.. -- --
.... ..l
.- ;',, *,, H
: ;., 4..fe-'-'--.. jj
Sintese da Africa
i
k\ .~~~ 4..
Rios do Saara. O leito do Seguia-el-Hamra, seco (em cima) e inundado
depois de grandes chuvas (em baixo).
Fotos F. Hernandez Pacheco
Est. XIX
MENDES CORREA
Sintese da Africa
1. Nascente e ribeira torrencial do Tarrafal (St." Antaio. Cabo Verde)
Col. Agencia Geral das Col6nias
2. Origem do Nilo. As quedas Rifon, Jinja, Lago Vit6ria.
Foto Ten. Coronel C. H. Stockley
Ira e~~_ok~_r~d-~,r
E;
Est. XX
MENDES CORREA
Sintese da Africa
Rio Umbelusi (Africa Oriental Portuguesa).
Foto Lazarus (Col. Ag6ncia Geral das Col6nias)
Est. XXI
MENDES CORREA
Sintese da Africa
Quedas Vit6ria (no Zambeze)
Foto Public Relations Department of South-Rhodesia
Sintese da Africa
MENDES CORREA
1. Quedas tie Ruacana
(no Cunene)
Col. Agincia Geral das Col6nias
2. Costa de Kisingiri, no lago Vit6ria, vista da ilha de Mfwangani.
Seg. Kent (,Geogr. Journ.n)
Est. XXII
~; 8a31S~ANEW-~~9L~;Z~~
graphical basins. The Zaire that runs in the equatorial zone has a great
volume of water during the whole year but has two great increases cor-
responding to the pluvial periods. The Zambezi and the Niger which
run in tropical regions have also great volume of water during the
whole year but have one increase only corresponding to the summer.
The rivers of the desert type are temporary, those of the Mediterra-
nean type are torrential and irregular. Some like the Niger and prin-
cipally the Nile that go over various climatic and structural zones have
a complex type. Lyons' diagrams on the variations of the volume
of water of the Nile and its great tributaries are very instructive.
CLIMAS
No ripido esbogo geol6gico que tragamos, aludimos,
aqui e ali, a vestigios de remotas acq6es glaciArias. No
quaternirio antigo, as glaciagSes europeias correspon-
deram na Africa, segundo Leakey e outros, periods de
pluviosidade. Hoje, as montanhas da Africa do Norte
tem neves nas zonas de mais de 2.000 m. de altitude.
Entre os tr6picos, o limited dessas neves esti mais alto,
a 3.000 m., encontrando-se as neves permanentes acima
de 4.500 m., nas alturas das proximidades do equador.
Apenas hi glaciares nas altas montanhas da Africa
Oriental, na regiao dos Lagos.
Aludimos tamb6m jAi secagem progressive do Saara.
HA, neste, vestigios de antiga ocupagdo humana, em
regi6es hoje inh6spitas. Alguns admitem mesmo a seca-
gem crescente da Africa em geral, baseando-se em vi-
rios factos mais ou menos reais, como no avango do
desert, nas mudangas na rede hidrogrAfica, nas varia-
c6es do nivel dos lagos, etc. (37).
(37) V. uma sintese do assunto em Worthington--Science in Africa,
London, New York, Toronto, 1938, pp. 111 e segs. e 115 e segs.
Em suma, o clima teria variado em muitas Areas
africanas no decurso dos tempos. Algumas modificaS6es
se tem ji registado nos tempos modernos, at6 nos filti-
mos dec6nios. O Calairi amplia, por exemplo, o seu
dominio ji no nosso tempo. Mas 6 dificil, perante os
elements incompletos de que se disp6e, dizer o que
result do clima, da drenagem, da evaporacao, da infil-
tracao, da desarborizagao, da lateritizagao, etc., nesse
progress da aridez nalgumas regi6es. Factores c6smicos
e factors locais, mesmo ocasionais, explicarao, melhor
ou pior, as variacSes do clima. O pr6prio colono branco
tern sido acusado de contribuir, como os indigenas, para
a aridez de algumas regi5es mais ou menos extensas (3).
Afirma-se haver relag5es entire as variacSes da temperature
m6dia annual na Africa e as manchas solares. Cr6-se que essa
temperature varia no ciclo, de 11 anos, das manchas solares,
na quantidade de 1 F. entire o maximo e o minimo das man-
chas. Tambrm se pretend que este minimo corresponde a um
aumento da evaporac'o. A influencia das manchas solares no
clima afigura-se talvez mais marcada na Africa Oriental, ha-
vendo at6 quem tenha afirmado encontrA-la na variacgo do nivel
de agua nos Grandes Lagos. A pluviosidade tamb6m estaria
relacionada com aquela influ8ncia, mas o facto apenas se veri-
ficou, cor grande nitidez, nas observances de 50 anos em
Dakar.
Quanto As relac5es do nivel de Agua nos lagos africanos
corn os ciclos das manchas solares, Brooks mostrou uma cor-
respondencia entire os dois facts para o period de 1896 a 1921
no Lago Vict6ria, mas observag6es posteriores nio acusam
a mesma correspondencia (39).
(38) V. por exemplo: F. E. Kanthack--Alleged desiccation of South
Africa. ((Geographical Journal,, t. LXXVI, Londres, 1930, p. 516 e segs.
(3") D. Brunt- Climatic cycles ((Geographical Journal,,, t. LXXXIX,
Londres, 1937, pp. 225. Worthington (Op. cit., p. 632 e segs.) di uma
ampla bibliografia do assunto e, dum modo geral, da meteorologia afri-
cana.
|